Cadu me olhava, o peito subindo e descendo, o pau já duro de novo, pronto para o próximo round. Aquele sorriso diabólico dele me prometia o fim de semana inteiro de perversão. E no quarto ao lado, eu ouvia a risada baixa do Matheus e um gemido satisfeito que era, inconfundivelmente, da minha irmã.
Eu estava no céu. Um céu sujo, fedido a sexo e suor.
E foi aí que o meu mundo real, o mundo da "Dona Luana", bateu na porta.
Meu celular, jogado na minha bolsa sobre a cadeira, começou a vibrar. Não era uma ligação. Era o alarme. O alarme que eu tinha programado: Meia-noite. Hora de virar abóbora.
Cadu ouviu. O sorriso dele morreu. "Que porra é essa?"
"Cadu..." eu disse, o pânico subindo pela minha garganta, gelando meu tesão. "É o meu alarme. Eu... eu tenho que ir."
Ele ficou em silêncio. Um silêncio mais aterrorizante que qualquer grito.
"Ir?" ele repetiu, com a voz baixa, perigosa.
"Meu marido, Cadu. O Ricardo. Ele tá em casa. Ele não viajou. Ele... ele acha que eu tô num jantar com as minhas amigas. Eu tenho que ir pra casa. Agora."
O rosto dele se fechou. Ele não ficou com raiva. Ele ficou... frio.
"Você tá de sacanagem," ele disse. Não foi uma pergunta.
"Não, por favor, Cadu, eu juro..."
"CALA A BOCA!" ele falou, e o grito dele fez o quarto ao lado ficar em silêncio. "Você... sobe no meu morro... me faz de otário na frente da minha comunidade... me deixa com um pau duro que não baixa há uma semana... e agora você diz... que tem que ir pra casa?"
"Eu não posso dormir fora, Cadu! Ele me mata!"
"EU QUE VOU!" ele gritou, me agarrando pelos ombros. As mãos dele pareciam garras de aço. "Você acha que você é o quê, Luana? Uma turista de puta? Você acha que você sobe aqui, brinca com o Rei, e depois desce pra brincar de casinha com o 'soca fofo'?"
Ouvimos um barulho. A porta do outro quarto se abriu. Matheus apareceu, só de cueca, parecendo puto. "Chefe, que porra..."
"Volta pra dentro, Matheus!" Cadu falou, sem tirar os olhos de mim.
Helen apareceu atrás dele, enrolada num lençol, os olhos arregalados de pânico. "Mana? O que foi? A gente tem que ir?"
"VOCÊS NÃO VÃO PRA PORRA DE LUGAR NENHUM!" Cadu gritou.
"Cadu, por favor," eu implorei, lágrimas de medo e frustração escorrendo. "Se eu não chegar em casa, meu marido chama a polícia. Eu te juro. A gente tem que ir. As duas."
Helen assentiu, pálida. "É verdade, Cadu. O meu marido, o Marcos, também tá em casa. A gente... a gente só tinha até agora."
Houve um silêncio mortal. Cadu me olhava. A raiva nos olhos dele era tão pura que eu podia tocar. Ele não estava com tesão. Ele estava com ódio. Ele tinha sido... esnobado. E o Rei não é esnobado.
Ele me soltou. Me empurrou para longe dele, como se eu fosse lixo.
"Entendi," ele disse, a voz gelada. "Entendi. A 'patroa' veio fazer o 'safari' na favela. Veio dar pro negão do morro pra apimentar o casamento."
"Não é isso, Cadu..."
"É ISSO, SIM!" ele disse. "Pega tuas coisas. Pega a tua irmã puta. E some. SOME da minha frente. Vaza do meu morro."
Ele se virou de costas para mim. Um paredão de músculos tensos. A rejeição foi um tapa na minha cara.
"Cadu..."
"SOME, LUANA. ANTES QUE EU PERCA A CABEÇA."
Matheus, do outro quarto, apenas balançou a cabeça, puto da vida, e bateu a porta.
Eu e Helen nos vestimos no silêncio mais constrangedor do mundo. Eu, com os farrapos do meu vestido. Helen, com o shortinho branco manchado. Nós descemos as escadarias do morro. Dessa vez, ninguém nos olhou com respeito. Eles nos olharam com... escárnio. As vadias do asfalto que tomaram um pé na bunda do Chefe.
