Os segredos de Clara. 04

Um conto erótico de Daniel
Categoria: Heterossexual
Contém 4142 palavras
Data: 26/12/2025 08:08:45

Os segredos de Clara. 04

—Faremos um anúncio público em todos os jornais locais, o que servirá como reconhecimento formal da sua separação. Você não fez nada de errado, então não precisamos amenizar a situação. Podemos afirmar claramente que se deve à infidelidade de Clara com um membro da sua família. Podemos até mencionar o nome de Zaqueu, se você quiser. Em seguida, enviaremos o que chamamos de um e-mail, telefonema ou carta de cortesia para todos os nossos familiares e amigos, incluindo a família de Clara, onde daremos mais detalhes, mencionando nomes e datas, e informaremos que temos provas concretas que teremos prazer em compartilhar. Faremos cópias das cartas, digitalizaremos e deixaremos que a curiosidade natural das pessoas ou o gosto por fofocas façam o trabalho por nós. Qualquer pessoa que perguntar e acredite, vão perguntar, nós compartilharemos as cartas; todas elas. Como eu já disse, Dani, você não fez nada de errado. Nem fez nada de que deva se envergonhar. Qualquer pessoa que saiba alguma coisa sobre você sabe que você sempre tratou Clara como uma rainha.

Pensei no plano da Mel. Era simples, honesto, eficaz e eu manteria minha integridade, mas como meu coração se entristecia pela perda dos meus planos de vingança, pela chance de ver os dois cobertos de clamídia e com o sêmen escorrendo, com os órgãos sexuais em chamas a cada xixi. E, claro, eu adoraria ter a oportunidade de enfiar os testículos doentes do Zaqueu goela abaixo, mas acho que teria que me contentar com a maior parte da nossa família e amigos ostracizando. Não pude deixar de pensar que eles estavam se safando. Às vezes, ser honrado era uma droga.

— E a tia Sueli? — Perguntou Saulo.

— Temos que encarar a possibilidade de que ela não abandone o Zaqueu, afinal, ela é a mãe dele, mas se ela ficar ao lado dele, então que se junte a ele no exílio, porque não vou tolerar que ninguém trate nenhum dos meus filhos da maneira como Zaqueu e Clara trataram o Dani.

Sua voz era determinada, mas vi a tristeza em seus olhos; perder a irmã lhe causaria muita dor.

— Não podemos, sei lá, encontrar alguma maneira de usar as cartas para realmente humilhá-los e envergonhá-los? Talvez fazer cartazes e espalhá-los pela cidade toda? Espalhar vídeos por toda a internet? Eu só acho que precisamos fazer mais.

Fiquei comovido com a lealdade de Mel a mim e a toda a nossa família. Ela era feroz em sua devoção. Saulo certamente tinha encontrado uma joia rara ao se casar com ela. Eu jamais conseguiria imaginá-la traindo ou usando Saulo da mesma forma que Clara fez comigo. Olhei para minha família e me senti abençoado, sem que eu pedisse nada, minha batalha se tornou a deles. Isso era algo que Clara jamais poderia tirar de mim.

— Poderíamos, querida, mas quero que você pense um pouco. Esqueça, por enquanto, as implicações legais se fizéssemos algo assim. Se você tivesse que escolher, entre o homem que você ama, te odiar ou ser totalmente indiferente a você, o que você preferiria? — Disse minha mãe para Mel.

Mel ponderou sobre a pergunta da minha mãe.

— Ah, eu detesto admitir, mas preferiria que ele me odiasse, porque isso significaria que, pelo menos, eu o teria afetado de alguma forma. E o ódio pode se transformar em amor. Se ele fosse indiferente, significaria que eu não existiria aos olhos dele. Eu odiaria me sentir como se fosse uma não-entidade. Como se eu fosse avaliada e descartada como irrelevante.

