Nossa! Quanto tempo se passou? Mais de um ano que eu era uma mulher. Um ano de “girlhood”. Tomava meus hormônios exatamente como meu macho mandava, e eu como mulher, no papel de submissa, sempre obedecia. Eu lembrava da outra vida que tinha, como sempre havia existido o desejo de “ser mulher”, o que meu homem havia feito, era só me retirado do destino cruel de viver como “homemzinho”, infeliz, sem viver meu real propósito de vida, para me tornar alguém com a noção de que tenho que cuidar, dar carinho e amor, ser vista e desejada por ele.
Era meu aniversário. Meu amor sabia desse “detalhe”, e por isso eu já esperava que ele fizesse algo, mas nunca imaginara o que ele preparava para mim. Aquele porta de metal se abre, dela sai aquela figura forte e imponente. Porém ele não fecha a porta, como sempre fazia.
– Heleninha, hoje é o dia que tu vai nascer de novo. Quero que suba as escadas comigo e vá lá para cima.
Eu obedeço. Sem questionar. Ele me acompanha até a parte de cima, onde destranca outra porta que me leva para uma casa. Agora eu ressurgia do subsolo para a superfície, para a humanidade, como nova pessoa. Não mais como, qual era o nome dele mesmo? Acho que até esqueci que tinha outro nome.
– Pode ir explorando a casa. Vou ter que sair e já volto.
A casa era enorme, ou talvez fosse a impressão que eu havia criado depois de tanto tempo vivendo lá debaixo de todos. Uma escada me levava para cima, lá eu via quartos e mais quartos, alguns trancados. “Nossa eu tenho um namorado rico” – Eu pensei suspirando. No último quarto vejo uma cama de casal, um closet cheio de roupas, calcinhas, sutiãs, vestidos e outras roupas femininas. Começo a ouvir barulhos na parte debaixo da casa, quando desço, encontro meu macho com flores e um bolo de aniversário. Ele canta parabéns para mim, e pede que eu assopre as velas. O meu pedido: “Que eu seja pra sempre uma mulher", algo que já estava se realizando.
A partir daí passei a viver com ele, que me sequestrou e me salvou, eu jurava lealdade a ele, e ele a mim. Em algumas semanas eu já havia mudado todos os meus documentos, havia me tornado, pela lei, “Helena”.
