Primo, eu ainda te amo! | Capítulo 02: Colegas de quarto?

Um conto erótico de Th1ago-
Categoria: Gay
Contém 3492 palavras
Data: 25/11/2025 18:01:35

Ficamos ali, grudados, um encarando o outro. Eu com o rosto vermelho, parte do susto, parte de… vergonha. A água escorria pelo meu queixo, queimando minha pele quente. Já ele permanecia com aquela expressão tranquila, quase divertida, como se estivesse acostumado a afogar pessoas por aí. O sol batia nas gotas presas à barba curta dele, fazendo tudo brilhar de um jeito irritantemente bonito.

Foi Caíque quem quebrou o silêncio. Ele riu baixo, soltando meus braços devagar, como se estivesse devolvendo o meu corpo para mim.

— Vem, vai batendo os braços — disse ele, gesticulando calmamente. —Qualquer coisa eu estou aqui pra te segurar.

Eu comecei a bater os braços de forma ridícula, desesperado, como se minha vida realmente dependesse daquilo. E honestamente? Dependia. Ele tinha acabado de me jogar na piscina, afinal. Quem me garantia que não faria pior?

Senti as mãos de Caíque deslizarem pela minha cintura, quentes mesmo dentro da água gelada. Ele levantou meu corpo com facilidade, apoiando uma mão na minha barriga e outra no meu peito, me deixando totalmente na horizontal.

— Um braço de cada vez — orientou. — Eu estou te segurando, relaxa. Só tenta ir até a borda.

A voz dele tinha algo… firme. Segura. Familiar, mesmo a gente nunca tendo convivido. Isso me deu uma confiança que eu não deveria ter. Comecei a tentar nadar, do meu jeito desajeitado, enquanto sentia o corpo dele acompanhando o meu, guiando, sustentando.

Quando finalmente alcancei a borda, saí da água tremendo, o coração disparado.

— Minha mãe vai brigar se te ver assim — comentou ele, apoiando os braços na borda para sair com um impulso simples e elegante. — Ela é toda certinha com essas coisas. “Menino molhado pega gripe”, ela fala desde que eu tinha V anos.

Eu respirei fundo, irritado.

— Talvez se você não tivesse me afogado.

Ele soltou uma risada curta

— Relaxa — respondeu, pegando meu pulso e me puxando sem cerimônia para dentro da casa. — É apenas seu primeiro dia aqui. Ainda vou tentar muitas coisas.

Revirei os olhos, vermelho de raiva e vergonha. Como alguém podia levar tudo tão na brincadeira? Eu tinha quase morrido e ele parecia achar isso fascinante.

Deixei que ele me puxasse escada acima. A casa tinha cheiro de madeira encerada misturado com perfume floral, provavelmente algum aromatizador caro da tia Helena. O piso frio ainda estava úmido das nossas pegadas, e cada passo fazia um som oco que ecoava pelo corredor comprido.

Quando entramos no quarto dele, eu prendi a respiração.

Era enorme. Enorme de verdade. Maior que a minha sala inteira na fazenda. As paredes eram de um azul profundo, e a que ficava ao lado da cama era praticamente um altar dedicado ao Caíque atleta: medalhas, troféus, faixas de corrida, fotos dele sorrindo como se fosse o protagonista de todas as coisas. Eu fiquei parado, observando tudo, sentindo a garganta fechar.

Ele era bom. Ele era popular. Ele era tudo o que eu nunca fui.

E ali, bem no centro, a cama. De casal. Gigante. Com lençol branco e travesseiros tão retos que pareciam nunca ter sido tocados.

— Então… — comecei, tentando fingir que eu não estava surtando. — Me arruma uma toalha e me diz onde posso deixar minhas coisas.

— Ah, sim — disse ele, passando a toalha no cabelo e descendo algumas gotas pelo pescoço. — Eu ia te avisar antes, mas aí você quase morreu e me distraiu. — Ele riu sozinho. — Os quartos de hóspedes estão todos em reforma. Minha mãe pirou na decoração nova da casa e resolveu trocar tudo. Ela gasta mais com reforma do que com comida. Então… vamos ter que dividir o quarto por… sei lá, umas duas semana?

