O carro de Samuel era um sedã preto, limpo, de interior impecável, e tinha aquele cheiro de couro misturado com perfume amadeirado — discreto, mas marcante. Eu estava no banco de trás, encostado na janela, vendo a paisagem do Rio passar depressa, enquanto o som baixo do rádio preenchia o silêncio que nenhuma conversa parecia querer quebrar.
A orla do Flamengo se estendia ao lado, com o mar refletindo o sol de fim de tarde e as pessoas correndo, andando de bicicleta, rindo. Era estranho observar tanta vida lá fora e sentir um vazio tão grande aqui dentro.
Robinho estava no banco da frente, animado, falando com Samuel sobre qualquer coisa — o trânsito, a faculdade, o calor insuportável. Eu só ouvia as palavras se misturando, como se estivessem distantes demais de mim. A mente insistia em vagar, e o som das ondas, mesmo atrás do vidro, parecia mais alto do que a conversa dos dois.
De vez em quando, eu sentia o olhar de Samuel pelo retrovisor. Não era um olhar rápido, distraído — era demorado, curioso, intenso. Como se ele tentasse decifrar alguma coisa em mim que nem eu mesmo conseguia entender. Quando nossos olhos se encontraram por acaso, senti um arrepio subir pelas costas. Não era medo, mas também não era conforto.
— E aí, Yuri? — a voz dele me despertou. — Tá muito calado aí atrás, tá tudo bem?
Assenti, forçando um sorriso.
— Tô bem, só cansado do primeiro dia.
Samuel riu de leve, voltando os olhos pra estrada.
— Primeiro dia sempre pesa. Muita cara nova, muita coisa pra processar. Mas você parece ser do tipo que observa mais do que fala, acertei?
— Talvez. — respondi, olhando pro mar do outro lado da avenida. — Acho que eu só gosto de entender o ambiente antes de me soltar.
Ele sorriu de canto.
— Um cara que analisa primeiro. Gosto disso.
O jeito como ele disse “gosto disso” me fez desviar o olhar. Não sabia se era só um elogio comum ou se havia algo a mais ali, mas o tom carregava uma naturalidade quase provocante.
Robinho riu na frente.
— Ih, cuidado, primo. O Yuri é caladão, mas quando começa a falar, não para mais.
— Bom saber — respondeu Samuel, sem tirar o olhar do retrovisor.
Aquele olhar de novo. Como se o mundo tivesse diminuído até caber ali, entre os dois espelhos e o reflexo dos meus olhos.
O carro seguiu pela Avenida Beira-Mar, e o céu começava a se tingir de tons alaranjados. A cidade parecia suspensa naquele instante — entre o barulho do trânsito e o som distante das gaivotas. Eu me perguntava por que, entre tantas sensações possíveis, o que eu sentia era uma mistura de calma e inquietação.
Samuel dirigia com uma segurança quase ensaiada, o braço esquerdo apoiado na janela aberta, o vento bagunçando levemente o cabelo escuro. Ele parecia o tipo de pessoa que estava sempre no controle, e talvez fosse isso que me deixava tenso. Eu odiava sentir que alguém conseguia me ler.
— E aí, vocês querem comer onde? — ele perguntou, quebrando o silêncio.
— Pode ser em qualquer lugar — respondeu Robinho. — O Yuri escolhe, ele que é o convidado.
— Eu? — perguntei, surpreso, meio rindo. — Vocês é que me arrastaram pra cá, lembra?
Samuel olhou de novo pelo retrovisor.
— Então vamos fazer assim, eu escolho. Mas prometo que vai valer a pena.
Havia algo na voz dele — firme, mas leve, como se ele tivesse certeza de que tudo o que dissesse seria aceito. E, de algum modo, foi.
