>> Nota: pessoal, eu sabia que o QRCode iria soar meio “viagem” e talvez até seja, mas eu tinha lido há algum tempo atrás sobre a possibilidade desse tipo de coisa… algum russo maluco fez. Eu então pesquisei exatamente como ele tinha conseguido fazer isso funcionar; fiz um capítulo bônus tentando explicar mais ou menos (através do conto), como isso talvez poderia se tornar viável (com muito dinheiro e muita sede de vingança).
>> Enfim, esse é apenas um capítulo bônus. A história “oficial” terminou na parte 3!
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"O homem prudente prevê o mal e esconde-se; mas os simples passam e acabam pagando." — Provérbios 22:3
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**DIA ZERO: O ESTÚDIO**
Eu sabia que Camila não era burra o suficiente para aceitar uma tatuagem sem verificar o conteúdo primeiro. Mesmo desesperada, mesmo quebrada, ela tinha o instinto de sobrevivência de um animal acuado.
Por isso, eu preparei *duas versões* do site.
A primeira versão — a que ficaria no ar nas primeiras 72 horas após a tatuagem — era exatamente o que eu tinha prometido: uma carta formal de desculpas, escrita em tom jurídico, assumindo total responsabilidade pela traição. Algo que um juiz leria e pensaria: "Essa mulher está sendo honesta."
A segunda versão — que entraria no ar automaticamente após 72 horas, usando um script agendado no servidor — era o *verdadeiro* conteúdo: o vídeo da humilhação, a ameaça de exposição, a prisão psicológica permanente.
Mas havia um detalhe técnico que eu precisava resolver: **QR Codes tatuados funcionam mesmo?**
A resposta é: sim. Mas não perfeitamente.
Eu tinha pesquisado por semanas. Casos reais. Em 2011, um programador russo tatuou um QR Code no braço que levava ao seu LinkedIn. Em 2017, uma artista alemã tatuou um QR Code nas costas que apontava para uma exposição de arte. A tecnologia *existe*. Mas o segredo está na *precisão*.
A pele se move. Ela envelhece. A tinta pode borrar. Por isso, eu contratei não um tatuador comum, mas um especialista em tatuagens médicas — aquelas usadas para marcar áreas de cirurgia ou radioterapia. Ele usou uma máquina de precisão cirúrgica, tinta de carbono médico (que não desvanece), e um estêncil digital impresso em resina.
O QR Code que ele tatuou na virilha da Camila tinha margem de erro de 0,2mm. Ele *funcionava*. Perfeitamente.
E mais: eu tinha adicionado uma camada extra de segurança.
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**A CAMADA INVISÍVEL**
Dentro da tinta preta do QR Code, misturada de forma invisível a olho nu, havia **micropartículas de óxido de ferro**. Não o suficiente para ser visível na pele, mas o suficiente para ser detectado por leitores RFID de curto alcance.
Eu tinha comprado, no mercado negro de tecnologia médica, três chips RFID do tamanho de um grão de arroz. Eles custaram uma fortuna. E o tatuador, depois de terminar o QR Code visível, injetou os três chips com uma agulha hipodérmica em pontos estratégicos ao redor da tatuagem — espaçados por 2cm cada, formando um triângulo.
Os chips eram inativos. Eles não faziam nada. Não emitiam sinal. Não tinham bateria. Eles eram apenas... *marcadores*.
Mas eu tinha programado um sistema de segurança no meu servidor:
**Se os três chips fossem detectados como "ausentes" simultaneamente (o que aconteceria se ela removesse a tatuagem por laser, cirurgia ou dermoabrasão), um script automático enviaria o vídeo da humilhação para uma lista de 47 contatos pré-programados.**
Pais dela. Irmãos. Colegas de trabalho. Ex-amigas. E, o mais cruel: um e-mail agendado para ser enviado aos nossos filhos quando eles completassem 18 anos, caso o sistema detectasse remoção antes disso.
Ela não sabia disso. Ainda.
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**DIA ZERO: A VERIFICAÇÃO DELA**
No estúdio, assim que a tatuagem foi coberta com o filme plástico, Camila fez exatamente o que eu esperava.
— Eu quero escanear. Agora. — A voz dela estava firme, desconfiada.
Eu sorri.
— Claro. Eu insisto.
Ela pegou o celular, abriu a câmera, apontou para a tatuagem ainda coberta pelo plástico transparente.
O QR Code funcionou perfeitamente. A câmera leu. O navegador abriu.
E o que ela viu foi exatamente o que eu tinha prometido:
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**CARTA DE ASSUNÇÃO DE RESPONSABILIDADE**
*"Eu, Camila Ferreira da Silva, declaro para todos os fins de direito que:*
*1. Fui a única responsável pelo fim do meu casamento com João Santos de Oliveira.*
*2. Cometi adultério de forma consciente e reiterada, traindo a confiança conjugal.*
*3. João nunca cometeu agressão física, psicológica ou moral contra mim.*
*4. Todas as alegações de coerção que fiz em processos judiciais foram infundadas e motivadas por vingança.*
*5. Assumo integral responsabilidade pelos meus atos e renuncio a qualquer direito de revisão judicial do divório.*
*Data: [timestamp automático]*
*Assinatura digital: [hash criptográfico]*"
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Ela leu tudo. Respirou fundo. E pela primeira vez em meses, algo parecido com *paz* passou pelo rosto dela.
