Dentro daquele apartamento, o tempo deixou de obedecer ao relógio comum.
Ali, existiam rituais.
Lucas já não atendia por esse nome quando a porta se fechava. Suzana foi clara, firme, quase doce ao anunciar a mudança:
— Aqui dentro, você é Luma.
E Luma nasceu sem resistência.
As roupas deixaram de ser escolhas. A lingerie passou a ser uniforme. Havia algo de estranhamente confortável naquela constância — uma sensação contínua de presença, de lembrança silenciosa de quem ela era agora. Suzana gostava de observar como isso moldava o comportamento de Luma: passos mais cuidadosos, olhar mais atento, corpo sempre disponível.
A castidade não era apenas um acessório. Era um estado mental. Um foco permanente. Suzana ensinou que desejo contido não enfraquece — refina. E Luma sentia isso se acumular, se transformar, se deslocar para lugares que antes pareciam improváveis.
O dia era dividido em encontros.
Manhã.
Meio do dia.
Noite.
Não como obrigação, mas como necessidade. O corpo aprendia rápido quando o prazer vinha acompanhado de comando. Suzana não tinha pressa. Sabia prolongar. Sabia repetir. Sabia exatamente quando conduzir e quando apenas observar, deixando Luma se perder na própria sensibilidade.
Em um desses momentos, Suzana apresentou algo novo.
Uma máquina simples, fria à primeira vista, mas carregada de intenção. Não era sobre violência nem exagero — era sobre movimento constante, sobre abandono da vontade própria. Suzana explicou pouco. Não precisava. Luma compreendia pelo tom da voz, pela forma como Suzana ajustava cada detalhe com precisão quase carinhosa.
— Você não precisa fazer nada — disse. — Só ficar.
E Luma ficou.
O tempo se dissolveu. O corpo respondeu de maneiras que Luma jamais havia experimentado. Não havia toque onde antes existia expectativa. Ainda assim, o prazer crescia, pulsava, tomava conta — um prazer que não pedia permissão ao corpo antigo, aquele que Lucas conhecia.
Quando veio o ápice, não foi explosão. Foi rendição.
Sem liberação física, sem o gesto aprendido a vida inteira. Apenas uma onda intensa, profunda, que partiu de dentro e tomou tudo. Luma tremeu, surpresa consigo mesma, enquanto Suzana observava em silêncio, satisfeita.
— Isso — disse ela por fim. — Agora você entendeu.
Luma entendeu.
Não era apenas dependência de prazer. Era identidade.
Era saber que havia um caminho sem volta — e não querer voltar.
Dentro daquela casa, Luma não era forçada.
Ela era construída.
E Suzana…
Suzana ainda tinha muito a ensinar.