“No xadrez, a Rainha é a peça mais poderosa do tabuleiro. Mas também é a mais sacrificável. Porque quando você oferece a Rainha e o adversário aceita... ele já perdeu o jogo."
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Quarta-feira. 17h43.
Eu estava sentado na beira da cama king-size do Motel Paraíso das Estrelas, Suíte Presidencial — a ironia do nome não passava despercebida —, bebericando um Macallan 18 anos que eu tinha trazido de casa. A garrafa custou mais que três diárias daquele lugar. Mas era importante. *Apresentação* era tudo.
O quarto não era o antro vagabundo onde Camila e Marcos costumavam se encontrar. Eu tinha alugado a suíte mais cara do estabelecimento. Espelhos no teto. Banheira de hidromassagem. Lençóis de cetim vermelho-sangue. Mas o que realmente importava eram as três câmeras que eu tinha instalado em ângulos estratégicos — uma atrás do espelho falso, uma disfarçada no abajur, e uma no teto, com visão panorâmica.
Não era pornografia amadora. Era documentação jurídica em 4K.
Eu sorri para o meu reflexo no espelho. O homem que me encarava de volta não era mais o João bonachão, o pai de família, o gerente de projetos que levava bronca do chefe e aceitava calado.
Esse homem tinha os olhos de um enxadrista três lances antes do xeque-mate.
***
**JOGADA 1: O SACRIFÍCIO DO PEÃO**
Marcos chegou primeiro. Era 18h17. Treze minutos adiantado. Bom. Pontualidade era sinal de medo, e medo era combustível.
Quando ele entrou na suíte — eu tinha deixado a porta entreaberta —, me encontrou exatamente onde planejei: sentado numa poltrona de couro sintético, de frente para a cama, as pernas cruzadas, o copo de whisky na mão. Eu estava vestido de forma impecável: camisa social branca, calça de alfaiataria, sapatos de couro italiano. Parecia um executivo prestes a conduzir uma reunião de demissão.
Porque era exatamente isso.
— Fecha a porta — ordenei, sem olhar para ele.
Marcos obedeceu. A mão dele tremia quando girou a tranca.
— João, eu... eu não sei o que você quer, mas...
— Senta.
Apontei para a cama. Ele hesitou. Eu finalmente olhei para ele, e deixei o silêncio fazer o trabalho sujo. Cinco segundos. Dez. Quinze.
Ele sentou.
— Você joga xadrez, Marcos?
A pergunta o pegou desprevenido.
— O... o quê?
— Xadrez. O jogo. Você joga?
— Eu... não. Nunca aprendi direito.
Eu sorri. Claro que não. Homens como Marcos não jogavam xadrez. Eles jogavam sinuca em botecos, faziam apostas em futebol, viviam no *agora*. Sem estratégia. Sem visão de futuro. Por isso eram tão fáceis de manipular.
— Pena. Porque você está no meio de uma partida agora, e nem percebeu. — Eu me levantei, caminhei até a janela. Lá fora, o neon vagabundo do motel piscava. — Sabe qual é a primeira lição do xadrez? *Controle o centro do tabuleiro.* Quem controla o centro, controla o jogo.
— João, pelo amor de Deus, eu não entendo...
— Você acha que controla alguma coisa aqui, Marcos? — Virei para ele, devagar. — Você acha que *escolheu* foder a minha mulher? Que foi uma decisão sua?
Ele piscou, confuso.
— Você foi um *peão*, Marcos. Uma peça descartável que eu coloquei no caminho da Rainha só para ver até onde ela ia. E ela foi longe. Ela atravessou o tabuleiro inteiro. — Eu ri, sem humor. — Parabéns. Você ajudou a provar que ela não vale o ar que respira.
O rosto dele ficou vermelho.
— Isso é loucura...
— Loucura seria te matar. — Minha voz saiu gelada. — Mas eu não vou sujar as mãos. Eu vou fazer algo muito pior. Vou fazer você se destruir sozinho.
Tirei o celular do bolso. Desbloqueei. Mostrei a ele a tela.
Era um e-mail pronto para envio. Destinatário: **Letícia Fonseca**. Assunto: **"Sobre o Noivo que Você Vai Casar em Março"**. Anexos: 14 arquivos de imagem, 6 de vídeo.
Marcos empalideceu.
— Não... não, por favor...