— Exatamente. Na minha opinião, o oposto do amor não é o ódio, mas sim a indiferença. Clara ficaria muito mais magoada se Dani fingisse não se importar nem um pouco, do que se perdesse a cabeça e a insultasse. Ela é uma garota vaidosa, não vai gostar de se sentir desprezada e insignificante.

— Você está presumindo, mãe, que ela se importa com o que eu penso e sinto, e considerando a mulher revelada nessas cartas, isso pode ser um exagero.

— Ah, sim, Dani. Ela te quer. Pode não ser pelos motivos que você imaginava, mas ela te quer. Ela não teria ficado por perto por doze anos se não quisesse, nem se dado ao trabalho de esconder sua verdadeira natureza. Quaisquer que sejam suas motivações, ela não vai querer que você a afaste.

— É, ela queria um otário ingênuo para bancar o estilo de vida dela. — Murmurei, sem conseguir disfarçar a amargura que sentia.

As respostas surgiam em profusão, uma após a outra, cada uma falando ao mesmo tempo.

— Você não é ingênuo; você confia. Há uma diferença.

— Você não é nenhum otário.

— Não deixe que ela te faça pensar assim. Não dê a ela esse poder.

— Você não é o bobo. Ela é. Ela tinha um homem maravilhoso que faria qualquer coisa por ela e o desperdiçou.

— Obrigado, pessoal, mas não consigo evitar me sentir estúpido e usado. Ela me enganou por doze anos. Nunca suspeitei de nada. Se eu não tivesse me deparado com aquelas cartas, ainda estaria me desdobrando para fazê-la feliz. E estaria trabalhando na nossa casa nesse momento.

— Bem, então, somos todos tolos. — Afirmou minha mãe. — Porque, apesar das desconfianças, nenhum de nós suspeitava de algo assim.

— Filho, você não é tolo, nem nós. — Disse meu pai. Sua voz era firme, não admitindo discussão. — Quando você se apaixona e se casa, você deposita sua confiança nessa pessoa; é assim que o casamento funciona. E você continua confiando até que ela faça algo para destruir essa confiança. Clara era claramente excelente em enganar, e você não saberia disso até que ela cometesse um erro. Seria um dia triste para a humanidade se entrássemos em todos os relacionamentos com suspeita e esperando o pior. Por isso eu acho que ela deve receber uma boa lição.

— Então você está dizendo que eu tenho que esconder o quanto estou magoado e com raiva e fazer a Clara pensar que eu não ligo.

Minha mãe assentiu. — Sim. Deixe-a tentar se explicar, afinal, informação é poder. Ela pode até se encurralar com as próprias mentiras. Dê a ela corda suficiente para se enforcar. Eu até gravaria as conversas de vocês. Seu celular faz isso, não é? — Ela fez uma pausa, vendo a minha expressão. — Querido, eu sei que vai ser difícil de ouvir, talvez seja melhor não ouvir, talvez tente se desligar enquanto ela estiver falando. Aliás, é uma boa ideia, vai te ajudar a manter a calma. Cada vez que ela parar, dê de ombros ou diga algo como 'tanto faz' ou 'já terminou? Eu tenho que fazer isso e aquilo'. Olhe para o relógio, tente parecer entediado. Fale o mínimo possível. Não ceda a nenhuma das provocações, súplicas ou manipulações dela. Ela vai tentar todas em algum momento. Mas você tem que ser forte

— Mas se eu fizer isso, nunca vou conseguir dizer a ela nada do que eu quero dizer. Não quero passar a vida inteira com essa merda me corroendo por dentro. Eu tenho que despejar tudo em cima dela.

Meu pai segurou meu joelho.

—Não é para sempre, Dani. Pense nisso como uma guerra ou um jogo de xadrez. Esta é uma estratégia para o ataque inicial. Ela é a inimiga, filho. Você não quer que ela veja sua vulnerabilidade. Mais tarde, quando a poeira do divórcio baixar, você poderá dizer a ela o que precisar ou quiser. Provavelmente será melhor então. Você já terá ouvido todas as desculpas e argumentos dela e terá respostas prontas. Você poderá ensaiar e aprimorar o que quer dizer e dizer com calma. Faça assim e você poderá transformar suas palavras em armas para destruí-la; faça agora e você provavelmente dirá ou fará algo de que se arrependerá.

