As Emoções do Rodeio

Um conto erótico de Cavaleiro do Oeste
Categoria: Heterossexual
Contém 12146 palavras
Data: 03/12/2025 01:39:05

O RODEIO

Você já esteve em alguma festa do peão? Se sim, talvez não imagine o trabalho que dá até estar pronto.

Vou contar pra vocês como era aquilo tudo no final dos anos 90 e meados dos 2000…

A SEMANA ANTES – QUEM VIVE DO RODEIO NÃO DORME

Uma semana antes da porteira abrir, eu já estava com o mapa na cabeça queimando.

Interiorzão perdido, entre tantos, ainda escuro, quatro da manhã, subindo na caminhonete, café preto no copo de plástico, rádio chiando modão antigo, terça ou quarta-feira.

Tinha que voltar para São Paulo descarregar cavalo, pegar outro caminhão, abastecer tudo, pagar o pessoal da semana passada, conferir se o boi que deu campeão em Goiás ia repetir a dose em Mato Grosso ou se a gente levava um outro reserva.

Era um tal de cortar estrada dia e noite: São Paulo → Goiás → Mato Grosso → descer pro Paraná → Minas Gerais→ Mato Grosso do Sul… sem parar.

Quilometragem que não acabava mais, placa atrás de placa, pneu furado no meio do nada, diesel caro pra um caralho, comprando ração de primeira pra tropa e boiada, e no telefone negociando tudo, ajeitando, o parceiro de negócios correndo em outro Estado.

Porque não era só levar cavalo e boi, não. Era pensar em cada detalhe pra turma não passar aperto: Onde essa rapaziada vai dormir na cidade que não tem hotel nem pousada?

Escola municipal? Ginásio de esporte? Galpão de cooperativa? No próprio recinto?

A gente chegava de chapéu na mão, prometendo pulseira e ingressos, entrada gratuita pra família toda, foto com o locutor famoso… qualquer coisa pra prefeito, secretário ou vigia liberar o chão pro pessoal estender o colchonete.

E o banho? Mangueira no quartel dos bombeiros, vestiário do estádio, ginásio de esportes, ou, na pior, o rio ou corgo mais próximo.

Marmitex? Fechava com a dona “Ana ou Maria” do restaurante da rodovia: “Dona Maria, é 30 marmitex por dia, no almoço e janta, quarta, quinta, sexta, sábado e domingo… tem que ter carne, feijão, arroz e uma salada, pelo amor de Deus, tia!”

O café da manhã era outros quinhentos…

Tinha dia que eu parava a caminhonete no acostamento, abria o capô só pra fingir que tava com defeito, e ficava ali meia hora pensando: “Qual cavalo pula na sexta? Qual tá mais inteiro… não, não, aquele branco embuchou no brete… e os da final no domingo? Aquele boi de 89 pontos da outra semana, será que repete?”

Porque se errava a ordem, peão perdia prêmio, tropeiro perdia fama, todo mundo perdia o ano inteiro. E o povo lá na cidade só esperando a festa pronta, luz piscando, som ligado, mulher bonita na arquibancada…

Mal sabiam que uma semana antes a gente tava implorando chão pra turma dormir, rios de diesel e arrobas de marmitex, cortando o Brasil de ponta a ponta pra fazer a mágica acontecer.

Quem vive do rodeio não tem folga, meu povo!

Tem estrada, tem responsabilidade e tem um orgulho danado de, no fim, ouvir a porteira abrir e o locutor gritar:

“Booooooa noite, meu povão bonito apaixonado! O rodeio começa agora…!”

É por isso que quando a luz apaga e o último caminhão vai embora, a gente dorme com o peito inchado… porque a festa nunca para, e quem faz ela acontecer somos nós, o povo trecheiro.

A CHEGADA

Chegava numa cidade que eu nunca tinha pisado, às vezes nem era no meu Estado… o coração já batia forte só de olhar o letreiro na entrada. Primeira coisa que passava na cabeça da peonada: “Será que aqui tem muié bonita?”.

E tinha. Sempre tinha. Tinha de sobra!

Antes mesmo do terreno da festa estar pronto, já era um inferno de barulho: marreta batendo estaca, ponta de eixo, grade de ferro caindo no chão fazendo aquele estrondo, caminhão dando ré, buzina, trator espalhando areia na arena.

Outro eterno dilema: peão queria areia fofinha pra cair macio, o tropeiro queria rala pra o cavalo ou boi pular mais alto, maís rápido.

Nas ruas, a cidade virava outra. Lojas com som altíssimo na porta: “Aproveita freguesia, camisa country, duas por cinquenta, botas masculinas e femininas, chapéu texano!”. Carros de som anunciando a festa, cartazes espalhados, rádios da região fazendo divulgação da atração e locais de venda de ingressos: “à vulso é tanto, permanente a tal valor…”

Mulherada saindo do salão com cabelo armado, perfume doce tomando conta da praça inteira. Rapaz novo de calça apertada e cinto grande, olhando de canto, já se achando o rei da festa.

Bar enchendo, caminhão de cerveja na porta fazendo entrega, padaria dobrando pão de queijo, restaurante botando mais carne no espeto, porque sabiam: “essa semana o povo vai comer, beber e gastar tudo.”

Polícia de olho vivo, porque onde tem rodeio tem confusão, mas também tem alegria. Negociantes de gado e velhos boiadeiros encostados na sombra, barba branca, contando causo: “Antigamente a gente montava em circo rodeio, nas touradas, sem proteção, no sorfete mesmo, sem nada… o burro jogava na cerca e a gente levantava rindo”.

Molecada de bicicleta correndo atrás dos caminhões da cia de rodeio, gritando “Tio, me leva!”, cachorro latindo, poeira subindo, e a gente ali, suando, de camisa aberta no peito mas contentes… porque sabia. Alí, era a gente que fazia a mágica acontecer. Pelo menos era isso que eu sentia, meus amigos.

Era vida pulsando forte, era o Brasil de verdade acontecendo ali, na areia da arena, no cheiro de breu e de perfume misturado.

E quando a porteira abria na primeira noite, a cidade inteira estava pronta… pronta pra viver a maior festa da vida dela, afinal… “As emoções do rodeio começam à partir de agora…”

QUINTA OU SEXTA – A HORA DO CIO NA CIDADE – AS MULHERES

Quinta-feira, umas quatro, cinco da tarde… a estrutura já estava quase pronta, a areia espalhada, o som testado, o cheiro de breu já subindo, parte elétrica nos conformes. Era a hora que a gente virava outro bicho. Eu pegava a caminhonete, baixava os quatro vidros, botava um modão country, óculos aviador espelhado na cara, camisa aberta até o meio do peito, barba crescendo, aquele típico cafajeste cowboy da estrada, que já rodou o Brasil inteiro.

Passava devagarinho pelo centro daquela cidade… devagar mesmo, pra todo mundo ver. E aí, começava o espetáculo. Balconista saindo da loja com o avental ainda no corpo, dona do salão de cabelo com a escova na mão, bancária saindo do banco com salto alto e saia justa… todas paravam. Paravam e olhavam. Eu via o cio acontecendo na minha cara, juro por Deus!

Olhar de canto, mordida de lábio, risadinha com a amiga do lado. As mais saidinhas já vinham direto:

—Ei, cowboy, você vai tá na festa hoje à noite, né?

Outras, mais tímidas, ficavam só olhando e falando baixinho:

–Nossa, ele tem uma cara de peão…safado!

Elas não sabiam de onde eu vinha ou para onde iria, se era tropeiro ou o quê ,… mas naquela hora eu era aquilo alí, um cowboy do trecho.

Engraçado como nos olhavam com curiosidade, tentando imaginar qual seria nossa próxima parada.

E as meninas de 18, 19 anos? Aquelas que nunca tinham saído mais de cem quilômetros da cidade natal?

Essas olhavam pra gente como se fôssemos super-heróis de filme americano.

Olho brilhando, vontade louca de subir na caminhonete e sumir estrada afora, conhecer mundo, fugir da placa “limite de município”.

Muitas só queriam uma noite de festa, outras já sonhavam com a boleia pra nunca mais voltar!

Eu descia da caminhonete, botava o chapéu na cabeça, acendia um cigarro, dava aquele sorriso de amansar onça e ia andando devagar pela calçada, conhecendo o local que seria minha cidade por uns dias… e atrás de mim era um rastro de perfume, risada e olhar querendo mais. Era safadeza da minha parte? Era!

Era um pouco de vaidade? Era demais!

Mas era também verdade: naquelas quintas ou sextas, a gente que cortava o Brasil de caminhonete ou caminhão, que dormia em locais precários, carregava o rodeio nas costas… virava dono da cidade por algumas horas. E quando a porteira abria à noite, muitas delas estavam lá, na arquibancada, com o cabelo feito, o batom vermelho, procurando a gente no brete com o olhar. Porque, amigos… o rodeio não era só montaria.

Era também essa caçada de olhares, esse cheiro de desejo misturado com terra batida, essa vontade louca de viver tudo em três ou quatro noites só. O povo daquela cidade queria viver com a gente, sentir aquilo tudo, por três ou quatro dias, enquanto estivéssemos por lá. Para no futuro, quando alguém perguntasse onde esteve em tal época, diria: “ eu tava no rodeio”.

QUINTA OU SEXTA – A RAPAZIADA OLHANDO COM RAIVA

Mas nem tudo era perfume de mulher e sorriso fácil, não… Tinha a rapaziada da cidade olhando torto. Os mesmos tipos de sempre, só mudava o CEP, Estado, mas era igual formiga e capim: tinha em todo lugar!

