Entre a ganância e o amor capítulo quatro

Um conto erótico de Anjo Cigano
Categoria: Heterossexual
Contém 8651 palavras
Data: 19/10/2025 04:03:18

Bora galera esse capítulo tá extremamente quente! Nossa história terá três fases e estamos caminhando pro final da primeira, aonde conhecemos o caráter e os segredos dos personagens. Quem tiver acompanhando deixe um comentário!

Lia estava sentada à beira da cama, o cabelo desgrenhado, o olhar vazio mirando o estrago do quarto. O chão coberto de perfume, o espelho trincado, cacos brilhando sob a luz fria que entrava pelas cortinas. O cheiro doce e enjoativo de Chanel parecia zombar dela, como se o próprio quarto a lembrasse do colapso da noite anterior.

Ela passou as mãos pelo rosto, sentindo o rímel seco, e respirou fundo, o peito ainda pesado. Apertou a campainha da criada.

— Chama a Marilene. Agora.

Poucos minutos depois, a faxineira apareceu à porta, tímida, os olhos baixos, o pano de chão nas mãos.

Lia não olhou pra ela. Apenas apontou para o chão.

— Limpa isso. Tira tudo. — A voz saiu fria, rouca, sem emoção. — E traz outro espelho.

Marilene assentiu, em silêncio, começando o trabalho com movimentos cautelosos. Lia observava, com os olhos perdidos, o cheiro do álcool se misturando ao do perfume derramado.

Por dentro, uma parte dela queria gritar, pedir pra mulher sair, pra deixá-la deitada na própria sujeira. Mas não — a máscara precisava voltar. Sempre voltava.

Quando a faxineira terminou e saiu, o quarto voltou à ordem. O chão limpo, o espelho novo. Mas o vazio ficou.

Lia se olhou e não se reconheceu. Havia uma mulher linda, vestida de seda, mas o que via era uma sombra: uma mistura de culpa, ciúme e amargura.

Bateu à porta um som leve. Risadas jovens, frescas. Gemma e Luciana passavam pelo corredor, rindo de alguma bobagem, carregando a gaiola dos periquitos. Lia ouviu o som da menina — doce, natural, vivo.

Aquele riso acendeu nela um fogo estranho. Um incômodo visceral.

Gemma.

Aquela menina que nada sabia do mundo, que andava pelos jardins com flores no cabelo e olhava pra Antônio com aquela inocência boba.

Lia apertou os punhos. Uma raiva seca subiu do estômago, sem sentido, mas real.

Por quê ela?

Saiu do quarto sem pensar, o salto batendo firme no piso de madeira. No corredor, deu de cara com Gemma e Luciana.

— Tia Lia! — Gemma sorriu, radiante, segurando a gaiola. — Olha! Bicudo e Biquinha já tão cantando de novo!

Lia forçou um sorriso que não alcançou os olhos. A menina estava linda — o cabelo preso, as bochechas coradas, o olhar limpo.

E aquele brilho em torno do nome Tonho que ela insistia em repetir.

— Que bom, querida — respondeu, a voz mansa, mas com o veneno já se formando na língua. — Só toma cuidado pra não quebrar o chão com esse peso todo, viu?

Gemma piscou, confusa.

— Peso…?

Lia sorriu, com frieza.

— É. Cê anda comendo demais, menina. Tá ficando gordinha.

O corredor ficou em silêncio. Luciana arregalou os olhos. Gemma baixou o olhar, sem entender, os lábios trêmulos.

Lia viu — e por um instante sentiu prazer. Um prazer podre, doentio, vindo do mesmo buraco escuro onde guardava o ciúme e o ódio de si mesma.

As meninas seguiram em silêncio, e Lia voltou pro quarto.

Assim que fechou a porta, o arrependimento caiu sobre ela como uma maré pesada.

Encostou-se na parede e deixou o corpo escorregar até o chão.

— Que merda eu tô fazendo… — sussurrou.

Cobriu o rosto com as mãos, envergonhada do próprio veneno.

Gemma nunca lhe fizera mal algum. Era só uma menina — pura, boa, cheia de vida. E Lia, com toda sua beleza, seus vestidos e perfumes caros, se tornava menor do que um grão de pó diante daquela pureza.

As lágrimas voltaram, silenciosas.

— Eu virei minha mãe… — disse, com nojo de si mesma.

O espelho novo refletia sua imagem perfeita, mas Lia já sabia: por dentro, estava apodrecendo.

Gemma entrou no quarto calada, segurando a gaiola com tanto cuidado que parecia medo de quebrar. Bicudo e Biquinha piavam, alheios ao que tinha acabado de acontecer. Ela colocou a gaiola na cômoda e ficou parada, o rosto meio pálido, o olhar perdido.

Luciana veio logo atrás, ainda com o coração batendo rápido. Tinha ouvido tudo — cada palavra da tia Lia, dita com aquele veneno frio, e viu o rostinho da amiga murchar como flor cortada.

— Gemma… — chamou baixo. — Não liga pra ela, vai.

Gemma não respondeu. Ficou diante do espelho, os dedos torcendo a barra do vestido.

— Ela disse que eu tô ficando gorda… — sussurrou. — E ela é tão bonita, Lu… deve tá certa.

Luciana cruzou os braços, brava do jeito que criança fica quando sente injustiça.

— Bonita nada! Ela só é velha e se pinta demais! — rebateu. — E mesmo se fosse bonita, isso não dá direito de falar besteira.

Gemma virou o rosto, os olhos marejados.

— Mas eu ouvi, Lu… todo mundo ouviu.

Luciana deu dois passos, ficou ao lado dela, olhando o reflexo das duas no espelho: uma menina chorando, a outra firme, mas com os olhos brilhando de raiva.

— Cê tá vendo a mesma coisa que eu? — perguntou. — Eu tô vendo uma menina linda, de vestido azul, com cabelo bonito e coração gigante. É isso que eu vejo.

Gemma tentou rir, mas saiu um soluço.

Luciana segurou a mão dela.

— Não chora por causa da tia Lia, tá? Ela fala essas coisas porque é triste. Gente triste quer deixar os outros tristes também.

Gemma fungou, olhando o chão.

— Cê acha mesmo que eu não sou feia?

Luciana suspirou e apertou a mão da amiga.

— Se você é feia, então o mundo inteiro é.

As duas riram baixinho, uma risada pequena, tímida, mas suficiente pra quebrar o peso que ainda pairava no ar.

Gemma encostou a cabeça no ombro dela e ficou em silêncio. Lá fora, os periquitos cantavam, e por um instante o quarto ficou leve de novo — como se nada ruim tivesse acontecido.

Luciana sorriu, olhando o reflexo no espelho.

— Viu? Assim é melhor. Quando você ri, fica até mais bonita.

Gemma riu de verdade dessa vez, e o espelho, cúmplice, devolveu as duas — duas meninas, ainda inteiras, protegendo uma à outra do mundo adulto que começava a apodrecer em volta delas.

Naquela mesma noite…

A casinha dos fundos cheirava a alho refogado e panela de ferro. A cozinha pequena, acesa só pela luz amarela do teto, parecia um refúgio em meio àquele mundo de porcelana e gente fria da casa principal.