Assenti com a cabeça. Ele tinha razão. Se eu abrisse a boca agora, não conseguiria conter a enxurrada de recriminações que queria lançar contra ela. Não conseguiria esconder minha dor nem minha raiva. Eu a afogaria nelas e aí ela saberia exatamente como me provocar.

Conversamos um pouco mais e minha mãe e Mel até me fizeram praticar cara de tédio e indiferença enquanto elas repetiam as desculpas clichês usadas para adultério. "Não significou nada", "Foi só sexo", "Eu estava entediada/sozinha", e a cereja do bolo: "É você e somente você que eu amo, ele não significa nada para mim".

Quando terminaram comigo, eu me sentia confiante de que conseguiria desempenhar meu papel, contanto que o confronto não durasse muito tempo.

# # #

Preparado ou não, fiquei aliviado ao ver que Clara não estava me esperando quando cheguei em casa. Eu sabia que ela não estaria longe, já que seu expediente normalmente terminava logo depois das cinco e agora eram cinco e quinze.

Descarreguei meu equipamento, amaldiçoando a forma como meu estômago se revirava só de pensar no meu iminente confronto com Clara. Nem mesmo as respirações profundas conseguiam aliviar o aperto. Servi-me de um pouco de conhaque, contemplando sua cor âmbar por um longo momento antes de tomar um gole. Fechei os olhos e o girei na boca, revestindo minha língua e gengivas antes de deixá-lo escorrer, gota a gota, pela minha garganta. A ardência era agradável, calmante, exatamente o que eu precisava.

Às cinco e quarenta, bateram à porta. Respirei fundo algumas vezes, dei uma rápida olhada no espelho para garantir que minha expressão estivesse neutra e eu estava quase pronto. Peguei meu celular, liguei a gravação e o guardei no bolso junto com as chaves do depósito. Agora eu estava pronto.

A caminhada pelo corredor foi lenta; eu me sentia como se estivesse atravessando lama espessa. Abri a porta e pisei na varanda da frente, obrigando Clara a dar um passo para trás. A porta se fechou atrás de mim com um baque surdo.

Seu perfume familiar me envolveu, atingindo-me com a força de um soco no estômago. Imediatamente passei a respirar pela boca.

— Dani? Que diabos? Onde você esteve e por que não retornou minhas ligações nem minhas mensagens? E você trocou as fechaduras? Por quê?

Enquanto ela falava, visivelmente irritada e frustrada, percebi que ela não sabia da minha descoberta das cartas de amor. Ela desconhecia que eu sabia do seu caso extraconjugal de longa data. Num impulso, decidi mantê-la na ignorância, deixar que a vadia lesse sobre isso nos jornais como todo mundo. Assim, ela teria seus quinze minutos de fama, igualzinha às celebridades que idolatrava.

— Olá, Clara. Sim, eu troquei as fechaduras. Com nosso décimo aniversário se aproximando rapidamente, fiz uma reflexão profunda e cheguei à conclusão de que cansei de fingir que te amo. Na verdade, isso se tornou entediante e trabalhoso demais, então decidi me divorciar de você.

— O que?.... Como assim?

A expressão de choque da Clara foi impagável. Fiz um esforço enorme para não sorrir de alegria ao ver seu espanto.

— Você me ouviu. Eu não te amo. Eu não te quero, então estou te expulsando.

— Você não pode fazer isso. Eu não acredito em você. Eu te amo. Você me ama. Eu não entendo. Esta também é a minha casa. Com que direito você me expulsa da nossa casa?

Suas frases desconexas diziam muito sobre sua confusão, e a parte de mim que a odiava e odiava o que ela fazia se deleitava com isso.