Aqueles briguentos de porta de bar, sem camisa, copo na mão, taco de bilhar na outra, peito estufado, falando alto pra todo mundo ouvir:

“Esse povo de rodeio não presta, tudo safado, são tudo viado…”

Era ciúme puro, amigos. Era tanta ciumeira que fedia. Porque a gente chegava de caminhonete, chapéu na cabeça, óculos, cheiro de homem safado misturado com aventura… e a mulherada virava o pescoço sem pudor. Aí o macho local, que se achava o rei do pedaço o ano inteiro, de repente virava coadjuvante na própria cidade.

Doía no ego. Doía pra caralho!

Eu já vi confusão começar por causa de um olhar a mais, de uma moça que sorri demais pro peão errado. Já vi copo e garrafa quebrada, cadeira voando, faca puxada, polícia separando na borracha e no braço… tudo por causa de mulher. (Eu mesmo levei uma facada no braço. Acredito que o sujeito ainda recebe alimentação via sonda)

Mas, olha que engraçado! Quem mais respeitava a gente era o povo das fazendas e sítios. Aqueles iguais a eu quando jovem, calça desbotada, chegavam quietinhos, de chapéu na mão:

—Ô patrão, eu monto até no capeta lá da fazenda, e de cara pra trás… deixa eu mostrá serviço pro cêis vê? — quantos não caíram no trecho dessa forma, outros tantos deixando para trás as dificuldades. Mas todos com um mesmo sonho. O sonho de rodar o Brasil conhecendo terras e gentes.

Era moleque querendo fugir de casa, subir no caminhão e rodar o Brasil com a gente.

Outros já chegavam com duas ou três canas na cabeça, peito aberto, querendo provar coragem na marra. E sabe o melhor? Quando a confusão realmente pegava, quando o ciumento da cidade vinha pra cima… eram exatamente esses mesmos roceiros que entravam na frente:

—Esse aí é parceiro da gente, deixa quieto e cai fora… ôh paiaço, num vai estraga a festa!

Porque, no fundo, o povo da roça entendia, e sabiam que a gente não vinha roubar nada.

A gente vinha trazer a festa, o movimento, o sonho… e levava só poeira, lembrança e, de vez em quando, uma moça que queria ver o mundo além da placa de limite de município. Então ficava assim: De um lado, o ciúme fedendo na porta do bar. Do outro, o respeito do povo da roça, que sabia o peso de uma laçada bem feita.

E a gente? A gente sorria, ajeitava o chapéu… e seguia vivendo a noite como se o mundo fosse acabar no domingo.”

AS HORAS ANTES DA ABERTURA – O SILÊNCIO QUE PRECEDE O RUGIDO

A tarde da quinta ou sexta… de repente a cidade ficava quieta. Todo mundo sumia. Era mulher tomando banho de duas horas, homem fazendo a barba, lavando carro, rapaziada engraxando as botas, escovando o chapéu. Até cachorro parecia saber que era dia de se arrumar. Duas, três horas antes da porteira abrir, a gente voltava pro recinto e parecia outro mundo. Pessoal do som passando o áudio: “Tsiii… tsiii… alô som, testando… um-dois… som, som, alôôô.”

Caixa de PA tremendo, microfone chiando, o locutor dando aquela gargalhada rouca de quem sabe que logo vai mandar o povão à loucura. Pirotécnico arrumando os tubos de fogos, contando no dedo: “esse aqui é o final, esse é o hino nacional…”

A gente fazia o sorteio com nome dos bois e cavalos: escrevia no papel, dobrava, colocava tudo dentro de um chapéu… depois a peonada ia tirando.

Bombeiro de olho em tudo, rádio na mão, capacete brilhando, Polícia Militar na ronda, ambulância de prontidão, seguranças rondando.

Funcionário da prefeitura rondando de canto, carinha de pidão:

“Ô Betão, será que arranja um ingresso pro meu sobrinho que veio da cidade vizinha?”

A gente dava, claro… porque sem eles a gente não tinha nem luz, nem água…

Parquinho de diversão testando: roda-gigante rangendo, carrinho de tromba-tromba, carrossel girando e tocando música de circo antiga.

Barraqueiro espalhando mesa e banco, acendendo a chapa, tacando fogo no carvão, óleo do pastel esquentando.

Luz piscando vermelho, verde, azul, amarelo… testando sequência pra quando a noite cair. Eu dava uma volta na arena com o encarregado da estrutura: balançava cada trava, batia com o pé pra sentir se tava firme, abria e fechava cada porteira de brete… porque se um travesseiro soltasse, era homem no chão e sonho no hospital.

E ali, de canto, sempre tinha um ou dois peões de chapéu na mão, olhando pra arena vazia e fazendo suas rezas, outros suas mandingas… um rezava baixinho, outro passava a mão no rosário, tinha quem enterrava uma figa ou patuá debaixo do brete, outro ainda cuspia três vezes pro lado e falava com o santo dele.

Todo mundo de olho no cartaz do prêmio!

Era o sonho de muita gente ali. E a gente, cascudo, camisa suada, olhava aquilo tudo e pensava:

“Caraiu… depois de dias cortando estrada, dormindo em qualquer canto, implorando pra entregar marmitex no horário… tá tudo pronto.”

Aí o sol começava a baixar, a poeira dourada subia, o cheiro de breu queimado tomava conta…

e o coração já sabia: agora faltava pouco.

Faltava muito pouco pra porteira abrir e o Brasil inteiro explodir dentro daquele recinto. Era o silêncio antes do rugido, compadres e comadres.

E era lindo pra caralho!

A ABERTURA – QUANDO O CHÃO TREMIA DE VERDADE

Minha Nossa Senhora… quando chegava a hora da abertura dos portões do recinto, o chão tremia de verdade. Do lado de fora ainda, enquanto o caminhão do som dava uma pausa, a gente ouvia aquele batidão de solas de botas no chão… parecia uma boiada estourada correndo.

Milhares de saltos batendo juntos, mulher correndo de salto alto, homem de bota texana, molecada pulando… era um trovão humano. Dentro do recinto, o cheiro tomava conta com espetinho chiando e pingando na brasa, cachorro-quente com bastante molho, lanche de pernil com muita tomate, cebola e pimentão por cima da gordura, quebra-queixo grudando no dente, maçã do amor manchando boca de menino. Luzes do parque acesas, azul, vermelha, verde piscando sem parar, roda-gigante girando devagarinho, um mar de luzes e ansiedade.

Eu subia no alto do brete e olhava… Era um mar de chapéu! Arquibancada lotando, camarote cheio de gente se arrumando, povão gritando, namorada no colo do namorado, mães segurando filhos no ombro pra ver melhor. O locutor subia no caminhão do som, pegava o microfone e soltava aquele:

“Aôôôôô povão… é daqui a pouco!”

Dava um grave tão forte que o peito vibrava, depois um agudo que cortava o céu. O povo respondia com um rugido que arrepiava até a alma. Dava pra saber quem era político na cidade na hora: estava no camarote, camisa abotoada até o pescoço no meio do calor, sorrindo pras câmeras, com a mulher de vestido brilhante e a faixa de “rainha” na filha.

Lá atrás, na querência, era outro mundo: zíper de bolsa abrindo, corda sendo sovada, boi berrando no curralete, cavalo dando coice na divisória, cheiro forte de ração com silagem, peão passando breu na luva, rezando, cuspindo no chão, olhando pro céu.

Aí vinha o momento!

Luzes da arena piscavam… piscavam… e apagavam de uma vez.

Silêncio…

Só se ouvia coração batendo e uns risinhos nervosos no escuro. Era o tal momento esperado:

BOOM!

Chuva de faíscas, foguete subindo rasgando o céu, luzes voltando em vermelho, azul, branco… e a voz do locutor rasgando a noite inteira:

“BOOOOOOA NOITE, CIDADE… POVÃO BONITO APAIXONADO!!!

BEM-VINDOS À MAIOR FESTA DO ANO!!!

HOJE… VAI COMEÇAR TUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUDO DE NOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOVO!!!”

Naquele segundo, meus amigos… o chão tremia de verdade!

As arquibancadas e camarotes quase vinham abaixo.

A cidade inteira, que esperou um ano inteiro, explodindo junto, palmas e saltos de botas batendo nas tábuas dos assentos…

E a gente ali, em cima do brete, ou ao lado da grade, com o peito inchado, sabendo que valeu cada quilômetro rodado, cada marmitex frio, cada chão de escola dormido…

Porque ali, naquele instante, o rodeio nascia de novo.

E como diria o saudoso Zé do Prato, lá do céu, com aquele sorriso de anjo negro:

“Seguuuuuuuuuuuuuuuuuuura, peãããããão… que agora é só alegria!”

O MOMENTO MAIS SAGRADO – A ABERTURA OFICIAL

Aí, depois do primeiro foguetaço e do grito do locutor ecoando no céu, vinha o silêncio que todo mundo respeitava.

Locutor pegava o microfone e a voz saía tão forte que parecia que Deus escutava lá de cima:

“Bom meu povo… agora é hora de tirar o chapéu e pedir proteção à Mãe dos homens e ao padroeiro dos cavaleiros!”

Se apagavam todas as luzes!

No centro da arena surgia a imagem iluminada da Virgem Aparecida, depois São Sebastião crivado de flechas, brilhando em luz azul e dourado.

Faíscas caíam do alto, fogos subiam lentos… e o som soltava aquele pedaço da reza Ave Maria, que arrepia até quem não acredita em nada, e na sequência o trecho daquela música…

“São Sebastião do rodeio… abençoe as rédeas de seus cavaleiros…”

Milhares de chapéus baixavam ao mesmo tempo!

