19. A parede

Da série Eu sou novinho
Um conto erótico de Mateus
Categoria: Gay
Contém 3051 palavras
Data: 06/11/2025 20:48:43
Assuntos: Gay, novinho

A parede

Foi uma semana agitada, tio Caio estava uma pilha de nervos, a inauguração era no sábado seguinte àquele em que começamos a organizar como será o cursinho de Joel e Hélio, a planejar custo de reforma, divulgação, ligar para o dono do apartamento e ver essa história de casa geriátrica, tio Nelson vendo a parte burocrática, meu marido resolvendo a parte administrativa e orçamentária, correndo atrás de financiamento, pedreiro (Tião deu aquela força), Hélio estava montando a parte pedagógica, fazendo reunião presencial, online, montando um quadro de professores, os dois ralando, Murilo tomando conta da oficina comigo, completamente sozinhos pela primeira vez, e tudo o que podia dar errado naquela semana, deu.

Tio Renato levou nossas afilhadas para fazer visita ao pediatra, fazer exames laboratoriais e ainda desocupar a casa, muita coisa da casa de Joel foi para a casa de Tião e Bosco, ficou o sofá e uma cama, apenas, então a gente agradeceu demais a mobília praticamente sem uso de tio Renato, a gente até podia se mudar meio que em dois dias, mas Murilo disse que com aquele papel de parede nos quartos… não ia rolar.

Tio Caio estava nervoso sim, mas quem estava gritando como se fosse bater em alguém a qualquer instante era tio Galvão, foi dele a ideia de dar esse passo e se endividarem pelos próximos quinze ou vinte anos, a oficina estava linda demais, parecia coisa da Europa, sei lá, tava muito sofisticada mesmo, uma rede de televisão da cidade foi cobrir o evento da inauguração, que festa chata, com música e sem dança, muita comida e o povo só beliscando, gente bonita pra caralho, muita gente mesmo, uns caras ricos e pouca mulher, e mulher não anda de carro? Aviso de meu tio Caio pra todo mundo lá de casa: Sem pegação, principalmente, sem pegação com nenhum cliente.

Fim de festa, sobra de comida, de bebida sobrou quase nada, uma equipe ficou madrugada adentro limpando tudo, fiquei na oficina para fechar e guardar a chave, nada demais. Joel levou meus tios para casa, tio Galvão completamente bêbado já dormia no sofá do escritório. Joel disse que tinha uma garota da faxina que estava de olho em mim, era curioso como ele observa tanto as estrelas da cena quanto os invisíveis que oferecem um uísque, que limpam o balcão do banheiro, acontece que ela era bonita, mas eu não queria, eu estava com meu marido e se ele não estivesse comigo, eu não ia querer ninguém, foi o que disse a ele, ninguém se ele não estivesse comigo, tudo bem que essa regra não valia com Murilo e Hélio, porém essa regra vale pra ele também. Era um ano intenso, eu entendi a necessidade de férias e ninguém precisava me dizer que eu não teria tão cedo, nenhum de nós.

Tiramos o papel de parede, Joel quis manter a mesma cor de parede e do enxoval de meu quarto na casa de tio Galvão, Murilo fez quase igual, trocou o verde por azul royal, depois veio um período de calma relativa, nenhuma novidade e muito trabalho.

Fiz amigos na capoeira para onde voltei em setembro, estava certo de que ia fazer mais ou menos no Enem. Outubro foi o primeiro mês em que o cursinho não fechou no negativo. Outubro também é o mês de aniversário de Joel, se no aniversário de Murilo fomos passar quatro dias com as irmãs dele, e isso foi… didático, se no de Hélio cada um de nós passou a noite com uma prostituta diferente, e isso comprovou, não somos bissexuais, o que é uma pena, eu me divirto tanto, adoro boceta, cheiro, gosto, toque, foder xoxota é maravilhoso, e tem os peitos… mas… todos o dias não, duas vezes ao ano tá de bom tamanho, isso não é ser bi, nem aqui e nem em canto algum, mas deixo minha forte recomendação e lamento não ser bi, lamentamos na verdade.

No aniversário de Joel ele queria que nós fodessemos uns amigos dele da academia que não acreditam que ele é gay, dizem que sou o irmão mais novo, um sobrinho. Disse não na hora, eu sei o que ele queria, usar minha bunda como isca pra descabaçar dois héteros homofóbicos, comer homofóbico deveria ser regra, mas eu acho que estou amadurecendo e não quero ser putinha no bairro, Joel está correto em me liberar para Hélio e Murilo, ambos adoram dar pra ele, muito mesmo, e eu tenho um fogo no rabo que cedo ou tarde ia acabar colocando chifre no meu marido, dois eu ainda dou conta e às vezes até rejeito, mas três é um exagero, ok, eu tenho um marido que fez de nossa casa uma comunidade liberal, mas caras de fora não.