Meu olhar travou na cama de novo. Duas semanas dormindo no mesmo cômodo que ele. O coração começou a bater tão forte que eu quase levei a mão ao peito.

Caíque percebeu.

— Ei, calma — disse, com um sorriso torto que parecia desenhado para me provocar. — Eu não mordo. Quer dizer… não sem avisar antes.

Senti minhas orelhas queimarem na mesma hora.

Ele apontou para o canto do quarto, onde havia um sofazão enorme, azul escuro, estofado, todo desengonçado, cheio de almofadas desalinhadas.

— Se isso te deixa mais tranquilo, você pode ficar ali. Ele vira cama. De verdade. Eu durmo aí sempre quando passo a noite jogando.

Ele deu dois tapas no sofá, exibindo como se fosse maravilhoso.

— Ou… — ergueu uma sobrancelha. — você pode dormir aqui comigo também. A cama é grande. Dá pra dois.

Meu coração parou. Depois bateu forte. Depois parou de novo.

Eu engoli seco, sentindo meu corpo inteiro esquentar, e Caíque… só riu. Como se soubesse exatamente o que estava fazendo comigo.

Depois daquele momento estranho, eu quase morrendo, ele rindo, e nós nos encarando como se tivesse acontecido alguma coisa além de um afogamento acidental, eu resolvi focar em algo que eu realmente precisava: um banho quente.

Abri minha mala com cuidado, ainda meio sem acreditar que aquele quarto enorme seria meu por uma semana. Peguei uma toalha limpa, uma camiseta nova e uma bermuda confortável. O cheiro das minhas roupas, misturado com o perfume de sabão da fazenda, trouxe uma pontada de saudade que eu tentei ignorar.

O banheiro do Caíque era maior que o meu quarto inteiro lá em casa. Azulejos claros, tudo brilhando, cheiro de eucalipto saindo de algum aromatizador automático que espirrava a cada poucos minutos. Eu travei por um segundo, olhando para a pia de mármore e pensando: o que eu estou fazendo aqui? Como minha vida virou isso?

Liguei o chuveiro e a água quente caiu forte nas minhas costas, queimando no começo, depois relaxando meu corpo como se estivesse desmanchando todos os nós de nervosismo que eu carregava.

Fiquei ali parado, deixando a água escorrer pelo meu rosto. O barulho abafado do chuveiro me isolou do resto do mundo. Meus pensamentos vieram todos de uma vez:

Minha mãe me deixou aqui. Eu vou estudar em outra cidade. Eu vou morar com um primo que eu nunca vi pessoalmente. Eu quase me afoguei em cinco minutos. E agora estou dividindo um quarto com um garoto que parece ter saído de um comercial de perfume caro.

Passei o sabonete lentamente pelo corpo, tentando focar no cheiro de menta e não na sensação estranha que eu sentia quando lembrava dos braços dele me segurando dentro da piscina.

Era tão novo. Tão diferente.

E, apesar do medo, tinha algo dentro de mim… feliz.

Quando terminei, me enxuguei devagar, vesti as roupas limpas e respirei o ar morno do banheiro antes de abrir a porta.

O quarto estava com a luz acesa, um ventilador no canto girando devagar. O cheiro de desinfetante misturado com o perfume amadeirado do Caíque parecia preencher cada canto daquele espaço enorme.

Ele estava jogando videogame, sentado no chão, costas apoiadas na cama, os cabelos ainda úmidos. O som do jogo — tiros, explosões, alguém gritando “DOUBLE KILL” — completava a cena.

Eu sentei na beira da cama, devagar, observando ele jogar. O jeito que ele inclinava a cabeça, que mordia o canto da boca quando precisava se concentrar, que mexia o polegar rápido… tudo nele parecia certo, natural, confortável.

Ele percebeu meu olhar e pausou o jogo.