Peão, tropeiro, político, o povão apaixonado… todo mundo de cabeça descoberta, coração na mão, pedindo pra voltar inteiro pra casa.

Depois vinha o galope!

Portão lateral se abria e entravam os cavaleiros a todo galope, poeira subindo, bandeira tremulando em volta da arena naquela sequência: Brasil, Estado, município e a bandeira do clube de rodeio local para fechar a cavalgada.

Eu mesmo entrei em muitas arenas segurando a bandeira das treze listras, a paulista, quando era em São Paulo. Cavalo empinando, coração na boca, o vento batendo na cara… meu pai do céu, que saudade daquela gritaria!

Depois música de velho oeste explodia nos PA’s: Ennio Morricone, trombone, assovio… e o locutor chamava um por um no centro da arena:

“Ao centro da arena, os campeões… juízes… valentes salva-vidas de cara pintada… madrinheiros, recebam o carinho desse povão bonito apaixonaaaaaado… !”

O povão gritava como se fosse final de Copa do Mundo.

Com os cavaleiros perfilados ao fundo, competidores no centro da arena, o locutor anunciava a hora do civismo. Mais uma vez todos da platéia em pé em posição de respeito.

Era hora do Hino Nacional.

O mais velho se emocionava, Policiais em posição de sentido, políticos com a mão sobre o peito…

Terminado o hino, novo convite para que: “permaneçam como estão.”

Era nova pausa pra reza!

Peões se ajoelhavam na areia, chapéu nas mãos, olhando pras figurinhas de santo coladas dentro da copa. Silêncio tão grande que dava pra ouvir o coração batendo.

Logo após…

Aí… a política entrava em cena quando o Locutor chamava:

“Com vocês… o prefeito, o presidente da Câmara… e as moças mais lindas da festa!”

Entrava a rainha, princesa e madrinha de mãos dadas com os políticos, todas arrumadas, brilho, coroa, faixa…

E quando o prefeito pegava o microfone pra “falar rapidinho”… meu Deus do céu, às vezes atrasava meia hora o início das montarias!

Eu ficava lá atrás do brete, fumando meu Marlboro, olhando pro céu e pensando:

“Fala logo, homem de Deus, que o povo quer ver pulo, não discurso!”

Mas quando finalmente acabava…

As luzes eram acesas de uma vez, mais fogos explodindo, locutor rasgando a voz:

“SEGURA O CHAPÉU, POVÃO… QUE AGORA VAI COMEÇAR O RODEIO DE VERDADE!!!”

E ali, compadres e comadres… a cidade inteira tremia junto!

Era religião, era paixão, era o Brasil acontecendo dentro de uma arena de terra batida. E eu, com a bandeira paulista no peito e o Marlboro na boca, sorria por dentro… porque aquele momento valia cada quilômetro rodado!

O PREFEITO LARGANDO O MICROFONE E A FESTA PEGANDO FOGO

Quando o prefeito finalmente largava o microfone, parecia que a cidade inteira respirava aliviada.

Um coro de “aleluia!” subia das arquibancadas, e lá do meio do povão sempre tinha um bêbado mais corajoso que gritava:

“Eita homem pra falar, hein?! Tapá buraco de rua, passa patrol na estrada, ou fazê creche esse aí num faz, nem com reza!”

O povão caía na gargalhada, o próprio prefeito ria amarelo, e a gente atrás do brete morria de rir.

Aí sim… aí começava o rodeio de verdade.

Corrediça de brete rangendo, ferro batendo, boi no curral da direita, cavalo na esquerda, animais embretados, portereiros já no jeito, mãos na corda, de olho na porteira como se fosse o último dia da vida.

Juiz de cronômetro na mão, bandeira vermelha no bolso, prancheta e caneta, cara de quem não perdoa nem meio segundo.

Locutor aproveitava pra fazer graça e mandar recadinho:

“Um abraço pro Seu Fulano da Loja de Móveis, pro Fulano da Fazenda Tal de Tal que ajudou a trazer esse locutor aqui hoje… e pro Seu Tali Coisa da Agropecuária que pagou o diesel do caminhão de som, valeu, parceiro!”

Era o jeito dele agradecer quem botou grana na festa. E lá em cima do brete… o sagrado acontecendo. Peão sentando nas tralhas, ajustando o colete, passando breu na luva, boi com sedém frouxo no vazio trombando na grade, cavalo já com o cutiano apertado no lombo, bufando, dando coice até na sombra…

A peonada toda em cima e atrás dos bretes, um segurando a corda americana pra puxar ajudando o parceiro, tropeiro com o sedém no jeito pra apertar na solta, outro incentivando o amigo, outro dando tapinha nas costas, cavaleiro encaixando o salto carrapeta nos estribos do cutiano, enroscando os dedos na corda da peiteira ou no ferrinho:

“Vai com Deus, irmão… segura firme, esse boi vai dá um pranchado de bico depois entra na tua mão…!”

“Esse cavalo joga na grade…”

Era irmão ajudando irmão a viajar pro céu ou pro inferno em oito segundos. A gente olhava de cima e via tudo.

O povão já de pé na arquibancada, o cheiro de breu queimado subindo, o Marlboro na boca, o coração batendo tão forte que parecia que ia sair pela camisa.

E quando o locutor finalmente gritava:

“Na porteira número três… fulano de tal, montando o cavalo/touro tal…SEGURA O CHAPÉU, POVÃO… QUE AGORA É PRA VALER!!!"

Aí, meu povo… aí não tinha prefeito, não tinha discurso, não tinha nada.

Só tinha o brete abrindo, locutor gritando “ABRIU, VIAJOU…” o bicho explodindo, o peão voando e o Brasil inteiro dentro daquela arena de festa. E a gente, cascudo, xucrão, com o Marlboro quase apagado no canto da boca… sorria e pensava:

“Puta que pariu… é por isso que a gente vive.”

O INTERVALO DO PALHAÇO – QUANDO O RODEIO VIRAVA CIRCO

Depois de umas cinco ou seis montarias de cada lado, já tava aquele falatório, assobio, gritaria, cerveja voando… aí, nas festas mais abastadas, a comissão caprichava. Era comum contratar palhaço de rodeio. Do nada a porteira da querência abria e vinha o homem com cara pintada, roupa rasgada, sapato gigante, nariz vermelho, chapéu todo fudido.

Tropeçava logo na entrada, dava cabeçada no locutor, tentava encoxar, caía de bunda no chão. Locutor fingia que ficava puto:

“Tira esse doido daqui, pelo amor de Deus, Polícia!”

O palhaço levantava, puxava um pinico de plástico, jogava água (às vezes até cerveja) no povão da frente. Aí vinha o golpe de misericórdia:

O locutor gritava “solta o boi brabo!” e abria o brete de um boi velho, daqueles que já não pulava mais nada, mas corria que nem louco.

O palhaço arregalava o olho, saía correndo feito doido, gritando, boi atrás. Subia na grade, tropeçava, caía de bunda no chão… depois subia na grade, levantava a roupa: uma bunda falsa de borracha com uma calcinha rosa enfiada no rego!

O povão mijava de rir. Tinha véia que passava mal, segurando a barriga, lágrima escorrendo, gritando “Meu Deus, que vergonha!” e rindo mais ainda.

Locutor berrava:

“Segurança! Tira esse sem-vergonha daqui!”

Quem socorria o locutor eram os salva-vidas, que vinham correndo, fingindo que davam um cacete no palhaço, ele gritava “ai meu pai!” e saía carregado, ainda mostrando a bunda pro público, dando com o penico em todos que chegavam perto.

Era dez minutos de farra pura, o povo secava a lágrima de tanto rir, limpava a cerveja derramada… e quando o locutor voltava:

“Agora sim, povão…desculpa…O DELEGADO, PRENDE ESSE PAIAÇO… vamo volta o rodeio de verdade!”

Aí vinha a seriedade de novo, quando peão de cutiano parava no cavalo, madrinheiro já encostava pra segurar o cavalo, tirar o peão de cima com cuidado e já desamarrando a tralha.

Peão de touro que caía ou parava no tempo… os salva-vidas de cara pintada pulavam na frente do boi como gato, distraindo o bicho, agarrando o cowboy pelo colete, tirando do caminho antes do pisão fatal.

E a gente ali, atrás do brete, morrendo de rir do palhaço e, dois minutos depois, de coração na mão torcendo pro irmão não se machucar.

Era e ainda é isso o rodeio, meu povo!

Em um minuto circo, no outro glória, num minuto bunda de borracha, no outro, coragem de oito segundos. Pra mim é um tempo que não volta mais, mas que a gente carrega no peito pra sempre.

PRIMEIRA NOITE – QUANDO A MONTARIA ACABAVA E O BAILE COMEÇAVA

Quando terminava a última montaria da quinta ou sexta, o locutor já dava o recado esperto:

“Povão… não vai embora não! Ainda tem show bom, tem banda, tem cerveja gelada… ”

A primeira noite era banda local, ou da região, nada muito famoso… o povo dançava mesmo assim, porque o que importava era o clima de festa.

Locutor encerrava abençoando:

“Deus que abençoe a volta de cada um pra casa, amanhã tem mais montaria e mais alegria…

gasta tudo nas barracas, e amanhã tem mais, vão em paz e até amanhã se Deus nos permitir..!

Lá atrás, a gente já tava na correria com os caminhões manobrando de ré, encostando no embarcador, boiada mugindo, cavalo relinchando. Eu despachava a turma, escalava dois ou três pra ficar de olho na tropa (porque o animal é a estrela da festa, ninguém rouba, mas também não deixa solto).

