FORA DO ESQUE [07] ~ MEU SOBRINHO

Da série FORA DO ESTOQUE
Um conto erótico de Rodrigo
Categoria: Gay
Contém 3579 palavras
Data: 04/11/2025 11:18:32

Eu deveria ter fechado o aplicativo, deveria ter jogado o celular longe. Deveria ter ido dormir e esquecido que tinha visto aquele perfil. Mas não fiz nada disso, porque eu estava curioso. Porque eu estava sozinho no quarto enquanto Bernardo estava no outro quarto. Abri o Grindr de novo: Bê, 19 anos, S/L , a foto mostrava um peitoral definido. Pele morena jambo. Corpo jovem, forte, meu sobrinho, respirei fundo. E então, antes que a parte racional do meu cérebro pudesse me impedir, cliquei em "enviar mensagem". O meu perfil não tinha foto. Não tinha nome. Não tinha idade. Só dizia: "Discreto. Sigilo." Era assim que eu navegava naquele mundo. Invisível. Anônimo. Seguro.

Eu: E aí

Bê: oi

Eu: De bobeira?

Bê: sim e vc?

Eu: Também, procurando o que?

Bê: curtição, algo rápido e vc?

Eu: Deixando rolar…

Bê: sou do interior… to visitando um parente!

Meu coração acelerou.

Eu: Legal. Tá curtindo?

Bê: demais. aqui tem mais opções ne kkk la é meio parado

Eu: Imagino. Você curte o quê?

Bê: curto de tudo. sou bem aberto. e vc?

Eu: Também. Curto caras novos

Bê: então achou o cara certo

Ele mandou o álbum, e eu, como um idiota masoquista, abri, primeira foto: rosto. Sorriso bonito. Olhos cor de mel. Meu sobrinho, segunda foto: corpo. Sem camisa. Abdômen definido. Peitoral. Tatuagem pequena no ombro que eu não sabia que ele tinha. Terceira foto: de costas. Sunga branca. Bunda redonda, firme. Quarta foto: pau tamanho médio grosso, igual ao meu. Fechei os olhos, e pensei o que eu estava fazendo?

Bê: gostou? manda as suas

Eu deveria ter parado ali. Deveria ter bloqueado. Deveria ter deletado o app, mas em vez disso, fui até a galeria. Procurei uma foto que eu sempre mando, que mostra somente o meu pau, 17cm e bem grosso, e então enviei.

Bê: delicia de madeira, vc ta proximo, acho que estamos no mesmo prédio!

Eu: Sim, vc ta no ed. Ponta Negra?

Bê: Sim! afim de curtir agora?

Meu cérebro entrou em pânico.

Eu: Agora não possso, estou com minha mulher em casa! - falei mentindo

Bê: Adoro transar com macho casado, eles fazem comigo o que não fazem com as mulheres

Eu: Safado você

E então tirei meu pau para fora, e comecei a me masturbar, vendo as fotos do Bernardo novamente e imaginando eu transando com meu próprio sobrinho.

Bê: afim de curtir?

Precisava desviar. Rápido.

Eu: Não dá certo agora

Bê: podemos fazer algo na escada, curte?

Eu: Agora?

Bê: pq n? so descer. a gente se pega na escada, te chupo e vc me fode!

A audácia, a coragem, a falta absoluta de medo. Meu sobrinho, aos 19 anos, tinha mais coragem do que eu aos 38.

Eu: Não posso agora. Minha esposa tá acordada

Bê: que pena. outra hora entao

Eu: Talvez

Bê: me chama qdo quiser. to aqui ate domingo

Eu não respondi, tranquei o celular. Joguei na cama, e terminei minha punheta olhando para os nudes que meu sobrinho havia me mandado, e acabei gozando, e então a culpa veio logo em seguida, fiquei olhando pro teto, e me culpando, o que eu tinha acabado de fazer? Tinha trocado mensagens com meu sobrinho. Tinha visto fotos dele pelado. Tinha mandado foto do meu pau pra ele, e tinha tocado uma punheta pensando nele. Ele não sabia. Não tinha como saber, mas eu sabia, e a culpa começou a me comer vivo.