Gisele nos esperava no posto, o sorriso dela sumiu quando viu nossas caras.
"Patroa...?"
"Chama o táxi, Gi. Por favor," foi tudo o que eu disse.
A semana seguinte foi um inferno. Eu estava na seca. O "soca fofo" do Ricardo nem me tocou, graças a Deus. Mas eu estava com o tesão acumulado e, pior, com medo. Eu tinha fodido com a única coisa que me dava prazer naquele momento. Eu tinha enfurecido o Rei.
Helen estava na mesma. "Mana, o Matheus nem me responde no zap. Ele me bloqueou. Acho que o Cadu proibiu."
Estávamos de castigo.
O sábado chegou. Ricardo e o Marcos, meu cunhado, tiveram a brilhante ideia de reunir a família. Estávamos na sala da minha cobertura. Eu, Ricardo, Helen, Marcos, mais dois cunhados e suas esposas. Um bando de "Dona Luana" e "Doutor Ricardo". O ar cheirava a vinho caro e tédio.
Eles falavam sobre o próximo churrasco da família, no sítio que meu sogro tinha.
"Tinha que ter uma música, né?" disse Marcos, enchendo o copo. "Um sertanejo... um modão."
Gisele, minha cúmplice silenciosa, circulava pela sala, servindo amendoim. Ela estava quieta a semana toda, me olhando com pena. Ela sabia que eu estava sofrendo. Ela sabia da "seca".
E então, a pequena Puta Mestra decidiu agir.
Ela parou no meio da sala, limpando as mãos no avental. "Com licença, Doutor Ricardo... desculpa me meter na conversa."
"Que isso, Gisele! Fala aí!" disse meu marido, sempre bonachão.
"É que... já que o churrasco vai ser no sítio... um lugar grande, né? E os patrões gostam tanto de... de música..."
Eu e Helen nos olhamos. O mesmo pânico. O mesmo pensamento. Não. Ela não vai.
"...por que os patrões não contratam um grupo de pagode?"
Eu engasguei com o vinho. Helen derrubou o copo de cerveja no tapete persa.
"Puta merda, amor!" gritou o Marcos.
"Desculpa! Desculpa!" Helen disse, pálida como cera.
"Pagode?" Ricardo disse, os olhos brilhando. "Puta ideia, Gisele! BRILHANTE! Um pagodinho com churrasco! Perfeito!"
"Eu... eu conheço um grupo, patrão," Gisele continuou, a voz cheia de uma falsa inocência que me deu vontade de matá-la. "Muito bom. Muito profissional. Os meninos lá do... do meu bairro. Tocam demais. O Cadu... o Matheus... eles são ótimos. Fazem um preço bom, sabe? Pra amigo."
Eu olhei para Helen. Helen olhou para mim. Nossos olhos gritavam. ESTAMOS FODIDAS.
"MARAVILHOSO!" Ricardo bateu palmas. "Gisele, você é um anjo! Pega o contato deles pra mim! Agora! Eu vou fechar! Vai ser a surpresa do churrasco!"
"Pego sim, Doutor. Com licença," ela disse, e saiu da sala.
Quando ela passou pela porta, ela olhou para mim. E ela me deu. Aquele sorriso. O sorriso de quem tinha acabado de jogar as leoas na jaula dos leões. A minha cúmplice... era minha maior carrasca. E ela estava se divertindo horrore
O dia do churrasco. Eu não dormi. Helen não dormiu.
O sítio era lindo. Piscina, campo de futebol, um gramado enorme. Um cenário de família feliz. Mas para mim e para Helen, era o corredor da morte.
"Eles não vêm, né?" Helen sussurrou, roendo a unha, de biquíni e canga. "Eles não seriam loucos de vir."
"Eles vêm, Helen," eu disse, o estômago gelado. "O Cadu... ele não ia perder isso."
Nossos maridos estavam na churrasqueira, bêbados desde as dez da manhã. A família toda estava lá. Crianças correndo. O cheiro de picanha e cloro no ar. Era um cenário de pura normalidade.
Meio-dia. Uma van branca, velha, parou no portão de madeira.
"O PAGODE CHEGOU!" Ricardo gritou, animado.
Eu e Helen congelamos