Em festa grande ficava tudo no recinto mesmo, já em festa menor, algum fazendeiro abria o pasto: “pode deixar aí, Betão, é pela festa”.

Era o Brasil ajudando o Brasil!

Feito isso, eu virava outro homem. Apesar de fraco pra bebida, naquela época eu aceitava um Red Label ou uma Brahma gelada. Aí… pronto.

Era só eu encostar no balcão que aparecia uma daquelas moças que tinham me visto passando de caminhonete à tarde, óculos aviador na cara, quatro vidros abaixados.

Chegava sorrindo, já me puxando pelo braço:

“Vem dançar, cowboy!”

Me arrastava pro meio do povo, apresentava pras amigas, pros primos, pros irmãos… e ali o negócio pegava fogo.

Olho brilhando, mulher retocando batom, ajeitando cabelo, piscada de canto, rapaziada contando fofoca da cidade:

“Ou cowboy, tá vendo aquela ali? Ela é casada, mas o marido tá em casa… essa outra é filha do delegado, cuidado!”

Eu nunca ficava sozinho. Sempre tinha um parceiro da turma por perto, tomando conta, rindo junto, fazendo parede quando precisava.

E eu dançava bem, viu? No bailão eu me espalhava!

Ficava rodeado por elas. Uma querendo dançar, outra querendo beijar na boca, outra só querendo tirar foto, rapaz querendo ser amigo pra sempre. Era assim em tudo quanto era cidade: Paranaíba, Araçatuba, Presidente Prudente, Três Lagoas, Colorado, Goiânia, Rio Verde… não importava…

O roteiro era o mesmo: montaria, palhaço, benção, e depois o baile pegando fogo até o sol raiar. E a noite, bom…a noite estava só começando!

MADRUGADA DA PRIMEIRA NOITE – A HORA DA SAFADEZA

A hora ia passando, a Brahma e o Red Label subindo na cabeça… eu já tinha beijado umas três ou quatro bocas diferentes, cada uma com gosto de batom diferente.

Era aquele clima de safadeza pura, mão na cintura, perna roçando, moça sentindo o volume dentro da minha calça rancheira apertada e rindo com o olho brilhando.

Eu era a novidade da cidade, boa pinta, cheio de vontade, e elas queriam provar o cowboy que veio de longe. Às vezes rolava até confusão entre as próprias moças, já meio altas:

“Ele dançou comigo primeiro!”

“É, mas ele me beijou primeiro, e na boca!”

E a rapaziada local, coitada… ficava só fuzilando com o olho, ódio mortal, copo na mão, querendo arrumar briga. Eu sorria feliz, ajeitava o chapéu e pensava: “deixa olhar, que logo mais eu já tô em outra cidade”.

Lá pras tantas da madrugada, quando o som já tava rouco e o pé doía de tanto dançar, eu saía pra caçar comida.

Espetinho de carne com bastante farinha, lanche de pernil pingando gordura, Coca-Cola gelada que queimava a garganta.

E aí encontrava o barraqueiro de sempre (o mesmo cara que tava em Minas três semanas atrás, ou em Goiás no mês passado).

Eu já chegava apelando :

“Óia quem tá aqui, cumpadi, aquela batatinha ali eu lembro dela, hein… tava lá no Goiás no mês passado, né?”

O homem ficava sério… depois dava uma risada e mandava: “Te lascá, rapaz! Eu sou home sério, doido! Essa aí é minha prima que veio ajudá!”

E a gente morria de rir, porque no trecho todo mundo se conhece e todo mundo sabe da sacanagem alheia. Aí, quando o céu já começava a clarear, eu escolhia uma.

Aquela que tava mais colada, mais cheia de vontade. Pegava na mão, beijo com mordida na boca, sussurrava no ouvido: “Vamo dar uma volta?”

E pronto!

Tinha namorada da noite garantida, motel de beira de estrada, caminhonete com banco reclinado, ou até quarto emprestado na casa da amiga que os pais “estavam viajando”.

Safadeza pura, da boa, daquela que não faz mal a ninguém. E isso, meu povo… isso era só a primeira noite.

E na madrugada, quando a cidade dormia o sono pesado da cachaça, eu pegava a mão da escolhida da noite e saía sem fazer barulho. Era sempre a mesma loucura: moça bonita, olhos brilhando de bebida e vontade, aquela que nunca tinha dado pra ninguém da cidade. Não daquele jeito!

Com os machos do local era beijinho de namoro, mão boba por cima da roupa, medo do que iam falar na igreja domingo. Comigo não!

Comigo era diferente. Eu era o peão que amanhã já tava em outra praça, outro Estado, outro mundo. Então não tinha amanhã, não tinha fofoca que pegava, não tinha pai pra bater na porta.

Era selvagem, meu povo!

Roupas caindo no chão do motel de beira de estrada ou no banco reclinado da caminhonete, lua cheia entrando pelo vidro embaçado. Ela se entregava inteira, sem freio, como se tivesse esperado a vida toda pra soltar o grito que segurava na garganta. Mordida meu ombro, unha nas costas, perna tremendo, gemido abafado pra ninguém ouvir lá fora, eu chupando ela dos pés a cabeça, e no auge do desespero, vinha a súplica:

“Vem cowboy… me fode com força …”

Porque no outro ano talvez eu nem voltasse, talvez ela já tivesse casado, talvez a vida tivesse mudado tudo. Então a gente fazia amor como quem briga contra o tempo, de um jeito rápido, suado, desesperado, gostoso pra caralho.

Corpo colado, cheiro de perfume misturado com cerveja, coração batendo junto como dois cavalos no mesmo galope. Quando acabava, ficava aquele silêncio bom, cabeça no meu peito, dedos agarrados no meu braço:

“Eu sei que você vai me esquecer amanhã?”

Eu mentia com carinho: “Nunca, princesa…”

E a gente sabia que os dois estavam mentindo, mas tava tudo certo!

Era o acordo silencioso do rodeio: uma noite inteira para viver o que a cidade inteira negava o ano todo. Depois eu deixava ela em casa, beijo na testa, portão abrindo devagarinho…

E voltava pro recinto com o gosto dela na boca e o cheiro dela na camisa. No outro ano, às vezes, ela tava lá de novo, mais velha, às vezes com aliança no dedo, cabelo diferente, às vezes com filho no colo… mas quando os olhos se cruzavam, vinha aquele sorriso cúmplice de quem viveu uma vida inteira numa única noite de rodeio. E isso, meu povo… era o amor de verdade que a festa deixava pra trás.

Sem nome, sem endereço, sem amanhã…

Só o fogo que nunca apagava na memória!

A SEXTA-FEIRA – O DIA DA RESSACA, DA FOFOCA E DA PERNA BAMBA

Quando o sol nascia na sexta-feira, a cidade inteira parecia que tinha sido passada pelo rolo compressor do rodeio. A primeira coisa que a gente ouvia era o falatório:

“Diz que a filha do Seu Geraldo vai embora com um peão de São Paulo…”

“A mulher do Zé do bar foi vista saindo do motel às cinco da manhã com um tropeiro…”

“Fulana tava de perna bamba até na padaria, pedindo café forte e depois na farmácia pedindo remédio pra cabeça…”

Era fofoca voando de esquina em esquina!

A cidade inteira parecia um rádio ligado na mesma estação: “Rodeio FM – só notícia quente!”

Moça que ontem era “santinha”, hoje tava com coração apaixonado, olho inchado de sono e sorriso bobo, contando pra amiga no salão:

“Menina, aquele cowboy beija como ninguém… disse que vai me levar pra Barretos no ano que vem…”

E a amiga, morta de inveja, já marcando território para a segunda noite.

A rapaziada local? Coitada…Acordava de ressaca e com ódio mortal!

Aquele macho que era rei o ano inteiro via a gatinha que ele paquerava desde os tempos da escola, dando trela pro peão de fora:

“Esse povo de rodeio vem aqui, pega nossas muié e vai embora!”

Tinha até um que chegava no bar falando alto:

“Se eu pegar o filho da puta que tava com a minha prima ontem, eu quebro ele no meio!”

Mas no fundo… no fundo ele só tava com ciúme e ressaca de cachaça barata. Enquanto isso, a gente, os brutos, já tava na correria desde cedo…

Era correr na Dona Maria do restaurante para pagar os marmitex da peonada: “Dona Maria, o rango tá bom, continua caprichando, mãezinha.”

Passar na padaria pra garantir pão francês e café preto pra turma que tava de guarda na tropa.

Eventualmente dar uma passada na delegacia, de chapéu na mão, falando com o escrivão:

“Ô seu doutor, solta o menino aí… foi só uma briga de cachaça, amanhã ele já tá em outra cidade, ninguém morreu, ninguém vai nem lembrar…”

E o escrivão, que também tava de ressaca da festa, soltava o companheiro com um “vai com Deus e não faz mais isso, hein!”.

Tinha dia que eu era convidado para almoçar na casa de alguém que conheci na noite anterior.

Era churrasco na chácara, costela no fogo de chão, cerveja gelada, o dono da casa cheio de curiosidade:

“Me conta, Betão… é verdade que vocês dormem com uma em cada cidade, hein?”

Eu ria, enchia o copo e contava só metade do causo, porque a outra metade era segredo de estrada. Podia dar o milagre, mas nunca o nome da santa!