Mauro estava sentado à cabeceira, a camisa aberta no peito, rindo de alguma piada que ele mesmo contara. Vera servia a mesa — arroz soltinho, feijão grosso, bife acebolado. E, do outro lado, Luciana mexia a comida no prato, calada, os olhos baixos.

Antônio estava lá também, encostado na cadeira, o corpo cansado depois de um dia inteiro mexendo no carro de Patrick. Gostava daqueles jantares. A comida de Vera lembrava o tempo em que ainda acreditava que a vida podia ser simples.

Mas naquela noite, o ar estava diferente.

Mauro percebeu primeiro.

— Que foi, Lu? Tá quieta. Cadê a Gemma? Ela não vem hoje, não?

Luciana hesitou. A colher parou no ar.

— Não… — respondeu, devagar. — Disse que não tava com fome.

Antônio levantou o olhar.

Gemma nunca dizia que não tava com fome.

Desde que a conhecera ela fugia da casa grande pra jantar ali, com eles — dizia que a comida de Vera “tinha cheiro de abraço”.

Vera cruzou os braços.

— Estranho isso. A menina adora comer aqui. Brigaram, foi?

Luciana suspirou. Os olhos marejaram antes das palavras saírem.

— A tia Lia chamou ela de gorda. Na frente de todo mundo.

O garfo caiu do prato de Mauro, fazendo barulho seco.

— O quê?

Luciana assentiu, mordendo o lábio.

— Ela tava toda feliz, mostrando os passarinhos. Aí a tia Lia olhou e disse isso. A Gemma ficou branca. Nem quis mais brincar.

Um silêncio pesado tomou conta da mesa. O único som era o estalar da frigideira no fogão.

Vera balançou a cabeça devagar, a voz cheia de tristeza.

— Aquela mulher é doente. Vive se olhando no espelho e achando que o mundo gira em volta dela. Agora quer estragar a cabeça da menina também.

Mauro bufou, com raiva.

— Se eu tivesse ouvido, tinha dito umas verdades pra madame.

Antônio não disse nada. Ficou parado, olhando o prato, o maxilar travado. O garfo entre os dedos tremia um pouco.

— Ela chorou? — perguntou, a voz baixa.

Luciana assentiu.

— Chorou escondido. Eu fui atrás, ela dizia que a tia tava certa…

Antônio fechou os olhos por um instante. O sangue subiu quente, uma mistura de raiva e impotência.

Imaginou Gemma sozinha, se achando feia, comendo o choro no travesseiro — e a patroa, cheia de joias e remorso, dormindo tranquila no quarto de cima.

— Aquela mulher não presta. — disse Mauro, seco. — Nem alma tem.

Vera tentou quebrar o clima, servindo mais arroz.

— Come, Tonho. Ficar com raiva não resolve.

Mas ele não comeu.

Ficou quieto, os olhos perdidos na janela, de onde se via o clarão da casa grande.

Lá em cima, Lia devia estar de roupão, tomando o vinho caro que Patrick trazia da França.

E Gemma — a menina que ainda acreditava em bondade — devia estar sozinha no quarto, acreditando que era mesmo “gorda”.

Antônio respirou fundo, empurrou o prato pra frente e murmurou, baixo, quase pra si mesmo:

— Se ela faz isso de novo, eu falo. Nem que me mandem embora.

Mauro o olhou de lado, surpreso, mas não disse nada.

Sabia bem o que aquele tom significava: Tonho estava por um fio.

E enquanto Vera recolhia os pratos e Luciana tentava disfarçar o choro, Antônio olhou pela janela mais uma vez, o punho fechado sobre a mesa.

Lá fora, o vento sacudia as árvores, e o som distante de um piano vinha da mansão — como se o luxo zombasse da dor que ele e os outros carregavam nos fundos.

A manhã seguinte amanheceu abafada, um daqueles dias em que o ar pesa antes mesmo do sol subir. Lia acordou cedo, os olhos fundos, o corpo cansado, mas havia algo diferente — uma urgência estranha, uma necessidade de se redimir de algo que nem ela sabia nomear.

Tomou o café em silêncio, ignorando o jornal que Patrick lia com o costume metódico de sempre. O francês falava sobre negócios, sobre a expansão da empresa, sobre “responsabilidade social”. Lia mal ouvia. Estava decidida a sair.

— Mon amour, vai sair? — ele perguntou, levantando os olhos do jornal.

— Vou ao shopping — respondeu, fria. — Preciso comprar umas coisas.

Patrick assentiu, satisfeito. Adorava quando ela aparecia em público; gostava de ser visto ao lado da esposa linda, elegante, símbolo de status. “Faz bem à imagem”, dizia sempre. E quando ela dizia que queria gastar, ele apenas sorria. Era, afinal, o que ele fazia de melhor: pagar.

O shopping brilhava, estéril, cheio de cheiros doces e vitrines reluzentes. Lia passou pelas lojas como uma aparição — o salto seco, o vestido claro, a expressão impassível. Mas dentro, algo fervia.

Parou na Sephora.

O som das embalagens abrindo, o cheiro de maquiagem nova, o riso das vendedoras jovens — tudo a entorpecia.

— Quero todos completos — disse, com a voz polida, automática. — Base, sombra, batom, pincéis… tudo. Um pra cada menina.

A balconista piscou, confusa.

— Pra presente?

— Pra… as minhas meninas — respondeu Lia, quase num sussurro. — Gemma e Luciana filha da Vera.

Pagou sem olhar o preço. As sacolas eram leves, mas o gesto pesava. Havia arrependimento travestido de generosidade, culpa disfarçada de luxo.

Enquanto caminhava até o estacionamento, pensou em Patrick.

Ele sempre pagava tudo — as contas, os tratamentos, até os cursos das meninas da casa. Fazia questão de mostrar o lado “caridoso”, e Lia sabia que, no fundo, ele era um bom homem. Um homem que a amava do jeito que sabia: com conforto e decência.

Mas ela não o amava de volta. E isso doía mais nele do que nela.

No carro, sozinha, com as sacolas ao lado, Lia encostou a cabeça no vidro.

A lembrança veio sem pedir.

Gemma recém-nascida.

O choro fraco, o cobertor rosa, o olhar de Aurora antes de morrer.

A vergonha da família.

“A filha da vagabunda”, Suzete dissera, fria, logo depois do parto.

Lia, com o coração ainda remendado pelo terceiro aborto, olhou aquele bebê minúsculo e sentiu algo se quebrar dentro dela.

Segurou Gemma no colo e, pela primeira vez em meses, chorou.

Um choro limpo, silencioso, cheio de culpa e ternura.

Lembrava-se de ter passado horas embalando a menina, cantando baixinho, escondida da mãe. O cheiro de leite, a pele macia, aquele olhar escuro que parecia reconhecer tudo.

— Você vai ser linda, minha pequena — sussurrou então. — Tudo que eu não pude ter, você vai ter.

Agora, no carro, tantos anos depois, Lia sentia o peso daquela promessa não cumprida.

A menina crescera, viva, luminosa, e Lia — presa entre arrependimento e inveja — havia se tornado a mesma mulher amarga que jurou não ser.

Olhou as sacolas no banco e suspirou.

