26. A fera
Essa não era uma decisão minha, o que eu poderia fazer era apresentar o problema a Murilo, daí pra frente era com ele, mulher querendo dar nem o diabo segura, isso é certo, não prometi nada a Lygia, mas eu ia ajudar, tio Renato estava de pau duro, a cada abraço dela os bicos do pito dela se esfregava nele, e ele… ele era novo com essa coisa de mulher, mas gostou. Chupou Laura com tio Caio comendo ele, comeu ela chupando pica, ele passou a gostar dessa coisa, agora tinha carne nova e novidade se oferecendo a ele, caralho!
De tanto pensar em Laura: ela telefona. Depois de conversar com Tiago e liberar ele para qualquer aventura com mulher ou com homem, ele sai para dar uma volta e estava longe de casa há doze horas, ela já ligou para todos os pronto-socorros, o telefone dele, chama e ninguém atende, ela estava desesperada, “Eu não sei a quem recorrer, ele estava super feliz porque você e Murilo chamaram ele de irmão, eu tô atirando para todo lado.”
Desliguei essa chamada e liguei para Tiago, ele não atendeu, mandei uma mensagem de voz dizendo que ia quebrar as costelas dele facilmente se ele não atendesse o telefone quando eu ligasse, dei dois minutos e ele mesmo ligou, disse a ele que Murilo e eu precisávamos vê-lo, sem Luana, Laura ou qualquer outra pessoa, só nós três, e pela importância que demos a ele, ele ia dizer sim, ele disse sim e eu senti um alívio. Saí de casa já deixando Luana tranquila.
Quando Murilo e eu chegamos à garagem Lygia nos esperava na saída do elevador, a mesma roupa, tênis branco como o casaquinho de tricô que ela usava agora, eu havia antecipado o caso de Tiago paga os meninos lá em casa e eles estavam jogando War quando cheguei, eu havia antecipado o caso da irmã de Murilo a ele, ele não falou nada e não fez nenhum sinal de descontentamento ou alegria. Quando a viu ele abriu os braços e parabenizou por ela estar tão perto de formar-se, disse que soube que a irmã era vocacionada para ser puta através das histórias dela com Daniel, ela que descobriu um monte de coisas.
Eles conversaram sobre a provável vinda dela para cá, como ela antes iria romper com as irmãs, porque eram todos uns amores, menos quando o assunto de partilha de bens chega à mesa, para Murilo isso pouco importava, pegou o suficiente para conseguir acesso às pessoas que ele queria e fez isso graças ao remorso de Romão pela morte de Celso e pela ajuda de Lygia, “... por remorso também, eu poderia ter te ajudado antes, mas fui covarde e medrosa, medo de ser excluída como você foi, tenho remorso sim, mas não tenho mais medo e é…”, “... mesmo aí que mora meu receio, da falta de medo se transformar em burrice, a ausência de medo é prudência, não é afobação, mas o foco agora é meu outro irmão, fui afobado, podia ter sido mais prudente e por isso me estrepei, estou sábado a noite a procura de um hétero homofóbico sem muita convicção”.
Não concordei com a pencha de homofóbico para Tiago, mas era mesmo isso, ele pode até não ser violento, virulento, mas bastou pensar na remota possibilidade de ser confundido com um de nós os gays que o apoiam e o mundo dele ruiu e ele estava como um pivete fugindo de casa. Homofóbico, era isso.
Laura fala das duas namoradas que teve, a primeira era neurótica e feia, mas era um começo e era tão louca com exposição que era uma garantia de anonimato, a segunda era uma delícia, mas era casada e mãe, e tinha mais medo de perder o marido que tudo no mundo, como se o cara não fosse adorar pegar a esposa e uma novinha na cama e foder as duas, acabou dando para o cara por vingança, “Gaspar é feio, mas é um feio bonito, sei lá charmoso, e é um porra louca, acabou que a minha segunda namorada perdeu ele de toda forma, ter muito medo de algo atrai, melhor ouvir o medo e ser sensata.” Chegamos.
Praça de alimentação de um shopping, ele estava com os olhos inchados de chorar, murilo o abraçou e o drama reiniciou, ele aceitou tirar uma foto conosco para mandar para Laura e Luana, pra tranquilizar e afinal de contas, ele estava cansado de pensar, queria que alguém abrisse a cabeça dele para os problemas ou o restinho do juízo poderem escorrer de dentro, Murilo segura a cabeça de Tiago com as duas mãos e diz que não acreditava que dentro daquele coco houvesse espaço para problemas e juízo, “... com esse teu sorriso de tranquilidade, pra mim só tinha água de coco aí dentro, negão.”
