FORA DO ESQUE [05] ~ NO ESCRITORIO DO GERENTE

Da série FORA DO ESTOQUE
Um conto erótico de Rodrigo
Categoria: Gay
Contém 2387 palavras
Data: 02/11/2025 15:55:10

Ter visto Lucas Gabriel entrar naquele carro foi... como eu posso descrever aquilo? Ciúme de algo que não era meu? Obsessão que estava me machucando de alguma forma? Como eu poderia ficar com raiva de algo ou alguém que não tinha nada a ver comigo? É difícil de explicar. Difícil de entender. Mas essas são coisas da vida. Coisas que acontecem e a gente não percebe até estar afundado até o pescoço. Até estar sufocando, fiquei frustrado, fiquei triste, e o que eu fiz? Me sabotei, recorri a ela. A única que sempre estava lá. A única que nunca me rejeitava, comida.

Saí do estacionamento do Louds com o coração apertado e a cabeça explodindo. Eu imaginava que Lucas estava transando naquele exato momento. Fosse por dinheiro — o que eu entenderia, afinal eu mesmo já tinha pago por ele — ou por vontade própria, o que me doeria infinitamente mais, mas eu não tinha como saber, e aquilo ficou martelando na minha cabeça. Pensando. Refletindo. Imaginando cenas que me destruíam por dentro.

Lucas gemendo, Lucas suado, Lucas gozando, com outro, não comigo. Dirigi até o McDonald's mais próximo. Entrei na fila do drive-thru. Pedi dois sanduíches. Batata grande. Refrigerante de um litro e sobremesa, era na comida que eu procurava alívio, era na comida que eu tentava preencher o vazio que Lucas Gabriel tinha cavado em mim. A minha pequena obsessão estava, provavelmente, na cama com outro homem. E eu não podia cobrar. Não podia exigir nada, afinal, Lucas era um caso de uma noite que talvez nem lembrasse de mim.

Passei o domingo mal, reflexivo, triste, sem fome — mas mesmo assim comendo besteiras o dia inteiro, salgadinho, chocolate, refrigerante. Mais salgadinho, Quando foi segunda-feira, acordei estressado. Irritado, Sabe quando a pessoa é mal-amada, não transa, mal-humorada, com raiva de tudo e todos? Era assim que eu me sentia. Um completo ranzinza frustrado. E eu precisava descontar minha raiva em alguém, cheguei no supermercado mais cedo que o normal. Fui direto pra minha sala. Liguei os monitores. E logo captei Lucas, ele estava no corredor de massas repondo produtos. Estava ele e Felipe, numa conversa animada. Rindo. Aquele tipo de riso fácil que vem de intimidade, algo passou pela minha cabeça, uma ideia estúpida. Perigosa. Errada. Mas eu estava com raiva. Estava frustrado. Estava cansado de ser invisível, resolvi seguir meus instintos, peguei o telefone interno.

— Alô, Diego? Pode mandar o Lucas Gabriel até minha sala, por favor? Preciso falar com ele.

— Tá bom, chefe. Já mando.

Desliguei.

Meu coração disparou, o que eu estava fazendo? Não sabia. Mas não ia voltar atrás, iria jogar um verde na esperança de colher maduro. Iria abusar da minha autoridade, eu não queria deixar isso barato. Alguns minutos depois, bateram na porta.

— Entre.

Lucas entrou. Olhou pra mim de um jeito estranho. Desconfiado.

— Mandou me chamar? — perguntou, parado na frente da mesa.

— Sim. Senta.

Ele sentou. Cruzou os braços. Aquela postura defensiva de quem sabe que algo está errado, respirei fundo, era agora ou nunca.

— Lucas, você foi visto entrando no carro de um cliente na sexta passada.

Ele piscou. Engoliu seco.

— Peguei carona com um amigo. É errado?

— Não, claro que não — eu disse, mantendo o tom profissional. — Mas o carro que você entrou pertence a um cliente conhecido aqui por fazer banheirão no subsolo. E você foi visto demorando mais que o necessário no banheiro alguns dias atrás. A segurança me passou essa informação, mentira. Ninguém tinha me passado nada, mas ele não sabia disso.