Murilo concordou, e depois se esses malucos alopram, além de veados a gente ia ser uns depravados, degenerados. Hélio disse que não era bem assim, mas não se sentiria confortável em abrir nossa relação, uma coisa era Joel e eu estarmos dividindo o teto, a cama com eles, estarmos construindo um futuro, formando nosso passado juntos, mas trazer estranhos para beijar um de nós três na frente dele, ser corno de Murilo, não. Foi aí que aquilo foi dito pela primeira vez: “Nós quatro parecemos um casal de dois casais, eu me sinto parte de um relacionamento que não é um triângulo, mas um quadrado.”

Cada um de nós entendeu muito bem o que ele quis dizer, ficou um silêncio no ar enorme, pesado, aquele era um reconhecimento de que o relacionamento entre Murilo e Joel estava ali e vivo como sempre, que Hélio não só o reconhecia, como também aceitava, até mais concordava, gostava de que seu companheiro amasse outro homem, foi o próprio Hélio quem falou sobre isso disse que entendia que não era possível competir com isso, mas que era possível ser tão amado quanto Joel, e de outrossim, amava Joel e eu também e não se sentia desamparado em termos de amor, sexo ou atenção, não precisava ser o primeiro se tinha mais do que necessitava, desejava ou podia pedir. “Mas você quer mais, o que te falta, Joel?”

Antes que ele respondesse qualquer coisa meu tio ligou pelo interfone e mandou eu subir sozinho, tinha um abacaxi para eu descascar. Subi com a certeza de que Joel tinha um segredo para me dizer, para nos dizer, mas esse era um dos assuntos, o outro era aquilo de todo mundo se enxergar como uma coisa de quatro lados e eu estar boiando no assunto, eu nunca que iria dizer que me sinto casado com Murilo ou Hélio atualmente, mas olha, eu em um relacionamento fixo com três homens ao mesmo tempo, não, era diferente, era como quando uma família constrói a casa em cima da outra e ficam partilhando o almoço, a hora da janta, meio bagunçado, mas certo de que havia uma linha, uma parede que divide uma casa da outra. Mas de fato, eu não queria mais viver separado por um elevador como vivo longe de meus tios, sei lá, eles eram uma coisa entre o misturado e separado, acho que eram mesmo parte do meu casamento, mas um casamento separado por uma parede.

Desci do elevador sorrindo com vontade de agarrar e foder com Hélio, sei lá senti no jeito dele dizer o que disse uma coisa, ou era só minha forma de retribuir essa percepção dele com sexo. Meu tio já me esperava com a porta aberta. Que porra era isso que eu via no sofá de meu tio? Minha irmã mais velha esquadrinhando o ambiente com olhos de coruja, um rapaz mais ou menos da minha idade, depois eu soube que ele também era um capricorniano um ano mais velho, ele era aquele tom de pele entre o moreno dourado e o negro de pele clara, difícil de explicar, aquele tom que é lindo e embora sofra o preconceito não está nas cotas, mas ali estava ele, o ainda desconhecido.

Tio Galvão disse que minha irmã fez o que nosso pai fez com tio Caio décadas atrás, enxotou de casa o cunhado gay, o rapaz então recomeça a chorar e é quando eu o observo pela primeira vez, ela disse que veio deixar ele aqui, porque era onde ficavam os injetados da família, eu disse que o rapaz não era da nossa família e a partir daquela data ela, para mim, não era família também, ela se levanta e fala que fez tudo o que podia, o marido que é funcionário da Petrobrás não aceita a aquela coisa na casa dele, me enchi de um ódio que eu já vi antes, eu não queria pisar nas costelas dela e perguntei a tio Caio o que eu estava fazendo ali, ele me disse que me acolheu, foi o melhor presente de minha mãe, e nisso minha ex-irmã tenta reinvindicar o nome de minha mãe como posse dela, não resisti, mandei se foder o feminismo e lhe plantei a mão na cara, disse que se ela soltasse um pio iria receber um do outro lado, é a mão que eu não domino, mas é mais forte, gosto mais de bater com ela, ela ficou assustada olhando para os outros que não quiseram defendê-la.