E sempre tinha um amigo novo que chegava cochichando:

“Ó, minha prima tá doida pra te conhecer… ela é bonita, viu? Só falar que quer que eu arrumo…”

Eu sorria, ajeitava o chapéu e pensava: “ainda tem sábado e domingo pela frente…”

E assim ia o dia inteiro, com ressaca, fofoca, ciúme, churrasco, acerto de conta, promessa de amor, ameaça de surra… até o sol baixar de novo e o locutor gritar lá do caminhão do som:

“Aooo Povão… hoje tem mais! Hoje tem montarias em touros, cavalo pulando, roseta batida… um show de primeira!”

Aí a cidade inteira esquecia a ressaca, botava a bota nova, passava perfume… e a farra recomeçava do zero. Porque, amigos… o rodeio não durava só quatro dias.

Ele tomava conta da cidade durante uma semana inteira… e deixava marcas pra sempre!

SEGUNDA NOITE – QUANDO O RODEIO JÁ ERA DA GENTE

A segunda noite chegava diferente, compadres…

já não tinha mais “povo do rodeio” de um lado e “povo da cidade” do outro.

Era tudo uma família só. Depois da abertura bombástica e da sexta-feira de ressaca e fofoca, a peonada já tinha rodado a cidade inteira tomando café na mesma padaria, comprando no armazém, jogando sinuca no bar do Zé, tirando foto com a avó na praça.

A cidade já sabia o nome de cada um de nós, quem era o piadista, quem era o caladão, quem era o mais safado.

E a gente já sabia onde ficava o pastel mais gostoso, onde a cerveja saía mais gelada, onde a moça bonita sentava para tomar sorvete à tardinha.

Eu já tinha amizade feita na marra, daquelas que nascem em dois dias e duram pra vida toda.

Quem na quinta olhava torto, na sexta já me chamava pro churrasco de domingo e fazia questão da minha presença no camarote da família.

Rapaziada aparecia de cavalo no meio da tarde na cidade, só pra mostrar a tralha nova:

“Olha aqui, Betão, esse cutiano é bão… esse cavalo é filho do alazão que ganhou aqui no ano retrasado.”

Contavam do dia-a-dia no sítio, do bezerro que nasceu torto, da cerca que caiu na chuva… e eu escutava tudo, porque era a minha vida de anos atrás, só que com outro CEP.

Moças mandavam recado de tudo quanto era jeito!

Era um tal de bilhetinho na mão do irmão pequeno, recadinho com a amiga do salão, olhar de longe com um sorriso que dizia tudo. E quando o sol baixava e o portão do recinto abria de novo, eu entrava cantando baixinho pra mim mesmo o hino da minha vida, porque era exatamente isso, meu povo:

“ 🎶🎵Eu sou tropeiro e adoro esta viiiiidaaaaa

A gente vai para onde quiseeeeer

Não tenho amores, querência nehuma

E nunca me prendo por uma mulheeeeer

Ter liberdade e um pingo de raça

Essa é a vida que sempre eu quis

Levando a tropa, eu vou pelo mundo

Sorrindo e cantando sou muito feliz

Muitas mulheres bonitas me querem

Muitas promessas de amor recebi

Mas meu destino é vagar pelo mundo

Sempre cantando sou muito feliiiiiiiz...🎶🎵

Eu amo essa música do Milionário e José Rico!

Na segunda noite eu já não era mais o “peão de fora”.

Era o amigo que chegou, que foi aceito, que já tinha cadeira marcada no bar, lugar no churrasco, nome gritado no camarote e uma ou duas moças esperando o fim das montarias pra me puxar de novo pro bailão.

Mas naquela segunda noite, por algumas horas, a gente parava o tempo.

Era abraço apertado, era foto com a turma festeira da cidade, que onde cuspia nascia um pé de cana, era promessa sincera de “ano que vem eu te espero aqui de novo”.

E a festa…a festa estava só no comecinho ainda. Porque o rodeio não era só montaria.

Era gente que se encontrava, se abraçava, se apaixonava e se despedia… tudo no espaço de quatro noites e um punhado de poeira. E eu, tropeiro de alma, adorava mesmo era essa vida!

SEGUNDA NOITE – AS COBRANÇAS

A segunda noite, geralmente a sexta-feira, já vinha com outro peso na arena. Peão tava sério!

Não era mais só parar os oito segundos para fazer bonito. Era pra fazer nota alta, entrar na semifinal, garantir a fivela e o prêmio no domingo.

Porteira abrindo, bicho explodindo, poeira subindo… e o silêncio de dois segundos antes do pulo parecia mais longo, mais pesado.

Todo mundo atrás dos bretes rezando junto, mão no ombro do amigo: “Vai firme, irmão… é hoje!”

Nas arquibancadas e camarotes, porém, o clima era puro deleite.

Todo mundo já sabia que ainda tinha sábado e domingo pela frente, então ninguém economizava no whisky de garrafa, que ia rolando no camarote, cerveja gelada descendo redonda, paquera pegando fogo.

Casal novo se formando a cada música, namorada sentada no colo, mão por dentro da blusa, beijinho no pescoço, rapaz abraçando por trás, sorrindo pros amigos, apontando pra arena:

“Olha lá o cavalo… vai jogar o cara no espaço!”

E eu… eu já ficava esperto pra caralho. Porque as moças da noite anterior vinham atrás, feito onça no cio.

Uma chegava sorrindo, querendo dançar de novo.

Outra chegava com cara de cobrança: “Cadê você ontem depois do show?”

Outra já vinha marcando território, braço dado, olhando torto pra qualquer outra que se aproximasse.

E ainda tinha as novas, que tinham ouvido a fofoca inteira:

“Dizem que você deixou a fulana com a cara amarrotada mas toda leve ontem… agora eu quero ver se é verdade!”

Era um cerco, meus amigos e amigas!

Eu sorria, ajeitava o chapéu, dançava com uma, beijava outra, prometia pra terceira e tentava não deixar ninguém sem atenção.

Hora que a dupla famosa subia no palco (aquelas que estavam começando a bombar na rádio), o clima virava delírio.

Todo mundo cantando junto, braço pro alto, mulher em cima do ombro do namorado, eu no meio do povão com três ou quatro em volta, cada uma querendo ser a escolhida da noite. Era tensão na arena e fogo puro no show.

Peão tentando a vida em cima do cavalo ou touro… eu tentando a minha entre as moças que queriam um pedaço do cowboy da estrada. Porque na segunda noite a coisa já tava decidida pro meu lado. Você era objeto de disputa da festa entre elas… e virava história pra cidade inteira contar o ano todo.

SEGUNDA NOITE – AS ARTIMANHAS DO COWBOY SAFADO

Na segunda noite eu já estava ambientado, amigos e amigas… arte pura de sobrevivência amorosa no meio de um show.

Eu dançava colado com a loirinha, mão na cintura, cheiro de perfume no cangote…

do nada virava e falava baixinho, enquanto a morena passava piscando, chamando com os olhos:

“Amor, vou ali dar uma mijada rapidinho, já volto.”

Ela sorria, acreditava… e eu sumia no meio do povão. Do outro lado da festa já tinha a morena esperando, encostada no balcão fingindo que ia comprar cerveja.

Chegava por trás, mão na cintura dela, beijo no pescoço, cinco minutos de pegação pesada ali mesmo, escondido entre os amigos que faziam parede.

“Você demorou, hein… pensava que tinha esquecido de mim.”

“Esquecer de você meu anjo, jamais, princesa…”

Enquanto isso, os novos velhos amigos da cidade já vinham de canto, alertando no ouvido:

“Cuidado, a loira tá te procurando com cara de braba!”

“A outra ali já tá irritada, falando que vai jogar cerveja na tua cara se te pegar traindo ela de novo!”

Eu ria, dava um tapa nas costas do amigo e falava:

“Tranquilo, cumpadi… eu dou um jeito.”

Era uma bagunça mal coordenada que eu adorava. Eu era de uma e de todas ao mesmo tempo!

Coisa de peão safado que sabe que domingo a caminhonete já tá de frente pra outra cidade e não deixa rastro. Beijava uma, dançava com duas, prometia o céu pra três… e no fim da noite saía com a quarta que ninguém esperava, aquela que ficou quietinha só observando o circo pegar fogo, te cozinhando com os olhos, mexendo nos cabelos, mordendo os lábios. Era risco, era adrenalina, era a arte de não ser pego… e quando acontecia, era só rir, tomar uma cerveja derramada na cara e falar:

“Calma, amor… você sabe que no rodeio o coração é grande demais pra caber uma só.”

E continuava feliz!

Porque a segunda noite era assim:

Quanto mais confusão, mais história pra contar na estrada. E eu, compadres… eu fui rei dessa bagunça toda!

SEGUNDA NOITE – O AMOR DE QUEM GANHOU O TROFÉU

Na segunda noite a escolhida era sempre a mais ligeira. Aquela que ficou de canto na primeira, observando o circo, driblando as rivais da cidade, esperando a hora certa de entrar no jogo e me atacar.

Quando eu finalmente pegava na mão dela e saía do salão, ela vinha com o peito estufado, como quem acabou de ganhar a fivela de ouro. Depois era um amor safado, brabo, cheio de prova. Ela me agarrava com força, unha cravada nas costas, mordidas, beijo que arrancava o ar e sangue da boca.

Queria mostrar que merecia estar ali, que era melhor que a outra da noite anterior.

“Me diz, cowboy… aquela sem-gracinha faz assim?” –toda dengosa.

E eu, mentiroso profissional de estrada, respondia no ouvido dela:

“Nunca, minha gata… ninguém nunca fez assim comigo… você é a melhor, a mais gostosa que me amou” (mentiroso)

Era uma competição disfarçada de paixão.