Enquanto o carro seguia pela orla, eu me dei conta de que o desconforto que sentia não vinha do silêncio, nem do calor, nem do cansaço do dia. Era algo mais fundo — um tipo de reconhecimento que não fazia sentido. Como se eu já conhecesse aquele olhar, aquele tom de voz, aquele jeito de sorrir.
Mas isso era impossível.
O carro parou diante de um barzinho pequeno, iluminado por luzes amareladas penduradas do lado de fora, com mesinhas de madeira na calçada e música leve saindo das caixas de som. O lugar ficava de frente pra praia, e o som do mar se misturava ao burburinho das conversas.
Samuel desligou o carro e olhou pra trás, sorrindo.
— Vi esse bar aqui no Instagram há umas semanas. Todo mundo falava bem, e a vista é absurda. Pensei que seria um bom lugar pra começar a noite.
Robinho assentiu, empolgado:
— Boa escolha, primo. O Yuri vai adorar, ele curte esse tipo de clima tranquilo.
Desci do carro e o vento da orla me acertou o rosto, carregando o cheiro de sal e cerveja gelada. As mesas estavam quase todas ocupadas, e as pessoas riam alto, brindando, como se o mundo lá dentro fosse outro — mais leve, menos urgente.
Samuel foi na frente, abrindo caminho entre as mesas até encontrar um canto perto da mureta, de onde dava pra ver o mar. Sentamos, e logo uma garçonete apareceu com o cardápio. Ele puxou conversa com naturalidade, como se conhecesse aquele lugar há anos.
— Vocês querem comer alguma coisa ou vamos só nas bebidas primeiro? — perguntou ele, virando o rosto pra mim com aquele olhar direto que parecia atravessar.
— Pode pedir — falei, tentando parecer relaxado. — Eu confio no seu gosto.
— Cuidado com isso — ele respondeu, sorrindo de canto. — Costumo fazer escolhas perigosas.
Robinho riu, mas eu senti o olhar dele alternar entre nós dois. Ele conhecia o primo o suficiente pra entender o tom — e talvez tenha sentido a diferença na forma como Samuel falava comigo.
Ficamos ali, falando de assuntos soltos: faculdade, viagens, música. Samuel contava histórias da época em que servia, e cada palavra saía carregada de uma confiança que parecia natural nele. Ele gesticulava com firmeza, e eu percebia o jeito como os olhos dele me encontravam entre uma fala e outra. Era um olhar que demorava mais do que o normal, o suficiente pra deixar o ar entre nós diferente.
— E você, Yuri — ele perguntou de repente —, por que escolheu Medicina?
Demorei um segundo pra responder.
— Acho que sempre quis entender como o corpo funciona… e como ele quebra também.
— Quebra? — ele repetiu, curioso.
— É. — dei um meio sorriso. — Às vezes o corpo não aguenta o que a mente sente, sabe? Eu acho interessante essa linha que separa um do outro.
Samuel me observou em silêncio por um instante, depois apoiou o cotovelo na mesa e inclinou levemente o corpo pra frente.
— Você fala como alguém que já viu essa linha de perto.
Não soube o que responder. Por um momento, o som do bar pareceu se apagar, e tudo que eu ouvia era o som do mar.
Robinho interveio, mudando de assunto:
— O Yuri sempre foi meio filósofo, desde que eu conheço ele. Fica viajando nessas coisas.
Rimos, e o clima voltou ao normal. Mas a sensação não passou.
Havia algo em Samuel que me deixava desconcertado. A forma como ele me olhava, como falava meu nome, como parecia me estudar em silêncio. Era como se existisse uma história invisível entre nós dois — uma história que eu não lembrava de ter vivido, mas que o meu corpo lembrava.
Mais tarde, quando o bar já estava mais cheio e as luzes refletiam no copo pela metade, percebi que ele ainda me observava. Disfarçava com um sorriso, com um gole na bebida, mas o olhar estava sempre ali.
— Tá tudo bem, Yuri? — perguntou Robinho, se virando pra mim. — Você tá meio longe.
