Felipe terminou de falar com o menino e combinou. Ele topou transar com dois. Pelo corpo na foto, dava pra ver que era gostoso. Me levantei, tomei um banho rápido, arrumei um pouco a bagunça da kitnet. Como eu já disse, era um lugar simples. Não tinha nada de mais. Mas era meu cantinho.
Fiquei conversando com o Felipe enquanto ele também tomava banho. A gente não se beijou, não se tocou. Sei lá, achei que fosse rolar alguma coisa, mas acabou não rolando. O que achei bom, no final das contas. Manteve aquela tensão no ar.
Alguns minutos depois, bateram na porta, e então abri, e deu de cara com ele o Bernardo, a tal nick “Bê, 19 anos, S/L.” Mas pessoalmente, ele era bem mais bonito do que nas fotos. Branquinho. Pele jambo clara. Olhos cor de mel brilhando mesmo com a luz fraca da kitnet. Cabelo curtinho, fade perfeito. Tatuagem pequena no ombro direito que eu não tinha visto nas fotos. Peitoral definido debaixo da camiseta justa. O tipo de corpo que eu achava bonito: não era bombado demais, mas era trabalhado. Natural.
— Oi — ele disse, sorrindo nervoso.
— Entra — respondi, abrindo espaço.
Ele entrou. Felipe saiu do banheiro, só de toalha.
— E aí, Bernardo? Prazer, sou o Felipe.
— Prazer.
Eles apertaram as mãos, e então começou, puxei Bernardo pra perto. Olhei nos olhos dele, tinha nervosismo ali, mas também desejo, beijei, língua morna. Gosto de trident de melancia, respiração acelerada. Ele beijava bem. Não era daqueles beijos desesperados de quem nunca beijou ninguém. Era alguém que sabia o que estava fazendo. Felipe se aproximou. Tirou a toalha, ficou pelado do nosso lado. Parei de beijar Bernardo. Virei pra Felipe e meti o beijei nele também.
E então os três juntos. Beijo triplo. Línguas se encontrando. Mãos explorando corpos, as roupas começaram a sair, com urgência, com tesão, camiseta de Bernardo voou pro chão. Peitoral exposto. Mamilos duros, e então chupei todo o seu peitoral, porra como eu adorava chupar um peito de homem, era uma das partes que mais me dava tesão, e então tirei minha camiseta e depois a minha calça, e tirei minha cueca não perdendo a visão, olhado o Felipe e o Bernardo se entregar ao sexo, Felipe já estava pelado com o pau extremamente duro, e então os três ali, nus, suados e excitados. Bernardo se ajoelhou, pegou meu pau, depois o de Felipe, começou a chupar lentamente, primeiro um, depois o outro, de forma alternada. As mãos trabalhando no pau do outro, enquanto a boca estava ocupada com um pau, olhei pra Felipe, ele olhou pra mim, e trocamos um sorriso, aquele tipo de sorriso que dizia: *Isso tá sendo bom pra caralho.*
Bernardo chupava bem, profundo era molhado e sem dentes. O tipo de boquete que vem de prática, ele gemia baixinho enquanto fazia, como se estivesse sentindo prazer só em chupar a gente. Felipe gemeu alto. Colocou a mão na cabeça de Bernardo, guiando o ritmo.
— Caralho, moleque — Felipe murmurou. — Você é bom nisso.
Bernardo sorriu com o pau de Felipe na boca. Orgulhoso, puxei ele pra cima. Beijei de novo. Gosto de nós dois na língua dele.
— Vem — eu disse, puxando ele pro colchão.
Os três deitamos. Bernardo no meio.
Felipe beijou o pescoço dele, eu fui beijando e chupando novamente o peito do Bernardo, depois desci pro abdômen. Lambi, e deu uma mordida de leve. Bernardo arqueou as costas e gemeu feito uma putinha.
— Vocês dois são muito gostosos — ele disse, voz rouca.
Felipe desceu a mão, apertou a bunda de Bernardo.
— Você aguenta os dois?
— Aguento — Bernardo respondeu, confiante.
Felipe pegou camisinha e lubrificante da mochila, mas depois desistiu, e disse:
– Posso meter sem capa?
– Pode – disse o Bernardo com uma voz de putinha.
Ele então virou o Bernardo de bruços, e foi penetrando ele devagar, Bernardo gemeu alto. Agarrou o lençol.
— Tá bom? — Felipe perguntou, parado.
— Tá… continua.