— Eu te machuquei, né, Gemma? — murmurou, a voz trêmula. — E tudo que eu queria era te proteger…

O semáforo ficou verde. Lia arrancou o carro com força, o rosto molhado de lágrimas que ela fingia não existir.

Ao fundo, no rádio, uma música antiga tocava, suave e cruel:

“Tout l’amour que j’ai pour toi…”

E Lia, perdida entre o luxo e a loucura, seguiu dirigindo — tentando comprar com batons e perfumes o que a vida já lhe negara: perdão.

O fim de tarde tinha cheiro de terra molhada. No jardim, Gemma e Luciana brincavam descalças, rindo, as saias levantadas pelo vento, os cabelos soltos e sujos de grama. Antônio passara por elas mais cedo, voltando da oficina, e ambas tinham ficado rindo baixinho do jeito sério dele.

Quando o motor importado soou na entrada, o riso parou. O carro preto parou rente ao jardim, e Lia desceu — salto fino, óculos enormes, perfume de mulher rica cortando o ar. As duas ficaram imóveis, sem saber se corriam ou esperavam.

Lia trazia três sacolas de papel brilhante, com fitas douradas. Parecia calma, mas havia algo estranho no rosto — um misto de doçura e desespero.

— Olha só vocês duas… — disse, num tom que tentava soar leve. — Descalças, sujas de grama… parecem bichinhos do mato.

Gemma, sorridente, deu dois passos à frente.

— A gente tava brincando de casar os passarinhos, tia Lia!

Lia sorriu, um sorriso torto.

— Que lindas… — murmurou, e se abaixou devagar, pousando as sacolas no banco de pedra. — Trouxe um presente pra vocês.

Luciana, tímida, olhou pra Gemma, sem se mover.

— Pra gente? — perguntou, com um fio de voz. — Eu também?

Lia olhou pra ela. A menina era filha da empregada, e aquele olhar desconfiado, quase assustado, a atravessou feito faca.

— Claro que sim, Luciana. Você também. — disse, e estendeu a sacola mais leve, com um pequeno sorriso. — Toda menina merece um mimo.

Luciana pegou o pacote com cuidado, sem acreditar.

— Obrigada, dona Lia. — murmurou, corando.

Lia se virou pra Gemma e abriu uma das caixas. Dentro, um estojo de maquiagem — sombras, pincéis, batom, tudo caro.

— Pra quando quiser brincar de ser mulher. — disse, a voz macia. — Mas só brincar, tá?

Gemma arregalou os olhos.

— É lindo! Nunca tive nada assim!

Lia a puxou de repente pro colo, como quem precisa sentir o peso de algo vivo pra lembrar que ainda existe. Gemma se ajeitou, surpresa, e Lia encostou os lábios na testa da menina.

O beijo foi demorado. Um beijo de arrependimento.

E, por um instante, parecia que o tempo recuava.

Porque Lia lembrava — lembrava da noite em que Gemma nasceu.

Lembrava do choro fraco, do corpo pequeno embrulhado num lençol.

Lembrava de Aurora, sua irmã, morrendo no parto.

Lembrava da vergonha, das palavras duras da mãe, e dela mesma — recém-saída do terceiro aborto — olhando aquela criança e sentindo, pela primeira vez, algo que parecia amor e dor ao mesmo tempo.

Tinha embalado Gemma escondida, noites inteiras, cantando baixo pra não ser ouvida.

Aquele amor proibido, remendado de culpa, agora voltava e a feria de novo.

Luciana, parada ao lado, observava. Lia a olhou por um instante — a filha de Vera, com o mesmo olhar firme da mãe, uma menina que a lembrava da vida que poderia ter tido se fosse mais simples.

Lia se levantou, recompondo o vestido.

— Quero ver vocês duas se divertindo, mas sem bagunça, hein? — disse, forçando leveza. — Guardem as coisas direitinho.

As meninas assentiram, encantadas. Lia sorriu, e foi entrando pela casa.

Mas quando atravessou a porta, o sorriso caiu. O peito ardia.

O gesto que deveria trazer alívio só abriu mais o buraco.

No fundo, sabia que aquele carinho não era generosidade — era penitência.

E, enquanto subia as escadas, as risadas de Gemma e Luciana ecoavam lá fora, puras, limpas, como o som de um tempo que Lia nunca mais teria.

O quarto de Gemma estava tomado por um brilho que elas nunca tinham visto.

A cama estava coberta de caixas abertas, papel de seda e fitas douradas. As embalagens cheiravam a coisa cara — aquele cheiro de loja fria, de gente rica, de “não encosta que suja”. Mas agora, tudo era delas.

Gemma, de joelhos sobre o colchão, tirava uma paleta de sombras da caixa com cuidado, como se fosse uma joia.

— Olha isso, Lu… Urban Decay! — sussurrou, encantada. — É importada, viu? Igual das revistas!

Luciana, ainda meio sem acreditar, segurava um batom preto e dourado com as letras MAC gravadas no topo.

— Meu Deus do céu… — murmurou, virando o batom nas mãos. — Isso aqui deve custar o salário do meu pai.

Gemma riu, mas o riso vinha misturado com espanto.

— A tia Lia comprou um monte. Disse que era pra gente brincar de ser mulher.

Na colcha, espalhavam-se pincéis macios, lápis de olho, rímel, frascos de perfume e até um estojo de blush que parecia coisa de cinema. As cores, as texturas, tudo brilhava.

Luciana pegou um espelho pequeno e se olhou com cuidado.

— Acho que nem sei usar isso. — confessou, rindo nervosa. — A mamãe vai surtar se eu aparecer pintada desse jeito.

Gemma, curiosa, abriu outro batom e fez um traço vermelho na própria mão. O cheiro era doce, forte, de coisa cara.

— Bonito, né? — disse, encantada.

Luciana assentiu, mas ainda havia hesitação no olhar.

— Ela comprou mesmo pra gente? Pra mim também?

— Pra você também. — respondeu Gemma, firme. — Ela falou “pras minhas meninas”.

Luciana mordeu o lábio, surpresa, sem saber o que sentir.

— Estranho… ela nunca fala comigo direito.

Gemma ficou em silêncio. O rosto dela ainda guardava o peso do que Lia dissera dias antes, mas naquele instante, diante daquele monte de beleza cintilante, era como se uma parte da ferida tivesse sido coberta com brilho e cor.

— Talvez ela tenha se arrependido… — arriscou, com um meio sorriso.

Luciana bufou, meio cética.

— Tua tia se arrepender? Sei não, viu. Mas… — abriu um estojo e mergulhou o dedo na sombra cor de cobre. — Que coisa linda! Parece ouro de verdade.

As duas riram. Gemma pegou o pincel e passou de leve na pálpebra da amiga, concentrada como quem faz arte.

Luciana piscou, olhou no espelho e deu um gritinho.

— Gemma! Fiquei parecendo modelo!

— Tá linda! — disse Gemma, rindo. — Agora é minha vez!

Luciana retribuiu, passando batom nela, meio torto, meio borrado. As duas gargalharam. Por alguns minutos, eram só duas meninas brincando de adultas, sem culpa, sem medo, cercadas por cores e risadas.