Tiago começou sorrindo, rindo e depois estava às gargalhadas. Mas eu tinha de perguntar, “O que foi que aconteceu?” E ele olhou para Lygia, Murilo apresentou como sua irmã de criação, estranhei, mas ele faz essas coisas com uma intenção ainda não revelada, “Lygia, senta perto desse merda, troca de lugar comigo, ele é meio preconceituoso demais e talvez não surte se você mostrar o seu absorvente sujinho.” Tiago ficou morto de vergonha, ser chamado de preconceituoso feriu bem no lugar certo e ele não disse nada e baixou a cabeça enquanto os irmãos trocavam de lugar.
Com todo o bom humor da vida Murilo falou como foi expulso de casa, o que aconteceu a Celso, como conseguiu o emprego de porteiro, como foram os últimos dez anos, como matou e enterrou, mãe, pai e cada uma das irmãs, e que sabia que fizeram o mesmo por sobrevivência, ver a monstruosidade de deixar alguém desamparado, era horrível demais, hoje fez amizade com o meu amigo, ambos mudaram muito, eram outras pessoas, ele confiava na amizade cega de Joel, em mim, em tio Galvão, tio Caio, tio Renato, os outros iam galgando o respeito me a confiança dele, então ele fala de como mera ter um marido que vai ter dois plantões de vinte e quatro horas em uma emergência de hospital, assumir a representação de uma linha de produtos cirúrgicos e ter de ficar bajulando diretor médico e dirigindo de cidade em cidade como um mascate. Mas tinha a empresa de eventos que precisava inventar dois shows até o festival em três meses e meio, mas ele tem dois namorados que não fazem a menor noção de como realizar isso, e claro, não podem gastar muito dinheiro, estão sem casa e sem escritório, e sem tempo. Ele olha para Tiago e diz que também não entende porque deveria ter paciência com um marmanjo que está em crise porque não deveria ter gostado de uma suruba o tanto que gostou.
“Essa garota do teu lado é tão gostosa quanto as meninas que você deixou preocupadas contigo em casa, você, logo você, negro, pobre, desempregado e semianalfabeto. O bom é testar a sorte e ver o quanto ela aguenta, né? Mateus vem se queixando que tem dois funcionários de confiança, os outros passam dois ou três meses e se demitem, oficina é coisa suja, eles querem mais, são especiais, são ofendidos por trabalhar num lugar assim tão injusto com essas flores do campo que são, dois estão lá e merecem tudo, o salário, o plano de saúde, o mês de férias, o décimo terceiro, um deles era pedreiro, analfabeto, hoje está casado e com duas filhinhas lindas, meu amigo mais querido, está casado com um engenheiro, esse engenheiro trocou toda a putaria que você viveu para ficar só com esse pedreiro, esse mecânico, porque ele é um homem de verdade, não parecia de complemento e as meninas que você deixou a beira de um ataque de nervos precisa de um mecânico, de um pedreiro, de um agricultor, mas que seja homem, e você hoje foi menino, foi moleque, foi um merda. Peguei pesado? Peguei, mas não menti, ou menti?”
Depois disso eu disse que ele só voltasse pra casa quando soubesse dizer o que queria da vida, Laura e Luana mereciam ser tratadas com todo o carinho e atenção da vida, homem que não as merecem saíram da vida delas pela porta da frente, que ele não fizesse uma de bandido e saísse pelo portão do quintal como um bandido. Deixamos ele pensando, no caminho de casa Murilo mandou eu desviar e deixar Lygia na casa das meninas, “Faz parte dessa coisa que você quer fazer parte segurar a onda dos outros, administrar problemas que não são seus. Precisa de maturidade pra ter essa tal liberdade com a qual você sonha.” Ela não disse nada, desceu na calçada que eu mandei com o número do apartamento, ficamos esperando para só ir depois que o porteiro liberasse sua entrada. Aí sim, fomos para casa.