Felipe começou a meter. Devagar no começo e depois mais forte, eu fiquei do lado, vendo. Tocando uma punheta, e olhando o pau do Felipe entrar e sair de dentro do rabo do Bernardo, o Felipe metia gostoso e bonito, e então fiquei assistindo aquela cena esperando minha vez, e então Bernardo virou o rosto pra mim, abriu a boca, e logo entendi o recado.
Me posicionei e coloquei meu pau na boca dele, ele foi engolindo todo o meu cacete, e o Felipe aumentou as estocadas no rabo do Bernardo, e ele chupava meu pau até o talo, fazendo uma garganta profunda com maestria, sem dúvidas o Bernardo era um bom chupador de pau, com anos de experiência. E então ficamos ali por uns quatro minutos, o. Felipe comendo ele por trás, e eu dando meu cacete para o Bernardo chupar. Ele gemia abafado com o corpo tremendo, e o suor escorrendo. Felipe acelerou o ritmo, agora ele metia muito forte e sem parar, como se fosse uma britadeira.
— Porra, que cu gostoso — ele disse, dando tapa na bunda de Bernardo.
Bernardo gemeu mais alto com meu pau na boca, senti que o Felipe estava perto.
— Vai gozar? — perguntei.
Ele acenou que sim com a cabeça, e então acelerou mais rápido e gemeu alto gozando dentro do cú do Bernardo, ele continuou ainda metendo por alguns segundos, a porra do Felipe escorria pela perna do Bernardo, e então o Felipe disse:
— Sua vez — ele piscou o olho pra mim.
Troquei de posição com Felipe, e resolvi meter também sem capa, assim que meu pau entrou, senti o leite quente que o Felipe acabara de depositar, e aquele leite serviu como lubrificante natural, o Bernardo ainda estava ofegante. Sensível, ele gemeu, mas não de dor e sim de prazer. Comecei a meter. Olhando pro corpo dele, para o jeito que ele reagia. Pro jeito que ele me olhava, Felipe beijou Bernardo, segurou o pau do Bernardo, que estava durou feito aço, e depois com a outra mão livre apertou os mamilos do Bernardo, não demorei muito e logo estava gozando dentro do Bernardo, o tesão foi grande, foi intenso, o Bernardo ficou em pé e eu o Felipe chupamos seu pau, que depois de alguns segundos logo estava gozando em nossas bocas, e então trocamos um beijo, compartilhando a porra do Bernardo de uma boca para a outra. Estávamos exaustos, e satisfeitos.
— Caralho — Bernardo disse, rindo. — Isso foi intenso.
— Foi bom pra você? — Felipe perguntou.
— Muito.
Ficamos ali alguns minutos, só respirando, e então Bernardo se levantou. Começou a se vestir.
— Não quer tomar banho? — ofereci.
— Não, vou direto. Preciso voltar pra casa do meu tio.
— Beleza.
Ele terminou de se vestir. Pegou o celular. Acenou pra gente.
— Valeu, galera. Foi massa.
— Nós que agradece — Felipe disse.
Bernardo saiu, e nós ficamos.
— E aí, o que achou? — Felipe perguntou, acendendo um cigarro.
— Gostoso pra caralho — respondi. — E você?
— Também. O moleque aguenta bem.
— Aguenta.
Ficamos em silêncio por alguns segundos.
— Lucas…
— Fala.
— Você já fez isso muito? Tipo… programa?
Respirei fundo.
— Já sim, mas por pura sobrevivência.
— Como é?
— Como assim?
— Tipo… os caras. São legais? Esquisitos?
— Depende — disse, sentando no colchão. — Tem de tudo. Tem cara gente boa que só quer companhia. Tem velho tarado. Tem casado desesperado. Tem os sebosos.
— Sebosos?
— É. Os que vão pro Cine Rex.
Felipe fez cara de nojo.
— Caralho, você ia no Rex?
— Eu ia muito lá antes de começar a trabalhar no LOUD´s era meu ganha pão, as vezes passava o dia, comia uns velhos, dava de mamar, deixava me tocar, por míseros reais.
— Aquele lugar é nojento, mano.
— É, era a única oportunidade que eu tinha, às vezes num dia bom com muito tadala, eu conseguia juntar uns 100 conto.
Ele deu uma tragada longa.
— Eu só saio com o Mário. Nunca fiz com mais ninguém por dinheiro.
— Sério?
— Sério. Tenho um pouco de medo, sabe? De pegar um maluco. Ou de me ferrar de alguma forma.
— Entendo.
— Você nunca teve medo?
— Tenho sempre. Mas a fome é maior que o medo.
Felipe assentiu.
— E você… já pegou alguém conhecido? Tipo, que trabalha com você ou algo assim?
Olhei pra ele, e pensei: *Será que devo contar?*
— Já — disse, decidindo confiar. — Mas me promete sigilo?