— E aí? — perguntou, virando o rosto pra mim com uma expressão curiosa. — Como é que tá se sentindo, sabendo que amanhã começa numa escola nova? Cidade nova. Vida nova. Tudo diferente.

Suspirei, mexendo nos dedos.

— Cara… é estranho. Tudo é muito grande aqui, muito barulhento. Mas… eu tô ansioso. Sempre quis estudar na cidade grande. Queria ter mais oportunidade, aprender mais, focar… Acho que… acho que eu tava precisando disso.

Ele ficou me olhando, sério por alguns segundos. Depois apoiou os braços nos joelhos e disse:

— Olha só… — a voz dele ficou um pouco mais baixa — as pessoas daqui, da cidade grande, às vezes são meio babacas, tá? Ainda mais com você.

Eu franzi a sobrancelha.

— Com… comigo?

— É — ele respondeu, apontando pra mim com o queixo. — Esse jeitinho… de quem parece que vai quebrar a qualquer momento, sei lá. Você tem cara de que se alguém te empurrar, você desmonta.

Meu rosto queimou na hora.

Ele continuou:

— Então se alguém for babaca com você… você me chama. Eu vejo isso.

Eu engoli seco, sem saber como me sentir. Uma parte de mim ficou… grata. Protegida, talvez. Mas outra parte pensou:

Ótimo. Ele acha que eu sou frágil. Perfeito.

Forcei um sorriso.

— Valeu… eu acho.

Ele riu, voltando a pegar o controle.

— Relaxa, primo. Vou cuidar de você.

E mesmo que eu não quisesse admitir… aquilo mexeu comigo. Muito mais do que deveria.

Eu ainda estava tentando entender se Caíque tinha acabado de me chamar de frágil ou se aquilo era só o jeito torto dele tentar ser gentil, quando meu celular vibrou de novo. Primeiro achei que fosse só mais uma notificação idiota, mas o som era diferente — era o toque da chamada de vídeo que eu tinha deixado configurado pros meus pais.

Olhei para a tela: “Mamãe ❤️” brilhando com aquela foto ridícula que eles tiraram em uma praia do norte, toda desfocada porque minha mãe nunca soube usar a câmera.

— Pera aí… meus pais. — murmurei, sentindo meu peito apertar do nada, como se o mundo lá de casa tivesse me alcançado de volta.

Atendi.

— Oi, meu amor! — minha mãe apareceu primeiro, o rosto iluminado por uma luz amarela que eu reconheceria em qualquer lugar. A cozinha. Ela sempre atendia da cozinha. — Está tudo bem? Chegou direitinho? Comeu? Bebeu água?

Eu dei uma risada fraca.

— Mãe, tô bem. Tô vivo, tá? E inteiro. — eu disse, tentando afastar aquele nó na garganta que a saudade trouxe junto com a imagem dela.

Meu pai apareceu logo atrás, ajeitando os óculos tortos.

— E aí, garotão? Como é que tá sendo a chegada? Já conheceu seus tios? Seus primos?

— Só encontrei a tia Helena até agora… — respondi.

Antes que eu continuasse, Caíque se jogou do outro lado da cama, se inclinou pra ficar visível na tela e acenou.

— Oi, tia! Oi, tio! — ele disse sorrindo com aquela cara de “sou amado por todo mundo, mesmo quando não tento”.

Minha mãe abriu um sorriso enorme.

— Oi, Caíque! Você está cuidando do Alec pra mim, né?

— Tô cuidando sim! — ele respondeu. — Prometo que ele não vai morrer de saudade de casa. Só um pouquinho.

Eu empurrei ele de leve, rindo.

Meu pai então retomou a conversa:

— E sua irmã, Caíque? Já apareceu pra receber o Alec?

Caíque balançou a cabeça antes mesmo de eu responder.

— Meu pai tá viajando, só volta semana que vem. Coisa de trabalho. A Júlia tá morando com o noivo dela, quase não aparece por aqui!