Edson é barbeiro, gordinho, moreno, bonito e foi denunciado para o irmão e para toda a vizinhança por um ex-namorado, homem casado que sendo flagrado convenceu a esposa que o boiola fez macumba pra o enfeitiçar e conseguiu, mas que era a segunda vez e estava arrependido, então o casal encheu a rua de histórias do veado macumbeiro, do depravado que já deu em cima para mais de vinte homens casados. Se é cabeleireiro tem no mínimo cinquenta por cento de ser gay, se responde por Edson tem cinquenta por cento de gostar de queimar a rosca, mas se Edson corta cabelo, caramba, só um milagre faz esse rapaz ser hétero. Ele tinha um cabelo bem convencional, mas tinha suíças como o Wolverine, era uma gracinha.

Pedi para tio Galvão concluir a história sem interrupção. Edson estava na rua, sem ter onde dormir, sem dinheiro, sem parentes e sem amigos, a “misericordiosa” o trouxe para obrigar meu tio a acolher afinal já havia feito isso antes, contudo tio Caio não era obrigado a isso, podia ajudar inicialmente, mas nem ia dar teto na oficina e nem em sua casa, não era obrigado a isso, como Edinho (é como ele gosta de ser chamado) pediu por todos os santos para ele lhe ajudar, eu fui chamado para ver se outro cristão tem pena daquela alma, olhei para a filha de minha mãe, que vergonha ela teria disso, faltou comida lá em casa, nunca o bastante para não dividir, “Funcionário da Petrobrás, até parece um engenheiro, motorista de executivo, já viu uma refinaria que nem eu, nunca. E tu vale nada, vá-se embora, suma, a partir daqui você desconhece a gente e fica sem saber o destino desse rapaz desapareça. Você não fica aqui dois minutos, sua… vá. E nunca mais apareça.”

Assim que ela desapareceu, perguntei onde foi que o filho da puta bateu, Edson chorou tirando a camisa e baixando a calça e a cueca, apanhou com o cabo de vassoura, pudesse eu enfiava o cabo de vassoura no cu do motorista até sair na boca, vigarista, bandido, criminoso, alma sebosa.

Edson desceu comigo levei seu material de trabalho e ele uma bolsa de viagem cheia de roupas como as que eu tinha um ano antes, a gente vinha da mesma realidade mas ele tinha mais bom gosto pra cabelo, roupa. Não era afeminado, mas era como eu, não era preciso ser do babado pra entender que o negócio dele é dar o cu, ele disse que tinha e não tinha a ver com ele ser gay ele ter sido expulso, foi o irmão dele mesmo que o prostituir sem ele saber, o irmão/motorista começou a cobrar a seu ex-namorado um valor pelos encontros, cobrava vinte reais, e quando isso não aconteceu mais, como ele havia sido demitido, sem dar mais um centavo em casa, o próprio irmão o denunciou à corna, tinha mais a ver com dinheiro que com qualquer coisa. Chegamos, os caras estavam como sempre estão em casa quando chove, pijama aberto sem cueca. Apresentei Edinho, contei a situação, perguntei se ele poderia ficar no cursinho a partir da noite seguinte, Joel disse que não, isso ia ser ruim já que funcionam de sete da manhã às dez e meia da noite, os funcionários. Concordava com tio Caio, “Você fica aqui até arrumar um bico, vamos te ajudar a procurar um quartinho pra dividir, você dorme no sofá.” Arrumar a dormida dele enquanto Murilo e Hélio iam lá cozinha preparar um lanchinho pra todo mundo. Tio Caio mandou mensagem agradecendo e dizendo que depois conversaríamos.

Dois dias depois flagramos esse rapaz mexendo na mochila de Hélio, não foi bom, as desculpas esfarrapadas para isso e ele dando em cima de Murilo de modo esquivo, clandestino, mal sabe ele que se falasse abertamente sobre a vontade de levar pica ia ter logo quatro, mas sem ter confiança não dá pra ficar conosco, por sorte Tião arrumou uma vaga onde morava antes do acidente na escada e foi deportado pra lá. Porque contar essa história é importante, porque ficou claro para nós que nem todo mundo merece confiança, que podia estar usando ou traficando drogas, envolvido com crime, ser um doido mesmo. E a gente se expondo e correndo risco, dessa a gente se livrou cedo e sem nenhum dano, mas…