Assenti.
— Tô bem. Só... pensando demais, talvez.
Samuel inclinou a cabeça, com um leve sorriso.
— Pensar demais pode ser perigoso. Às vezes, é melhor só sentir.
Aquela frase ficou ecoando por um tempo.
E quando ele olhou pra mim mais uma vez, tive a impressão de que já tinha ouvido aquela voz, em algum lugar que não era esse mundo.
O tempo passou rápido. Quando percebi, já era noite, e o bar estava mais cheio do que antes. O som de violão e voz tomava conta do ambiente, misturado ao burburinho das mesas e ao barulho do mar bem ali na frente. O calor do dia tinha dado lugar a uma brisa leve, e o céu estava limpo, pontilhado de poucas estrelas — o tipo de noite que o Rio guarda pra si, bonita sem precisar se esforçar.
Samuel parecia conhecer todo mundo. Cumprimentava garçons, ria alto, gesticulava com a confiança de quem sempre domina o espaço. Robinho acompanhava o ritmo dele, rindo junto, pedindo mais cerveja, e em pouco tempo os dois estavam animados. Eu, que comecei a noite mais quieto, acabei me soltando também.
— Aí, Yuri, esse bar é sua cara, viu? — disse Samuel, já com um copo pela metade na mão. — Ambiente tranquilo, vista bonita e gente interessante.
Sorri, meio sem jeito.
— Gente interessante tipo você?
— Tipo você — respondeu rápido, sem desviar o olhar.
Robinho riu, mas percebi o leve incômodo na expressão dele. Fingiu não dar importância, virando o copo e pedindo outra rodada.
A conversa foi fluindo. Falamos sobre faculdade, sobre a vida, sobre tudo e nada. Em certo ponto, a música parou, e alguém no microfone avisou que o bar estava encerrando o expediente. Olhei pro relógio: quase uma da manhã.
— Já? — reclamou Robinho, rindo. — Poxa, justo quando o papo tava bom.
Samuel olhou pra praia, depois pra mim e pro primo.
— A noite ainda tá começando. A gente compra umas long neck e vai ali pra areia. O mar tá chamando, olha só.
Robinho hesitou, mas acabou concordando. E foi assim que, minutos depois, estávamos sentados na mureta da praia, com garrafas geladas na mão, os pés balançando e o som do mar como trilha sonora.
O vento da madrugada era frio, mas o álcool aquecia por dentro. Eu já sentia o corpo leve, a cabeça girando devagar. As luzes dos postes refletiam nas ondas, e o cheiro de maresia misturado à cerveja deixava tudo mais intenso, quase onírico.
— Sabe o que é engraçado? — disse Robinho, encarando o mar. — A gente sempre acha que tem tempo pra tudo. Mas o tempo é que tem a gente.
Samuel riu.
— Nossa, que filosófico, hein, primo? Foi a cerveja que falou por você ou é o mar?
— Os dois — respondeu Robinho, sorrindo. — E você, Yuri? O que o tempo tem feito contigo?
Pensei um pouco antes de responder.
— Acho que ele tem tentado me ensinar alguma coisa... só não sei o quê ainda.
Samuel virou o rosto pra mim, observando em silêncio. O olhar dele pesava, mas não machucava — pelo contrário, parecia me puxar.
— Às vezes, o tempo não ensina nada — disse ele, num tom mais baixo. — Só repete o que a gente não aprendeu antes.
Aquilo me fez engolir em seco. Eu não sabia explicar, mas as palavras dele me atravessaram de um jeito estranho, como se ele estivesse vivendo aquilo.
Ficamos em silêncio por um tempo, ouvindo o barulho das ondas. O vento batia forte, bagunçando o cabelo do Samuel, e o brilho da lua deixava o rosto dele meio prateado, meio sombrio. Ele me olhou de novo e sorriu.