O quarto estava uma bagunça bonita — fitas no chão, caixas abertas, espelhos refletindo sorrisos. Lá fora, a luz do entardecer entrava pelas cortinas e dourava o quarto inteiro.

Gemma olhou as sacolas, suspirou e disse baixo, como quem ainda tenta entender:

— Acho que a tia queria ser nossa amiga hoje.

Luciana encostou o queixo na mão e respondeu, com um olhar maduro demais pra idade:

— Ou queria se sentir gente.

Gemma ficou quieta.

E o quarto seguiu cheio de brilho, riso e um leve cheiro de batom caro — bonito e triste ao mesmo tempo, como tudo que vinha de Lia.

Patrick subiu as escadas devagar, com o paletó pendurado no ombro e o rosto tranquilo de quem acredita ter o controle da própria casa.

A mansão estava silenciosa, só o som distante das risadas de Gemma e Luciana vinha do andar de cima — leve, inocente, como música de fundo.

Ele passou pela sala e parou diante do piano, onde duas taças de vinho ainda repousavam — Lia havia tomado uma delas mais cedo. O aroma doce e familiar ainda pairava no ar. Sorriu.

— Ma femme anda de bom humor hoje… — murmurou, satisfeito.

Nos últimos dias, tinha notado nela algo diferente: o olhar menos frio, a voz mais suave, até o modo de tocar os talheres no jantar. Patrick gostava de pensar que era por causa dele — de sua paciência, da estabilidade, do conforto que oferecia.

“Lia é intensa”, dizia aos amigos franceses. “Mas no fundo, é só uma mulher que precisa de carinho.”

E, naquela noite, ele se sentia pronto pra isso.

Subiu o último degrau e parou diante da porta do quarto. Bateu de leve, um gesto elegante que mantinha o costume europeu, e entrou sem esperar resposta.

Lia estava em frente ao espelho, o vestido de seda caindo sobre o corpo como se o moldasse. O quarto cheirava a perfume e remorso.

Ela penteava o cabelo devagar, o rosto sereno, quase ausente.

Patrick parou na soleira, observando.

— Mon dieu, como você está linda. — disse, sincero. — Faz tempo que não te vejo assim… tão calma.

Lia ergueu os olhos pelo reflexo, um sorriso breve.

— Fui às compras. — respondeu. — Precisava pensar em outras coisas.

— Vi os presentes das meninas. — ele se aproximou, tocando de leve o ombro dela. — Foi um gesto bonito, très touchant. Eu fiquei orgulhoso de você.

Ela desviou o olhar, incômoda.

Patrick, porém, não percebeu o desconforto.

— Você tem um coração bom, Lia. Às vezes não mostra, mas eu sei.

Ele se inclinou e beijou a nuca dela com cuidado, o gesto cheio de respeito e desejo contido.

Lia fechou os olhos.

Não por prazer — por lembrança.

Aquele toque, tão correto, tão previsível, não a fazia estremecer.

Mas ela não recuou. Deixou que ele acreditasse.

Patrick passou os braços ao redor da cintura dela, o perfume dela o entorpecendo.

— Ma belle, vem pra cama. — sussurrou, o francês escapando macio da língua. — Quero você comigo esta noite.

Lia respirou fundo. O corpo respondeu mecanicamente: os passos lentos, o sorriso leve, o olhar dócil.

Por dentro, no entanto, a mente fugia. Fugia pra outro tempo, outro toque, outro homem.

Patrick a conduziu até a cama com gentileza.

— Hoje, não pense em nada, d’accord? — disse, acariciando o rosto dela. — Só nós dois.

Ela assentiu, fingindo acreditar.

E enquanto ele a beijava com ternura, Lia sentia o corpo ali — mas o coração distante, preso ao eco de um nome que não ousava pronunciar.

Um nome que queimava no peito mesmo quando o marido a amava com todo o cuidado do mundo.

Patrick sussurrou um “je t’aime” sincero.

E Lia, de olhos abertos, respondeu baixinho:

— Eu também.

Mas era mentira.

E a mentira, dita com tanta doçura, doía mais do que qualquer pecado.

Lia sabia que devia tudo a Patrick e no fundo gostava dele, mas era uma cadela que vivia no cio e os toques contidos do marido, não a satisfaziam. Senti falta da pegada de Antonio das mãos calejadas apertando sua bunda, do dedo grande entrando em sua buceta encharcada após antes ter-lhe atormentado grelo com os toques que só ele sabia fazer.

E o boquete? Ah… O boquete… Como ela ama amava chupar aquela chapeleta grossa e babona, amava ver o pau do motorista babar assim que saía da cueca e ela fazia questão de chupar todo líquido agridoce antes de enfiar todo aquele mastro de 19 cm, dentro da sua boca. Amava a forma como seu macho puxava seus cabelos e quando ele batia com a rola em sua cara, era o paraíso! Lia se sentia uma verdadeira puta daquelas mais baratas mas a que mais agradável o seu Tonho. Com o marido, o sexo oral era diferente… Ele não fazia questão que Lia se ajoelhasse, ela sempre chupava com ele deitado enquanto ele murmurava doces sacanagens em francês, parecia até que estava cantando Piaff…

Não agarrava seus cabelos e nem socava a pica até a sua garganta, tampouco gozava em sua boca Patrick era contido, para ele ela não era a biscate, a quenga de luxo, a cadela que Antônio via nela, Patrick, tinha medo de ofendê-la de quebrar aquele cristal. Comer o seu cu? Isso nem pensar… ela gostava e até queria mas ele não dava chance, enquanto Antônio não perdia a oportunidade de socar o caralho no anel Zinho aristocrático dela.

A foda, ou melhor o amor, seguiu calmo quase protocolar… li chupou o pau do marido por alguns minutos enquanto ele gemia doucemant… quando sentiu que ia gozar foi a vez de inverter os papéis, Patrick se ajoelhou entre as pernas da esposa e lhe deu um sexo oral, gostoso até, a língua serpenteava o grelo de forma provocante, o dedo entrava no canal fazendo um vai e vem, enquanto ela de olhos fechados só imaginava Antônio ali até pra chupar a buceta ele era diferente, gostava de meter a língua bem no fundo enquanto socava um dedo no seu cu. E foi assim só pensando no seu motorista, que Lia gozou…

Docemente, Patrick se acomodou entre suas pernas e a penetrou profunda e lentamente, ao contrário de Antônio que socava a rola com tudo no útero dela fazendo gemer muitas vezes de uma dor deliciosa, nesse momento enquanto marido fazia a dança mais antiga do mundo em cima dela de forma carinhosa, mas que ele jurava que era extremamente sexy, a madame teve que se segurar para não rir… Vai ver era por isso que Tonho a havia engravidado já quatro vezes enquanto Patrick nunca chegara nem perto… Lia fechou os olhos quase rindo, queria acreditar naquilo mas sabia que tantos abortos haviam deixado estéril, só não queria admitir, dentro de si ainda havia um misto de loucura e esperança achando que iria engravidar do marido.

Quando o Patrick gozou, com uma declaração de amor em francês, lia fingiu muito bem que havia gozado junto isso graças aos pensamentos em Antonio, na forma como ele mandava mexer no grelo quando queria que ela gozasse junto, então deixou-se cair exausta ao lado do marido Que tinha o sorriso mais feliz do mundo.