Cheguei em casa e os meus e os de Murilo estavam sentados à mesa, conversando, Joel fechou o rosto quando nos viu chegar, estava uma fera. Disse que não gosta quando nossos tios demoram a vir nos ver, gosta dessa coisa meio incestuosa, autoritária que tem no sexo com eles, e só, ali onde nós viviámos era a casa de quatro homens, obviamente todos maior de idade, seria bom que eu não fosse “sequestrado pelos caprichos de meus tios”, imediatamente liguei para tio Renato e disse que viesse até pelado, mas descesse o mais rápido possível e depois falei o mesmo para tio Galvão. Joel estava achando que eu iria tirar a razão dele, mas fiz melhor:
“Isso não interessa a mais ninguém além de vocês sete, a estudante de medicina, irmã de Murilo veio para cá para que ele cuidasse dela e lhe arrumasse espaço no meio das putarias e bacanais quem ele participa, e ele a encaminhou para o outro destino, não quis saber de passado, de família, a responsabilidade dele era com tio Renato, que de toda forma, tem sido o pai e a mãe que ele deixou de ter, então foda-se as expectativas de Lygia, ela já falhou com ele antes, sem remorsos, mas também sem dívidas de gratidão. Quem você pensa que é, Joel Antônio, quando cuida tão bem de Laura?, e você João Paulo, sua ex libera você estar acordado a essas horas?, obrigado por me defender, José Hélio, afinal de contas foi para resolver boa dessas moças que eu saí de casa, ligaram para elas? Não!
“Pois eu quero o telefone dos três bloqueando os números delas, e quero agora, está caro o preço dessas xoxotas, e mais… sou casado com três homens gays, se alguém insinuar falar de peitinho, xibiu ou mulher perto de mim… façam as malas. Vão ficar sem entender, Joel e eu estou me fodendo pra dar explicação! Mas vou, e é agora. Levante dessa cadeira Joel, tente me impedir, tente, tente ser mais homem que eu.” Eu estava uma fera, eu estava muito puto, mas aí meus tios chegaram, os quatro.
“Tio Renato, Daniel fez amizade muito rapidamente com Joel, na falta de coragem de dizer para o senhor que não gostou de ficar essa tarde sem o companheiro, pressionou o tonto do meu marido para ele me constranger diante de todo mundo para eu falar com o senhor. Talvez ele não esteja pronto para o emprego no hospital, já que não entende de hierarquia. Mas eu explico, eu mando nessa casa, como provavelmente isso é claro como a cor dessa mesa branca, mas eu mando e os três me obedecem, e eu atendo a meu tio Caio e seu esposo sem pestanejar, porque nenhum de nós quatro teria dado três passos nesses últimos meses sem eles, o mesmo acontece com Murilo, se as coisas funcionam pra você, Daniel, agradeça a tio Renato, suas provas foram refeitas quando você foi expulso meses depois porque ele foi pessoalmente ver a política de danos que o namorado que você arrumou sozinho fodeu tua vida. E ele não te conhecia, ingrato.
“Agora, só para eu deixar tudo ainda mais claro que a luz do sol: invejo Sebastião, ele ganha menos que eu, junto com o marido isso vai para o dobro do meu salário, e olha… com duas filhas pequenas, zero dor de cabeça, o que não é trabalho é felicidade na vida de ambos, sabe por que sabemos tão pouco sobre a vida deles? Monogamia. Sem camisinha, sem comprimidos, sem caça, sem problemas. Somos doze nessa sala e eu não vou tomar mais nenhuma precaução porque todos aqui ou vão ser fiéis a esse grupo, ou… caralho, não vão trepar com ninguém desse grupo. FUI CLARO COMO O SOL, JOEL?”
Depois de um enorme silêncio, bem desconfortável, tio Galvão diz que se eu dispensar Joel, ele vai querer, “Birrento, mas é tão bonitinho, você também mandão, chato e autoritário, mal de família eu sei… tirando seu piti, concordo com tudo, Renatinho e Caio vão discordar, mas vão parar de ciscar fora do terreiro deles, eu prometo. Tenho dois pedidos, primeiro, eu quero ser chamado de tio, sempre aproxima e eu deixo de estar nesse lugar longe, e eu adoro cada um de vocês por motivos diferentes, até os novatos, garotos muito trabalhadores, bonitos e com umas bundinhas lindas, pedido dois, fiquei nervoso com essa urgência, Mateus, quase tive um infarto, pra relaxar, nem é sexo, é só uma putariazinha, sem penetração, beijos, sabe… lambidas, chupadas, sentir o cheiro de Daniel, ele é cheiroso, e eu acho que você deve um pedido de desculpas por falar com ele naquele tom, vai lá, dê um abraço nele e diga que está com raiva porque ele entrou na vida de Murilo sem que você tivesse nada a ver com isso.”
