O dia estava frio e chuvoso, um típico inverno no interior de São Paulo. A chuva miúda e constante encobria a serra e deixava as ruas de paralelepípedo da cidade escorregadias e vazias. Eu detestava lidar com papelada, mas um problema com a conta-corrente me forçou a ir à única agência do Banco do Brasil na praça central. O lugar, normalmente tranquilo, estava com uma fila única por causa do caixa eletrônico quebrado. O ar cheirava a roupa molhada e café velho.
Foi então que eu o vi. Ele era o segurança. Baixinho, mas com uma presença que preenchia o canto onde estava postado. Não devia ter mais que 1,70m, mas os ombros largos esticavam o uniforme azul-marinho de uma forma que prendia o olhar. Seus braços eram sólidos, e suas mãos, cruzadas à frente, pareciam fortes e capazes. Seu rosto era sério, típico de interior, com uma mandíbula quadrada e um bigode bem aparado. Uns fios de cabelo grisalhos nas têmporas contrastavam com o restante, ainda escuro. Ele não era um modelo, mas havia uma solidez nele, uma masculinidade terrena e silenciosa que fez algo dentro de mim se contrair de interesse. Naquela cidade pacata, onde todo mundo se conhecia, ele era um desconhecido intrigante.
Nos dias que se seguiram, qualquer desculpa era boa para ir ao banco. Eu começava a notar os detalhes: o modo como ele ajustava o cinto de equipamentos com um puxão seco, a maneira grave como falava ao rádio, o breve contato visual que durava um segundo a mais do que o necessário. Um dia, ao me aproximar da porta, ele a segurou para eu passar. Nossa mão se tocou ao eu agradecer com um aceno.
"De nada, senhor", ele disse, a voz mais grave do que eu imaginara.
O "senhor" me pegou desprevenido. Não éramos tão diferentes em idade. Aquilo me desafiou.
A oportunidade surgiu numa sexta-feira. A chuva tinha voltado com força. Eu estava no caixa rápido e, quando saí, vi que havia esquecido meu guarda-chuva no suporte. A agência já estava fechando, quase vazia. Ele estava lá, trancando a porta de vidro por dentro.
"O senhor deixou isso pra trás", disse ele, segurando meu guarda-chuva. Seus olhos castanhos me encararam diretamente, sem a neutralidade profissional de sempre.
"Obrigado. Quase me afoguei lá fora na outra vez", falei, tentando um sorriso.
Ele não sorriu de volta, mas seus olhos percorreram meu rosto. "É melhor esperar um pouco. Tá um dilúvio."
Ficamos em silêncio, observando a chuva cair no calçadão vazio. O som era o único barulho, um tamborilar constante e íntimo.
"Você é novo na cidade?", perguntei, quebrando o gelo.
"Há seis meses. Vim de Assis. A cidade é... calma."
"Calma demais, às vezes", completei, e nosso olhar se encontrou de novo. Dessa vez, a tensão era palpável, um fio esticado entre nós naquele saguão silencioso.
Ele olhou para os lados, garantindo que estavam sós. "O senhor... gostaria de tomar um café? Enquanto não para a chuva. Tenho uma garrafa térmica no meu posto."
Aquele "senhor" de novo. Aquela formalidade que agora soava como um jogo.
"Gostaria", respondi, minha voz um pouco rouca.
Ele me levou até a pequena sala dos fundos, um cubículo com um monitor de CCTV, uma cadeira e um armário. Cheirava a café e a limpeza. Ele serviu o café em dois copinhos de plástico. Quando ele me entregou o meu, nossa mão se tocou novamente, e desta vez nenhum de nós recuou.
Foi o suficiente. Coloquei o copo na mesa e fechei a distância entre nós. Ele não se moveu, apenas fitou meus lábios, sua respiração um pouco mais acelerada. Então, eu o beijei.
Foi um beijo lento no início, um reconhecimento. Sua boca era quente e saborosa a café. Seu bigade era mais macio do que eu imaginava. E então, algo se rompeu. Suas mãos, aquelas mãos fortes que eu tanto observara, agarraram meu casaco e me puxaram contra ele. O beijo se tornou profundo, desesperado, cheio de uma fome reprimida. Eu conseguia sentir a dureza dele pressionando minha coxa, e um gemido baixo escapou da minha garganta.
