.O resto da manhã foi uma tortura lenta. Laura tentou se ocupar, limpando os banheiros, arrumando a sala para o churrasco da tarde, qualquer coisa que a mantivesse em movimento e longe de Bruno. Mas ele parecia estar em toda parte. A presença dele era um peso físico que a sufocava com culpa e a eletrizava com desejo.
Por volta do meio-dia, Lucas desceu as escadas, já vestido, com pressa.
"Amor, estou indo no mercado", ele anunciou. "Faltou carvão, e preciso buscar a picanha que encomendei. E, claro, mais cerveja."
O coração de Laura deu um salto de pânico. Ela se apressou: "Agora? Eu... eu posso ir com você."
"Não, que isso, relaxa", disse Lucas, dando-lhe um beijo apressado na testa. Ele se preparava para sair, mas parou. Seus olhos piscaram da testa de Laura, para Bruno, que estava na poltrona.
Lucas franziu o cenho. "O que foi?"
"O que foi o quê?", Laura perguntou, sentindo o rosto esquentar sob o beijo de Lucas.
"Você está tensa. E por que está suada? Nem está tão quente aqui", ele disse, tocando a bochecha dela. A pergunta era inocente, mas o toque pareceu uma investigação.
Laura forçou uma risada. "É o calor da cozinha, Lu. Estou aqui cortando legumes há uma hora, tentando adiantar."
Lucas a encarou por um segundo a mais do que o necessário. Seus olhos vasculharam o cômodo, pousando em Bruno, que parecia absolutamente relaxado e desinteressado, fingindo ler.
"É... O ar-condicionado está no máximo, Lucas", Bruno interveio, a voz tranquila. "Ela só está apressada. Não se preocupe."
Lucas balançou a cabeça, mas o pequeno momento de desconfiança não desapareceu completamente. Ele voltou a encarar Laura. "Certo. Tenta relaxar um pouco. Não demoro. Uma hora, no máximo." Ele beijou Laura de novo, desta vez um beijo mais longo, quase possessivo. Ele então olhou para Bruno, os olhos duros por um instante. "Cuida da minha casa para mim, hein? Vou logo."
"Pode deixar, Lu. A casa e a esposa estão em boas mãos", Bruno respondeu, a voz morna.
Lucas finalmente saiu. O som da porta da frente batendo foi como um tiro de largada. O ruído do motor sumindo ao longe.
E então, o silêncio. Um silêncio que não era paz, mas sim a calma antes da tempestade.
Laura foi para a cozinha, quase correndo. Ação. Ela precisava de uma tarefa. Abriu a geladeira, pegou os legumes para a salada de maionese. Ela começou a picar batatas na tábua de corte com uma velocidade desnecessária, o som rítmico da faca batendo na madeira era a única coisa que quebrava o silêncio.
Tac. Tac. Tac. Tac.
Ela ouviu os passos dele. Lentos, deliberados. Ele não foi para a sala. Ele veio para a cozinha. Ele parou na porta. Laura não precisava se virar. Ela sentia. Sentia o calor da presença dele.
"Ele realmente não vê, não é?" A voz de Bruno era baixa, cortando o silêncio da cozinha.
Laura parou de cortar. A faca ficou imóvel na metade de uma batata. "Vê o quê?" ela perguntou, a voz tensa, sem se virar.
"Você."
Ela engoliu em seco. "Não sei do que você está falando."
"Sabe, sim, Laura."
Ele deu dois passos para dentro da cozinha. O cheiro de seu sabonete invadiu o ar.
Ele a encurralou contra o balcão. As duas mãos dele pousaram na cintura dela, os polegares fazendo círculos lentos em seus ossos do quadril.
"Bruno, não..."
"Shhh", ele disse, aproximando o rosto. "O carro dele só vai chegar daqui a quarenta minutos."
E então ele a beijou.
Não foi um beijo gentil. Foi um beijo faminto, raivoso. Ele a ergueu, sentando-a no balcão gelado de granito. Suas bocas se uniram em uma pressa desesperada, e Laura não lutou. Ela agarrou-se à camisa dele.
As mãos dele alcançaram o zíper do vestido e o deslizaram para baixo. O tecido escorregou pelas suas coxas e caiu no chão.
Bruno a abriu contra si, o corpo quente pressionava o dela. Sua língua explorava a boca dela. Seus dedos encontraram a calcinha, deslizando sobre a pele úmida e quente.
De repente, o som.
Não era o motor. Era um som mais distante e estranhamente familiar. Laura parou. Ela empurrou o ombro de Bruno, seus olhos arregalados.
"Você ouviu isso?", ela sussurrou, a voz tensa.
Bruno parou, impaciente. "O quê? É o vento, Laura. Temos que..."
"Não! É... é o barulho da sirene de entrega do açougue!", ela disse, o pânico tomando conta. "Aquele açougue fica a cinco minutos daqui. Lucas deve ter ligado e reservado o pedido, está voltado mais cedo!"
Ela se libertou dele, deslizando para o chão. O corpo inteiro tremia, não mais de desejo, mas de medo.
"Rápido! Rápido! Ele deve estar chegando!", ela gaguejou, lutando para subir o zíper do vestido.
A certeza no rosto de Bruno desapareceu, substituída pela urgência. Ele olhou para o próprio corpo, depois para ela.
"Vista isso!", ele ordenou, vestindo a bermuda de moletom numa velocidade incrível. Ele pegou o vestido dela, que estava amarrotado, e a ajudou a subir o zíper, um gesto que era agora apenas pragmático.
Laura correu para a cozinha. Ela olhou desesperadamente para o relógio: Apenas vinte e oito minutos. Ele havia cortado mais da metade do tempo.
O pânico a engoliu. Ela começou a picar as batatas de novo, o ritmo agora frenético. Ela viu uma mancha vermelha de batom na parede e correu para limpar, borrifando um desinfetante para mascarar qualquer cheiro.
Bruno entrou, o cabelo úmido e as roupas arrumadas. Ele pegou uma cerveja na geladeira. "Faltam dois minutos. Vá para a sala e aja normalmente!", ele ordenou, a voz baixa, de comando.
Laura obedeceu, o coração na garganta. Ela mal havia alcançado o sofá quando ouviu.
O som inconfundível do carro de Lucas entrando na garagem.
Ele estava aqui.
Lucas entrou pela porta, alegre, carregando as sacolas.
"Cheguei! Achei a picanha perfeita!", ele anunciou, largando as sacolas no chão. Ele olhou para Laura, que estava sentada no sofá, ofegante. "Uau. Você está vermelha. O calor está demais na cozinha, né? Ou você estava fazendo algo muito pesado?" Seu tom era de brincadeira, mas o olhar dele era inquisitivo.
Laura forçou um sorriso de volta. Sua atuação tinha que ser perfeita. "Eu estava... limpando o fogão. Exausta."
Bruno apareceu na porta da cozinha, abrindo a segunda cerveja. "Até que enfim, Lu! Achei que tinha ficado preso no açougue, de verdade!"
Os dois riram. Laura apertou os olhos, encarando Lucas, o marido que acabara de trair. O segredo estava em sua pele, esperando para ser descoberto.