E no misto de loucura, esperança e um que de maldade, de pura crueldade ela disse:

— Mon amour… nunca gozei tanto acho até que agora fizemos nosso bebé!

A noite tinha gosto de vitória e cerveja gelada.

A casinha dos fundos de Mauro vibrava com risada, cheiro de carne na chapa e o som de tampinhas batendo na mesa.

Antônio, Mauro e Dico estavam sentados no quintal, em volta da mesinha de madeira que já tinha visto de tudo — brigas, confidências, planos malucos. Mas agora, pela primeira vez em muito tempo, o assunto era bom.

Mauro ergueu a garrafa e brindou com força:

— À Frota Fênix! Quatro carros na rua, porra! A gente tá voando, Tonho!

Antônio riu, aquele riso curto, meio incrédulo.

— Quem diria, hein? Quatro táxis. Daqui a pouco tão chamando a gente de empresa.

Dico, o mais novo, já meio alegre da bebida, completou:

— Empresa nada, patrão! Isso aqui é império!

Os três riram alto, o som ecoando pelos fundos da mansão dos Fabbri. Lá dentro, o luxo dormia; lá fora, a vida pulsava de verdade.

Mauro deu um gole longo e falou com a empolgação de quem acredita:

— Cês lembram de quando o primeiro carro que a gente comprou mal pegava? Aquele Monza 96 que tinha que empurrar pra sair da garagem?

Antônio ergueu a garrafa, rindo.

— Lembro. E eu ainda duvidava que a gente ia ter uma frota. Cês riam da minha cara.

— E a gente tem! — gritou Dico, batendo na mesa. — Quatro carros, caralho! E tudo em nome limpo, sem depender de nenhum Fabbri pra nada!

O nome Fabbri fez o riso de Antônio diminuir.

Ele deu outro gole, olhando pro chão, pensativo.

— É… agora a gente é dono do próprio destino.

Mauro percebeu o tom e mudou de assunto rápido.

— E a placa do quarto carro, hein? Bonita demais. Tô até pensando em mandar pintar com o logo novo.

Antônio assentiu, mais leve.

— “Frota Fênix”. — repetiu o nome, saboreando as palavras. — A gente renasceu mesmo, né?

Mauro bateu no ombro dele.

— Renasceu, e dessa vez pra nunca mais ser capacho de ninguém.

O riso voltou, o brinde também. As garrafas se chocaram, a espuma escorreu pelos dedos, e o som era de alegria simples — aquela que nasce do suor e da teimosia.

Antônio olhou pro céu, a brisa fria batendo no rosto, e pela primeira vez em anos sentiu orgulho de si mesmo.

Nada de mansões, perfumes franceses ou promessas vazias.

Só ele, os amigos, e quatro carros na rua com o nome que escolheram juntos.

A Frota Fênix estava viva — e, pela primeira vez, Antônio também.

Era fim de tarde, o sol se enfiando atrás dos telhados, e a casinha dos fundos fervia em riso e cerveja.

A mesa estava coberta de notas amassadas, planilhas rabiscadas e três copos pela metade. Era o primeiro fechamento do mês — o primeiro lucro real da Frota Fênix.

Dico contava o dinheiro em voz alta, empolgado como criança:

— Um, dois, três mil e oitocentos! Cês têm noção disso? A gente não deve um centavo pra ninguém!

Mauro ergueu a garrafa, gargalhando.

— Caralho, Tonho, a gente tá ficando ricos, hein? Daqui a pouco você vai de terno pra garagem!

Antônio riu, aquele riso calmo e sincero, mas o olhar distante denunciava que ele pensava em outra coisa.

— Rico não. Só livre. Já vale mais que qualquer fortuna.

Dico continuou anotando, Mauro zoando, e a noite foi ficando leve. Mas Antônio, enquanto olhava os números na mesa, lembrava de outra conta — a que não fechava dentro dele.

Gemma.

Tinha ouvido de Vera, dias atrás, que a menina andava comendo pouco. Que dizia estar de dieta. Que vivia se olhando no espelho, achando que tava “gorda”.

Desde o dia em que Lia a humilhara, Gemma nunca mais foi a mesma.

Antônio pegou uma nota do bolo e guardou no bolso.

— Amanhã cedo dou um pulo no centro.

Mauro levantou a sobrancelha, já rindo:

— Vai comprar o quê? Outro jogo de roda pro Gol?

Antônio negou, sério, mas com um sorriso no canto da boca.

— Ovo de Páscoa.

— Quê? — Dico arregalou os olhos. — Você tá de sacanagem, Tonho.

— Um pra Gemma e outro pra Lu. — explicou, calmo. — E um coelho de pelúcia pra cada. Elas são meninas, porra. Merecem coisa boa.

Mauro soltou uma gargalhada.

— Você é foda, cara. As menina ganham presente de Páscoa do motorista!

Antônio riu junto, mas o olhar continuava firme.

— Que se dane. Se o mundo fosse cheio de patrão igual a Lia, ninguém sorria. As menina precisam saber que ainda tem gente que olha pra elas com carinho, não com veneno.

Mauro balançou a cabeça, abrindo mais uma cerveja.

— Sabe o que você é, Tonho? Um trouxa de coração bom. — disse, mas o tom era de respeito. — Mas é isso que te faz diferente, irmão.

Antônio deu um gole, olhou o céu escurecendo e murmurou:

— Se um doce faz ela sorrir de novo, já vale o lucro inteiro.

No dia seguinte, comprou dois ovos enormes — os maiores da vitrine — e dois coelhos de pelúcia macios, um azul e um rosa.

Saiu da loja com as sacolas na mão e o peito leve, como se cada passo fosse uma pequena vitória contra a tristeza que cercava aquela casa rica e infeliz.

Porque, pra Antônio, o verdadeiro lucro não era o dinheiro —

era ver as meninas rindo, lembrando que o mundo ainda podia ser bom.

O centro fervia de gente, e o sábado parecia mais vivo que nunca. Antônio caminhava com as mãos nos bolsos, o sol batendo forte na cabeça, e um sorriso manso no rosto.

Era dia de gastar — mas por um bom motivo.

A Frota Fênix tinha fechado o primeiro mês no azul, e ele já sabia o que queria fazer com parte do lucro. Vera, como sempre, estava em casa preparando os ovos de Páscoa caseiros, aqueles cheios de recheio e cheiro de chocolate de verdade. Todo ano fazia um pra Luciana e outro pra Gemma, com os nomes desenhados em glacê.

Mas, dessa vez, Antônio queria fazer algo diferente.

Entrou na loja de doces da rua principal, o sino da porta tilintando. O cheiro de chocolate derretido e papel colorido encheu o ar.

No balcão, os ovos de Páscoa se empilhavam em prateleiras reluzentes — enormes, envoltos em papel metálico e fitas vermelhas.

— Posso ajudar, moço? — perguntou a balconista.

— Pode sim. — respondeu Antônio, tirando o boné. — Quero dois dos grandes. Um rosa, outro azul.

A moça sorriu, sem esconder o espanto.