— Ah, tá bom então… — meu pai assentiu. — Alec, qualquer coisa você avisa, tá? Se sentir falta de alguma coisa, se estiver desconfortável, se precisar de…

— Pai… — interrompi, sorrindo — eu tô bem. De verdade. A casa é grande, a tia Helena é um amor, e o… — olhei de canto para Caíque, que estava fazendo um símbolo de joinha com a mão e uma cara de bobão — o Caíque também.

Meu pai deu uma risadinha satisfeita.

— Tá bom. Mas a gente vai te ligar amanhã de novo.

Minha mãe soprou um beijo.

— Te amo, meu filho.

— Também amo vocês. — respondi, mais baixo do que pretendia.

A ligação encerrou.

Fiquei encarando o reflexo apagado da tela por alguns segundos, sentindo o cheiro do amaciante no ar, aquele cheiro que sempre saia das roupas do Caíque quando ele se mexia muito, talvez porque a tia Helena devia comprar o amaciante mais caro do mercado? Mas era reconfortante, de um jeito estranho.

— Eles são fofos. — Caíque comentou, jogando o corpo pra trás e apoiando as mãos atrás da cabeça.

— São. — respondi, ainda meio preso naquele vazio quente que dá quando a gente fala com quem ama, mas está longe pela primeira vez.

Ele me observou por alguns segundos, como se pudesse ler meus pensamentos só pelo jeito que meus ombros estavam tensos.

— Tá com saudade já? — perguntou.

— Um pouco. — admiti.

— É normal… — ele disse, dando um tapa leve na minha perna, como quem diz “tô aqui”. — Mas relaxa. Amanhã vai ser de boa. E eu tô contigo nessa parada aí de escola nova.

Eu sorri de canto, um pouco tímido, mas grato.

Caíque se ajeitou mais perto, pegando o controle de volta.

— Agora vem cá… — disse, apontando pra TV. — Tu vai continuar me ignorando ou vai sentar aqui e me assistir dar um pau no time adversário?

Eu ri.

— Você é muito convencido.

— E ainda nem te mostrei o pior. — ele piscou.

E por algum motivo, naquela cama enorme, naquele quarto azul cheio de troféus de futebol e cheiro de amaciante, eu senti que talvez — só talvez — eu não estivesse tão sozinho assim.

A tarde passou mais rápido do que eu esperava. Depois da videochamada, Caíque praticamente me arrastou para o lado dele, colocou um controle na minha mão e começou a me explicar qual botão fazia o quê, rápido demais, como se eu tivesse a mesma familiaridade que ele.

— Tá vendo? É só apertar aqui pra correr, aqui pra chutar, e aqui pra… — ele apertou vários botões de uma vez — … fazer essa jogada absurda que só eu consigo.

— Eu… não decorei nada do que você falou. — admiti, olhando para os botões como se fossem símbolos alienígenas.

Caíque riu alto, aquela risada solta que enchia o quarto inteiro, quase vibrando nas paredes.

— Meu Deus, Alec, você é muito sem graça! — ele provocou, empurrando meu ombro. — Só quer saber de estudo. Cara, quem é que usa o computador só pra ler?

— Muitas pessoas. — respondi, indignado.

Ele arqueou uma sobrancelha, como se duvidasse.

— Pessoas chatas.

— Eu não sou… chato. — falei baixo, sentindo meu rosto esquentar.

Caíque riu ainda mais ao ver minhas bochechas vermelhas.

— Olha aí! Ficou até coradinho. Tá bom, nerd, vem cá, eu te ensino devagar. Não quero te traumatizar logo no primeiro dia.

Eu revirei os olhos, mas a verdade é que era impossível ficar irritado com ele por muito tempo. Ele tinha uma energia que puxava a gente junto, como se o quarto tivesse gravidade própria ao redor dele.

Passamos horas jogando. Eu errava tudo. Ele comemorava exageradamente cada gol. Às vezes ele deixava eu ganhar só pra depois reverter o placar e tirar sarro da minha cara. E, aos poucos, o quarto azul com troféus começou a parecer menos estranho, menos distante.