— Acabei de te dizer que não te amo. Estava fingindo. E posso te dar um pé na bunda. Acabei de fazer isso. Aqui estão as chaves do depósito onde guardei todas as suas coisas. Se eu esqueci de alguma coisa, me mande uma mensagem e eu empacoto tudo e deixo aqui na frente para você.

Ela aceitou as chaves, olhando para elas como se nunca tivesse visto uma chave antes na vida.

— Mas..., mas esta casa também é minha. Você não pode me expulsar. Eu tenho tanto direito quanto você de morar aqui.

— É verdade, mas se você se mudar para cá, eu saio, e quem vai terminar a reforma depois? E com certeza eu não vou pagar o financiamento de um lugar onde não estou morando, então se você realmente quer morar aqui numa casa inacabada, fique à vontade, mas você é quem vai pagar o empréstimo bancário e qualquer obra. Eu não vou desembolsar um centavo.

Lágrimas escorriam pelas bochechas dela. Endureci meu coração e lutei contra o treinamento de doze anos que me impelia a estender a mão e confortá-la. Olhei para o meu relógio, tentando parecer indiferente.

— Não entendo, Dani. O que está acontecendo? Quando fui para o spa, você disse que me amava quando me deu um beijo de despedida. E agora... agora você quer o divórcio?

Sua voz tremia. Ela estendeu a mão para o meu braço. Eu me afastei.

— Sim, eu quero o divórcio.

— Por quê? O que aconteceu para querer isso? Você conheceu alguém? Está tendo um caso? Você viajou com ela, foi isso?

Foi preciso toda a minha força de vontade para respirar normalmente e manter uma expressão neutra. Minhas mãos literalmente coçavam para se fecharem em volta do pescoço dela e apertarem até que não restasse uma gota de ar em seus pulmões. Eu queria olhar em seus olhos enquanto a vida a deixava. Ela havia matado uma parte de mim, então parecia justo que uma parte dela morresse também.

— Não. Nenhum caso. Só estou farto de você e pronto para uma mudança.

— Por que, Dani? Por que você está agindo assim? Não entendo como você pode mudar tão de repente. Como você pode ser tão cruel. Isso não é típico de você.

Eu estava chegando ao limite da minha capacidade de atuação. Precisava terminar com aquilo logo ou acabaria matando aquela vadia ou vomitando palavrões em cima dela.

— Olha, eu vou sair hoje à noite e gostaria de tomar um banho e trocar de roupa, então podemos conversar sobre isso em outra hora.

Ela ficou parada com a boca aberta, lágrimas escorrendo pelo rosto. Ponto para mim: ela não tinha a menor ideia do que estava acontecendo.

Voltei para dentro de casa, deixando-a parada na varanda, em lágrimas. Assim que entrei, encostei-me na parede para me apoiar, exausto. Meu Deus, essa história de fingir era exaustiva; como ela tinha conseguido fazer isso por doze anos?

Recostei-me na minha poltrona, remoendo o que havia dito e ouvido e fiquei indeciso entre assistir a um filme ou ir para a cama e tentar dormir um pouco. Ainda não havia me decidido quando ouvi uma batida na porta. Pensando que era Clara de volta para a segunda rodada, abaixei o queixo até o peito e fiz uma oração silenciosa pedindo calma e força.

A caminho da porta da frente, parei em frente ao espelho do hall para verificar se minha expressão facial neutra estava no lugar e para configurar meu celular no modo de gravação.

Abri a porta. — Olha, Clara... Pai? Saulo?

Eles sorriram para mim.

— Boa cara de tédio, filho.

Todos rimos, foi uma sensação boa. Dei um passo para o lado e, como já tinham estado muitas vezes na minha casa, eles foram até à minha cozinha e serviram-se de cerveja.

— Vejo que você não estava brincando quando disse que tinha feito uma pequena 'des-reforma'. — Observou Saulo enquanto se acomodava em uma das pontas do sofá.