— Dois dos grandes mesmo? São os mais caros da loja.

— Então tá certo. — disse ele, firme. — Um é pra Gemma, outro pra Luciana. Menina tem que saber que é amada, ainda mais quando anda triste.

Enquanto ela embrulhava os ovos, Antônio viu na prateleira um monte de pelúcias. Entre elas, dois coelhinhos pequenos, de olhos brilhantes e laço no pescoço. Pegou um de cada cor.

— Põe esses dois também.

A moça embalou tudo com cuidado, papel celofane estalando.

— É presente pra filhas? — perguntou, simpática.

Antônio deu um meio sorriso, o olhar perdido por um instante.

— Quase isso. São as filhas que a vida me emprestou.

Pagou sem pestanejar e saiu da loja com as sacolas nas mãos, o cheiro de chocolate subindo e a alma leve.

No caminho de volta, cruzou com Mauro, que vinha do ponto dos táxis.

— Ô, olha só quem virou Papai Noel fora de época! — brincou Mauro, rindo alto. — Que é isso, Antônio?

Antônio ergueu as sacolas.

— Presente pras meninas.

Mauro balançou a cabeça, divertido.

— Cê é um coração ambulante, bicho. Se continuar assim, vai acabar dando o lucro todo pra elas.

— Que se dane o lucro. — respondeu Antônio, com aquele jeito calmo e certeiro. — Vera faz ovo todo ano, mas esse é especial. Gemma anda cabisbaixa, quase não come. A menina precisa lembrar que é bonita, que o mundo ainda tem gosto doce.

Mauro riu, batendo nas costas do amigo.

— Você fala bonito, hein? Quer dizer… fala certo. — piscou. — Vai lá, leva logo, antes que derreta.

Antônio seguiu caminho, o sol descendo no horizonte e o cheiro de chocolate se misturando ao vento.

E enquanto caminhava, pensava em Gemma e Luciana rindo juntas, os coelhos nos braços, o rosto manchado de doce — e sentiu, por dentro, um tipo raro de paz.

Aquela que não vinha de dinheiro, mas de saber que, mesmo num mundo duro, ainda existia espaço pra gentileza.

Era começo da Semana Santa, e a casa parecia respirar um silêncio estranho. O cheiro de incenso da sala misturava-se ao perfume caro de Suzete, que caminhava pelos corredores como quem inspeciona uma vitrine.

Gemma, sentada na varanda, usava um vestido leve, o rosto mais fino, os braços minguados.

Luciana apareceu logo atrás, com o cabelo preso e o ar impaciente.

— Gemminha, cê tá sumindo, viu? — falou, cutucando o braço da amiga. — Parece até que anda comendo vento.

Gemma deu um sorrisinho fraco.

— Tô bem, Lu. Só perdi um pouquinho de apetite.

Luciana cruzou os braços, fazendo bico.

— Um pouquinho? Tá magra igual galho. A tia Suzete deve tá soltando fogos, né?

Gemma desviou o olhar. Suzete andava satisfeita, elogiando discretamente o “novo corpo” da sobrinha. Pra ela, quanto mais distante Gemma ficasse da lembrança da cunhada Aurora, melhor.

Aurora — aquela vergonha viva que morrera no parto — fora o oposto da rigidez elegante que Suzete pregava.

Italiana de sangue quente, tinha o corpo farto de mulher real: quadris largos, coxas firmes, seios cheios, o tipo de beleza que não cabia em moldes. Suzete a odiava por isso, por ser o que ela nunca tivera coragem de ser.

Ver Gemma, agora magra, pálida, parecia a ela um alívio, um acerto de contas com o passado.

Luciana, porém, não engolia aquilo. Se aproximou da amiga, firme:

— Ó, e nem vem com essa de dieta, hein. A mamãe vai fazer moqueca, sardinha frita e ovo de Páscoa pra gente. — disse com um sorriso decidido. — E cê vai comer, Gemminha. Tudo.

Gemma soltou uma risada curta, meio sem fôlego.

— Sardinha eu até como…

— Até come nada! — interrompeu Luciana, animada. — Mamãe faz aquela moqueca com leite de coco que o Tonho ama. E o ovo… ah, o ovo caseiro dela é o melhor do mundo.

A menção a Vera fez Gemma sorrir de verdade pela primeira vez em dias.

— Tá bom, Lu. Eu vou.

Luciana segurou a mão dela.

— Promete?

Gemma assentiu, e as duas ficaram ali um instante em silêncio, o vento bagunçando os cabelos.

Lá dentro, Suzete passava pelo corredor e, ao ver a sobrinha sorrindo, soltou um suspiro satisfeito.

— Assim sim… — murmurou, ajeitando o colar no pescoço. — Finalmente começando a parecer uma Fabbri.

Mas Luciana, que ouvira o comentário pela janela, sussurrou baixinho pro vento:

— E que sorte a dela por não ser.

E puxou Gemma pela mão, decidida a arrastar a amiga pra cozinha de Vera, onde o cheiro de azeite e alho fritando era o único lugar do mundo que ainda lembrava casa.

SEGREDOS…

O quarto de Suzete estava na penumbra.

As cortinas pesadas bloqueavam quase toda a luz, e o ar tinha cheiro de perfume antigo e ressentimento.

Ademar apareceu na porta, a camisa aberta sobre o peito flácido e o hálito misto de uísque e frustração.

— Suzete… — chamou, a voz pastosa. — Faz tempo que a gente não… né?

Ela virou o rosto do espelho, o cabelo impecável, o robe de seda azul.

Olhou pra ele com aquela expressão fria de quem já não espera nada de homem nenhum.

— Agora, Ademar? — perguntou, seca. — Nem banho tomou.

— Ah, para com isso… — murmurou ele, se aproximando, o rosto suado. — A gente é casado, porra.

Suzete ficou parada, imóvel, vendo o marido tropeçar nas próprias intenções. Ele tentou beijá-la no pescoço, mas o gesto foi desajeitado, patético. As mãos dele tremiam, o corpo pesado, descompassado.

— Ademar, chega. — disse ela, empurrando de leve o peito dele. — Cê tá fedendo a cachaça.

— Sempre essa frieza! — resmungou ele, ofendido. — Mulher nenhuma aguenta tanto gelo, Suzete!

Ela riu, mas sem humor.

— Mulher nenhuma aguenta homem frouxo.

A palavra bateu como tapa.

Ademar tentou disfarçar, tentou insistir, as mãos trêmulas puxando o cinto, mas o corpo não reagia.

O silêncio ficou constrangedor. Ele olhou pra baixo, furioso e envergonhado.

— Pronto… — disse ela, cruzando os braços. — Nem isso mais.

— Cala a boca, Suzete. — respondeu ele, com raiva abafada. — Isso acontece…

— Acontece com quem não serve pra nada. — cortou, fria. — Nem homem, nem empresário.

Ademar virou o rosto, humilhado.

Sentou na beira da cama, bufando, o suor escorrendo pela testa.

Suzete pegou um cigarro, acendeu com calma e olhou pra ele como quem olha um bicho doente.

— Cê acha mesmo que ainda é aquele Fabbri importante, né? — disse, soprando a fumaça devagar. — Nem o nome da família sustenta mais teu fiasco.