— Você tem uns olhos curiosos, sabia? — disse, com a voz arrastada pelo álcool. — Olhos que parecem guardar coisa demais.
Robinho riu, forçando leveza.
— Lá vem você com essas cantadas de bar.
— Não é cantada — respondeu Samuel, ainda olhando pra mim. — É só uma constatação.
O ar ficou diferente. Robinho desviou o olhar e tomou um gole longo, visivelmente incomodado.
— Para com essas brincadeiras bobas, Samuel. Já tá tarde, a gente devia ir embora.
Samuel riu baixo.
— Tá bom, tá bom. Sem brincadeiras.
Levantamos, meio cambaleando, e seguimos de volta pro carro. O bar já estava fechado, as ruas quase vazias, e só se ouvia o som do mar. A brisa fria batia no rosto, misturada ao cheiro de cerveja e sal.
— Peraí, eu preciso mijar — falei, rindo e meio envergonhado. — Não vou aguentar até em casa.
Achei uma árvore grande próxima da calçada e fui até lá, tropeçando um pouco na areia. Encostei, respirei fundo e olhei pro mar escuro. O vento cortava o silêncio, e por algum motivo senti o coração acelerar.
Poucos segundos depois, ouvi passos atrás de mim.
— Tava pensando a mesma coisa — disse Samuel, surgindo do nada, com um sorriso torto. — Não dá pra dirigir assim.
Ele parou ao meu lado, rindo, e abaixou a calça. O som das garrafas batendo na areia e o mar ao fundo se misturaram. Por um instante, tudo pareceu desacelerar.
Eu virei o rosto e o encarei — e então senti. O arrepio, o frio na nuca, o déjà vu.
Como se aquela cena já tivesse acontecido.
Como se aquela noite fosse só uma repetição de algo que o tempo havia escondido, mas que agora voltava — insistente, inevitável.
Fiquei sem ar por um segundo. E, antes que eu pudesse entender o porquê, Samuel olhou pra mim, o rosto meio sério, meio curioso.
— O que foi? Tá pálido, Yuri.
— Nada — murmurei. — Só… uma sensação estranha.
Ele riu.
— Estranha boa ou estranha ruim?
— Ainda não sei.
O vento soprou mais forte, levantando a areia fina. E, por um breve instante, o olhar dele e o meu se encontraram de novo — como se o mundo tivesse parado ali, entre o som do mar e o silêncio de algo que a gente ainda não lembrava.
— Meu pau já estava doendo de tão apertado que eu estava — disse ele com a voz baixa e carregada de malícia.
Eu engoli seco, desviando o olhar, mas ele se aproximou devagar, quase sem perceber, e se posicionou ao lado da árvore, fazendo um movimento natural, mas impossível de não notar. Meu corpo reagiu sozinho, uma mistura de tensão e estranha excitação, e eu senti a respiração ficar mais rápida.
— Ah, cara… — murmurei mentalmente, tentando me convencer — só estou bêbado, nada disso significa algo…
Mas mesmo enquanto repetia isso para mim, não conseguia tirar os olhos dele. Samuel, percebendo meu olhar, deu uma risadinha curta, quase um sussurro:
— Relaxa, Yuri… ninguém aqui vai julgar.
O tom era provocativo, mas de um jeito que só aumentava a tensão, e por um segundo, senti a areia da praia sob meus pés e o vento frio da noite como se amplificasse cada sensação. Eu forcei um sorriso rápido, desviando a cabeça e tentando colocar algum senso de controle sobre meus pensamentos.
— Tá, tá… só tô cansado — falei baixo, tentando rir de mim mesmo — É só isso.
Samuel continuou ali, silencioso por alguns segundos, só observando, e a eletricidade no ar era quase palpável. E mesmo sabendo que precisava colocar meus pensamentos em ordem, a sensação estranha não desapareceu de imediato.