— Prometo.
— Tipo, sigilo mesmo. Não conta pra ninguém.
— Pode falar, Lucas. Juro.
Respirei fundo.
— O Rodrigo. O gerente.
Felipe quase engasgou com a fumaça.
— QUÊ?!
— Isso. Ele frequenta o Cine Rex. Já comi ele lá por 50 conto.
— CARALHO, Lucas! Sério?!
— Sério.
— O Rodrigo?! O gerente?!
— Ele mesmo.
— Puta merda — Felipe passou a mão pelo cabelo. — Eu não acredito. Tipo, sempre rolou boato de que ele curte, mas nunca ninguém confirmou nada.
— Pois é. Ele curte. E paga.
— E como foi? Ele é esquisito?
— Não. Ele é… carente. Desesperado. Tipo aquele cara que tá morrendo de solidão e agarra qualquer migalha de atenção.
— Que loucura.
— E teve mais — continuei. — Ele me chamou na sala dele semana passada. Disse que tinha recebido reclamação sobre mim. Mas era mentira. Ele só queria me intimidar. Aí eu virei o jogo.
— Como assim?
— Seduzi ele. Ali mesmo, na sala dele, apertei meu pau, coloquei pra fora.
— CARALHO!
— A gente transou. Na mesa dele.
— Você tá de sacanagem.
— Não tô. E ele me pagou duzentos depois, depois que comi ele, deixei um papel com meu pix, e disse pra ele fazer, minutos depois duzentinhos na minha conta, e emprego garantido.
Felipe ficou me encarando. Boca aberta.
— Mano… isso é… isso é muita informação.
— Por isso pedi sigilo.
— Pode deixar. Não vou contar pra ninguém.
Ficamos em silêncio por um tempo, e então Felipe perguntou:
— Você acha que ele toparia uma parada a três? Tipo, eu, você e ele?
Olhei pra ele, surpreso.
— Por quê? Você quer?
— Sei lá — Felipe deu de ombros. — Você é gostoso pra caralho. Seria massa a gente fazer algo junto novamente. E se render uma grana, melhor ainda, confesso que me dar muito tesão saber que tão pagando pra eu transar.
Sorri.
— Você me acha gostoso?
— Acho — ele disse, me olhando direto. — Muito.
— Você também é.
Felipe apagou o cigarro. Se aproximou.
— Então?
— Então o quê?
— A gente não vai fazer nada?
— Tipo?
— Tipo isso — ele me puxou pra um beijo.
Língua quente, com gosto de cigarro e o tesão renovado, beijamos por alguns minutos. Mãos explorando corpos de novo. Felipe me empurrou no colchão. Subiu em cima de mim.
— Eu quero você — ele disse.
— Então me tem.
E transamos de novo, só nós dois, sem cliente, sem dinheiro, sem performance, só por prazer. O Felipe me comeu com calma, de forma lenta, me puxando para beijos, me comeu de quatro, de frango, e terminou gozando dentro de mim de ladinho me beijando, e depois, ficamos deitados. Colados. Suados.
— Cara, eu gosto de você — Felipe disse, de repente.
— Também gosto de você.
— Não, tipo… eu *gosto* de você.
Olhei pra ele.
— Felipe…
— Relaxa. Não tô pedindo namoro nem nada. Só tô falando que você é massa. Que eu curto sua companhia. Que o sexo é bom pra caralho.
Sorri.
— O sexo é bom mesmo.
— Então a gente continua nisso?
— Continua.
Ele sorriu. Beijou meu ombro, e adormecemos assim. Juntos.
A gente acabou perdendo a hora. Quando olhei pro celular, já eram quase duas da tarde.
— Caralho, a gente tá atrasado — falei, pulando do colchão.
Era sábado, mas íamos trabalhar. A verdade é que quem trabalha em comércio ou tem escalas exaustivas tipo a do supermercado não tem vida social. Não tem domingo. Não tem sábado ou feriado. Tudo depende de quando a folga vai cair. Às vezes uma quarta vira seu sábado. Às vezes você trabalha no Natal. Às vezes você perde aniversário de amigo, show, festa, porque a escala caiu em cima.
A gente se arrumou às pressas. Felipe pegou a roupa dele. Eu vesti o uniforme amassado do Louds. E enquanto eu amarrava o tênis, pensei numa música que conhecia. Dizia assim: "A gente trabalha pra ter mais dinheiro, a gente gasta dinheiro pra ter mais saúde, mas quando a vida te pega é só Deus nos acuda, Deus me ajuda."