Alguns minutos depois, cerca de 20 minutos, ele bateu na porta do meu quarto, eu disse pra ele entrar:.

— Tio?

Sentei na cama. Acendi a luz do abajur.

— Entra.

Bernardo abriu a porta. Estava de bermuda e camiseta. Cabelo bagunçado. Celular na mão.

— Desculpa acordar você. Só vim avisar que vou sair.

Olhei pro relógio. 23h.

— Sair? Agora?

— É. Uns amigos me chamaram. Vou voltar logo.

Amigos, ele não tinha amigos em Natal, ele tinha encontros marcados no Grindr.

— Bernardo, é perigoso sair essa hora...

— Eu sei me cuidar, tio. Relaxa — ele sorriu. — Volto antes do café, vou de uber, posso levar uma chave?

— Pode sim, qualquer coisa me liga!

— Beleza!

E saiu, ouvi a porta do apartamento abrir e fechar, fiquei ali, sentado na cama, processando. Meu sobrinho tinha saído, provavelmente pra encontrar alguém, provavelmente achou alguém para foder, peguei o celular de novo. Abri o Grindr, o perfil de Bê ainda estava aberto: Online agora. E então a localização mudou, a 200 metros de distância. Ele estava se afastando, indo encontrar alguém, e eu fiquei ali, deitado, imaginando, imaginando ele com outro cara. Imaginando ele fazendo o que eu fazia. Imaginando ele sendo fodido, e a pior parte? Eu estava com tesão novamente, meu pau ficou duro mesmo tendo gozando a poucos minutos, e então novamente soquei outra punheta, abri novamente seus nudes, e imaginei coisas perversas com meu sobrinho, era tesão misturado com culpa. Com vergonha. Com nojo de mim mesmo, depois que gozei deixei o celular de lado e foi dormir, afinal duas gozadas seguidas era melhor do que qualquer remédio para dormir.

***

Sábado de manhã. 07h, acordei cansado, mal dormido e com a consciência pesada. Tomei banho. Me arrumei, coloquei uma roupa de treino, preparei o café, o Bernardo dormia, não tinha nem visto a hora que ele havia voltado do seu encontro, deixei um café pronto para ele e então fui direito para academia.

Lucas Maia estava me esperando na recepção, quando o vi, tudo pareceu... diferente, ele era exatamente como na foto do Instagram. Talvez até melhor, vinte e cinco anos. Um metro e setenta e oito. Corpo trincado, mas não exagerado. Músculos definidos debaixo da camiseta preta justa. Tatuagens no braço esquerdo — uma frase em inglês que eu não consegui ler de longe, e um desenho geométrico no antebraço. Cabelo castanho escuro, meio bagunçado, daquele jeito que parece proposital. Barba bem-feita, curta, desenhada. Olhos cor de mel. Sorriso bonito. Dentes brancos, e o jeito… O jeito dele era diferente. Tinha uma leveza. Uma simpatia genuína. Não era aquele sorriso falso de vendedor. Era algo real.

— Rodrigo? — ele estendeu a mão.

— Sou eu — apertei.

A mão dele era firme. Calejada. Mão de quem treina.

— Prazer, cara. Sou o Lucas Maia. Mas pode me chamar só de Maia, todo mundo chama — ele sorriu. — Bom te conhecer pessoalmente.

— Igualmente.

— Vamos lá dentro? Vou te avaliar primeiro, ver como tá tudo, e aí a gente monta um plano.

Seguimos pra sala de avaliação. Um espaço pequeno com balança, fita métrica, adipômetro.

— Tira o tênis e sobe na balança pra mim.

Subi.

Ele anotou o peso.

— Cento e vinte e três — ele disse, sem julgamento. — Altura?

— Um e oitenta e um.

— Beleza. Agora vou tirar suas medidas e fazer a avaliação de gordura. Tira a camiseta.

Hesitei, mas tirei, ele passou a fita métrica, cintura, quadril, peito, braço, depois pegou o adipômetro. Beliscou minha barriga. Minhas costas. Meu braço, não era constrangedor. Ele era técnico. Profissional, mas mesmo assim, eu me sentia... exposto.

— Pronto — ele anotou tudo numa ficha. — Senta aqui.