Ela rebolava mais forte, gemia mais alto, arranhava mais fundo…chupava com mais vontade… tudo pra eu gravar na minha memória que ela era a campeã da noite, a moça mais fogosa e gostosa da cidade. Era sexo de revanche, de vitória, de quem esperou a vida inteira pra mostrar pras outras que podia ter o peão que todo mundo queria.

Corpo suado, banco da caminhonete rangendo, vidro embaçado, estrelas testemunhando tudo.

Depois do amor, cigarro aceso, vidro aberto, som baixo…me falava da família rica, do avô que desbravou a região, o pai fazendeiro, do carro zero na garagem da casa na cidade que o pai deu pra mãe…do irmão que estava na capital estudando… Como se aquilo aumentasse o meu interesse.

Eu só concordava, beijava o pescoço, apertava a bunda dela e pensava: “hoje você é dona de tudo que eu tenho, princesa… aproveita.”

A moça deitava a cabeça no meu peito, voz mansa:

“Você vai lembrar de mim, né… anota meu telefone?”

Eu beijava a testa, prometendo:

“Como eu ia esquecer da minha princesa?”

E no fundo a gente sabia que na segunda noite ela era rainha absoluta, dona do meu corpo, do meu tempo, do meu desejo inteiro.

Porque no rodeio, cada noite tem uma campeã…

e naquela noite, amigos e amigas, a coroa era dela!

SÁBADO – O DIA DO VAZIO NO MEIO DA FARRA

O sábado era o apogeu da festa, a cidade inteira de pernas pro ar: cavalgada marcada pro outro dia, carros e caminhonetes com som no talo passando na rua, rapaziada gritando, bar lotado, sorveteria com fila, salões lotados de mulher fazendo permanente nos cabelos, pintado unhas, cheiro de churrasco nas casas, mulherada de shortinho e bota, todo mundo planejando a noite como se o mundo fosse acabar no domingo.

E dentro do recinto…

Ah, meus amigos e amigas, o silêncio que ninguém vê. Em algumas cidades, aquilo parecia um velório… Era triste pra caralho!

Arquibancada vazia, sol rachando nas ferragens do brete, vento batendo poeira.

Peão deitado embaixo da sombra da arquibancada, chapéu no rosto, tentando dormir um sono que não vinha.

Outro com a rede armada entre dois postes, balançando devagarinho, olhando pro céu.

Um ou outro lendo carta antiga, papel já amarelado, cheirando a saudade.

Depois que o celular entrou na jogada, era todo mundo de canto, falando baixinho:

“Oi mãe… tô bem… sim, tô comendo… beijo pros irmão… tô com saudade também…”

Todo mundo com aquele buraco fundo no peito!

Cansaço de estrada, perna doendo, costela roxa de tranco, boca de ressaca, e principalmente saudade.

Saudade da mãe, da namorada, do cachorro que ficava no portão, da comida de casa, do cheiro do café no fogão a lenha. A gente sabia que dali a dois dias era desmontar tudo, subir na boleia, engolir mais mil quilômetros, chegar em outra cidade e fazer tudo de novo.

Era assim toda semana, todo mês, o ano inteiro!

E mesmo sabendo, o buraco apertava igual. Eu mesmo sentava nos degraus da arquibancada, Marlboro na boca, olhando pro nada e pensando:

“Será que um dia eu canso disso?”

Aí lembrava do galope da entrada de bandeira, do grito do povão, da moça da noite anterior chamando de “meu cowboy”… e a resposta vinha sozinha:

“Não… ainda não.”

Porque sábado à tarde o recinto estava vazio e triste, sim. Mas à noite ele voltava a ser o centro do mundo.

E a gente levantava, batia a poeira da roupa, ajeitava o chapéu… e ia viver mais uma noite como se não houvesse amanhã. Porque, no fundo, pra gente não tinha mesmo. Só tinha hoje.

E naquela noite ainda tinha rodeio!

NOITE DE SÁBADO - EMOÇÕES

Só quem já viveu dentro de um recinto de rodeio na noite de sábado entende o que eu vou contar. Os portões abriam cedo, às cinco, seis da tarde, porque o barraqueiro queria faturar o ano inteiro numa noite só.

Era o povo que guardava dinheiro a semana inteira, mais os vizinhos das cidades ao redor que vinham de moto, carro, ônibus, caminhão ou de caminhonete.

O chão tremia de novo, aquele mar de gente, mar de chapéu, mar de mulher bonita como nunca.

Rosto conhecido de anos anteriores, abraço apertado, “quanto tempo, cumpadi!”… e um monte de cara nova, tudo querendo viver a noite da vida deles.

Na arena a coisa era guerra!

Peão suava sangue para entrar na final.

Uns fazendo conta de cabeça: “se eu parar nesse boi com 87, passo o fulano…”

Outros xingando o sorteio: “logo hoje peguei esse cavalo, puta que pariu, logo hoje!”

Mas todos com o olho brilhando, sonhando com a fivela, o cheque, o nome gritado no domingo como campeão. Arquibancada virava um formigueiro humano.

Povo espremido, cerveja passando por cima da cabeça, mulher sentada no corrimão, flash de máquina, gritaria toda vez que a porteira abria.

Era lindo demais!

Era o Brasil inteiro dentro de um recinto de festa do peão de boiadeiro.

Quando terminava a última montaria, o locutor anunciava os cinco ou seis classificados pro domingo.

Povão aplaudia de pé, o foguetório subindo, as luzes piscando…

E os que não passaram, já começavam a arrumar a tralha em silêncio, chateados mas felizes por estarem vivos, sem machucados.

Era desamarrar corda, guardar colete, enrolar esporas… porque segunda-feira cedo a caminhonete já tava na estrada de novo, rumo a outro rodeio, outra cidade, outro Estado.

A gente se despedia com um tapa nas costas: “Boa sorte lá na tal cidade, irmão… ano que vem a gente se vê aqui de novo.”

Era assim, sempre assim!

Sábado à noite a gente era rei do mundo.

Domingo à noite já era só poeira no retrovisor!

NOITE DE SÁBADO – QUANDO EU FICA PENSATIVO

Sábado à noite era o dia da dupla ou cantor famoso.

Na frente do palco um formigueiro humano, barraqueiro vendendo o dobro, cerveja voando, mulherada gritando o nome do artista como se fosse a primeira vez que via um show na vida.

Para eles era mesmo!

Era a novidade do ano, o momento que iam contar pro resto da existência. Pra mim… depois de quatro ou cinco cidades no mesmo mês, tudo virava carne de vaca.

Eu já tinha visto aquele mesmo cantor ou aquela mesma dupla umas três ou quatro vezes só no último mês.

Já sabia a ordem das músicas, o piadinha entre uma e outra, até o ponto exato em que o cara jogava a toalha pro povão. Então eu delegava as ordens rápido:

“Fulano fica de olho na tropa, cicrano, libera o caminhão depois da final, Beltrano cuida disso ou aquilo…”

Depois das obrigações, a turma toda sumia com as novas namoradas, era cada um com a sua rainha da noite. E eu ficava!

Circulava pelas barracas, cumprimentava um, tomava uma cerveja aqui, outra ali… depois subia no brete, sentava lá em cima, pernas penduradas, tirava o chapéu, Marlboro aceso, olhando o palco de longe.

A música chegava abafada, luzes piscando, povão cantando junto… e eu ali, sozinho com meus fantasmas. Já não tinha família fazia muito tempo!

Tudo havia ficado lá atrás, na cidade onde nasci, que eu nem passava mais perto há muito tempo.

Então ficava olhando aquele mar de gente feliz e sentia o buraco crescer no peito.

Saudade de um abraço que não existia mais, de uma casa que ficou na memória, de um lugar pra chamar de lar.

De vez em quando alguém da cidade me achava lá em cima:

“Ô Betão! Tá fazendo o quê aí sozinho, rapaz de Deus? Desce daí que a noite tá boa!”

Me carregava pro meio da bagunça, copo na mão, mulher do lado, amigo gritando no ouvido. Aí começava a ladainha de sempre:

“Poxa, Betão, que cara é essa? É sábado de rodeio, rapaz! Se anima! Olha que festa!”

E o cara virava pra mim, copo erguido, namorada abraçada na cintura, amigo do lado rindo, gritando a música inteira. Eu sorria amarelo, batia no ombro dele e respondia:

“É verdade, cumpadi… vida boa pra caralho.”

Mas por dentro… por dentro eu os invejava pra cacete!

Invejava aquela simplicidade de quem tinha raiz, de quem ia dormir na mesma cama domingo à noite, de quem segunda-feira ia acordar pro mesmo trabalho, a mesma mulher, o mesmo cachorro no portão. Eu era o cowboy da estrada… mas sábado à noite, lá do alto do brete, eu trocaria um cheque gordo por um pouquinho daquela vidinha simples deles. Eu me lembrava de quando era novo, chegava a cavalo na cidade, fazendo bagunça com o pessoal na praça…

Era assim em todo lugar: SP, MG, GO, MT, MS, RO, TO, PA, PR, SC, RJ, ES… um filme passava na minha cabeça.

E ficava ali, fumando, olhando o palco, ouvindo o povão cantar… Já pensando que no domingo ainda tinha final!

E segunda a estrada já estava esperando. Essa era a vida, meus amigos e amigas...essa era a vida!

Mas nem sempre o baixo astral me pegava, compadres e comadres…nem sempre, e quando ele vinha, eu deixava passar como nuvem de chuva rápida.

Depois mergulhava de cabeça no fervo e virava a chave. Eu ficava facinho no meio da turma, rindo alto, copo na mão, dançando com quem aparecesse na frente.

Via as moças das noites passadas beijando outro rapaz, olhando de canto pra ver se eu sentia ciúme.

