O sol descia preguiçoso por trás dos morros de Fervedouro, queimando as últimas folhas secas do sertão mineiro com um dourado melancólico. Sueli, 28 anos, acabava de desembarcar do ônibus. Viera visitar a mãe doente, que insistia em fazer drama, mesmo que tivesse apenas uma virose forte. Na casa simples de alpendre azul, não encontrou descanso — nem silêncio, nem café. Apenas o gemido catarrento da velha e o cheiro de chá de boldo queimando no fogão a lenha.
Sueli saiu dali bufando. Pegou a velha bicicleta Caloi da mãe e pedalou morro abaixo até a represa. Precisava pensar, respirar, lembrar de quando sua vida não era um caos emocional regido por boletos, frustrações amorosas e um útero que só servia pra cólica.
Foi lá, sentadinha na beira da represa, com os pés dentro d’água, que ouviu:
— “Ê Suelita do Cerrado! Que saudade dessa xana nervosa!”
Ela olhou e arregalou os olhos. Era Rogério, seu melhor amigo de infância, hoje maquiador, fofoqueiro de Instagram e gay orgulhoso, com voz fina e andar rebolante que dava inveja até à prima Vanusa que dava aulas de dança do ventre.
— “Rogêêêê!” — ela gritou, levantando os braços como se ele fosse um helicóptero de resgate.
— “Você tá com a mesma cara de quem ainda dorme de conchinha com ansiedade e acorda com ressaca do pau errado!”
Se abraçaram. Riram. Fizeram piadas. Decidiram nadar, como nos velhos tempos.
— “Bora pelados, uai. Quem nunca viu cu de amigo, não teve infância de verdade”, disse Rogério, já tirando a bermuda.
Ambos mergulharam nus. A água estava morna, cheia de folhas boiando e um ou outro sapo coaxando do outro lado. Tudo ia bem até o grito.
— “AAAAAAAHHHHHHHHHHHH MEU DEUSSSS MINHA BUÇETAAAAAA!!”
Rogério, que nadava de costas e cantava uma música do Justin Bieber, se virou como um pato alarmado.
— “O quê?? O quê que foi, mulher??”
— “Rogério, uma COBRA! Me picou! BEM NA MINHA RACHA, CARALHO!”
Ela emergiu, cambaleando até a margem, com as mãos entre as pernas, sangue escorrendo e um rosto de puro pânico. A dor era aguda, pontiaguda, como se alguém tivesse enfiado uma agulha de tricô direto na buceta.
Rogério olhou. Trêmulo. Sem entender.
— “Cadê a cobra?!”
— “Foi simbora! Mas o veneno tá aqui! Rogério, chupa! CHUPA AGORA PRA TIRAR ESSA PORRA DE MIM!”
— “Tá maluca? Isso é um teatro experimental? Eu não boto a boca aí nem por um Oscar, nem por um Pix do Fábio Jr.!”
Mas Sueli estava ficando pálida. A respiração dela acelerava. Começou a tremer.
— “Rogério... é sério... eu vou MORRER!”
O mundo parou. Um sapo coaxou. Uma folha caiu. E na mente de Rogério surgiram os flashbacks:
A primeira vez que viu uma vagina, aos 10, num exemplar de “Saúde da Mulher” da tia Cida. Aquele órgão enrugado, misterioso, bochechudo, que parecia a boca de um camelo.
A tentativa com a prima Soraia, aos 14, que terminou com ele vomitando no bidê.
E agora... a missão de sua vida.
Ele se ajoelhou. Chorando.
— “Eu te odeio por isso, mas eu vou... eu vou... AI MEU DEUS ME PERDOA, PELO AMOR QUE TENHO A LOUIS VUITTON!”
Aproximou-se da região afetada. Sueli abriu as pernas, arqueando o corpo com dor e desespero.
— “É bem aqui... no lado esquerdo da buceta... um pouco acima do grelinho... vai com força, Rogê...”
— “Ai caralho, tem gosto de moeda velha e suor de feirante... isso não é buceta, é um desafio de No Limite!”
Ele sugava. Forte. Cuspia. Voltava. As mãos trêmulas segurando as coxas dela.
— “Tá funcionando?”
— “Não sei... tô tonta... mas acho que tô ficando molhada...”
— “MOLHADA DE QUÊ, MULHER? É O VENENO OU O TESÃO?”
— “Acho que é trauma mesmo. Mas chupa a minha buceta, Rogê, não para!”
O rosto dele se contraiu como quem estava mordendo um limão.
Lambeu. Sugou. Cuspiu. Teve ânsia. Cuspiu de novo.
— “É muita dobra, Sueli. Isso aqui parece uma bolsa da Gucci depois do apocalipse... tem até areia!”
— “Tira essa porra de veneno antes que meu grelo fique do tamanho de um cogumelo, porra!”
— “Pega minha bolsa com os documentos e me leva pro posto! Mas se eu morrer, você herda minha coleção de vibradores!”
Pegaram a bicicleta. Rogério pedalava com ela ensanguentada na garupa, gritando feito sirene de ambulância.
No posto, Sueli foi atendida. Tomou o soro. Salvou-se. Mas Rogério... ficou em estado de choque.
— “Ele tá calado faz duas horas, só balbucia ‘grelo, grelo, grelo’ enquanto lambe um sabonete”, disse a enfermeira.
Epílogo 🎭
Meses depois, já recuperada, Sueli se encontrou com Rogério num barzinho LGBTQIA+ de Juiz de Fora.
— “Ainda traumatizado?”
— “Menina, toda vez que vejo uma pêra cortada ao meio eu tenho uma crise de pânico.”
— “Mas você salvou minha vida.”
— “Salvei sua xereca do veneno, sim. Mas minha alma? Essa foi pro brejo junto com a cobra.”
Brindaram. Riram. Sueli tatuou uma jararaca perto da virilha com a frase: "Salva pela Boca de um Viado".
Rogério virou lenda entre os amigos: “O único gay que já fez oral numa mulher por emergência médica.”
E juntos, reafirmaram a amizade com um abraço apertado — o único tipo de contato íntimo que ele aceitaria dali pra frente. Porque se uma coisa ficou clara, é que Rogério gosta mesmo é de rola. E só. 🍆💋