Dei uma risadinha irônica. — Sou um homem de palavra. Então, mamãe mandou vocês dois aqui para ver como estou?"

— Não. Foi ideia minha, mas eu e o Saulo não estamos aqui para cuidar de você. Estamos aqui para te ajudar a planejar uma pequena vingança contra o Zaqueu. Imaginamos que você precisaria de algo mais do que apenas uma cara vermelha para aquele desgraçado. Mas se sua mãe perguntar, a gente só jogou cartas e te deixou bêbado.

— Pai, que isso?

— Uma mentirinha para proteger a sensibilidade dela não lhe faz mal nenhum. — Ele piscou para mim.

— E faz bem ao marido se ele quiser um pouco de intimidade. — Saulo e eu rimos baixinho. — Sua mãe é uma mulher boa e gentil, e eu a amo muito, mas, como a maioria das mulheres, ela não entende como a mente de um homem funciona. As mulheres não entendem a necessidade que um homem tem de manter seus, ah, testículos. — Meu pai deu de ombros, sorrindo. — Às vezes, um homem tem que fazer o que tem que fazer.

— Você está falando sério? E todas as suas lições para mim e para o Saulo sobre não resolvermos as coisas por conta própria? Sobre a violência não ser a resposta? Ou sobre duas coisas erradas não fazerem uma certa?

— Acho que fiz um ótimo trabalho em incutir um pouco de honra em vocês. Diga-me uma coisa, Dani. Se o Zaqueu —Meu pai ergueu a mão para me silenciar quando abri a boca para interromper. — Deixe-me terminar. Se o Zaqueu tivesse entrado na sua casa um mês atrás e lhe dissesse na sua cara que ia roubar a Clara de você, que ia levá-la embora ali mesmo, você o teria desafiado? Teria lutado com ele por ela?

—Claro.

Meu pai apenas ergueu uma sobrancelha. Foi o suficiente para que eu tivesse uma epifania.

— Ah, ok. Entendi.

— Já era hora. — Disse Saulo. — A única diferença é que o desgraçado não teve coragem nem decência de te dizer isso na cara.

— É verdade, mas Clara também tem culpa, ela pode até ter sido a instigadora. As cartas dão a entender que ela teve muita influência nas besteiras que eles fizeram, e eu não posso simplesmente ir lá e quebrar o nariz dela, posso?

— Não, você não pode, mas lidaremos com ela de outras maneiras. — Concordou meu pai. — Mas, no caso do seu primo talarico, não me importa se a vadia se despisse, se deitasse de bandeja e se oferecesse a ele com sinos nos mamilos, ele deveria ter dito não. Você é parente dele. Do sangue dele. Além disso, você era amigo dele, quase irmãos. Ele deveria ter ido embora. Talvez, dado uma boa olhada, mas ido embora mesmo assim. Ele não foi.

— Sinos nos mamilos dela, pai? — Todos rimos. — Ok, estou convencido. Vamos descobrir como vou fazer isso sem acabar na cadeia.

####

O fim de semana passou mais rápido do que eu imaginava. Minha família quase não me deixou sozinho. Eles me mantiveram ocupado fazendo planos, os do papai e do Saulo um pouco diferentes dos da mamãe e da Mel...

Foi a melhor coisa que poderiam ter feito. Isso me manteve focado e capaz de reprimir minha dor e meu sofrimento. Talvez, acima de tudo, transformou minha raiva latente, prestes a explodir, em algo frio, implacável e determinado. Algo construtivo em vez de destrutivo.

Mamãe e Mel elaboraram um anúncio e se encarregaram de publicá-lo não só no jornal local, mas também no jornal gratuito e em outro jornalzinho da cidade mais próxima, que era popular entre os moradores por ter uma ótima cobertura esportiva. O anúncio seria publicado em todos os jornais na segunda-feira seguinte e ficaria circulando todos os dias da semana. Mamãe, coitada, queria ter certeza de que todos na nossa querida cidade vissem o anúncio.