— Ela é bonita, sua noiva. Vi as fotos no Instagram. Professora de yoga, né? Sorriso lindo. Parece uma boa pessoa. — Eu guardei o celular. — Seria uma pena ela descobrir que o amor da vida dela passa as quartas enfiando o pau na buceta de uma mulher casada no banco de trás de um Civic.
Ele começou a chorar. Não foram lágrimas discretas. Foi aquele choro de homem que nunca aprendeu a lidar com consequências. Soluços, catarro, desespero puro.
— Eu imploro... eu faço qualquer coisa...
— Eu sei. Por isso você está aqui. — Eu voltei para a poltrona, sentei, cruzei as pernas de novo. — Então presta atenção nas regras do jogo.
***
**JOGADA 2: A ARMADILHA DA TORRE**
Eu expliquei tudo com a paciência de um professor ensinando matemática para uma criança burra.
— Às 18h30, a Camila vai chegar. Você vai recebê-la com um beijo, como sempre faz. Mas hoje, vai trazer ela pra essa suíte. Você vai dizer que é uma surpresa especial.
— João...
— Cala a boca. Eu não terminei. — Eu tomei um gole do whisky. — Quando ela entrar, você vai começar a tirar a roupa dela. Devagar. Beijos no pescoço, as putarias que você sempre faz. Mas você vai seguir o roteiro que eu vou te passar agora. Cada palavra. Cada gesto. Se você improvisar, se você tentar avisar ela de alguma forma... — Eu apontei para o celular. — ...o e-mail sai.
Ele balançou a cabeça, frenético.
— Tudo bem, tudo bem... o que você quer que eu faça?
Eu sorri. Era a primeira vez que ele me chamava de "você" em vez de "João". Subconscientemente, ele já tinha aceitado a hierarquia.
— Quando ela estiver nua, você vai dizer: *"Eu trouxe uma surpresa pra você, amor."* E então vai abrir aquela porta. — Apontei para o banheiro.
— E... e você vai estar lá?
— Não. Eu vou estar *aqui*. — Bati no braço da poltrona. — De frente pra cama. Assistindo. E quando ela me ver, você vai segurar ela. Não deixa ela sair. E vai dizer: *"Ele já sabe de tudo, Camila. E agora, a gente vai fazer exatamente o que ele mandar."*
Marcos engasgou.
— Você quer que eu... que eu transe com ela... na frente de você?
— Não. Eu quero que você *obedeça*. Existe diferença. — Eu me levantei, caminhei até ele, me abaixei para ficar na altura dos olhos dele. — No xadrez, Marcos, a Torre se move em linha reta. Sem desvios. Sem criatividade. Ela existe para cercar, para bloquear, para *prender*. Hoje, você é a minha Torre. E você vai fazer exatamente o que eu mandar, no ritmo que eu mandar, ou a tua vida desmorona antes da meia-noite. Entendeu?
Ele assentiu, quebrado.
— Entendi.
— Ótimo. Agora levanta. Vai lavar esse rosto de choro. Ela não pode perceber que você está cagado de medo. Você é o "macho alfa", lembra? — Eu dei um tapinha condescendente no ombro dele. — Faz teu papel.
***
**JOGADA 3: A ENTRADA DA RAINHA**
18h29.
A porta se abriu.
E lá estava ela.
Camila entrou como sempre entrava nos encontros ilícitos: sorriso largo, olhos brilhando de adrenalina, a bolsa Louis Vuitton (que EU tinha comprado no aniversário dela) jogada no ombro. Ela usava um vestido preto justo, salto alto nude, o cabelo solto caindo em ondas sobre os ombros.
Ela estava linda.
E eu não senti absolutamente nada.
— Amor! — Ela se jogou nos braços de Marcos, que a segurou com rigidez teatral. Ela não percebeu. Estava ocupada demais com os próprios hormônios. — Que lugar é esse? Você enlouqueceu? Isso aqui deve custar uma fortuna!
— Você merece — Marcos murmurou, a voz tensa.
Ela riu, aquela risada aguda e irritante que eu costumava achar fofa. Agora soava como unha em quadro-negro.
— Me trata tão bem... — Ela o beijou, a língua invadindo a boca dele com fome. As mãos dela já estavam desabotoando a camisa dele.
Eu assisti de onde estava, escondido no banheiro, através da fresta da porta. A ereção que eu esperava sentir — algum resquício perverso de tesão voyeurista — não veio. Eu estava *entediado*. Como alguém assistindo a um filme que já viu mil vezes.
