Camily acordava todos os dias com o sol filtrando pelas cortinas de renda do quarto que dividia com a mãe, no apartamento pequeno do bairro de classe média. Aos 23 anos, ela era o tipo de moça que passava despercebida em multidões: 1,62 metro, pele parda clara salpicada de sardas suaves no nariz, cabelos cacheados castanho-escuros que caíam em ondas desordenadas até o meio das costas. Usava óculos de armação fina, redonda, que davam um ar de bibliotecária tímida. Seu corpo era bonito, mas discreto: seios pequenos e firmes sob blusas de algodão, cintura marcada, quadris suaves que enchiam calças jeans sem exageros. Na igreja evangélica que frequentava desde criança, era elogiada como “exemplo de pureza”. Mas ninguém ali sabia que, há quatro meses, Camily já não era virgem.
Lucas, seu primeiro namorado, era o homem que ela apresentava na igreja como “um rapaz de Deus”. 26 anos, 1,83 metro, magro, rosto de traços delicados e sorriso fácil. Vestia-se com bom gosto discreto – camisas polo pastel, calças chino, tênis brancos impecáveis. No trabalho de designer gráfico, era conhecido como “o bonzinho”. Namoravam há sete meses; beijos castos em público, abraços demorados na saída do culto, mas, em privado, sexo regular, cuidadoso, quase ritualístico.
A primeira vez fora na casa de Lucas, numa noite em que os pais dele viajaram. Camily chegara nervosa, com um vestido florido até o joelho. Lucas acendera velas, colocara uma playlist de louvor suave, beijara cada centímetro do corpo dela com reverência. Quando entrara, devagar, os 14 centímetros dele deslizando com cuidado dentro dela, Camily chorara – de dor, alívio, culpa, amor. Desde então, transavam duas, três vezes por semana: sempre na cama dele, luz baixa, camisinha, missionário ou ela por cima, gemidos abafados contra o travesseiro. Lucas era gentil, atento, sempre perguntava “tá gostando?”, sempre gozava rápido demais, mas com um “te amo” sussurrado no ouvido. Camily gozava às vezes – um orgasmo pequeno, controlado, que a deixava sorrindo e culpada ao mesmo tempo.
Naquele sábado, Lucas chegara cedo com um buquê de margaridas. Sentaram-se no sofá da sala, sob o olhar aprovador da mãe de Camily, que servia café.
“Quero te levar pra jantar no italiano da rua de cima”, disse ele, beijando a testa dela. “Depois a gente vai pra minha casa. Tô com saudade de você... inteira.”
Camily sorriu, ajustando os óculos. “Eu também.”
Mas, naquela mesma tarde, algo mudou.
O aplicativo de delivery falhara e Camily, sozinha em casa, decidira buscar o almoço na lanchonete do bairro. Foi ali, na fila, que viu Rafael pela primeira vez.
Rafael era a antítese de tudo o que Camily conhecia. 1,95 metro, pele negra profunda, barba cheia, músculos definidos sob uma regata justa que deixava os braços tatuados à mostra. Tinha 29 anos, era personal trainer, voz grave e riso fácil. Quando seus olhos se cruzaram, ele sorriu – um sorriso que não pedia licença.
“Desculpa, a fila tá grande?”, perguntou ele, inclinando-se ligeiramente.
Camily corou, segurando o celular com força. “N-não, tudo bem.”
Ele pediu um açaí, pagou, e antes de sair, deixou um papel dobrado na mão dela. “Se quiser treinar um dia, me chama. Sem compromisso.”
O bilhete tinha apenas um número e o nome: Rafael.
Ela jogou fora no caminho de casa. Mas à noite, após transar com Lucas – missionário, camisinha, 8 minutos, orgasmo dela fingido no final –, digitou o número no WhatsApp e apagou três vezes antes de salvar como “Academia – Rafael”.
No domingo, após o culto, Lucas a levou ao parque. Sentaram-se na grama, ele leu um trecho da Bíblia em voz baixa, ela apoiou a cabeça no ombro dele. Sentia-se segura, amada, pura.
Mas, quando Lucas beijou sua bochecha e disse “te amo”, a imagem de Rafael – o jeito como ele ocupava espaço, o cheiro de suor limpo misturado a loção pós-barba – surgiu como um flash. Camily piscou forte, afastando o pensamento.
Na segunda-feira, Rafael mandou mensagem.
Rafael (14:32)
E aí, futura aluna? 😏
Camily respondeu só à noite, depois de orar pedindo força – e depois de Lucas gozar rápido dentro da camisinha, beijando seu pescoço e dizendo que “nunca se cansava dela”.
Camily (21:17)
Oi. Só vim buscar o açaí mesmo. Não treino.
Rafael (21:19)
Mas podia. Seu corpo tem potencial. Vi como você se mexe. Tímida, mas com fogo por baixo.
Ela não respondeu. Mas guardou o celular debaixo do travesseiro, o coração acelerado – e, pela primeira vez em meses, se tocou pensando em outro homem.
Na terça, ele mandou uma foto: ele sem camisa na academia, suor escorrendo pelo peito, legenda “treino pesado”. Camily abriu, fechou, abriu de novo. Sentiu um calor entre as pernas que Lucas nunca provocara. Fechou os olhos, rezou, mas não bloqueou.
Na quarta, aceitou o convite para “só tomar um suco” após o trabalho.
Foi o começo do fim.