Eu só dava um sorriso de canto, erguia o copo pra elas e pensava com meus botões:

“Tá certinha, princesa… não se amarra num peão que amanhã já tá em outro Estado.”

Já outras eram chiclete puro, elas grudavam, querendo atenção o tempo todo, olho brilhando, mão na minha cintura.

Eu deixava, porque sábado era dia de deixar rolar. Quando o show famoso acabava, a festa não parava não.

A gente seguia pra praça ou pra casa de algum amigo na cidade ou fazenda.

Lá continuava com bebida, música, mais bebida, sexo, risada até o sol raiar. (Participei de cada farra, puta que pariu)

Também já aprontei cada uma em noite de sábado que até Deus duvida. E tem um segredo que só quem viveu sabe!

O sábado era o dia oficial da sacanagem dentro dos recintos. Mais que os outros dias!

Casais que adoravam transar nos bretes, embaixo da arquibancada, em cima dela, escondidinho no canto do camarote…

Era uma gemeção lascada que dava pra ouvir de longe se ficasse quieto. Teve festa que eu eu, arterio que só, armava o circo.

Combinava com o cara da iluminação e, no meio do show, quando o povão tava cantando de olho fechado, era a hora que os casais safadinhos iam fazer arte nos cantos escuros.

Eu dava o sinal, e: CLAC! Luz branca em tudo! Deixava uns cinco segundos, depois apagavam. Era o suficiente para aquela correria.

Era o caos total! Kkkkkkkkkk

Moça subindo o shortinho, abaixando vestido, rapaz com calça no joelho tentando correr, tropeços, calcinha voando, grito, gargalhada…

O povão inteiro apontando, vaiando, aplaudindo. Às vezes eu fazia aquilo e chamava os amigos e amigas que tinha feito no lugar. Não raro flagrar alguém da cidade que era tido como sério, e outras que ostentavam orgulhosas que se casariam de branco, com véu e grinalda.(teve uma festa que flagramos um rapaz “engatado” em outro, foi um falatório dos diabos)

Teve uma festa aqui no interior de São Paulo, ali foi o auge das minhas artes. Combinei com o DJ do locutor de deixar um microfone instalado no camarote perto dos bretes do lado direito, bem colado na grade. O show fervendo, povo entretido. Na noite anterior vimos o casal se pegando naquele canto. No sábado foi fatal. Já passava da meia-noite, fomos até o caminhão e ligamos a aparelhagem. Puta que pariu, bem na hora que o som ecoou no PA, a moça tava gemendo: “Ai meu cu, Fulano, ai ai…”

Estavam tão entretidos que só depois de alguns segundos ouviram os próprios gemidos no alto falante. Foi um forfé, meu povo! O casal de famílias importantes não voltou nem pra final da festa no domingo! Virei herói naquela noite KKKKKKKK

Eu ficava lá de trás da querência, fingindo que tava brabo, puto da vida, gritava: “Pelo amor de Deus, gente… respeita as famílias, porra, que caraiu!”

Morrendo de rir, acendendo outro Marlboro. Era bagunça, era farra, era vida pulsando forte.

Porque sábado à noite o rodeio não tinha regra, não tinha amanhã, não tinha limite. E eu?

Eu era o maestro daquela orquestra toda!

Não raro eu ficava sozinho no sábado, mas em alguns eu aproveitava. Dançava, bebia, amava…

DOMINGO – O DIA EM QUE O RODEIO SAÍA DA ARENA E TOMAVA A CIDADE

Domingo de manhã era sagrado, meu povo.

Era o dia em que o rodeio saía do recinto e invadia as ruas, lembrando a todo mundo que aquilo não era só show, era raiz, era história viva.

Logo cedo já começava o tropel.

Rua inteira acordava com som de casco no asfalto, berrante tocando longe, chicote estalando, música alta

Grupos reservando lugar na praça com corda e cadeira de praia, caminhonete com som tocando moda de viola, cheiro de churrasco subindo desde às sete da manhã. Lá pras nove horas a cidade virava um mar de chapéu e cavalo.

Calçada lotada, avó com cadeira na sombra, filhos nos ombros dos pais, máquina fotográfica, até repórter de televisão em cidade maior.

Palanque armado na rua principal, prefeito e presidente da câmara e vereador com microfone, todo mundo querendo aparecer. Aí começava o desfile.

Comitiva atrás de comitiva, camisa igual, nome da fazenda bordado no peito, cavalo com tralha brilhando, bandeira tremulando.

Berrante tocando no floreio “Saudade da Minha Terra”, chicote estalando no ar, tropel de casco que parecia trovão.

Já vi desfile com mais de três mil cavaleiros, fora trator enfeitado, caminhão de tropa, charrete, carroça, moto, bicicleta, gente a pé… Caminhão puxando a frente com a rainha, princesa e madrinha de faixa e coroa, sorrindo e jogando beijos.

Bandeira do Brasil, do Estado, do município… tudo tremulando lindo. E os velhos nas calçadas, compadres e comadres… Os velhos com olho marejado, lenço na mão, vendo passar o que eles viveram a vida inteira: boi na estrada, poeira, café e comida feita no fogo de chão…

Eu mesmo ficava com um nó na garganta!

Porque aquilo era a minha vida de poucos anos antes: na fazenda lidando com tropas e boiadeiro de comitiva, dormindo no chão…

(E abro parêntese aqui pra dizer: quem nunca viu a Queima do Alho em Barretos não sabe o que é bonito. Arroz carreteiro, feijão gordo, carne no fogo de chão… cheiro que embrulha a alma de emoção. E a romaria de cavaleiros do Divino Pai Eterno em Trindade no Goiás… )

Era a cidade inteira parada pra ver passar a tradição. Passado e presente, tudo alí!

Era o Brasil da agropecuária se mostrando vivo, forte e orgulhoso.

Era nossa história desfilando na rua principal. E eu, de pé na calçada ou em cima de um cavalo, só olhava aquilo tudo e pensava: “É por isso que eu aguento estrada, saudade… porque esse Brasil aqui ainda existe, ainda galopa, ainda tem casco no chão e som de berrante no ar.”

Coisas que dinheiro nenhum pode comprar!

Domingo de cavalgada não era só o fim da festa.

Era o dia em que o rodeio lembrava pro Brasil inteiro quem ele é de verdade.

E eu me sentia o homem mais sortudo do mundo só de fazer parte disso!

DOMINGO – A QUEIMA DO ALHO

Depois do desfile a praça virava o paraíso do tropeiro. Alho fritando na banha de porco, cheiro de costela no fogo de chão, arroz carreteiro soltando fumaça, feijão gordo chiando na panela de ferro, tereré gelado passando de mão em mão, conhaque e pinga de alambique…

Eu circulava no meio daquela bagunça organizada com o prato na mão, um churrasco aqui, uma colherada ali, cumprimentando todo mundo. Levava meu berrante pendurado no ombro e de vez em quando soltava um toque só pra fazer graça.

O povo aplaudia, moças olhavam com vontade, velho sorria com olho marejado.

Sentava do lado de comissário antigo, fazendeiro de barba branca, tropeiro que já rodou o Brasil inteiro quando nem estrada tinha.

Ouvindo causo, rindo alto, tomando cerveja quente que alguém empurrava na mão.

“Ô Betão, então teu vô atravessava boi no Paranapanema, e ocê foi ponteiro?”

Eu lembrava… e a gente ficava ali até o sol baixar, falando de tempo que não volta mais. Amizade nascia na hora!

Eu vi cidade grande, cinco, dez mil de gente na praça, e eu saía de lá com telefone de fazendeiro, convite para voltar, porta aberta pro resto da vida. Os amigos novos chegavam curiosos:

“Betão, você vai tá semana que vem em outra festa, onde?”

Eu ria: “Estive nas últimas vinte semanas, cumpadi… e nas próximas dez também, se Deus quiser.”

Eles arregalavam o olho, moça e rapaz, tentando imaginar como a gente aguentava.

Nem eu sabia a resposta, só sabia que aguentava.

Aí aparecia prefeito, delegado, capitão da PM, padre, comerciante… todo mundo agradecendo:

“Obrigado por ajudar na festa, Betão… a cidade precisava disso…”

Muitos deles acertavam o pagamento ali mesmo, envelope na mão, aperto de mão forte.

Teve ano que o cheque não tinha fundo e eu fiquei mais dois, três dias na cidade, tomando café na casa de um, almoçando na casa de outro, até o dinheiro cair.

No ano seguinte voltávamos… mas com sinal adiantado!

Tenho cada história que dá livro. A praça fervia até o fim da tarde: viola, berrante, molecada correndo, velho contando vantagem, moça tirando foto com a rainha e os cavaleiros…

depois, devagarinho, o povo começava a ir embora pra descansar um pouco, tomar banho, trocar de roupa.

Porque ainda tinha a final do rodeio à noite.

Era a despedida!

A cidade que esperou um ano inteiro, começava a dizer “até o ano que vem”.

E a gente, de barriga cheia da queima do alho e coração cheio de abraço, já começava a olhar pro caminhão…

Porque segunda-feira cedo a estrada chamava de novo. Mas naquele domingo à tarde, na praça cheia de fumaça e saudade, eu me sentia em casa de verdade.

Porque ali, entre o cheiro de lenha e o som do berrante, era onde o Brasil que eu amo ainda vivia!

DOMINGO – A GRANDE FINAL

Quando o sol começava a cair no domingo, o povão voltava pro recinto meio amarrotado, olho inchado de sono e de cerveja, mas com um brilho diferente. Era o olhar de quem sabe que está vivendo o último capítulo de um livro que esperou um ano inteiro pra ler.

