O Despertar - Cap 01(O Jogo Proibido)
A minha história, o nosso segredo, é construída sobre um paradoxo delicioso e perigoso. Publicamente, somos a imagem da normalidade: um casal unido, bem-sucedido, com treze anos de casamento que parecem ter saído de um catálogo de felicidade doméstica. Ele, um profissional respeitado; eu, uma mulher que equilibra carreira e lar com uma suposta graça invejável. Nossos amigos nos citam como exemplo. Nossas famílias nos veem como a rocha sobre a qual todos podem contar. O que ninguém sabe é que a fundação dessa rocha é feita de areia movediça, prazer proibido e a mais profunda e doce submissão.
Tudo começou com um fetiche do meu esposo, Ricardo: a exibição. No início, era sutil. Ele adorava que eu usasse decotes mais ousados ou saias um pouco mais curtas quando saíamos. Gostava dos olhares que eu atraía, da sensação de que outros homens me cobiçavam. Aos poucos, essa chama foi sendo alimentada. De observar, ele passou a desejar que eu interagisse. Flertasse. E depois... bem, depois que a primeira fronteira é cruzada, as outras parecem insignificantes. Aqui estamos, treze anos depois, com um relacionamento mais forte do que nunca, paradoxalmente fortificado pela liberdade que nos concedemos. Ele é meu corninho manso, meu amado, meu maior aliado no prazer. Ele não só sabe de todas as minhas aventuras, como é ele quem muitas vezes me prepara, quem escolhe a lingerie, quem me pergunta, com os olhos cheios de uma curiosidade lasciva, todos os detalhes do que fiz com outro homem.
Mas há uma regra de ouro, inegociável, que Ricardo sempre enfatizou com uma seriedade que contrasta com a libertinagem do nosso jogo: "Nossa vida liberal termina onde começa nossa vida social." Amigos próximos e familiares são território proibido. Intocáveis. É o pacto que nos protege, que mantém intacta a "fachada" perfeita que, de certa forma, também nos excita. A dualidade é um afrodisíaco.
E é aí que entra Gustavo.
Gustavo é o amigo de infância do Ricardo. Aquele amigo que esteve presente em todos os momentos, desde a formatura até o nosso casamento. É alto, tem ombros largos, um sorriso fácil que cria pequenas rugas nos cantos dos seus olhos castanhos, e uma barba sempre bem aparada que dá um ar de masculinidade serena. Sempre o achei extremamente atraente, mas era uma atração abstrata, como admirar uma escultura em um museu – você aprecia a beleza, mas sabe que não pode tocar.
Nos últimos meses, porém, algo mudou. Comecei a notar que seus olhos, que antes me cumprimentavam com a cordialidade de sempre, agora percorriam meu corpo com uma lentidão deliberada. Não era um olhar casual, era um escaneamento. Ele observava a curva dos meus quadris sob o vestido, a linha do meu decote, a forma como minhas pernas se moviam quando eu andava. E, para minha surpresa, esse olhar não me incomodava. Pelo contrário, acendia um fogo baixo na minha barriga, um formigamento que eu não sentia desde as primeiras investidas do Ricardo, no início do nosso relacionamento aberto.
Pelo menos duas vezes por mês, temos um encontro com o grupo de amigos. Churrascos em casa, bares, festas. E o Gustavo, o único solteiro do grupo, está sempre lá. Tornou-se um jogo particular meu observar o Ricardo, meu marido, meu cúmplice, conversando animadamente com o mesmo homem que, sutilmente, devorava sua esposa com os olhos. A ironia era intoxicante.
A regra de Ricardo ecoava na minha mente: "Ninguém próximo." Mas a forma como Gustavo me olhava era um convite silencioso, um desafio. E eu, que já havia explorado tantos cantos do meu desejo, senti o chamado do proibido. Comecei, então, a provoca-lo. Sem querer querendo. Criando situações.
A primeira vez foi consciente. Estávamos na varanda de casa, em um churrasco de sábado. Eu usava um vestido de alcinha, de um vermelho vibrante, justo o suficiente para acentuar minhas curvas. Gustavo estava ao meu lado, perto do balcão, pegando uma cerveja. O Ricardo estava na churrasqueira, do outro lado do jardim.