Ele quebrou o beijo, ofegante. "Aqui não é lugar. Minha casa é perto."
Não pensei duas vezes. "Vamos."
A casa dele era um kitnet pequeno e impecavelmente arrumado a duas quadras do banco. Mal entramos e a porta fechou atrás de nós. Não houve mais preliminares. A urgência do beijo no banco explodiu naquele espaço privado. Ele me empurrou contra a porta, suas mãos agarrando minha nuca, sua língua invadindo minha boca com uma posse que me deixou tonto. Eu arranquei o casaco dele, e ele puxou a minha camisa por cima da cabeça.
Meus dedos trabalharam no cinto e na braguilha dele, empurrando a calça e a cueca para baixo. Seu pau saltou para fora, ereto, grosso e veiudo. Era uma extensão perfeita daquele homem: sólido, imponente, real. Eu me ajoelhei ali mesmo, no corredor estreito, e o levei à boca.
Ele gemeu alto, uma voz brutal e profunda que não combinava com sua estatura. Suas mãos se enterraram no meu cabelo, não guiando, mas segurando, como se estivesse se ancorando. Eu o chupava com uma devoção que beirava a adoração, sentindo o sabor salgado da sua pele, o peso dele na minha língua, os gemidos abafados que escapavam dele. Era eu quem o comia, quem devorava cada centímetro daquele poder que ele exalava.
"Chega", ele disse, puxando-me para cima com uma força surpreendente. "Minha vez."
Ele me virou de costas para ele, ainda de joelhos no chão, e curvou meu torso sobre o sofá. Ele abriu minha calça e a puxou para baixo, junto com a cueca. Suas mãos abriram minhas nádegas, e eu senti seu hálito quente no meu ânus antes da língua dele me penetrar. Eu gritei, meu corpo arqueando involuntariamente. Era invasivo, íntimo e avassalador. Ele me comeu com a mesma intensidade com que eu o tinha feito, sua língua explorando, provocando, preparando.
Então ele se levantou. Ouvi o ruído de um sache sendo aberto e o cheiro do lubrificante. A ponta do seu pau, gelada e escorregadia, pressionou minha entrada.
"Relaxa", ele sussurrou, e sua voz era uma ordem.
Ele entrou com um empurrão firme e constante que fez meus olhos se encherem de água. Doía, mas era uma dor boa, necessária, que abria espaço para uma sensação de plenitude que eu nem sabia que procurava. Ele parou, totalmente dentro de mim, e eu senti cada centímetro dele me preenchendo. Então, ele começou a se mover.
Seus quadris batiam contra minhas nádegas com um som úmido e ritmado. Suas mãos seguravam meus quadris com força, e seus gemos eram roucos e contínuos no meu ouvido. Era brutal e ternurento ao mesmo tempo. Cada investida dele era uma afirmação, cada respiração ofegante uma confissão. Eu estava sendo comido, possuído, e em nenhum outro momento da minha vida eu me senti tão inteiro. Gemíamos juntos, um dueto de sons animalescos e abafados naquela casa silenciosa do interior.
A pressão dentro de mim explodiu primeiro. Jorrei sobre o sofá com um grito abafado, meu corpo contraindo-se violentamente ao redor dele. O choque das minhas contrações deve tê-lo empurrado para o limite, porque ele enterrou o rosto no meu pescoço, rugiu baixo e eu senti o jato quente dele dentro de mim, pulsando, enchendo-me com sua essência.
Ficamos assim por um longo minuto, ofegantes, colados um no outro pelo suor. Aos poucos, a realidade voltou: o cheiro do nosso sexo, o som da chuva que ainda caía lá fora, a sensação do seu corpo pesado sobre o meu.
Ele se retirou devagar e desabou ao meu lado no sofá. Ficamos deitados ali, nus, exaustos, sem falar. Sua mão encontrou a minha e apertou. Não era um gesto de amor, mas de reconhecimento. Algo significativo tinha acontecido.
Lá fora, a chuva finalmente começava a amainar, lavando a cidade, limpando o ar. E eu sabia, olhando para o perfil sério daquele homem baixinho e forte ao meu lado, que nada naquela cidade calma seria como antes.