Clara ligou algumas vezes e me escreveu um longo texto. Deixei as ligações irem para a caixa postal, onde ela deixou mensagens enormes. Todas diziam basicamente a mesma coisa: ela me amava, para eu não jogar fora o nosso amor e os doze anos felizes que passamos juntos. Dei uma risadinha irônica. Será que ela era tão arrogante a ponto de achar que eu ainda não sabia do caso dela? Será que ela estava tentando me enganar? Fingir que nada estava acontecendo? Será que ela realmente me conhecia tão pouco a ponto de achar que eu podia desligar meus sentimentos como se fossem uma torneira? Aparentemente, sim.

O único momento constrangedor foi quando estávamos todos na casa dos meus pais para jantar no domingo à noite e Clara apareceu bem na hora em que íamos nos sentar. Mel e Saulo imediatamente levaram as crianças para o quintal para que não ouvissem o que havia acontecido entre minha mãe e Clara. Graças a Deus, eles fizeram isso, porque Clara deu um show, chorando e esperneando sem parar. A minha já grande admiração pela minha mãe aumentou ainda mais, ela permaneceu impassível diante da demonstração de emoção de Clara.

— Por favor, Eloá, você precisa interceder por mim. Eu não sei o que aconteceu com o Dani para ele estar agindo de forma tão irracional. Talvez ele esteja tendo algum tipo de crise emocional. Por favor, eu imploro; por favor, convença-o a falar comigo. Ele me ama. Eu sei que ama. Ele não pode ter parado de repente.

— Pelo que entendi, querida, ele nunca te amou. Não há muito o que fazer quanto a isso. Se, com palavras e ações, você não conseguiu inspirá-lo a te amar depois de doze anos juntos, não vejo como mais uma conversa vá mudar as coisas. Agora, se não se importa, tenho visitas e o jantar para servir.

E então ela fechou a porta na cara da vadia.

# # #

Na noite de segunda-feira, a primeira coisa que deu errado foi a Clara. Ela tinha lido ou sido informada sobre o aviso de separação e o anúncio no jornal que deixava claro o motivo da separação. Por volta das cinco e meia, lá estava eu; uma mulher histérica na minha porta, balbuciando as mesmas ladainhas de sempre sobre traição.

Por sorte, Saulo apareceu depois do trabalho. Saber que ele estava lá me ajudou a manter a compostura. Nunca fui tão grato pelo plano da minha família de não me deixar passar muito tempo sozinho. Eu sabia que ele me resgataria se parecesse que eu estava perdendo o controle ou me desviando do nosso plano.

— Dani, você precisa acreditar em mim. Não é o que você está pensando. Eu posso explicar.

Sinceramente, ela realmente me achava tão estúpido? Talvez ela tivesse razão; afinal, ela conseguiu me enganar por doze anos, mas, mesmo assim, qual outra interpretação seria possível? " Ficar ao lado do Dani, vendo você caminhar até o altar, sabendo que você estava cheia do meu esperma, é a coisa mais pervertida e excitante que eu já vivi" ou "Você realmente quer que eu te engravide? Cara, só de pensar em você ter um filho meu e o velho Dani criá-lo, meu pau fica duro como pedra"? Ela realmente achou que poderia me convencer de que era inocente? Justificado? Aceitável? Um comportamento razoável? Tudo isso junto?

— Olha, tanto faz, Clara. Não importa. Só mostra que é hora de seguir em frente, nosso casamento acabou.

— Não! — Clara gritou tão alto que eu tinha certeza de que nossos vizinhos ouviram.

Acho que minha mãe tinha razão, por algum motivo, Clara queria manter nosso casamento.

— Não. Não pode ser. Eu te amo, Dani. Por favor, me dê uma chance de explicar. Você precisa me deixar explicar.

— Eu não preciso dessa explicação, Clara, e permitir que você explique suas aventuras com meu primo é uma perda de tempo, não me interessa.

