500km para te limpar (Parte 1 de 3)

Da série Saga Ana
Um conto erótico de Shaka de Virgem
Categoria: Heterossexual
Contém 712 palavras
Data: 18/10/2025 08:49:36

Capítulo 1: A Calmaria

O ano era 2017. Nosso filho tinha acabado de completar um ano, e o nosso apartamento no Bessa havia se transformado. Onde antes havia silêncio e gemidos abafados, agora havia o som de Galinha Pintadinha e o choro agudo da madrugada. A nossa cama, antes palco de inúmeras perversões, agora era frequentemente invadida por um pequeno ser de pijama que buscava refúgio entre nós. A vida havia mudado.

E Ana havia mudado. A mulher selvagem e dona de si que eu conheci parecia ter sido domesticada pela maternidade. Seu corpo, antes uma escultura de músculos definidos, agora tinha as curvas mais suaves e o cansaço visível de quem passa as noites em claro. Eu a amava de uma forma diferente, mais profunda, uma admiração pela força que ela demonstrava. Mas o desejo, aquele desejo sujo e primordial que nos conectava, parecia adormecido.

O sexo era raro, rápido e funcional. Um ato para aliviar a tensão, não para explorar os abismos da nossa fantasia. Eu sentia falta da nossa loucura. Sentia falta da Ana que me olhava com malícia, que me provocava, que me testava. Eu via lampejos dela, às vezes. Um sorriso mais demorado, um toque mais sensual, um olhar que durava um segundo a mais. Eram brasas sob as cinzas, e eu me agarrava a elas com a esperança de que um dia o fogo voltasse.

Capítulo 2: A Negação

A oportunidade para testar as águas veio numa noite rara. Nosso filho, milagrosamente, dormiu cedo. A casa, pela primeira vez em meses, estava silenciosa. Só nós dois. Abri uma garrafa de vinho e fomos para a varanda, a brisa do mar de João Pessoa entrando e trazendo um cheiro de normalidade que há muito não sentíamos.

"Sinto falta da nossa loucura, sabia?", eu disse, a voz baixa, depois de um longo silêncio. Ela me olhou por cima da taça de vinho, e eu vi a guarda dela se levantar instantaneamente. O olhar dela, antes relaxado, tornou-se defensivo. "Aécio, por favor. Não começa", ela disse, a voz cansada. "Começar o quê? Só disse que sinto falta." "Eu sei o que você sente falta", ela retrucou. "Da putaria, da traição, de tudo aquilo. Amor, a gente tem um filho agora. Aquela fase de loucura passou. Acabou." "Não precisa ter acabado. A gente pode...", tentei. "Não, não pode!", ela me cortou, a voz agora mais dura. "Eu não sou mais aquela garota, Aécio. Eu sou mãe. O meu corpo mudou, a minha cabeça mudou. Eu não consigo nem pensar naquelas coisas sem me sentir mal, suja. Aquilo ficou no passado."

As palavras dela foram um balde de água fria. Eu recuei. Discutir seria inútil. Ela havia construído um muro, e a maternidade era o tijolo principal. Naquela noite, eu entendi que, se o nosso jogo voltasse, a iniciativa não poderia ser minha.

Capítulo 3: A Viagem

A oportunidade surgiu algumas semanas depois, vinda dela mesma. "Amor, minha mãe tá com tanta saudade. Tava pensando em passar uns dias com ela no interior, levar o nosso pequeno pra ela ver. É uma cidadezinha que eu morei na adolescência, tenho umas amigas de escola lá que eu não vejo há anos."

A cidade era no interior do Rio Grande do Norte. A quase 500 quilômetros de distância. E, como um relâmpago, a chama se reacendeu dentro de mim. Distância. Amigas antigas. Um passado do qual eu não fiz parte. Ex-namorados.

"Eu não posso ir agora, vida", eu disse, a voz cuidadosamente neutra, escondendo a excitação. "Tô com umas entregas de trabalho que não posso adiar. E preciso do carro pra ir trabalhar. Mas você devia ir, sim. Vai te fazer bem. Pega o ônibus. Eu vou na sexta à noite pra buscar vocês."

A partida dela, numa terça-feira à noite, foi diferente. Eu a levei com nosso filho para a rodoviária de João Pessoa. O ambiente era caótico. Eu a ajudei com as malas, a coloquei com o menino no ônibus. O beijo de despedida foi rápido. "Liga quando chegar. Te amo", eu disse.

Observei o ônibus sair da plataforma. Voltei para o carro sozinho. Um retrato de um marido prestativo. E, assim que entrei no carro, um sorriso malicioso brotou nos meus lábios. A casa estava vazia. A mulher estava livre.

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