Marcos a guiou até a cama. Ela caiu de costas, rindo, as pernas se abrindo automaticamente. Ele subiu por cima dela, beijou o pescoço, as mãos tremendo enquanto puxava o zíper do vestido.
— Marcos... — Ela gemeu. — Me fode logo... tô molhada desde que saí do escritório...
**Vadia.**
A palavra ecoou na minha cabeça com a frieza de um diagnóstico médico. Não era raiva. Era *constatação*.
Marcos tirou o vestido dela. Ela não usava sutiã. Os seios — que eu tinha pago para "corrigir" depois da gravidez dos gêmeos — balançaram livres. Ele abaixou a calcinha dela, rendada, vermelha. Também comprada com o meu dinheiro.
E então, como ensaiado, Marcos parou.
— Eu trouxe uma surpresa pra você, amor.
Camila riu, ofegante.
— Que tipo de surpresa?
Marcos olhou para a porta do banheiro.
— Você vai ver.
E então, ele me deu a deixa.
Eu abri a porta.
***
**JOGADA 4: O XEQUE**
Camila me viu.
E o mundo dela colapsou.
Eu vi nos olhos dela: primeiro confusão, depois reconhecimento, depois horror absoluto. A boca abriu num grito silencioso. Ela tentou se cobrir com as mãos, patética, como se eu não tivesse visto cada centímetro daquele corpo mil vezes antes.
— J-João... — A voz saiu estrangulada. — O que... o que você tá fazendo aqui?
Eu caminhei até a poltrona. Sentei. Cruzei as pernas. Tomei um gole do whisky.
— Boa noite, Camila. — Minha voz estava calma, quase cordial. — Desculpa interromper. Continua.
Ela olhou para Marcos, desesperada.
— Marcos, o que tá acontecendo?!
Marcos a segurou pelos pulsos quando ela tentou se levantar. Ele estava pálido, suando, mas obedeceu o roteiro.
— Ele já sabe de tudo, Camila. E agora, a gente vai fazer exatamente o que ele mandar.
Ela começou a gritar.
— SOLTA! SOLTA, PORRA! JOÃO, ME AJUDA!
Eu ri. Foi a coisa mais natural do mundo.
— Te ajudar? — Eu me inclinei para frente. — Amor, você tá pedindo ajuda pro marido que você chifrou por seis meses? Pro pai dos seus filhos que você humilhou no banco de trás de um carro estacionado no shopping? — Eu fingi pensar. — Não. Acho que não.
Ela começou a chorar. Lágrimas grossas, rímel escorrendo.
— Por favor... por favor, João, me perdoa... foi um erro...
— Erro é errar no Excel. Erro é esquecer o aniversário de casamento. — Eu me levantei, caminhei até a cama. Ela tremeu quando me aproximei. — Mas você não *errou*, Camila. Você *escolheu*. Você escolheu cada mensagem. Cada foto. Cada vídeo que mandou pra ele gemendo igual uma puta. Cada mentira que você contou olhando nos meus olhos. — Eu me abaixei, o rosto a centímetros do dela. — Você jogou a partida. E agora, eu vou te dar o xeque-mate.
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**JOGADA 5: O SACRIFÍCIO FORÇADO**
Eu voltei para a poltrona.
— Marcos. Continua.
Marcos congelou.
— João... cara, eu não consigo...
Eu peguei o celular, desbloqueei, coloquei o dedo sobre o botão "Enviar" do e-mail.
— Eu vou contar até três.
— NÃO! — Marcos entrou em pânico. — Tá bom! Tá bom, porra!
Camila olhou entre nós dois, a sanidade derretendo em tempo real.
— Marcos... Marcos, não... por favor...
Mas Marcos, o "macho alfa", o "amante apaixonado", já tinha feito a escolha dele.
Ele a beijou. Não foi carinhoso. Foi desesperado, mecânico. E enquanto a beijava, a mão dele deslizou entre as pernas dela.
— NÃO! — Camila gritou, tentando fechar as coxas. — NÃO, MARCOS, PARA!
— Ela tá molhada — Marcos disse, a voz morta. Ele olhou para mim, esperando aprovação como um cachorro espera um petisco.
Eu sorri.