Não fui, caí num choro de cansaço, de verdade e Joel foi o primeiro a me abraçar, eu solucei tanto que nem consegui me desculpar, João chegou me mostrando o celular com os contatos bloqueados, exagerei, gosto das meninas.
João chegou perto já tirando a roupa, convidou tio Caio a fazer o mesmo, chamou de tio, daí para frente foi assim, todos nós chamando os mais velhos de tio. João me perguntou se eu queria pica, eu disse sim, ele disse não, era meu castigo sem penetração dessa vez. Foi delirante, doze homens nus que se tocavam, beijavam lambias, esfregavam seus corpos uns nos outros, o suor, os cheiros de pica, de corpo, de bunda, os sons de gemidos baixos, e os beijos, as palavras no ouvido, tio Caio dizendo que me ama, que eu sou seu sonho de consumo e depois o ver chupando minha pica… eu gozei duas vezes, nenhuma gota de porra escorreu para o chão, lambi muita gala e dividimos osmoutros, todo mundo estava com sede de leite. Dessa vez Rafael fechou a porta para o terraço e ficamos jogados no chão enquanto almofadas e travesseiros eram distribuídos, dormi entre tio Galvão e Rafael, abraçando um e sendo abraçado por outro, Daniel pode silêncio, ia ter de acordar em cinco horas, era meia noite quando ele apagou a luz e dormimos.
Acordei namorando tio Galvão, eu já queria dar a bunda pra ele, mas o dia tinha de começar de outra forma. Tio Nelson foi até a padaria para garantir parte do café da manhã. Daniel estava saindo do banho, José fazia waffles e café para ele, o som e o cheiro de ovos fritos foi despertando os outros, Joel disse que mesmo sendo um pau mandado completo e assumido (morri de vergonha e arrependimento) disse que precisávamos de uma reunião de condomínio, beijou Daniel e perguntou se podia falar em nome dele já que era certo afirmar que ambos eram um desde ontem, “Se é pra causar ciúme em Mateus ou em mim, ou em qualquer pessoa, saibam que só estão conseguindo me deixar de pau duro, mas pode ser a vontade de mijar, vocês podem continuar depois que eu voltar do banheiro?”, por isso amo Murilo.
Tomamos café em dez, tio Renato foi levar o novato ao trabalho, apresentá-lo à equipe, tomariam café por lá. Já os que ficaram discutiram os assuntos da noite anterior, eu pedi desculpas novamente a todos principalmente aos meus companheiros e sobretudo a Joel e Daniel, concordei que ele estava coberto de razão quando se aborreceu comigo, “E eu te amo por isso, essa capacidade de reconhecer que está errado, você é o melhor dono que eu poderia arrumar para mim mesmo”, esse tipo de frase faz todos rirem e eu morrer de vergonha, sentado no colo dele eu só queria que ele me apertasse até eu desaparecer. Tio Nelson diz que está enfrentando uma doença grave e que vai ter de contar com o apoio de alguém todas as horas do dia, horário de remédio, a possibilidade de desmaio e essas coisas, por isso tio Galvão e tio Caio vão se revezar nesse cuidado com tio Renato e eu além de dar conta da oficina de motos vou abarcar parte do compromisso da outra oficina, gelei.
Murilo perguntou do que se tratava o problema de tio Nelson, se ele queria dividir conosco ou adiar para quando o problema se resolvesse, tio Nelson ficou em silêncio, talvez não houvesse solução. Ele disse que estavam querendo se transferir para a casa de tio Caio, e que o aluguel que iriam cobrar de Murilo pela casa ia ser altíssimo. Foi um domingo de mudança, foi um domingo fechado em casa.
Tio Renato chegou antes do almoço, disse que Lygia falou que as meninas decidiram (depois de ouvir o relato da conversa que ela testemunhou) não aceitar Tiago de volta, mas antes de qualquer coisa, ele chegou muito cedo tocou a campainha para devolver a chave e se despedir, foi bem emocionante, então ele fodeu as três e todos mudaram de ideia, e Lygia mandou ele ligar pra mim e pedir um emprego na oficina, era muita coisa, mas burro ele não era. Teve tempo de reverter a arapuca que Murilo arrumou pra ele, eu já havia dado uma vaga de experiência para ele, mas ele me liga no final da tarde, “Meu irmão, Murilo tá certo, idiota que eu fui, desculpa, quando vai ter uma bagunça que eu possa soltar minhas putas e cair de verdade na esbornia? Sabe, cu é cu, não quero dar, mas… e eu quero beijar você.