PARTE 02
UMA SEMANA NO PASSADO FOI SUFICIENTE PARA DESCOBRIR QUE EU ERA CORNO.
O primeiro parágrafo era um agradecimento de Diana a quem havia lhe dado aquele diário de presente e dizia: “Antes de mais nada, quero agradecer à minha amiga Aurora pelo presente que, embora ela tenha dito ser singela, vai ser de grande utilidade para que eu possa deixar registrados aqui as mudanças pelas quais tenho passado, mudanças ela que devo a ela que tanto me incentivou a viver uma vida alegre, prazerosa e muito intensa”.
Voltei atrás e vi que na contra capa havia uma dedicatória onde estava escrito: “Parabéns à minha grande amiga, não só pelo seu aniversário, mas também pela coragem que tem demonstrado em se transformar para viver uma vida gratificante”.
Estava assinado como Aurora e depois havia um post scriptum acrescentando: “Apesar de chegar aos quarenta e dois anos, você tem sido a minha bebê que só me alegra com essa sede de viver novas experiências.”
Aurora era uma colega de repartição de Diana de quem ela vivia falando, sempre tecendo elogios que começaram a fazer para mim um sentindo diferente depois de ler a dedicatória e o agradecimento de minha esposa. Era comum que Diana se referisse a ela como uma mulher descolada, alegre e de bem com a vida, além de ser uma grande amiga que estava lhe ajudando muito com seus conselhos.
E agora eu estava tendo uma amostra de qual era o tipo de conselhos que minha esposa estava recebendo, pois bastou ler aquelas poucas palavras para que eu concluísse que tinha me tornado um autêntico corno e agora só restava constatar se eu era o último a saber ou não.
Então voltei à leitura.
Depois de ligar uma coisa à outra, pois a data de abertura do diário era um dia depois do aniversário de quarenta e dois anos de Diana e isso se explicava por ser uma sexta-feira, o que entendi como sendo o dia escolhido para comemorar o aniversário dela que ocorreu naquela semana.
Voltei à leitura e nesse dia não havia grandes informações e o que li foram as estripulias que as colegas dela fizeram depois do expediente quando se dirigiram a um barzinho com a finalidade de comemorar a data. Fiquei aliviado ao ver que eram seis mulheres além de Diana e Aurora e nenhum homem e a única coisa que informava ali que destoava um pouco foi o que ela escreveu sobre uma tal “pavoa”, sem nenhum outro dado que permitisse sequer desconfiar de quem se tratava. Lá dizia:
“Como sempre, a Pavoa fez suas tentativas de estragar a festa. Ela e aquela mania dela de ficar fazendo marketing de seu marido dizendo o tanto que ele é bom de cama. Fico desconfiado que ela quer se livrar dele e fica fazendo propaganda para ver se alguém leva pra casa. Além disso, aquela mania que ela tem de ficar me seguindo ao banheiro e, com a desculpa de me ajudar, ficar tentando me tocar. Eu hem! Sai pra lá violão que eu gosto é de outro tipo de fruta!”
Conclui que uma das colegas de Diana estava a fim dela, mas não apenas para ela, mas sim para dividi-la com o marido. Ainda bem que minha esposa não gostava dessas coisas.
Fui lendo os dias seguintes e nada havia de interessante. Tiveram alguns dias em que sequer houve anotações e, sempre que acontecia isso, quando ela resolvia escrever sobre algum dia no futuro, sempre começava citando que nesses dias não havia acontecido nada.
Foi na semana seguinte, justamente em outra sexta-feira, que havia algo interessante. Lá, Diana contou que estava nervosa porque não sabia se ia conseguir que desculpa dar para mim para poder sair no sábado à tarde e ia ficar chato ela, pela primeira vez, faltar ao compromisso com o C.
Fiquei forçando a memória para lembrar desse dia e a única coisa que me ocorreu foi que, já antes disso, Diana começou a aparecer com uns compromissos de última hora, sempre alegando que tinha que chegar mais tarde em casa e pedia para eu preparar a janta para os nossos filhos. Mas não lembrava desse sábado em especial.
E nem precisava. Os registros dos acontecimentos do dia seguinte, aquele sábado, deixavam tudo claro. As palavras que li naquele diário me deixaram desesperados. Aquelas palavras nunca mais saíram de minha mente e me lembro até das vírgulas e eram:
“Foi mais fácil do que eu pensei. Falei para o Norman que passaria a tarde do sábado na igreja ajudando a preparar as coisas para a festa do padroeiro e talvez só voltasse à noite. Ele não desconfiou de nada”.
E depois de explicar de como tinha me dado um perdido, passou a falar do que aconteceu:
“Tive o cuidado de me preparar com esmero. Lógico que vesti uma roupa do dia a dia sem nada que chamasse a atenção, mas por baixo eu estava um arraso. Vesti um conjunto de calcinha e sutiã de renda de um tom roxo porque o C disse que é uma cor que o excita. Coloquei uma cinta liga, mas não a meia para não despertar suspeita. Essa eu levei na bolsa e, quando saí de casa, parei no estacionamento do Supermercado e a vesti, colocando também o sapato de saltos que já tinha deixado no carro. A roupa simples eu já sabia que não seria um problema, pois seria a primeira coisa que eu tiraria.”
Não havia explicação do local de encontro dela com o tal C e também aonde ele a levou. Só um fechamento falando sobre quando ela voltou para casa:
“Nossa! Que tarde! Que homem! Estou zonza de tanto foder. Cheguei em casa depois das oito horas da noite e encontrei o meu corno com cara de poucos amigos. Bem que eu poderia dar umazinha com ele, mas estava tão ardida que não deu. Ainda bem que ele se contentou com uma chupadinha. Ainda bem, porque depois ele beijou a minha boca. Se tivesse feito isso antes, teria sentido o gosto da porra do C que me fez engolir um balde de esperma. Rsss”
Saber que, além de corno, eu era motivos de piada de Diana que se referia a mim como ‘seu corno’ foi a conta. Tive que me controlar para não rasgar aquele diário, porém, não tive forças para continuar lendo e o guardei na gaveta onde estava antes, tomando o cuidado de ficar exatamente quando estava quando o encontrei.
Permaneci deitado na cama tentando acalmar o ódio que me queimava até que o celular tocou e vi que era o Thales. Chamei o Thiago para ir comigo e ele não queria ir e foi resmungando todo o tempo que levamos para chegar até onde estava meu filho mais velho e depois voltou implicando com ele. Só me preocupei em perguntar ao Thales se ele tinha comido alguma coisa e ele disse que sim, então voltei para a cama e fui curtir minha dor de corno.
Deitado na cama, ficava imaginando o que aquela vadia que se dizia minha esposa estaria fazendo naquele momento, pois sem dúvida nenhuma ela estava fodendo com um ou mais comedor de tão puta que era. Em seguida passei a me preocupar com qual seria minha reação quando ela chegasse em casa e decidi não a confrontar ainda. Eu tinha lido apenas uma semana do seu diário e achei melhor colher mais informações antes de tomar uma atitude, entendendo que, quanto mais dados tivesse, mais chance de sucesso eu teria quando resolvesse acabar com aquela farsa que se transformara o nosso casamento.
Diana chegou depois das vinte e três horas, ligeiramente embriagada. Nesse momento eu já tinha tomado um banho e, por não ter certeza se conseguiria olhar para a cara de vagabunda dela, achei melhor fingir que estava dormindo e ela com certeza gostou disso, pois assim não correria o risco de eu perceber que ela estava embriagada ou até algo pior, como por exemplo, alguma marca no seu corpo que provaria que ela estava na safadeza.