Ademar ficou quieto. O som do isqueiro, o cheiro do cigarro e o silêncio pesavam mais que qualquer palavra.

Suzete deu mais uma tragada, virou o rosto e concluiu, fria como mármore: Vê se me esquece!

Suzete deitou emburrada enquanto Ademar foi para o escritório tomar mais uísque e alargar mais uma broxada.

Ali só semana era santa Suzete não… E por trás daquela carapaça de mulher racista, aristocrática e contida havia fogo muito fogo…

E ela se lembrava bem dos tempos da Juventude aonde se deitava com o negro Anselmo, pai de Vera sua agora cozinheira ainda antes de se casar com Ademar.

Anselmo era o segurança um Negão alto de 1 m e 90, braços fortes que a deixava louca.

Lembrava com a avidez quando Anselmo a chamava de minha branquinha. Assim como lia, perdera o cabaço com Antonio, com Suzete não foi diferente, sua primeira vez foi no quartinho dos fundos com Anselmo.

Um sorriso safado se formou no canto da boca da madame enquanto ela descia a mão pelo ventre até tocar a buceta que mesmo sexagenária ainda pulsava como a daquela garota que um dia fora se entregando para o empregado.

Quando os dedos alcançaram o grelo latejante inchado, Suzete sorriu orgulhosa e gemeu lembrando de ter aguentado aquele caralho preto enorme dentro de sua inexperiente e virgem xoxota ainda tenra idade, enquanto suas amiguinhas do Sagrado Coração de Jesus, davam amassinhos com seus novinhos de família, ela, filha de Maria, moça casadoira, fluente em francês e prendas domésticas era arregaçada nos fundos da mansão por aquele preto suado que ia levava loucura.

A siririca ficou mais intensa e Suzete meteu com tudo dois dedos dentro da buceta ao lembrar da voz grossa de Anselmo dizendo no seu ouvido:

— Agora a patroinha tá virando mulher de verdade, olha só que essa xana já aguenta..

Aquilo era homem não Ademar. Casou com aquele italiano que era conveniente, herdeiro de uma fortuna, bonito até, mas como Anselmo nunca meteu.

Suzete Bulhões Freire, e esse era seu nome de solteira… tornou se Fabbri ao juntar-se com aquela italianada…

Mas agora não era hora de pensar nisso, agora era hora de deixar a imaginação fluir. Suzete lembrava que deu para Anselmo até depois de casada e sentiu muito quando ele morreu.

O dedo afundou-se ainda mais dentro da fenda úmida simulando a penetração, e Suzete urrou ao lembrar de quando ele a comia de quatro, de como aquela rola imensa entrava toda na sua xotinha branca, e no quanto ela se sentia orgulhosa de agasalhar todo aquele caralho. Gozou, gozou e riu imaginando que talvez Lia fosse filha do Negão, e não do bosta de Adhemar, mas logo se lembrou que a rebenta herdara dela o fogo na buceta e o gosto pela criadagem. Imaginou então o que a filha não fazia como motorista na edícula, já havia reparado desde que Antonio era moleque que ele parecia ser muito bem servido, e riu ao imaginar Lia, sua própria filha, levando uma rola enorme boceta e talvez até cu a dentro a exemplo dela quando era jovem. Perdida em seus pensamentos a madame adormeceu mas não sem antes de chupar os dedos que havia socado na boceta, assim como Anselmo fazia chupar seus dedos quando ele, tocava a patroinha ainda virgenzinha.

— aquilo sim era homem…

Murmurou e dormiu satisfeita.

No andar de baixo, Ademar amargava mais uma garrafa de uísque. Abriu a Playboy velha de alguma celebridade ultrapassada, depois no notebook tentou ver fotos e vídeos pornôs de duas novinhas dando para um velho, mas mesmo assim aquele maldito pau não subia… e ele sabia o porquê, anos de alcoolismo, diabetes e desgosto.

Casou-se apaixonado mas viu em Suzete a frivolidade, futilidade e indiferença. Sempre fora péssimo administrador nunca conseguiu aumentar sua fortuna, sempre desejou a esposa mas dela só tinha indiferença. E o pior é que nem podia mandar aquela jararaca para casa do caralho, afinal o nome Bulhões Freire era tudo o que um filho de imigrantes italianos precisava. Viu a história se repetir com a filha Lia, se casou com o Patrick apenas por uma aliança.

Mas o maior desgosto, era Aurora, a irmã, a bonequinha, a Princesinha por quem ele era devotada mente apaixonado. Com a morte dos pais Ademar cuidou de aurora como se fosse sua filha apesar de terem pouca diferença de idade. Queria que a menina se casasse bem e fosse viver na Itália mas o tiro saiu pela culatra… Ainda na adolescência, a irmã se apaixonou por Alessandro Tattangelo, seu amigo e sócio muitos anos mais velho que ela, tudo seria ótimo se aquele maldito não fosse casado e não tivesse engravidado a sua irmã. Ao descobrir a gravidez, o desgraçado se mandou para Itália junto com a esposa deixando uma Aurora grávida, e des honrada com apenas 15 anos. Mais um copo de uísque e mais uma lembrança… Lembrou-se de como a puritana Suzete destratou a cunhada a chamando dos piores palavrões. Lembrou-se de bater na irmã e de trancá-la os nove meses da gravidez em casa. Era isso o que mais lhe pegava, talvez tivesse sido o responsável direto pela morte da irmã.

Foi numa noite quente de fevereiro enquanto a cidade explodia em Carnaval que Aurora sentiu as primeiras contrações, era festa na mansão e ninguém sabia que a jovem estava grávida todos achavam que ela estava na Itália passando um tempo com a família.

Ademar fechou os olhos e como não passe de mágicas veio o Flashback doloroso… na sua frente viu Vera a empregada da família, a cozinheira que tinha pouco mais de 25 anos vir avisar que Aurora estava parindo:

Flashback

O baile de máscaras da mansão Fabbri estava em seu auge.

Fevereiro, o calor escorrendo pelas paredes de mármore e o som da orquestra misturado às risadas e taças tilintando.

Suzete, reluzente num vestido dourado, comandava tudo com a elegância venenosa de quem sabia fingir perfeição.

Lia e Patrick dançavam, jovens e lindos, o casal que simbolizava a redenção social da família.

Ademar, gordo, suado, agarrado a uma garrafa de champanhe, fingia alegria enquanto afogava a própria vergonha.

Mas, no meio do brilho e do confete, um vulto atravessou o salão — Vera, a cozinheira, suando, o avental amarrotado, o rosto em pânico.

— Seu Ademar! — gritou, ofegante. — Seu Ademar, a Aurora tá com dor, seu Ademar!

Ele virou o rosto, incomodado com o escândalo.

— Que dor, mulher?

— A do parto, homem! Ela tá gritando de dor! Tá nascendo!

Suzete, que estava próxima, virou-se de imediato, o sorriso congelando.

— Abaixa a voz, Vera. — disse entre os dentes. — Tá todo mundo ouvindo.

— Mas, dona Suzete, é uma criança, pelo amor de Deus!

Suzete olhou para Ademar, o olhar frio.

