Os dias seguintes foram uma tortura lenta.
Eu tentava me convencer de que aquilo tinha sido só um momento, um deslize do calor, da falta de privacidade, de qualquer coisa menos o que realmente estava acontecendo dentro de mim.
Mas era impossível esquecer a imagem dela no chuveiro, a toalha curta, o jeito como a regata marcava os seios quando ela se inclinava para pegar algo na geladeira.
Lara parecia não notar nada. Ou fingia muito bem.
Ela continuava a mesma de sempre: chegava da faculdade falando sem parar sobre as aulas de psicologia, sobre Freud, sobre sonhos, sobre o inconsciente.
Ria alto das piadas ruins que eu contava só pra ver aquele sorriso, se jogava no sofá do meu lado com as pernas dobradas, o shortinho subindo pelas coxas grossas.
Às vezes encostava a cabeça no meu ombro enquanto víamos série, como fazia desde criança. Só que agora o peso da cabeça dela parecia diferente. Mais quente. Mais demorado.
Na quarta-feira à noite, o calor estava pior que nunca. A energia do prédio oscilou duas vezes, o ventilador parou por minutos inteiros e o ar ficou parado, pesado.
Eu estava no meu quarto tentando estudar dinâmica dos sólidos, mas o suor escorria pelas costas e eu não conseguia concentrar em nada além do barulho dela no quarto ao lado: o armário abrindo e fechando, o som de tecido caindo no chão.
Ela apareceu na porta do meu quarto de repente, só de camisolinha fina rosa – aquela que mal passava do meio da bunda. O tecido era tão leve que dava pra ver o contorno dos mamilos quando a luz do abajur batia de frente.
“Gabi… não consigo dormir. Tá muito quente”, disse, a voz baixa, quase manhosa. Esfregou os olhos como se fosse uma criança pequena pedindo colo.
Eu engoli em seco, fechei o livro com força demais.
“Põe o ventilador mais perto da cama.”
“Já pus. Não adianta.” Ela entrou no quarto sem esperar convite, sentou na beirada da minha cama. A camisolinha subiu um pouco mais nas coxas quando ela se inclinou pra frente. “Posso dormir aqui hoje? Só hoje. Como quando a gente era pequeno e tinha tempestade.”
Meu coração deu um soco no peito.
“Lara, a gente não é mais criança.”
Ela me olhou com aqueles olhos castanhos claros, os cílios longos piscando devagar.
“Eu sei. Mas… é só dormir, maninho. Prometo que não roubo cobertor.”
Eu devia ter dito não. Devia ter inventado qualquer desculpa. Mas só assenti, mudo, e abri espaço na cama de solteiro apertada.
Ela deitou de costas pra mim, o corpo pequeno encaixando no espaço que sobrou. O cheiro do creme que ela passava no corpo – baunilha doce – invadiu tudo. Eu fiquei rígido, deitado de lado, tentando não encostar nela. Mas a cama era pequena demais. Minhas pernas roçaram nas dela, o braço inevitavelmente caiu sobre a cintura fina.
Ela não se mexeu.
Nem eu.
O ventilador zumbia fraco no canto, mas o calor entre nós era outro. Eu sentia a respiração dela, lenta, o subir e descer das costelas sob minha mão que, sem querer, tinha ficado ali na barriga dela. A camisolinha tinha subido um pouco; meus dedos tocavam a pele quente, macia, logo acima do elástico da calcinha.
Passaram minutos. Ou horas. Não sei.
Então ela se mexeu de leve, como quem se ajeita no sono. O quadril dela encostou no meu pau, que já estava duro fazia tempo. Senti o calor da bunda dela através do tecido fino, o reguinho perfeito pressionando exatamente onde não devia.
Eu prendi a respiração.
Ela não se afastou.
Pelo contrário: mexeu de novo, devagar, como se estivesse sonhando. Um movimento quase imperceptível de vai e vem, esfregando de leve.
Meu corpo inteiro tensionou. Quis afastar, mas não consegui. A mão na barriga dela apertou um pouco mais, sem querer. Ela soltou um suspiro baixo, quase um gemido abafado.
Ficamos assim a noite inteira: eu sem dormir um segundo, duro como pedra, sentindo cada respiração dela, cada mexidinha sutil do quadril. Ela fingindo dormir, mas eu sabia que não estava dormindo também.
Quando o dia clareou, ela se levantou devagar, esticou os braços pra cima – a camisolinha subiu e mostrou a calcinha rosa clara por um segundo – e me deu um beijo na testa como se nada tivesse acontecido.
“Obrigada por me deixar dormir aqui, Gabi. Dormi super bem.”
Saiu do quarto rebolando levemente, o cabelo bagunçado caindo nas costas.
Eu fiquei ali, olhando o teto, o pau latejando de necessidade, a culpa me comendo vivo.
Porque eu sabia que ela tinha feito de propósito.
E o pior: eu tinha gostado.
(Fim do Capítulo 2).
Obrigado de coração a todos vocês que continuam acompanhando “Portas Fechadas”! Os comentários e o carinho de vocês me deixam muito feliz e motivado pra caprichar ainda mais nessa história. A tensão está só começando, e prometo que vai ficar cada vez mais intensa.
Se puderem e quiserem ajudar a continuar escrevendo (e quem sabe até soltar os capítulos mais rápido), qualquer contribuição pelo Pix faz uma diferença enorme pra mim:
Chave Pix: 5508fdb9-7ec7-4bab203ed9e19d
Pode mandar qualquer valor, que já ajuda demais! Se quiser, coloca a mensagem “Portas Fechadas” que eu vou amar saber que veio de vocês. 💜
Beijo grande em cada um e até o Capítulo 3 muito em breve!