Sentei. Ele puxou uma cadeira e ficou na minha frente.

— Rodrigo, vou ser sincero contigo. Você tá bem acima do peso ideal pro seu biotipo. Seu percentual de gordura tá em 34%. O saudável seria entre 12 e 20%.

Eu já sabia disso. Mas ouvir em voz alta doeu.

— Eu sei — murmurei.

— Mas olha — ele se inclinou pra frente, olhando direto nos meus olhos —, isso não é sentença. Dá pra reverter. Dá pra mudar. Só depende de você.

— Eu sei.

— Então me diz: por que você quer emagrecer?

A pergunta me pegou de surpresa.

— Porque... porque eu tô gordo.

— Isso eu sei. Mas por quê? Pra quem? Pra você? Pra alguém?

Fiquei em silêncio, ele esperou.

— Eu... eu não sei — confessei. — Acho que pra mim. Pra parar de me sentir uma merda quando me olho no espelho, Lucas Maia assentiu.

— Essa é a resposta certa. Se você tá fazendo por você, a chance de dar certo é maior. Se tá fazendo pra impressionar alguém, você vai desistir na primeira dificuldade. Aquilo me acertou como um soco.

— Você já tentou emagrecer antes?

— Já. Várias vezes. Nunca deu certo.

— Por quê?

— Porque... eu não sei. Falta de disciplina. Desânimo. Sei lá.

— Rodrigo, vou te falar uma coisa — ele cruzou os braços, mas o tom continuou gentil. — Emagrecer não é difícil. O difícil é manter a constância. O difícil é acordar todo dia e escolher fazer o certo. Escolher não comer besteira. Escolher vir treinar. Escolher você, engoli seco.

— E isso vale pra tudo na vida, não só pra emagrecer. A gente vive na zona de conforto. A gente escolhe o fácil. A gente escolhe não sofrer um pouquinho agora pra colher resultado depois. E aí fica naquela: reclamando, mas sem fazer nada.

Ele tinha razão.

— Mas quando a pessoa realmente quer, ela consegue. Emagrecer. Trabalhar. Ganhar dinheiro. Mudar de vida. O que for. Porque a mudança não vem de fora. Vem de dentro. E só você pode decidir isso.

Fiquei olhando pra ele, e pela primeira vez em muito tempo, senti... esperança.

— Você acha que eu consigo?

Lucas Maia sorriu.

— Eu sei que você consegue. Mas você precisa acreditar nisso também.

Fechamos o pacote. Treino três vezes por semana, dieta personalizada.

— Vou te passar tudo direitinho. Cardápio. Receitas. Mas uma coisa: nada de radicalismo. A gente vai emagrecer com saúde. Sem passar fome. Sem neura, você vai comer comida de verdade, arroz, feijão, bife e salada, tudo nas porções certas, não vou passar uma farinha colhida por cegos da montanhas, como alguns profissionais adoram inventar, e isso dificulta

— Hahaha – Eu ri com o seu jeito de falar, me lembrei de uma dieta que haviam me passado uma vez que era exatamente assim, cheia de coisa mirabolante.

— Você vai comer comida de verdade, pão, macarrão, pode comer pizza ou sanduíche uma vez por semana, mas você não pode exagerar, isso é o básico que funciona, você comendo direito, treinando direito, vai ver os resultados logo, e vai se empolgar.

— Gostei da abordagem, natural e realista! – falei animado

— E hoje a gente já treina. Bora?

— Agora?

— Agora. Não tem melhor hora que o presente.

Lucas Maia me botou pra trabalhar, aquecimento, esteira, musculação e abdominais. Eu estava destruído. Suado. Ofegante. Com as pernas tremendo, mas não parei. Porque ele estava do meu lado. Incentivando. Corrigindo. Não me deixando desistir.

— Vamo lá, Rodrigo! Mais três! Você consegue!

E eu conseguia, quando terminamos, eu estava morto. Mas estava... feliz? Não. Não era felicidade, era orgulho. Pequeno. Frágil. Mas era orgulho.

— Primeira sessão completa — ele bateu no meu ombro. — Parabéns, cara. Você foi muito bem.

— Obrigado.