Ele era um tesão nós quatro ficamos muito a fim de foder Edinho, a conversa sobre o presente de Joel não avançou, ele se fechou sobre esse assunto e disse que depois do bolo com suco (cortamos refrigerante) convesaríamos. O aniversário passou, meu tio disse estar conversando com Edinho, disse ter roubado muito e muita gente quando se viu sozinho, por medo, por necessidade, por solidão, inclusive sua benfeitora, disse que o rapaz estava querendo se desculpar por telefone mesmo, ainda estava desempregado, fazendo todo tipo de bico e pensou até em fazer coisa errada. Não dá pra salvar o mundo. Nessa conversa com meu tio também estavam presentes tio Galvão e Murilo, disso resultou que Murilo e eu fomos buscar Edinho, e ele realmente estava mal, tremeu quando nos viu, sei lá, parecia um cachorro caramelo quando adotado, quando chegou em casa teve febre, o inferno, a médica da Upa disse que era emocional, trinta e oito, trinta e oito e meio e ou Murilo ou eu tomando conta dele de dia, no terceiro dia de febre ele começou a melhorar, meio desnutrido e ainda desidratado, com uma semana depois nós tínhamos o melhor faxineiro, cozinheiro e baba-ovo do mundo.

“Você ainda pensa em abrir minha mochila, Edinho? Não?, e dar essa bunda pra meu marido, você ainda pensa?Também não? Uma pena, eu queria que você lavasse a mochila, ótima oportunidade pra você matar sua curiosidade, depois eu queria levar você pra dar banho em mim, lavar meu caralho e me chupar direitinho, se o boquete for bom, eu deixo você arreganhar a bunda pra levar a vara de Murilo no cu. Vou perguntar novamente, você ainda quer abrir a minha mochila e a bunda pra meu marido, Edinho?”, Edinho meio que tremia, Joel mandou Edinho retirar a louça da janta da mesa e pôr na máquina de lavar, quando terminou mandou ele sentar em seu colo, “Se começar com tremilique eu vou perder a paciência. Isso, eu gosto de boiolinhas como você, esse tipo de homem que nasceu mais delicado que não é como meu marido que em nossa primeira briga me deixou seis dias na UTI, verdade, e já foi magrinho, fino como o dente de um pente, hoje tem essa bunda, coxas, esse braço fortinho, meu marido gostava de um gordo, bem mais gordo que você quase fui corno, Edinho, mas quem resiste a chupar essas tetinhas de menina que um boiolinha como você tem. Meu marido é minha vida, se ele mandar você obedece, ele vai lhe dar as dicas pra você fazer bonito, hoje você vai levar pica de Murilo, tá doido pra ganhar beijo de Murilo, né? Vai.”

Fui o primeiro a beijar Edinho, foi no banheiro, mordi seu pescoço e disse que eles me chamam de veadinho quando se juntam pra me comer, eu o beijei novamente antes de ele perguntar algo, “Depois, antes vamos arrumar esse cuzinho para deixar ele bem limpinho pras visitas”. Era um veado evangélico, não conhecia de xuca, de doença, de chupar rola de porra nenhuma, ficava de quatro ou com a cara na parede, sempre oferecendo a bunda sem mais nada, um horror. Tive realmente de ajudar, imagino o tanto de vergonha que ele iria sentir se passasse um cheque, pelo menos usava camisinha.

Dei minha pica para ele mamar, mole mesmo, era um exercício para ele, ele não tinha nem técnica, e nem talento, mostrei e gostei do que vi, uma pica bem mais escura que a pele, grande mas não muito, grossa mas nem tanto, perfeita para quando eu quisesse dar mas não muito, dar mas nem tanto. Cabeça escura não roxa como uns caras do pornô era uma cor como o mamilo dele um marrom madeira, eu explicava o que ia fazer e fazia, mostrei como chupar o saco e como tentar dedar o cu do macho que chupo. Depois foi a vez dele e ele era ruim, mas tudo é prática, péssimo ele não era e quando era beijado parecia que desencantava e a puta dentro dele surgia mais um pouco.

Quinze ou vinte minutos depois encontramos a sala só com meu marido, ele disse que era para Edinho se encontrar com os dois rapazes que o aguardavam no quarto deles, já tive amigos como Edinho (que naquele instante era uma mistura bem sucedida de Fernando com o Murilo que morreu), ele me agradeceu, iria dar a bunda para dois homens loiros e bem empregados, racialmente e financeiramente pessoas superiores a ele, Edinho depois se mostrou bem marcado pelo racismo, mas isso iria mudar, ele foi bem tratado e valorizado por Murilo e Hélio, em muitos níveis aquela foi uma noite de prazer e gozo pra ele.

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