— Tá... tá bom. — Ela guardou o celular. — Isso é... humilhante. Mas é o que você pediu.
— Exatamente. — Eu estendi a mão. — Prazer ter feito negócios com você, Camila.
Ela não apertou minha mão. Apenas saiu.
Eu esperei ela virar a esquina. E então, liguei para o tatuador.
— Você ativou o localizador RFID?
— Sim. Tá funcionando. Eu tenho o sinal dos três chips aqui. — Ele me mostrou o tablet. Três pontinhos verdes formando um triângulo na imagem térmica.
— Perfeito. Obrigado pelo trabalho.
Transferi o pagamento final. Cinquenta mil reais. Ele embolsou e nunca mais fez perguntas.
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**DIA 1-3: A FALSA SEGURANÇA**
Nos três dias seguintes, Camila escaneou o QR Code mais cinco vezes. Eu sei porque o servidor registrava cada acesso.
Dia 1, 23h47: Acesso do IP dela. Duração: 3 minutos.
Dia 2, 14h22: Acesso do IP dela. Duração: 1 minuto.
Dia 3, 08h15: Acesso do IP dela. Duração: 40 segundos.
Ela estava checando, rechecando, tentando encontrar o truque. Mas não havia truque. Ainda.
O site mostrava exatamente o que ela esperava: a carta de desculpas. Nada mais.
Ela até postou nos Stories do Instagram (eu monitorava a conta dela por um perfil falso): uma foto de uma praia, com a legenda: *"Recomeços são possíveis."*
Idiota.
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**DIA 4: A MUDANÇA**
72 horas e 14 minutos após a tatuagem, o script agendado no servidor executou.
O site mudou.
A carta de desculpas sumiu.
No lugar, uma tela preta com um vídeo em autoplay. O vídeo do motel. Ela gemendo. Chorando. Sendo humilhada.
E logo abaixo, em letras vermelhas:
**"VOCÊ CARREGA A VERDADE NA PELE. REMOVA A TATUAGEM E O MUNDO VÊ ISSO. VIVA COM ELA E APENAS VOCÊ SABE. ESCOLHA COM SABEDORIA."**
Eu estava na academia quando o telefone tocou.
Eram 19h32. Camila. Gritando.
— SEU MONSTRO! SEU FILHO DA PUTA DOENTE!
Eu pausei a esteira. Coloquei o fone.
— Boa noite, Camila. Gostou da atualização do site?
— VOCÊ MENTIU! VOCÊ DISSE QUE ERA SÓ UMA CARTA!
— Não. — Minha voz estava calma, didática. — Eu disse que o QR Code levaria a um site que *eu controlo*. E eu controlo. O conteúdo do site é decisão *minha*. Você não perguntou se o conteúdo seria permanente.
Silêncio. Só a respiração ofegante dela.
— Eu vou remover. Eu vou pagar o que for preciso e vou remover essa merda da minha pele.
— Pode remover. — Eu sorri. — Mas você leu a mensagem que apareceu depois do vídeo?
— Que mensagem?
— Rola a página pra baixo.
Ouvi o som do dedo dela deslizando na tela.
E então, um silêncio absoluto.
Ela tinha lido:
***
**AVISO TÉCNICO**
*"A tatuagem contém três microchips RFID implantados na derme ao redor do QR Code. Eles estão inativos e indetectáveis por métodos convencionais. Porém, eles funcionam como um sistema de 'tripwire' (armadilha de gatilho).*
*Se os três chips forem removidos ou destruídos (por laser, cirurgia, ou qualquer método de remoção de tatuagem), um script automático será acionado.*
*O script enviará o vídeo completo da sua humilhação, junto com fotos e mensagens de áudio, para 47 contatos pré-selecionados, incluindo:*
*- Seus pais
- Seus irmãos
- 12 colegas de trabalho
- 8 ex-amigas
- 3 tios
- E um e-mail agendado para seus filhos, a ser entregue quando completarem 18 anos.*
*Você pode viver com a marca. Ou pode viver com a vergonha pública eterna.*
*A escolha sempre foi sua."*
***
Ela começou a chorar. Não era choro de raiva. Era desespero puro.
— Isso... isso não é real... você tá blefando...
— Quer testar? — Eu ri. — Vai num dermatologista. Pede pra remover. E depois me conta quantas pessoas ligaram pra você.
Ela desligou.
E nunca mais tentou remover.
***
**EPÍLOGO TÉCNICO**
Três meses depois, eu recebi um alerta no meu sistema.
Camila tinha ido a uma clínica de remoção de tatuagens. O scanner RFID que eu tinha plantado na recepção (disfarçado como um leitor de cartão de crédito modificado) detectou os três chips.
Ela estava *considerando*.
Mas no final, ela não fez.
Porque quando o atendente deu o orçamento — R$ 8.000,00 para remoção completa, 8 sessões de laser — ele também deu o "aviso padrão":
— A senhora sabe que essa tatuagem tem tinta com partículas metálicas, né? É possível remover, mas pode deixar cicatriz. E se tiver qualquer implante próximo, tipo piercing interno ou chip, pode causar queimadura.
Ela perguntou, trêmula:
— Como vocês sabem que tem partículas metálicas?
— O scanner aqui detectou. — Ele apontou para o leitor (que eu tinha subornado a clínica para instalar). — A senhora sabia que tinha isso?
Ela empalideceu.
E saiu da clínica correndo.
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