— Agora vai pra casa, toma um banho gelado, come direito, e descansa. Segunda a gente continua, vou preparar sua dieta e te mando ainda hoje ou no máximo amanhã.

— Valeu, Maia. Sério.

— Nós que agradece. Tô aqui pra te ajudar.

Saí da academia suado. Cansado. Mas diferente, porque pela primeira vez, eu sentia que estava fazendo algo por mim, não pra pegar alguém. Não pra ser aceito. Não pra entrar no padrão, mas pra olhar no espelho e não sentir vergonha. Mudar o corpo é mais fácil que mudar a mente, essa frase martelou na minha cabeça enquanto eu dirigia pra casa. Porque eu podia perder peso. Podia ganhar músculo. Podia comprar roupa nova. Podia cortar o cabelo. Mas se eu não mudasse a forma como eu pensava sobre mim mesmo, nada disso ia importar. E essa era a parte mais difícil, porque o corpo responde a estímulos. Treino. Dieta. Descanso. Mas a mente? A mente resiste. A mente sabota. A mente te convence de que você não merece. De que você não consegue. De que não adianta tentar. E é isso que mata a maioria das pessoas, não é a falta de informação. Não é a falta de tempo. Não é a falta de dinheiro, é a falta de acreditar que você pode. É a zona de conforto que te abraça e te sussurra: "Fica aqui. É mais fácil. É mais seguro." E você fica, e os anos passam, e você continua na mesma. Reclamando. Sonhando. Mas sem agir. Porque agir dói. Agir exige esforço. Agir exige sair da zona de conforto e encarar o desconforto. E a maioria das pessoas não aguenta. Mas quem aguenta? Quem aguenta conquista. Quem aguenta transforma. Quem aguenta vira outra pessoa. E eu estava cansado de ser quem eu era. Estava cansado de me esconder. De me sabotar. De aceitar migalhas. Eu queria mais. E pela primeira vez, eu estava disposto a sofrer um pouquinho agora pra colher resultado depois.

Cheguei em casa suado. Cansado. Mas bem, abri a porta, e dei de cara com Bernardo. Ele tinha acabado de chegar, cabelo bagunçado. Roupa amarrotada. Cheiro de perfume e suor.

— Opa, tio — ele sorriu. —

— Saiu novamente? — perguntei. —

— Fui ver uns outros amigos, agora pela manhã — ele deu de ombros. — Vou tomar um banho.

— Beleza.

Ele passou por mim e foi pro banheiro, e então eu notei que ele andava estranho. Não era óbvio. Mas era perceptível. Um leve desconforto. Uma rigidez nas pernas. Como alguém que tinha… Não, parei de pensar, fui pro quarto. Tirei a roupa. Coloquei na cesta. Ouvi o chuveiro ligar. Fiquei ali, deitado na cama, imaginando. Imaginando o que Bernardo tinha feito essa noite e pela manhã, porra será que meu sobrinho tinha transado duas vezes me menos de 12 horas? E sabe o que era pior? Eu estava com tesão novamente, tesão misturado com culpa. Porque ele era meu sobrinho. Porque eu o tinha visto crescer. Porque isso era errado. Mas meu corpo não ligava pra moralidade, meu corpo só sentia.

Meia hora depois, o chuveiro parou, ouvi Bernardo sair do banheiro e ir pra quarto de hóspedes. Esperei mais alguns minutos, e então, como um idiota, levantei. Fui até o banheiro, a roupa dele estava no cesto, bermuda, camiseta e a cueca. Tranquei a porta, peguei a cueca, boxer cinza. Calvin Klein falsa. E então, antes que a parte racional do meu cérebro pudesse me impedir, eu cheirei, cheiro de suor. De pele. De sabonete, de porra fresca, foi ai que eu notei, manchas, na frente: esperma seco, atrás: mais esperma. E outra coisa. Lubrificante, ele tinha transado, tinha sido leitado, e tinha gozado. E eu estava ali, cheirando a cueca do meu sobrinho, com o pau duro, e tocando uma outra punheta me sentindo o pior ser humano do planeta, gozei segurando meus gemidos, e então larguei a cueca. Lavei o rosto. Olhei pro espelho. Quem era esse homem?