A tensão ficou pairando entre nós, sutil, elétrica, como se a noite tivesse decidido brincar um pouco com os nossos limites, e eu sabia que teria que lutar para afastar esses pensamentos enquanto voltássemos para o carro.
O caminho de volta para o carro foi estranho, carregado de um silêncio que parecia grudar na pele. Eu caminhava atrás de Samuel e Robinho, sentindo ainda o arrepio do que havia acontecido na praia. Samuel parecia relaxado, confiante, mas havia algo nos olhos dele que me fazia sentir observado o tempo inteiro. Robinho, por outro lado, andava na frente, a expressão fechada, braços cruzados, cada passo parecendo um aviso silencioso: ele estava incomodado.
Entramos no carro, o motor ronronando no instante em que Samuel se acomodou ao volante. Robinho sentou-se ao lado dele, em silêncio, murmurando instruções rápidas sobre a rota. Eu me sentei no banco de trás, ainda segurando a long neck que agora parecia vazia, sentindo o peso da noite e a confusão das minhas próprias sensações.
— Então… — começou Samuel, olhando pelo retrovisor, como quem testava limites — a noite foi boa, né, Yuri?
Engoli seco, tentando soar natural. — Foi… foi divertida — murmurei, evitando o olhar direto dele.
Robinho bufou, apertando levemente os lábios. — Vamos, Samuel… não precisa ficar puxando papo com ele o tempo todo — disse, firme, mas sem gritar.
Samuel apenas sorriu, sem se intimidar, os olhos ainda fixos nos meus por alguns segundos. Eu senti o calor subir ao rosto e me forcei a olhar para o teto do carro, respirando fundo. “Bêbado… tô bêbado… só isso. É só o álcool”, tentei repetir mentalmente, tentando racionalizar cada sensação que teimava em me confundir.
O trajeto até minha casa foi curto, mas cada quilômetro parecia carregado da tensão da noite. Samuel mantinha pequenas conversas, fazendo piadas leves, algumas olhadas rápidas para mim, mas sem forçar. Robinho permaneceu sério, respirando fundo, aparentemente tentando controlar a própria paciência.
Quando chegamos em frente a minha casa, Samuel parou o carro e desligou o motor. Eu fiquei ali por um instante, sentindo o ar frio da madrugada entrar pelo carro, misturando-se ao calor do álcool e da tensão.
— Então… é aqui, Yuri — disse Samuel, um leve sorriso curvando os lábios. — Cuida de você, hein. E… obrigado pela companhia. Foi divertido.
Antes de abrir a porta, ele inclinou-se levemente para trás, olhando de canto para mim, e soltou:
— Ah, e tenta não pensar demais nas minhas “gracinhas”, hein? Mas se pensar, não me culpe… — piscou, provocador, e abriu a porta com um gesto casual.
Eu sorri, meio sem jeito, balançando a cabeça. — Tá… vou tentar — murmurei, ainda sentindo o peso do que ele insinuou.
Robinho permaneceu em silêncio, observando do banco da frente, cada músculo do corpo tenso. Ele me lançou um olhar rápido antes de Samuel arrancar, e pude sentir claramente a mistura de ciúmes e preocupação que o consumia.
O carro desapareceu pela rua escura, e eu fiquei ali por um instante, respirando fundo, tentando colocar ordem nos pensamentos confusos. A adrenalina da noite, a tensão, o álcool e o que eu sentira… tudo se misturava, deixando meu corpo e mente em alerta.
Fechei a porta de casa, subindo as escadas devagar, e sentindo cada passo ecoar na noite silenciosa. Enquanto entrava em casa, sabia que aquela noite não seria esquecida tão cedo. Samuel tinha deixado sua marca, Robinho estava mais distante, e eu… eu estava confuso, tentando entender cada sensação que insistia em permanecer viva.
E assim, a noite terminou. A tensão pairava no ar, mas o capítulo se encerrava, deixando espaço para o amanhã — e para os sentimentos que eu ainda precisava enfrentar.