— Eu... eu tive dor de barriga — ele falou, gaguejando.

Bingo, meu verde tinha sido um sucesso. Eu conhecia esse tipo de gente. Sabia quando alguém estava mentindo.

— Lucas, eu sou vivido — falei firme, olhando direto nos olhos dele. — Você sabe que o que fez é errado. Que fere as diretrizes da empresa. Você pode ser mandado embora por isso, ele ficou pálido.

— Eu faço tudo que você quiser — disse, voz baixa. — Mas por favor, não me manda embora.

— Não é assim que a coisa funciona.

— E assim funciona? — ele perguntou, e de repente colocou a mão no próprio pau, apertando por cima da calça enchendo a sua mão com aquela mala grande e pesada.

Engoli seco.

— Você gosta, não é? — ele continuou, voz arrastada, provocante. — Gemeu gostoso no meu pau no Cine Rex.

— Então você lembra?

— Sempre lembro das putinhas que eu pego — ele sorriu, apertando o pau de novo. — E então? Funciona ou não?

Meu cérebro gritava: Não faça isso. Não faça isso. Você vai se arrepender. Mas meu corpo já tinha decidido.

— Bom, dessa vez vou deixar passar — eu disse, tentando manter a compostura. — Mas peço que tome cuidado. O circuito interno tem câmeras em todos os cantos. Não é de bom tom funcionário estar fazendo esse tipo de coisa. Pode ficar tranquilo.

— Obrigado — ele disse, sorrindo e se levantando.

— Espera. Não terminei.

Fui até a porta. Tranquei, voltei até ele. Meu coração batendo tão alto que eu achei que ia explodir, sabia que era errado. Sabia que não devia fazer isso, mas eu estava com sede. Com desejo. Com necessidade.

— Posso? — perguntei, tocando o pau dele por cima da calça.

— Todo seu — ele respondeu, se levantando e tirando o pau pra fora.

E então eu me ajoelhei, comecei a chupar. Não sei se era a adrenalina, a sede, o desejo acumulado de semanas — mas eu estava realizado. Estava tendo a oportunidade, novamente, de tocar Lucas. De sentir seu gosto. Seu cheiro. Seu peso na minha boca.

Mesmo que isso me custasse o emprego. Mesmo colocando tudo a perder, eu só queria sentir. Só queria ser guiado pelos instintos da carne, assim que o pau de Lucas ficou completamente duro, ele mudou, deu um tapa no meu rosto. Forte, cuspiu na minha cara. Me virou de costas, abaixou minhas calças com violência, jogou tudo que estava na minha mesa no chão. Papéis. Pastas. Canetas. Tudo, me empurrou sobre a mesa e começou a me penetrar ali mesmo. Sem pena. Sem dó, apenas com raiva. Com fúria, ele me dava tapas na bunda.

— Você é uma puta — ele rosnou no meu ouvido. — Da próxima vez que vier com ameaça, você não perde por esperar. Acho bom você me aliviar aqui dentro sempre que eu quiser. Se não, eu digo pra todo mundo que te comi aqui na sua mesa, seu puto safado.

Eu não conseguia pensar em nada. Não conseguia responder, só sentia prazer misturado com dor. Com medo. Com vergonha, queria gemer alto, mas tinha medo de alguém ouvir, e então Lucas gozou dentro de mim, só aí eu me toquei: não tínhamos usado preservativo.

Ele subiu as calças. Me olhou com raiva. Pegou um papel, anotou algo e me entregou.