Quando dei por mim, a luz do sol tinha sumido, e o céu lá fora era um azul-escuro profundo.

Caíque pausou o jogo e se levantou.

— Espera aí. Vou ver se minha mãe chegou. — ele disse, saindo do quarto. — A gente precisa pensar na janta antes de morrer de fome.

Fiquei sentado na cama, deixando o controle de lado, ouvindo os passos dele ecoarem pelo corredor. Aproveitei para respirar fundo. A casa tinha um cheiro limpo, fresco, com um toque de floral que vinha sempre que alguma porta se abria. Talvez fosse algum aromatizador espalhado pelos cantos. Mas tinha também o cheiro mais suave, quase imperceptível, das roupas do Caíque: amaciante forte, macio, algo que lembrava aconchego.

Demorou alguns minutos até que ele voltasse e quando entrou no quarto, parecia… frustrado. Não muito, mas o suficiente para eu perceber.

Ele se jogou no sofá-cama do canto do quarto, soltando um suspiro pesado.

— Falei com a Olga. — começou.

— Quem é Olga? — perguntei.

— A governanta da casa. — ele respondeu, passando a mão no cabelo. — Basicamente… ela meio que me criou.

Ele deu uma risada pequena, sem humor.

— Minha mãe saiu pra resolver coisas de trabalho. Ainda não voltou. — ele falou, tentando soar neutro, mas falhando. — Eu achei que… sei lá. Como você tá aqui hoje, a gente ia ter pelo menos um jantar em família. Faz tempo que isso não acontece.

A tristeza dele não era dramática. Era silenciosa, quase escondida. E, talvez por isso, doeu mais.

Eu me aproximei um pouco.

— Você… fica muito tempo sozinho? — perguntei com cuidado.

Ele riu de novo, mas dessa vez foi baixa, sem vontade.

— Você viu seus pais hoje. Eles ligaram só pra saber se você tava bem. — ele disse, olhando para o chão. — Às vezes eu penso… que ninguém ia perceber se eu sumisse por uns dias.

Meu peito apertou.

Aquilo não era uma reclamação. Era uma verdade que ele estava acostumado a carregar e antes que eu percebesse, minha mão já tinha se estendido e segurado a dele.

— Você não tá mais sozinho, Caíque. — falei, sentindo a sinceridade sair quase sem controle. — Eu tô aqui.

Ele me olhou. De verdade. Os olhos dele encontraram os meus como se procurassem alguma coisa ali dentro. Tinha algo úmido nos cantos, mas antes que qualquer lágrima caísse, ele levantou num pulo rápido, quase teatral.

— Já sei! — disse alto, afastando-se da própria emoção. — A gente podia pedir pizza!

Eu ri, aliviado por ele não estar tentando se esconder completamente.

— Pizza? — perguntei.

— Sim! Pizza! — ele disse, já pegando o celular. — Você gosta de qual?

— Qualquer uma que não venha com coisa estranha.

— Tá. Calabresa com catupiry e frango com bacon. — ele decidiu sozinho. — Se não gostar, paciência. Eu gosto.

Eu ri mais uma vez.

Sentamos no sofá-cama enquanto esperávamos. Conversamos sobre jogos, sobre como eu tinha vivido minha vida até agora, sobre como ele queria jogar profissionalmente um dia. A pizza chegou, quentinha, perfumando o quarto com cheiro de queijo derretido e massa assada. Abrimos a caixa ali mesmo, jogando as pernas para cima, comendo como se o mundo fosse só aquele quarto azul e nossas risadas.

O tempo correu.

A noite caiu de vez, profunda e silenciosa. A luz do quarto ficou suave, iluminando nossos rostos enquanto falávamos sobre tudo e nada.

Quando percebi, a lua já batia pela janela. O sol já estava muito longe, e mesmo assim eu me senti estranhamente… em casa.