Sábado à tarde lá estava eu no supermercado Louds, trabalho, rotina e relatórios. Eu estava no corredor de bebidas conferindo estoque quando o vi. Lucas Gabriel, ele estava repondo refrigerantes. Camiseta justa. Calça cargo. Cabelo bagunçado. Nossos olhos se encontraram, ele sorriu. Aquele sorriso de quem sabe. De quem tem poder.

— Bom dia, chefe.

— Bom dia, Lucas.

— Como foi a semana?

— Tranquilo. E a sua?

— Produtivo — ele respondeu, e havia algo no tom. Algo que dizia mais do que as palavras.

Fiquei ali, parado, sem saber o que dizer, e então Billy chegou, patinando pelo corredor como sempre.

— Bom dia, mores! — ela cantarolou. — Que reunião é essa? Fofoca?

— Nada disso — eu disse. — Só conferindo o estoque.

— Hmmm, sei — ela olhou pra mim, depois pro Lucas, de volta pra mim. — Vocês tão com uma cara suspeita.

— Billy, vai trabalhar — eu disse, mas estava sorrindo.

— Já vou, já vou — ela se afastou patinando. — Mas tô de olho, hein!

Lucas riu, e então eu saí. Fui pra minha sala, liguei os monitores, e comecei a procurar Lucas pelas câmeras, como sempre, como um idiota obcecado, até que vi algo que me fez congelar, Lucas Gabriel. No corredor de massas, conversando com alguém, e era o Bernardo, meu sobrinho, no meu supermercado, conversando com Lucas Gabriel, rindo, como se fossem amigos, como se se conhecessem, meu coração disparou. Como? Como eles se conheciam? E então tudo se conectou, o Grindr. Lucas Gabriel devia estar no Grindr também, e deve ter falado com o Bernardo, essa era a única possibilidade, eles tinham se encontrado, entao pensei, será que tinha sido Lucas? Lucas tinha comido meu sobrinho, e a porra que estava na cueca do Bernardo era dele? Só de imaginar isso fiquei com o pau latejando de duro, esperei alguns minutos meu pau baixar, e então sai de sala, e fui até o corredor, onde eles ainda estavam.

— Bernardo?

Meu sobrinho se virou. Sorriu.

— Tio! Que surpresa!

— O que você tá fazendo aqui?

— Vim te buscar pro jantar. Pensei que a gente podia comer junto.

Olhei pra Lucas. Ele estava com aquela expressão neutra. Profissional.

— Vocês se conhecem? — perguntei, tentando parecer casual.

— A gente se esbarrou aqui — Bernardo disse. — Ele trabalha com você, né?

— Trabalho — Lucas confirmou. — Prazer. Sou o Lucas.

— Bernardo. Sobrinho dele.

Eles apertaram as mãos, e eu fiquei ali, observando. Procurando sinais. Procurando confirmação, mas não havia nada. Só educação. Só formalidade. Será que eu estava pirando? Será que não tinha sido Lucas?

— Bom, vou deixar vocês — Lucas disse. — Tenho que voltar pro trabalho. Foi um prazer, Bernardo.

— Igualmente.

Lucas saiu, e eu fiquei ali com meu sobrinho, com um milhão de perguntas e nenhuma coragem de fazer.

Jantamos numa padaria perto do supermercado, Bernardo comia com apetite. Eu mal tocava na comida.

— Tio, você tá quieto hoje.

— Tô cansado.

— Do trabalho?

— É.

Ele me olhou. Estudou meu rosto.

— Posso te perguntar uma coisa?

— Claro.

— De onde você conhece o Lucas?

Meu coração parou.

— Ele trabalha comigo. Por quê?

— Nada. Só achei ele... interessante.

— Interessante como?

Bernardo sorriu.

— Tio, eu preciso te contar uma coisa.

— Fala.

Ele respirou fundo.

— Eu sou gay.

Silêncio, não era surpresa. Mas ouvir em voz alta era diferente.

— Eu sei — eu disse.

Ele piscou.

— Você sabe?

— Sei.

— Como?

— Eu vi seu perfil no Grindr.

Ele ficou vermelho.

— Você... você usa Grindr?

— Uso.

— Mas você é...

— Gay. Eu também sou gay, Bernardo.