É isso. É uma reflexão que a gente deveria fazer. Porque no fim, muitas vezes a gente deixa de se divertir, abre mão de certas coisas, pra viver uma vida no automático só pra pagar contas.
Eu, por exemplo, tinha que vender meu corpo pra não comer miojo todos os dias. Eu não gostava. Não achava isso o máximo. Mas se eu não usasse o que tinha, eu ia passar fome. Ia ficar sem pagar luz ou aluguel. E então eu acabaria virando um mendigo de rua. Sem casa. Sem amigos. Sem ninguém.
O salário do Louds era bom. Me dava uma certa segurança. Mas eu sabia que não ia poder vender meu corpo pra sempre. Eu era jovem, tinha vinte anos. Mas o tempo passa. O corpo envelhece. E então o que ia sobrar? Eu precisava me estabilizar. Juntar dinheiro. Conquistar algo que fosse meu, antes que fosse tarde demais.
***
O Diego me ligou.
— Quer carona? — ele perguntou.
— Quero. Tô com o Felipe aqui também.
Houve alguns segundos de silêncio do outro lado da linha.
— Tá bom — ele disse, com aquela voz estranha. — Passo aí em cinco minutos.
Desliguei. Achei bom porque já estávamos atrasados. Mas eu sabia que o Diego ia ficar com ciúmes. Afinal, ele devia estar pensando mil coisas. Eu passei a noite com o Felipe. Nós dois saindo juntos do meu apê. Mas resolvi não ligar. Eu sabia controlar o Diego. Sabia deixar ele na palma da minha mão, e esse era um lado dark meu que eu reconhecia, mas não me importava: eu usava da carência de uma pessoa pra poder usufruir de algo.
O caminho pro mercado foi em silêncio da parte do Diego. Eu e o Felipe conversamos. Contei umas histórias engraçadas. Falei que estava gostando de trabalhar no Louds. Felipe chamou o Diego pra sair com a gente depois do trabalho.
— Vou sim — Diego respondeu num tom bem sem graça.
A verdade era que ele estava morrendo de ciúmes. E sem dúvidas a cabeça dele estava a mil. Depois que bati o ponto, fui fazer meus afazeres. Organizar o estoque. Repor as prateleiras. Estava no corredor de bebidas quando o Rodrigo apareceu.
— Bom dia, Lucas — ele disse, aquele tom formal de gerente.
— Bom dia — respondi, sem olhar pra ele.
Ele quis puxar conversa. Um papo sem graça sobre estoque, organização, sei lá. Mas graças a Deus fui salvo pela Billy, que chegou patinando e pediu a atenção dele pra resolver algo urgente. Rodrigo foi embora. Suspirei aliviado. No decorrer da tarde, tive uma surpresa. Bernardo — o cara do ménage — apareceu no mercado, ele ficou surpreso ao me ver. Eu também fiquei.
— E aí — ele disse, meio sem graça.
— E aí — respondi, tentando parecer natural.
Trocamos ideia. Ele disse que estava procurando o tio. Ficamos conversando ali no corredor, rindo de besteira, até que o Rodrigo apareceu.
E aí veio o plot twist.
— Bernardo! — Rodrigo abriu um sorriso.
Bernardo era sobrinho do Rodrigo. Puta que pariu.
Rodrigo nos apresentou formalmente, como se não tivéssemos transado juntos algumas horas atrás. Bernardo fingiu que não me conhecia. Eu fiz o mesmo.
— Prazer, Lucas — Bernardo disse, apertando minha mão.
— Prazer — respondi, segurando a risada.
Rodrigo ficou ali conversando com o sobrinho. Eu saí, deixando eles sozinhos. Fui terminar meus afazeres. Mas por dentro, estava rindo da situação absurda. Natal sendo Natal. A cidade se tornando um ovo. Todo mundo conhecendo todo mundo. E o Rodrigo… o Rodrigo me olhava de longe. Com aquele olhar de quem quer mas não pode. De quem deseja mas tem medo. Eu ignorava. Porque tinha coisas mais importantes pra pensar. Tipo: a festa de aniversário da Billy.
A festa seria na quarta-feira. Dia de folga dela e de vários outros funcionários, eu estava animado. Fazia tempo que não ia numa festa de verdade. Não festa de trabalho chata. Mas festa de amigos. Fui com Felipe e Diego. Compramos cerveja e Skol Beats pra levar. Quando chegamos, tudo era simples, a casa da Billy ficava num bairro popular. Não era favela, mas também não era bairro nobre. Era aquele meio-termo: casas pequenas, ruas estreitas, gente na calçada. Dentro da casa: uma mesa pequena decorada com bolo e doces. E outra mesa farta com comidas. Salgadinho. Coxinha. Pastel. Refrigerante. Cerveja gelada na caixa de isopor. Som alto. Pagode tocando. Depois virou Joelma. E tinha uma mulher no meio da sala cantando. Cover de Joelma. Peruca loira. Roupa brilhante. Rebolando, todo mundo rindo. Dançando. Bebendo. E a Billy? A Billy era o centro de tudo. Falando com todo mundo. Abraçando. Rindo alto. Fazendo piada. Sendo ela mesma.