— Óbvio que tá. Putinha sempre fica molhada quando é humilhada. — Eu apontei para o pau dele. — Agora tira essa calça e faz o que você faz de melhor. Fode ela.
Camila me olhou com ódio puro.
— EU TE ODEIO! EU TE ODEIO, SEU FILHO DA PUTA DOENTE!
— Eu sei. — Eu tomei outro gole. — Mas você ainda vai gozar. Porque o teu corpo é mais honesto que a tua boca.
***
**A CENA**
Marcos a fodeu.
E eu assisti a cada segundo.
Não foi sexo. Foi execução. Ele a penetrou com força, as mãos segurando os pulsos dela acima da cabeça. Camila chorava, gritava, cuspia insultos. Mas o corpo dela... o corpo dela traía.
Eu vi quando os quadris dela começaram a responder. Quando os gemidos de raiva se misturaram com gemidos de outra coisa. Quando a respiração acelerou não só de pânico, mas de *excitação* involuntária.
— Diz pra ele que você me ama — ordenei.
— NUNCA! — Ela cuspiu.
Eu olhei para Marcos.
— Para.
Ele parou no meio da estocada. Camila gemeu de frustração, e o ódio nos olhos dela se aprofundou quando percebeu a própria reação.
— Diz, ou ele não continua.
Ela me encarou. Lágrimas. Rímel. Humilhação. E então, numa voz quebrada:
— Eu... eu te amo, João.
— Mentirosa. — Eu ri. — Mas serve. Continua, Marcos.
E ele continuou. E ela gozou. Gritando, cuspindo ódio, socando o peito dele, mas *gozando*. O corpo convulsionou, as costas arquearam, e eu vi a alma dela se estilhaçar em tempo real.
Quando Marcos gozou dentro dela, segundos depois, Camila virou o rosto para o lado e vomitou na cama.
***
**O MATE**
Eu me levantei, ajeitei a camisa, terminei o whisky.
— Marcos. Levanta. Vai embora.
Ele saiu da cama tropeçando, puxando a calça, o pau ainda babando. Ele não olhou para Camila. Não olhou para mim. Apenas fugiu pela porta como o rato que sempre foi.
Camila ficou deitada, nua, destruída, coberta de fluidos e vergonha.
Eu peguei o roupão que estava no banheiro e joguei em cima dela.
— Se cobre. Você tá ridícula.
Ela se enrolou no tecido, soluçando.
— Por que... por que você fez isso...
Eu me agachei ao lado da cama.
— No xadrez, Camila, existe uma jogada chamada *Gambito da Rainha*. Você sacrifica a peça mais poderosa do tabuleiro para ganhar vantagem estratégica. — Eu acariciei o cabelo suado dela. Ela tremeu. — Eu te sacrifiquei hoje. Te joguei no meio do tabuleiro como isca. E agora? Eu ganhei o jogo.
— Eu vou te denunciar... vou dizer que você me obrigou...
Eu sorri.
— Com qual prova? As câmeras mostram você chegando feliz, beijando ele, abrindo as pernas sem ninguém te forçar. — Eu me levantei. — Mas eu tenho provas de seis meses de adultério. Mensagens. Fotos. Vídeos que você mandou pra ele com a buceta escorrendo. — Eu me virei para sair. — Advogado já tá preparando os papéis. Até sexta, você tá fora de casa. Sem pensão. Sem guarda dos filhos. Sem nada.
Ela gritou:
— EU VOU TE DESTRUIR!
Eu parei na porta. Olhei para trás.
— Você já tá destruída. — Eu sorri. — Xeque-mate, amor.
E saí.
Lá fora, o neon vagabundo do motel piscava. Entrei no carro. Liguei o som. Uma música qualquer.
E pela primeira vez em meses, eu respirei fundo.
Livre.
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“A verdadeira jogada é aquela que não é vista” ♟️🖤
E então ele disse: “E julgar-te-ei como são julgadas as adúlteras e as que derramam sangue; e entregar-te-ei ao sangue da fúria e do ciúme. E entregar-te-ei nas mãos deles, e eles derrubarão a tua câmara e destruirão os teus altos lugares, e te despirão os teus vestidos, e tomarão as tuas joias de adorno, e te deixarão nua e descoberta. E farão subir contra ti uma multidão, e te apedrejarão com pedras, e te traspassarão com as suas espadas.”
Aguardem a última parte… a vingança ainda não acabou.