— Por favor, Dani. Apesar do que você disse, eu sei que te magoei e realmente não foi minha intenção. Por favor, deixe-me explicar.

Suspirei impacientemente. Eu daria uma chance para a vadia se explicar, não porque eu quisesse ouvir suas mentiras, finalmente havia superado essa necessidade mórbida, graças à minha família, mas porque minha mãe havia sugerido que deixássemos Clara se enforcar metaforicamente com suas mentiras. Mesmo assim, ela teria que se esforçar. Acabaram-se os dias em que me olhar com olhos de cachorrinho lhe daria o que queria.

— Qual é o sentido disso, Clara?

— Preciso que você entenda, Dani. Se você me deixar explicar, sei que posso fazer você entender.

Resmunguei novamente, olhando para o meu relógio.

— Tudo bem. Estarei disponível às cinco e meia da tarde de amanhã. Você terá trinta minutos. — Meu tom foi abrupto, deixando claro que eu estava relutante.

— Obrigado, Dani. Você não vai se arrepender, eu prometo. Onde? Onde nos encontramos?"

—Aqui.

Eu não confiava naquela vadia nem um pouco. Eu queria mais do que a gravação do meu celular. Queria privacidade, mas também queria testemunhas caso a situação piorasse ou ela tentasse mentir sobre o que foi dito ou feito durante o encontro. Fazendo a gravação em casa, eu poderia ter um familiar por perto para ouvir.

— Obrigado, Dani. Muito obrigado.

Clara deu um passo à frente, diminuindo a distância entre nós, e colocou as mãos nos meus ombros. Ela se ergueu na ponta dos pés e se inclinou como se fosse me beijar. Suas intenções eram tão óbvias. Será que ela realmente pensava que, se me beijasse, eu me derreteria e perdoaria tudo? Eu não conseguia decidir se ela era arrogante ou dissimulada. Segurei suas mãos e, ao mesmo tempo em que recuava, a empurrei, fazendo-a perder o equilíbrio e tropeçar.

Estremeci, deixando transparecer minha repulsa no rosto. — Por favor, não se atreva a me demonstrar afeto.

— Me desculpe. É que... eu te amo e sinto sua falta, Dani.

— Tanto faz, Clara. Te vejo amanhã à noite.

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Comentários

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Que conto bom, viu?

A mãe do corno foi bem assertiva ao dizer que Clara faria muito esforço, com desespero, para manter o relacionamento, para se explicar, mesmo depois de tudo que fez.

Digo isso porque o questionamento do corno foi bem justo. Ele disse algo mais ou menos assim: "se ela quer tanto o talarico, por que não ficou com ele desde sempre?"

Essa pergunta eu sempre me faço em todos os contos e histórias que leio/assisto sobre traição. Mas isso é minha mente racional analisando, sou sempre preto no branco. E, infelizmente para mim, os relacionamentos são complexos demais onde nem sempre 1+1=2.

Como os amigos que comentaram abaixo, estou curioso também para saber as justificativas da Clara. Porém, já penso de antemão que será preciso ser algo muito, muito, muito e muito criativo para que consiga convencer o Dani do contrário e assim possam reatar o relacionamento. Vejo, falo de reatar mesmo.

Eu já pensei em algumas justificativas que sejam justas, mas não tem. Ainda mais depois do teor que foi encontrado nas cartas: ela indo casar cheia de porra do talarico ou o desejo dela de engravidar do talarico pro corno criar. Como que se justifica isso? Nem mesmo se for ameaça ou chantagem, isso seria justificável a ponto de reatar.

Perdoar, eu sei que futuramente Dani o fará isso. Ele é uma boa passoa e perdão faz bem pro corno, mais do que qualquer outra coisa.

Já estou ansioso pelo próximo.

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Finalmente as justificativas. Ansioso pra ler o que essa mulher vai contar.

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Eu também!!! Eu também estou doida para saber as justificativas !!!!

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