Silêncio de novo, ele me olhou como se estivesse me vendo pela primeira vez.

— Caralho — ele murmurou. — Eu nunca imaginei.

— Ninguém imagina.

— E meus pais sabem?

— Não. E não vão saber. Pelo menos não por mim.

Ele assentiu devagar.

— Tio... eu tô sofrendo. Eu não aguento mais viver escondido. Não aguento mais fingir. Eu quero sair de casa. Quero vir morar aqui. Quero ser quem eu sou.

— E seus pais?

— Eles não vão aceitar. Eu sei disso. Meu pai é evangélico. Minha mãe é... sei lá. Eles vão me expulsar.

— É uma vida complicada Bernardo, mas se você quer vim embora posso falar com alguns amigos é tentar uma vaga pra você, não consigo te colocar pra trabalhar no LOUD´S porque você é família, .poderiam achar que eu estou praticando nepotismo, e quando você tiver sua dependência, não vai se importar com a opinião dos seus pais.

— Eu sei tio, eu fiz algumas entrevistas, mas não sei se vou passar, e eu quero muito vim morar aqui, e agradeço desde já toda a sua ajuda.

— Segunda eu dou alguns telefonemas e vejo o que posso conseguir, você vai voltar amanhã pro interior não é?

Bernardo passou a mão pelo rosto.

— Sim, volto amanhã para aquele inferno de vida.

Olhei pro meu sobrinho, dezenove anos. Olhos cheios de esperança. De medo. De desespero, e eu me vi nele.

— Eu vou te ajudar, sei o que você tá passando — eu disse. — A gente dá um jeito.

Ele sorriu. Olhos marejados.

— Obrigado, tio.

— Mas Bernardo...

— Fala.

— Você... você ficou com alguém esse fim de semana?

Ele hesitou.

— Por quê?

— Só curiosidade.

— Fiquei. Com um cara na sexta, e dois hoje de manhã.

Meu estômago revirou.

— Dois?

— É. Foi... intenso.

— Eles eram daqui?

— Eram. Conheci pelo Grindr. Por que tá perguntando isso?

— Nada. Só... toma cuidado, Bernardo. Tem muito maluco por aí.

— Eu sei. Mas esses caras foram legais. A gente se divertiu.

Não perguntei mais, mas eu sabia, eu sentia que tinha sido o Lucas e provavelmente o Felipe, minha intuição nunca falha. Conversei ainda com o Bernardo, falei sobre o meu casamento, sobre o divorcio, ele me contou algumas coisas, e acabou desabafando muito comigo, que desde sempre sabia que era gay, e escondia de tudo e todos, até que finalmente resolveu começar a sair com caras, e resolveu vim morar na capital. Foi uma conversa boa, e consegui entender melhor o meu sobrinho.

Voltamos para casa, e estávamos no elevador, e então ele falou:

— Tio... eu conversei com alguém no Grindr sexta de noite. Alguém que morava no mesmo prédio que eu.

Meu sangue congelou.

— Ah é?

— É. Mas a pessoa parou de responder. Disse que era casada.

— Hmmm.

— Era você?

Olhei pra ele.

Ele me olhou de volta, o elevador parou. Nono andar, saímos e caminhamos até o apartamento. Abri a porta, entramos, e então, no meio da sala, ele parou.

— Tio... era você?

Não respondi, ele se aproximou.

— Porque se era... eu não tô julgando. Eu só quero saber.

— Era — eu confessei, voz baixa.

Ele ficou parado. Processando.

— Você viu minhas fotos?

— Vi.

— E mandou a sua?

— Mandei.

— Caralho.

Silêncio, ele estava perto. Muito perto, eu podia sentir o cheiro dele. Sabonete. Desodorante. Juventude.

— E agora? — ele perguntou.

— Não sei.

Ele deu mais um passo, estávamos a centímetros de distância.

— Tio...

— Bernardo, isso é errado.

— Eu sei.

— Você é meu sobrinho.

— Eu sei.

— A gente não pode.

— Eu sei.

Mas nenhum de nós se afastou, ficamos ali. Olhando um pro outro, respiração pesada. Coração acelerado, desejo misturado com medo misturado com culpa, e então...

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