— Cuida disso. Agora.

Ademar enxugou o suor da testa.

— Se vira, Vera. Faz o que tiver que fazer. E não quero escândalo. Essa vergonha fica trancada naquele quarto, entendeu?

Vera, de olhos marejados, engoliu o choro.

— Sim, seu Ademar. — murmurou, e saiu correndo.

Atrás dela, a música recomeçou, o som das marchinhas cobrindo o grito abafado da menina no andar de cima.

O quarto de Aurora era um forno. As cortinas fechadas, o cheiro de sangue e desespero.

Aurora — tão nova, só quinze anos — se contorcia na cama, o corpo encharcado de suor.

Os lençóis úmidos grudavam na pele, e cada contração parecia partir o mundo ao meio.

— Vera… — gemeu, apertando a mão da mulher. — Tô com medo.

— Eu sei, meu amor. — respondeu Vera, limpando-lhe o rosto. — Mas vai dar tudo certo, tá? Eu tô aqui.

Aurora chorava, o rosto virado pro teto.

— Mamma… — murmurou em delírio. — Mamma, vieni… aiutami…

Vera fechou os olhos por um instante, o coração doendo.

Sabia que a mãe de Aurora — morta há anos — nunca viria.

— Eu tô aqui, minha flor. Respira comigo, tá? Respira.

Aurora abriu os olhos, tentando sorrir, o rosto banhado em lágrimas.

— Ele… o italiano… dizia que eu tinha olhos de cinema…

— Agora não fala, Aurora. — pediu Vera, tentando conter o choro. — Pensa só na bebê, tá quase.

As dores vinham em ondas, cada vez mais fortes.

Aurora gritou, arqueou o corpo, e então agarrou o pulso de Vera com força.

— Se eu… — a voz falhou, ofegante — se eu não aguentar, promete que vai cuidar dela.

— Cala a boca, menina, não fala isso!

— Promete! — insistiu, os olhos vidrados, urgentes. — Promete pra mim, Vera! Cuida dela, faz ela crescer… livre… longe dessa casa!

Vera, chorando, assentiu.

— Eu prometo, meu amor. Eu prometo.

Aurora sorriu, exausta, e empurrou com a última força.

Um grito, o som seco da vida rompendo o ar — e logo, o choro agudo de um bebê.

Vera ergueu a criança, tremendo.

— É uma menina… — sussurrou, as lágrimas caindo. — Uma menina linda…

Aurora abriu os olhos pela última vez, o sorriso quase imperceptível.

— Gemma… o nome dela é Gemma… — murmurou. — Igual pedra que brilha no escuro.

Vera segurou a mão dela, mas já era tarde.

O corpo relaxou, a cabeça tombou, e o silêncio voltou ao quarto.

Lá embaixo, o baile seguia.

Suzete brindava com políticos e socialites, Lia ria de braços dados com Patrick, Ademar afogava a vergonha em champanhe.

E no andar de cima, entre lençóis manchados e promessas, Vera segurava nos braços a filha de uma menina morta — uma criança que nascera sob pecado e silêncio — e jurava em voz trêmula:

— Eu vou cuidar de você, Gemma. Nem que o inferno inteiro tente me impedir.

Lá fora, os clarins do carnaval estouravam, mas dentro daquele quarto, só o choro da recém-nascida dava sinal de vida.

A festa tinha acabado há pouco.

O chão do salão estava coberto de confete amassado, taças vazias, restos de luxo e mentira. O perfume das mulheres ainda pairava no ar, misturado ao cheiro agridoce do álcool.

Suzete, exausta, mas satisfeita, subia as escadas com o mesmo ar de quem acabara de vencer uma guerra silenciosa.

Ademar, meio torto, o paletó aberto, sentou-se no sofá da biblioteca, o rosto vermelho de bebida e cansaço.

Tentava recobrar o fôlego, o olhar perdido entre os quadros antigos da família — nomes grandes, sangue falido.

Foi quando ouviu a voz baixa, trêmula, na porta:

— Seu Ademar… posso entrar?

Era Vera. O rosto pálido, o avental manchado, os olhos fundos.

Ela segurava um lenço na mão e tremia, tentando disfarçar o desespero.

— Que foi agora, mulher? — resmungou, ainda atordoado. — A festa acabou, cê pode cuidar da limpeza amanhã.

Vera deu um passo à frente.

— Eu… eu precisava falar… é sobre a Aurora.

O nome fez o corpo dele endurecer.

O copo de champanhe que segurava parou no ar.

— O que tem a Aurora? — perguntou, a voz subitamente sóbria. — Ela pariu?

Vera baixou os olhos, as palavras lhe pesando na língua.

— Pariu, sim. Uma menina.

Ademar respirou fundo, o peito inflando, o olhar fixo nela.

— E… e a Aurora?

Silêncio.

A orquestra já havia parado. Só se ouvia o som distante de um copo caindo na cozinha.

Vera apertou o lenço nas mãos.

— Ela… não resistiu, seu Ademar.

O som das palavras foi como uma pancada.

Ademar piscou, sem entender, e depois balançou a cabeça, a voz rouca:

— Como assim, não resistiu?

— O parto foi difícil… — murmurou Vera, chorando. — Ela era só uma menina, seu Ademar. Eu fiz o que pude… juro…

Ele levantou bruscamente, tropeçando no próprio peso.

— Não… não, não pode ser. — disse, andando em círculos. — Minha irmã, não! A Aurora era tudo que eu tinha nessa família podre!

O rosto dele se torceu num misto de culpa e dor.

— Eu devia ter ido… devia ter feito alguma coisa… — murmurava, os olhos marejando. — Tranquei ela… trancamos ela como um bicho!

Vera chorava em silêncio, a voz embargada:

— Ela pediu pra eu cuidar da menina. Disse que o nome era Gemma.

Ademar parou, o olhar vazio.

— Gemma… — repetiu, quase sem voz. — Que nome bonito.

Ele levou a mão ao rosto, os ombros tremendo, e caiu de joelhos, o choro vindo rasgado, bruto.

— Minha irmã… minha pequena Aurora…

Suzete apareceu na porta, o robe de seda fechado até o pescoço, o olhar gelado.

— Que espetáculo é esse agora, Ademar?

Ele levantou o rosto, os olhos vermelhos, a voz embargada de ódio.

— A Aurora morreu, Suzete! A tua cunhada morreu parindo aquela criança que você mandou esconder como se fosse peste!

Ela piscou uma vez, sem se abalar, e respondeu fria:

— Pelo menos a vergonha não chegou ao salão.

Ademar bufou, incrédulo, e num gesto impulsivo varreu o copo da mesa, que se espatifou no chão.

— Você é um monstro, Suzete!

— Eu sou prática. — respondeu ela, impassível. — E amanhã a vida continua.

Vera, chorando, saiu apressada, deixando os dois sozinhos.

Ademar cambaleou até a janela, o rosto molhado, e olhou pro céu escuro de fevereiro.

Lá fora, o vento soprava os últimos confetes do baile.

E no quarto dos fundos, uma recém-nascida dormia — a única coisa pura que restara naquela casa maldita.

E assim no fim do flashback só restavam Ademar, e seu copo de uísque junto à culpa.

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