"Está quente hoje, não está, Gustavo?" eu disse, virando-me de frente para ele.
Ele concordou com a cabeça, os olhos fixos no meu rosto por um segundo antes de descerem, inevitavelmente, para o meu decote.
"Está, sim," ele respondeu, a voz um pouco mais grossa que o normal.
Eu me estiquei, arqueando levemente as costas, como um gato. As alcinas do vestido escorregaram um pouquinho, revelando um pouco mais a parte superior dos meus seios. Meus mamilos, erectos com a excitação do momento, pressionavam contra o tecido. Eu vi o queixo de Gustavo ficar tenso. Seus dedos apertaram a garrafa de cerveja.
"Preciso de um gole disso para refrescar," eu disse, e, sem pedir licença, peguei a garrafa da mão dele. Meus dedos tocaram nos dele intencionalmente. Um choque minúsculo, mas elétrico. Levei a garrafa aos lábios e bebi, mantendo o olhar fixo nele. Ele não piscou. O ar entre nós pareceu ficar denso, carregado.
Naquele momento, eu sabia. Ele tinha notado. E o jogo tinha começado.
As provocações tornaram-se mais frequentes. Em um jantar no apartamento dele, levantei para ajudar a levar os pratos para a cozinha. Ele veio atrás de mim. Quando ele se aproximou, eu me virei de repente, fazendo com que nossos corpos quase se colidissem. Minha mão, segurando uma tigela, tocou no peito dele.
"Ops, desculpa," eu disse, com uma voz suave, melíflua.
Ele colocou as mãos nos meus ombros para me equilibrar, e seus dedos queimaram através da fina blusa de seda que eu usava. Ficamos parados assim por um segundo a mais do que o socialmente aceitável. Eu podia sentir o calor do corpo dele, o cheiro do seu aftershave, uma mistura amadeirada e fresca. Seus olhos escuros pareciam querer extrair de mim um segredo.
"Tudo bem," ele sussurrou, e suas mãos deslizaram dos meus ombros com uma relutância palpável.
Cada encontro era uma nova oportunidade. Comecei a usar lingerie especialmente escolhida para essas ocasiões – sutiãs de renda que, sob a luz certa, poderiam revelar seus contornos através da minha roupa, ou calcinhas fio-dental que eu sabia que deixariam um vinco quase imperceptível no tecido do vestido quando eu me sentava. Sentava-me sempre de uma forma que acentuasse as minhas pernas, cruzando e descruzando elas lentamente, notando o seu olhar periférico seguindo o movimento.
Uma vez, no cinema com o grupo, sentei-me propositalmente ao lado dele. O Ricardo estava do outro lado. Durante o filme, deixei meu braço repousar no apoio entre nós. Nossos cotovelos se tocavam. Era um contacto mínimo, mas era constante, uma corrente de calor que ligava nossos corpos no escuro. Eu me mexia, fazendo com que meu antebraço roçasse no dele. Ele não se afastou. Pelo contrário, inclinou-se ligeiramente para o meu lado. A tensão sexual era tão intensa que eu mal conseguia prestar atenção ao filme. Meu coração batia forte, e entre minhas pernas, uma umidade começava a se formar, um latejar familiar e delicioso.
Eu sabia que estava brincando com fogo. O medo de Ricardo descobrir era real, um frio na espinha que se misturava com o calor do desejo. Mas era justamente esse perigo que tornava tudo tão eletrizante. Era o segredo dentro do segredo. A aventura mais proibida de todas, acontecendo bem debaixo do nariz do meu marido, do homem que me incentivara a ser livre, mas que havia traçado essa única e crucial linha.
E Gustavo? Ele estava totalmente envolvido. Seus olhares já não eram apenas de desejo, eram de cumplicidade. Ele respondia às minhas investidas com as suas. Um toque nas costas ao passar por mim, um elogio mais carregado – "Você está especialmente linda hoje, de verdade" –, um sorriso que era só nosso, cheio de promessas não ditas.
O jogo estava apenas começando, e eu já estava viciada na sensação perigosa e doce de saber que, naquela sala cheia de pessoas, naquela vida "perfeita" e "tradicional", apenas nós dois sabíamos da corrente subterrânea de luxúria que fluía, silenciosa e poderosa, prestes a transbordar.