A pizza já tinha esfriado dentro da caixa aberta no chão, e nós dois estávamos jogados no sofá, cada vez mais quietos. A conversa, que antes parecia infinita, foi diminuindo aos poucos, até virar só respirações longas e pausadas. O sono começou a bater tão de leve que parecia um cobertor puxado devagar por cima de mim.

Caíque esticou os braços, espreguiçando-se.

— Acho que… deu pra hoje. — ele disse com um sorriso preguiçoso. — Vem, vamos arrumar as coisas pra dormir.

Levantei ainda meio mole e caminhei até a cama enquanto ele foi até o guarda-roupa. O quarto estava mais silencioso do que antes, mais íntimo, como se tivesse encolhido ao redor da gente.

Ele pegou um jogo de lençóis dobrados e me entregou.

— Dorme aqui. — disse com aquele tom simples, natural, como se não fosse grande coisa dividir uma cama de casal com alguém que ele conheceu ontem. — Eu fico no sofá, tranquilo.

— Tem certeza? — perguntei, segurando os lençóis meio sem jeito.

— Alec, relaxa. — ele riu baixinho. — Eu já dormi em lugar pior. O sofá é ótimo, eu juro. E eu… — ele deu de ombros — gosto de dormir lá às vezes.

Ele começou a arrumar minhas coisas na cama, esticando o lençol com cuidado, deixando tudo alinhado. Depois fez a mesma coisa no sofá-cama: travesseiro, cobertor dobrado, tudo com uma atenção delicada que eu não esperava de alguém tão elétrico quanto ele.

Quando terminou, foi até o canto do quarto e ligou o ar-condicionado. O barulho suave do aparelho preencheu o silêncio.

— Alexa — ele chamou. — apaga a luz do quarto.

E, como se fosse mágica, o quarto mergulhou na escuridão.

Apenas um filete de luz da rua entrava pela fresta da cortina, iluminando um pouquinho do teto. Eu me deitei, sentindo o colchão macio moldar minhas costas. Caíque se ajeitou no sofá, mexendo nos cobertores. A respiração dele foi desacelerando.

Uns dez minutos se passaram. Silêncio total.

Até que eu ouvi a voz dele, baixinha, quase tímida:

— Alec… obrigado por tudo. Eu adorei passar o dia com você.

Meu coração apertou. Eu ouvi perfeitamente, mas as palavras ficaram presas antes de saírem. O sono já estava pesado demais. Então eu só deixei o corpo relaxar e deixei que a escuridão me puxasse.

Quase no meio da madrugada, acordei sem entender por quê. Algo tinha se mexido na cama.

Demorei alguns segundos pra perceber: Caíque estava ali. Ele tinha saído do sofá. Quieto, cuidadoso, quase sem fazer barulho. Deitou atrás de mim, com um cuidado que ninguém jamais tinha tido comigo. Primeiro senti o colchão afundar um pouco, depois o calor dele encostando nas minhas costas, suave.

E então… o braço dele passou pela minha cintura. Lento, como se estivesse pedindo permissão. Eu não me mexi. Não falei nada. Não tinha medo. Só senti.

A mão dele encontrou a minha, e quando os dedos dele tocaram os meus, eu fechei a mão devagar, entrelaçando-os.

A respiração dele bateu atrás da minha nuca, quente, tranquila. Pela primeira vez em muito tempo, eu dormi com uma sensação estranha de… segurança. De que naquele momento, ali, não existia perigo nenhum no mundo.

E dormi.

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Meus amores, fico aguardando o retorno de vocês sobre o conto. Estou amando a interação por aqui 💙

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Comentários

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UMA ÓTIMA SENSAÇÃO DE SEGURANÇA ESSA DE DORMIR DE CONCHINHA. RSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS DORMIRAM DE CUECA??? OU SEM.

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Show, que delícia, voce continuou, obrigado. Um carente o outro tímido o carinho vai nascer e fluir naturalmente, mas pelo visto só um vai se apaixonar. Aguardando ansioso

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Quando tem leitores maravilhosos assim eu continuo 💙

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