A gente entrava cansado, mas entrava de peito aberto.

Porque era a final!

Era o dia da verdade. O locutor entrava na arena com a voz já embargada, declamando versos que falavam de amizade, de saudade, de como o rodeio juntava o povo da cidade e do campo num abraço só.

Depois pedia silêncio, as luzes baixavam, e ele fazia a prece mais bonita.

“Senhor abençoe esses peões que arriscam a vida por oito segundos… e abençoe esse povo que veio aqui pra ser feliz.”

Aí apresentava os finalistas, um por um, nome gritado, aplauso que fazia o chão tremer.

Tudo a postos!

Porteira aberta, coração na boca. A disputa era pesada. Aquele zero vinte e cinco de diferença, uma esporeada a mais, um animal que pulou mais duro, um estilo mais bonito, um peão mais encaixado na tralha.

Às vezes o campeão ganhava por meio ponto… e a gente sabia que aquele meio ponto tinha custado meses de tranco, de costela quebrada, pulso aberto, de estrada engolida. Quando o último peão parava ou caía, o locutor rasgava a voz:

“O CAMPEÃO DO RODEIO ÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉ…”

Aplausos que parecia que o céu ia cair!

Campeão de joelho na arena, chapéu jogado pro alto, lágrima escorrendo na poeira.

Na entrega do prêmio o cheque gordo, a chave de moto zero ou carro brilhando na arena.

Foto com rainha, princesa, e madrinha, prefeito, presidente da festa, flash explodindo, abraço apertado.

E pros que ficaram pelo caminho… um aperto de mão, um “boa sorte na próxima, irmão” e a tralha já sendo guardada pro próximo rodeio, na próxima cidade, dias depois…

É assim: de cada 1000 competidores, um ou dois irão se destacar em suas vidas!

Aí vinha o momento que ninguém segurava.

Locutor pedia silêncio mais uma vez:

“Povo amigo… antes de ir embora, olhem pro céu… e agradeçam a Deus por mais essa festa!”

Luzes apagavam de vez…

Primeiro estampido… e o céu inteiro pegava fogo.

Bum-Bum-Bum-Bum…

Explosões que faziam o peito tremer, luzes douradas, vermelhas, verdes, azuis caindo como chuva de estrelas iluminando rostos e a arena.

E ao fundo, a voz do locutor, já emocionado mesmo: “Obrigado por terem aberto a porta das suas casas e dos seus corações… obrigado meu povo, por terem feito do nosso rodeio o rodeio de vocês… tchau, tchau meu povo… um beijo no coração de cada um de vocês… ano que vem, se Deus quiser, a gente volta…tchau… tchau…”

Último foguete subindo, estouro gigante no céu.

Silêncio de dois segundos. Depois um aplauso que parecia não acabar nunca.

Aplauso de uma cidade inteira de pé, agradecendo por ter vivido dias de sonho.

Eu ficava lá atrás dos bretes, poeira no olho ou lágrima, já nem sei mais… olhando aquele povo abraçado, aquele céu colorido, aquele cheiro de pólvora e terra molhada. E pensava, com o coração explodindo igual foguete: “Isso. Isso aqui é o rodeio. Isso aqui é o Brasil que a gente carrega no peito. Isso aqui é a nossa vida.”

E enquanto o último aplauso morria e o povão começava a ir embora, eu já ouvia, lá no fundo da alma, a promessa que a gente sempre fazia:

“Ano que vem a gente volta.. é, a gente volta.”

Porque o rodeio não acaba, meu povo.

Ele só muda de cidade… e leva um pedaço do nosso coração pra sempre!

A DESPEDIDA – O ÚLTIMO ABRAÇO ANTES DA ESTRADA

Era assim meu povo…

Quando o último foguete apagava no céu, eu já estava com a corda na mão, caminhão ligado, tropa embarcada.

Dali três, quatro dias, outra cidade, outro povo, outro coração esperando a festa. Mas antes de engatar a marcha, vinha a hora mais dura.

Abraço que não acabava mais!

Amigo que eu conheci na quinta agora era irmão de sangue:

“Betão, vê se volta ano que vem, hein? Promete!”

Moça que na quinta era só um olhar, agora chorava agarrada no meu peito, pedindo um último beijão, um último cheiro, um último momento de amor.

Algumas queriam ir junto:

“Me leva, cowboy… eu largo tudo!”

Uma vez em Minas uma delas se escondeu debaixo da lona da caminhonete. Era uma “namorada” de três anos seguidos naquela cidade. Ela chorava demais…

Quando eu descobri já estava na saída da cidade. Sorte foi passar meio rápido na lombada e ouvir um barulho estranho atrás!

Parei, abri a capota… vieram primos, pai, tio… um sufoco do caralho.

Ela chorando, eu com o chapéu na mão, os parentes me olhando torto… mas no fundo todo mundo sabia que era amor de verdade, só que amor de rodeio não cabe na mala.

Na avenida de saída era um mar de acenos tristes!

Moça de lenço na mão, olhar baixo, como se a alegria da vida dela estivesse indo embora na caçamba da caminhonete.

Rapaziada correndo atrás do caminhão, cachorro latindo, avó fazendo sinal da cruz. E sempre tinha o folgado na esquina:

“Até que enfim essa cambada vai embora, filhos da puta!”

Eu só ria, buzinava de volta e pensava:

“Despeito, coitado… ele nem sabe o que é o mundo lá fora. Deixa pra lá.”

Quando a placa “Volte Sempre” aparecia, eu engolia seco!

Olhava pra trás uma última vez e levava todos comigo: o cheiro da moça, o abraço do amigo, o sorriso do povo, o aperto de mão do velho.

E deixava um pedaço grande do meu coração ali, na terra batida daquela cidade. Mas aí eu ajeitava o chapéu, ligava o rádio no painel… Milionário e José Rico, botava marcha e pensava alto: “Bora, Betão… daqui uns dias começa tuuuuuudo de noooooovo.”

Porque a estrada não espera, amigos e amigas.

Ela só chama!

E a gente, com o peito cheio de saudade e os olhos cheios de estrada, segue em frente. Porque é isso que tropeiro, peão, povo do rodeio faz: deixa um pedaço do coração em cada cidade… e leva um pedaço de cada cidade no coração pra sempre.

O QUE O RODEIO FAZ COM UMA CIDADE… E O QUE A CIDADE FAZ COM O RODEIO

Quando o rodeio chega numa cidade, chega como um trovão que anuncia chuva boa. A cidade inteira muda de cor.

Loja ganha fila, mulherada enche salão, homem troca a camisa velha por uma nova, rapaziada não dorme de ansiedade.

Bar dobra estoque, prefeitura pinta meio-fio, rádio só toca moda de viola, até o padre sorri diferente no sermão de domingo.

É como se alguém tivesse ligado um motor que estava parado o ano inteiro.

Do nada todo mundo tem pressa de viver, de gastar, de beijar na boca, de ser feliz de uma vez só. E quando a gente vai embora, a cidade fica com um silêncio que dói.

A praça fica grande demais, a rua principal fica quieta demais, o bar fecha mais cedo.

Moça olha pro vazio do armário e lembra do perfume que ficou na blusa.

Rapaz acorda segunda-feira cedo e sente falta do barulho da porteira.

Avó guarda a cadeira de área e fala baixinho: “Já passou… mas foi bom demais.”

A cidade volta ao ritmo lento, mas leva um brilho diferente nos olhos por muitos meses.

Leva história pra contar pro neto, foto no porta-retrato, saudade boa que aquece o peito quando o inverno chegar.

E a gente, que vive do e no rodeio?

Quando chega, chega como quem volta pra casa sem saber qual é a casa.

Chega suado, cansado, com marmitex frio na mão e saudade de tudo que ficou pra trás.

Mas quando a primeira porteira abre, quando o primeiro “segura peão!” ecoa, a gente renasce.

A gente vira herói, vira amante, vira irmão, vira filho de todo mundo ali!

Por quatro dias a gente tem família, tem nome gritado, tem abraço apertado, tem mulher que chama de “meu cowboy”...

Por quatro dias a gente é inteiro.

Quando vai embora, vai com o peito rasgado.

Leva poeira no bolso, batom na camisa, telefone rabiscado no papel de pão, promessa de “ano que vem eu te espero”.

Leva um pedaço de cada cidade no coração, e deixa um pedaço do coração em cada cidade.

Vai com o rádio ligado, o caminhão rangendo, o tereré gelado no copo e a certeza de que tá levando a alegria de um povo inteiro na caçamba.

A gente olha com tristeza no retrovisor.

A gente ri lembrando da sacanagem de sábado.

A gente canta Milionário e José Rico até a garganta doer.

E a gente segue… porque é isso que faz o povo do rodeio…

O rodeio não é só uma festa.

É um encontro de almas.

É a cidade que abre o peito e diz: “Vem, me faz viver.”

É o peão, o tropeiro, o locutor que abre o peito e responde: “Tô aqui, e levo vocês comigo pra sempre.”Quando a poeira abaixa e o último caminhão some na curva, fica uma coisa que ninguém explica: a cidade nunca mais é a mesma.

E a gente também não. Porque o rodeio não passa por uma cidade…ele fica dentro dela.

E a gente carrega cada cidade dentro da gente.

É amor.

É saudade.

É Brasil.

É vida.

E enquanto houver estrada, porteira e coração batendo forte… a gente vai. E a gente volta. Porque o rodeio não acaba nunca, irmão.

Ele só muda de cidade… e continua vivendo dentro de quem o viveu.

Eita tempo véio…

🐂 🐎

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