— Meu PIX é esse. Não pense que transei com você de graça. Quero duzentos reais. E quando você quiser mais pica, é só falar. Não precisa criar cena ou me ameaçar. Sei reconhecer um puto de longe, e então ele saiu, deixou a sala como se nada tivesse acontecido, fiquei ali…Sozinho, calça no tornozelo. Esperma escorrendo. Papéis espalhados pelo chão, e então tudo caiu, tudo. Pra mim, aquilo tinha sido... algo. Não sei o quê. Mas tinha significado algo, a realização de uma fantasia. A confirmação de um desejo. A conexão — mesmo que falsa — com alguém que eu queria. Mas pra Lucas? Tinha sido só mais uma transação comercial, pior: agora ele tinha poder sobre mim. Poderia me chantagear. Me ameaçar. Me destruir. E eu tinha deixado. Eu tinha dado a ele, de bandeja, a arma perfeita pra me foder. Porque eu era fraco. Porque eu era desesperado. Porque eu estava tão carente de atenção, de toque, de desejo, que eu aceitaria qualquer migalha. Mesmo que viesse envenenada, me recompus. Subi as calças. Organizei a mesa. Apanhei os papéis do chão, e apesar de tudo — de absolutamente tudo que tinha acontecido — eu estava... feliz? Não. Não era felicidade. Era alívio temporário. Era a ilusão de conquista.

Finalmente eu tinha tido Lucas de novo. Finalmente eu tinha tocado nele. Sentido ele, e isso era o que importava, certo? Errado, porque enquanto pra mim aquilo tinha sido intenso, real, significativo… Pra ele tinha sido só trabalho, mais uma foda. Mais um cliente. Mais um dinheiro no bolso, e foi nesse momento que eu vi toda a cagada que eu tinha feito.

A semana passou num borrão, trabalho acumulado. Relatórios atrasados. E-mails sem resposta. Pela primeira vez em anos, eu estava falhando no serviço, e o motivo? As horas desperdiçadas olhando Lucas Gabriel pelas câmeras. Mas consegui colocar tudo em dia. Porque eu era um bom funcionário. Sempre fui, mesmo sendo um péssimo ser humano.

Era quinta-feira à noite. Eu estava em casa. Sozinho. Ainda anestesiado pelo sexo com Lucas. Meu sobrinho Bernardo chegaria no dia seguinte. Eu deveria estar arrumando o apartamento. Preparando o quarto de hóspedes. Sendo um tio decente. Mas em vez disso, abri o Grindr. Não sei por quê. Talvez porque eu quisesse algo mais... real. Algo que não envolvesse PIX. Ou locais de pegação. Ou abuso de poder. Entrei no app. Comecei a conversar com um perfil sem foto. O papo estava bom. Ele era engraçado. Inteligente. Fazia perguntas. Parecia interessado. Conversamos por meia hora. Sobre trabalho, sobre música, sobre a vida. E então ele pediu:

"Manda foto?"

Hesitei, aquele momento sempre me travava. Porque eu sabia o que vinha depois. O silêncio. O block. A rejeição educada. Mas dessa vez, pensei, talvez fosse diferente. Talvez ele realmente estivesse interessado em mim. Mandei uma foto recente. Tirada na semana passada. Eu de camisa social. Tentando parecer apresentável. Esperei, um minutoE então a resposta veio:

"Nossa, desculpa, mas não curto seu tipo. Prefiro cara mais em forma. Mas você parece gente boa, espero que ache alguém!"

Li a mensagem três vezes, tentando processar, tentando não sentir. Mas senti, senti como um soco no estômago, porque aquele cara tinha conversado comigo por meia hora. Tinha rido das minhas piadas. Tinha feito perguntas sobre minha vida. E bastou uma foto — uma única foto — pra tudo desmoronar. Porque eu não era "em forma". Porque eu não atendia aos padrões. E de repente, eu deixei de ser uma pessoa interessante. Deixei de ser alguém digno de atenção. Virei descartável.

Grindr é uma cilada emocional, ratoeira de egos, uma comunidade tóxica disfarçada de libertação. Às vezes a gente consegue coisas boas — encontros reais, conversas verdadeiras, conexões genuínas. Mas na maioria das vezes? A gente coleciona frustrações. Silêncios depois da foto, blocks inexplicáveis. Xingamentos. Gordofobia. Racismo. Etarismo.

"Não curto afeminado."

"Só sarado."

"Nada de gordo."

"Curto masculino."

A matemática cruel do Grindr era essa: quantos "ois" sem resposta? Quantas fotos enviadas pro vazio? Quantos "não é meu tipo" você aguenta antes de desistir de si mesmo? Em um mundo padronizado, onde todo mundo exige um tipo específico, a gente esquece que por trás daqueles perfis existem pessoas. Pessoas com histórias. Com dores. Com esperanças. Mas nada disso importa se você não tem o corpo certo. Porque no final, o que vale é a embalagem. E a minha embalagem estava amassada. Fora da validade.