E ali, depois de já ter bebido algumas cervejas e me sentir extremamente bem, eu me lembrei de algo.
Um trabalho que fiz de garçom no ano passado, era um trabalho duro. Uma festa de gente rica. Aniversário de alguém importante. Aquele tipo de aniversário de gente rica e esnobe. Bebida cara. Comida chique. Decoração impecável. Tinha uma mulher lá — provavelmente a esposa do aniversariante — que passava o tempo todo gravando stories. Sorria pra câmera. Fazia caras e bocas. Mostrava a comida. O bolo. Os convidados. Mas quando não estava gravando? Estava de cara feia. Sem sorrir. Olhando pro celular com expressão vazia. Eu percebi isso porque, como garçom, você vira invisível. As pessoas agem como se você não estivesse ali. Então você vê tudo, e o que eu vi foi triste.
Aquela mulher vivia pra postar. Não pra viver, cada momento era calculado. Cada foto, editada. Cada sorriso, falso. Ela mostrava fragmentos de uma vida que não existia. Uma vida perfeita. Um casamento perfeito. Uma família perfeita. Mas a realidade? A realidade era uma mulher triste, sozinha no meio de uma festa cheia de gente, mexendo no celular e fingindo estar feliz. E no final da festa, quando os convidados foram embora, todos nós — garçons, pessoal do buffet — ficamos na cozinha. Rindo. Conversando. Comendo as sobras. O dono do buffet tinha liberado a gente levar o que sobrou nas panelas. E aquilo era ouro. Comida boa. De graça. E ali, naquela cozinha apertada, com gente ganhando 100 reais pela diária, tinha mais felicidade genuína do que na festa inteira. Porque a gente não estava preocupado em gravar stories. Em mostrar pro mundo. Em fingir. A gente só estava… vivendo. E então eu precisei ir ao salão pegar alguma coisa. E quando entrei, dei de cara com a mesma mulher. Sozinha, mexendo no celular e de cara feia, sem sorriso, sem vida. Ali, no real, longe das câmeras, ela era só… triste. E eu pensei: *Essa é a diferença.* A diferença entre quem vive a vida pra valer e quem vive uma vida de mentira.
E automaticamente, me lembrei de Luke Silva, Meu crush. O herdeiro. Eu acompanhava cada story dele. Cada postagem. Ele mostrava uma vida incrível. Viagens. Carros. Festas. Restaurantes caros. Corpo perfeito. Mas será que aquilo era real? Ou era só fragmentos? Pedaços editados de uma vida que talvez não fosse tão perfeita assim? Será que ele era feliz? Ou será que ele também estava sozinho, de cara feia, mexendo no celular quando as câmeras desligavam? Eu não sabia. E provavelmente nunca saberia.
Mas ali, na festa da Billy, eu sabia de uma coisa: Aquilo era real, as risadas. Os abraços. A comida. A música, ninguém ali estava fingindo, ninguém ali estava postando pra provar nada. A gente só estava… sendo feliz, e isso valia mais do que qualquer festa de rico.
Eu e Felipe conversamos animadamente. Bebemos. Dançamos, até que ele começou a dar em cima de umas meninas que trabalhavam nos caixas do supermercado. Fiquei um pouco com ciúmes. Não vou mentir. Mas deixei rolar. Felipe não era nada meu. A gente só transava. Só isso. Diego percebeu meu desconforto. E pareceu… feliz? Como se aquilo fosse uma vitória pra ele. Como se ele pensasse: *Viu? O Felipe não te quer. Mas eu quero.* Resolvi não ligar. Peguei outra cerveja. Fui dançar com a Billy. E então, pra surpresa geral, o Rodrigo apareceu. O gerente. Na festa da Billy. Algumas pessoas ficaram surpresas. Tipo: *Ain, não pensei que ele fosse se misturar com a classe operária.*Mas outras foram cumprimentar ele normalmente. Como se ele fosse uma pessoa comum. E ele era. Uma pessoa comum. Normal. Meio sem graça, até. Mas estava ali. Tentando. Nossos olhos se cruzaram por um segundo, ele desviou, eu sorri, e pensei: “Essa noite promete.””