Aquele cara pelo menos teve a decência de responder. De dizer que não. De não me deixar no vácuo. Mas mesmo assim doeu. Porque eu estava ali, tentando. Tentando me abrir. Tentando fazer uma conexão real. E fui reduzido a um corpo inadequado. A um tipo errado. A alguém que "parece gente boa", mas não serve pra foder. E cada "não" desses vira uma verdade internalizada:

Você não é desejável.

Você não é suficiente.

Você não merece.

E o pior de tudo? A gente aceita. A gente continua voltando. Continua abrindo o app. Continua mandando foto. Porque a esperança é a última que morre. E a solidão dói mais que a rejeição. Mas naquela noite, eu percebi algo. Eu não precisava mudar pra ser desejado por caras no Grindr. Eu precisava mudar pra parar de me destruir. Pra parar de procurar validação em aplicativos de pegação. Pra parar de acreditar que meu valor estava no meu corpo. Eu precisava mudar por mim. Não pra pegar mais gente. Não pra entrar no padrão. Não pra ser aceito numa comunidade que nunca me aceitaria de verdade. Mas pra conseguir me olhar no espelho sem sentir vergonha. Pra conseguir existir sem precisar de validação externa. Pra recuperar um pouco — só um pouco — de autoestima.

Fechei o Grindr. Peguei meu celular. Procurei o contato que tinha salvado semanas atrás.

Lucas Maia Personal Trainer. Mandei mensagem:

"Oi, Lucas. Eu preciso de ajuda. Você tem horário disponível?"

Ele respondeu rápido:

"Opa! Sim, tenho sim. Você já malha? Tem alguma restrição?"

"Não malho. E não tenho restrição. Só preciso mudar de vida."

"Entendi. Olha, eu tô começando ainda, sou recém-formado. Trabalho com Ed. Física e Nutrição também. Posso te ajudar com as duas coisas."

"Perfeito. Quanto custa?"

Ele passou os valores. Eram justos. Acessíveis. Conversamos um pouco sobre minha rotina. Sobre meus objetivos. E então marquei uma avaliação pro sábado. Aquele seria um pequeno passo. Mas seria meu.

Na sexta-feira, meu sobrinho Bernardo chegou. Eu não via ele fazia uns dois anos. Desde antes do divórcio. Quando abri a porta, levei um susto. O garoto tinha crescido. Dezenove anos. Um metro e setenta e cinco. Ombros largos. Corpo definido. Olhos cor de mel. Pele morena jambo. Cabelo curtinho, fade perfeito. Sorriso encantador.

— Tio! — ele me abraçou forte.

— Bernardo! Cara, você cresceu!

— Pois é, nem eu acredito — ele riu, entrando no apartamento com a mochila. — Valeu por me receber, tio. Sério mesmo.

— Imagina. Fica à vontade.

Mostrei o apartamento. O quarto de hóspedes. A cozinha. Ele era educado. Simpático. Animado. E... bonito. Muito bonito. Eu não sou de ferro. Era impossível não notar. Mas ele era meu sobrinho. Meu sangue. Família. Então empurrei esses pensamentos pra bem longe. Mais tarde, já de noite, cada um estava no seu quarto. Eu deitado na cama, mexendo no celular. Sem querer — ou talvez querendo — abri o Grindr de novo. Comecei a rolar os perfis. E então eu vi. Um perfil sem rosto. Corpo definido. Foto do peitoral. Tatuagem no braço. E aquela tatuagem… Eu conhecia aquela tatuagem. Tinha visto ela hoje. No braço do meu sobrinho. Cliquei no perfil.

Bê… 19 anos, S/L

Meu coração parou, meu sobrinho. Meu sobrinho era gay. E estava no Grindr. Procurando sexo.

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Comentários

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ter sexo decente te torna descrente, cansado e esmagado,a sociedade é feita de regras,de convivência e de hipocrisia.

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Quantos rolos. Só falta o Raul... ou não?

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