Verão de 2015. O ar em João Pessoa fervia sob um sol impiedoso, o tipo de calor que derrete o asfalto e as vontades. Eu e Ana estávamos juntos há pouco menos de um ano, mas a intensidade era de uma vida inteira. Nosso relacionamento era um campo de exploração. Eu não tinha pudores com ela. Desde o início, confessei meu fetiche, minha excitação em vê-la desejada por outros. Eu não usava a palavra "corno", era crua demais para o que eu sentia. Eu chamava de "admiração". "Adoro quando você sai com suas amigas e todos os caras olham pra você", eu dizia, a voz casual, o coração acelerado. "Fico com um tesão fodido só de imaginar". Ela sorria, um sorriso que eu não sabia decifrar, um misto de vaidade e curiosidade. E entrava no jogo, contando histórias vagas de um passado de solteira, sempre sem detalhes, como se testasse minha reação.
O convite para o churrasco na casa de veraneio de um casal de amigos dela lá em Camboinha chegou em uma tarde de sexta. O anfitrião era Fernando. A menção do nome dele fez um alarme soar na minha cabeça.
A primeira vez que o vi foi meses antes, no "Seu Portuga", o restaurante que virava o after oficial da cidade depois dos grandes shows. Tinha acabado um show do Wesley Safadão, o lugar estava lotado. Eu e Ana conseguimos uma mesa. E então eu o vi entrar. Fernando não entrava nos lugares, ele os tomava. Alto, corpo atlético, um sorriso arrogante e magnético. Ele se aproximou da nossa mesa e, sem pedir licença, puxou uma cadeira, trazendo consigo duas loiras espetaculares que estavam com ele. Elas se ajeitaram ao seu redor, uma de cada lado, como leoas domesticadas, e ele as beijou abertamente, uma mordida no lábio de uma, uma mão na nuca da outra, tudo ali, na nossa frente, com a naturalidade de quem respira. Aquele homem não pedia licença para o desejo. Ele o exibia como um troféu. Fiquei impressionado. Aquele homem tinha poder. Um poder que eu, secretamente, desejava.
Quando decidimos ir embora, a surpresa. "De jeito nenhum. O Marcos leva vocês." Eu ri, achei que era piada. "Meu motorista", ele disse. Ao sair do restaurante, caí na real. Uma Mercedes preta, reluzente, nos aguardava. Na volta pra casa, Ana me contou do caso rápido que tiveram anos antes. Aquele homem não era só rico. Ele vivia em uma realidade paralela.
Semanas depois, em uma mesa de bar, a segunda bomba. Estávamos os quatro: eu, Ana, Fernando e a nova namorada dele, Carla. Bêbados, Fernando soltou, na frente de todos: "A melhor coisa do meu relacionamento com a Carla é que ela me deixa ser corno em paz. Adoro ver ela com outros caras, me deixa com um tesão fodido."
O mundo parou. Eu, que guardava meu fetiche como um segredo sujo, ouvia aquele homem, aquele alfa, confessar o mesmo desejo com uma tranquilidade assustadora. Olhei para Ana. Ela me encarou de volta, com uma cara de safada, um brilho nos olhos que eu não consegui traduzir. Um sorriso mínimo, cúmplice, mas cúmplice do quê? Do fetiche dele? Do meu choque? Naquele momento, eu entendi. Naquela mesa, eu era o único "estranho".
E foi com essa bagagem que chegamos ao churrasco. Carla nos recebeu na porta. Uma morena clara, estonteante, com peitos enormes de silicone que roubavam a cena. Desde o dia no bar, eu não conseguia parar de pensar neles. Todos ali se conheciam muito bem. A intimidade entre Ana, Fernando e Carla era palpável. Eu era a peça nova no quebra-cabeça.
O dia fluiu lento, quente, embriagante. E eu, o estranho, observava. Via Fernando devorando Ana com os olhos. E eu sentia a excitação da minha fantasia se desenhando na minha frente. Eu trocava olhares com Ana, mas agora a pergunta era outra. 'É hoje?', meus olhos perguntavam. 'Talvez', os dela respondiam, com aquele mesmo sorriso indecifrável.
O sol começou a se por, pintando o céu de laranja e roxo. A brisa do mar finalmente trouxe algum alívio. As luzes da casa se acenderam, criando um ambiente ainda mais íntimo. Estávamos todos na piscina, a água morna, os corpos relaxados pela bebida. Ana e Carla, que já tinham uma intimidade visível, estavam próximas, rindo baixo.
Fernando, com um copo de uísque na mão, observava a cena com um olhar de predador. Ele se virou para elas. "Vocês duas juntas são uma obra de arte", ele disse, a voz calma, mas carregada de intenção. "Mas sabe o que deixaria a cena perfeita?" Elas pararam de rir. Olharam para ele, curiosas. "Um beijo", ele completou.
O ar ficou elétrico. Ana e Carla se olharam. Vi nos olhos da minha namorada um misto de desafio e excitação. Vi ela olhar para mim, uma pergunta silenciosa. Eu sustentei o olhar, o coração martelando. Dei um sorriso mínimo. A permissão. Foi o que bastou. Elas se aproximaram e se beijaram. Um beijo de verdade, de língua, as mãos dela nos peitos de silicone, as mãos de Carla na bunda da minha mulher.
Enquanto a cena se desenrolava, Fernando se virou para mim. O olhar dele era analítico, divertido. "Cena linda, não acha?", ele disse. "Incrível", consegui responder, a voz rouca. Ele deu um gole no uísque. "Agora a pergunta de um milhão de dólares, meu caro..." Ele fez uma pausa, saboreando o momento. "Eu tenho a sua permissão para beijar a sua mulher?"
A pergunta foi um soco no meu estômago. Direta. Sem rodeios. A materialização de tudo que eu sempre fantasiei, verbalizada na minha frente. Olhei para Ana. Ela tinha parado de beijar Carla e nos encarava, os olhos brilhando de antecipação. A decisão era minha. O poder era meu, por um instante.
"Sim", respondi, a palavra saindo com mais firmeza do que eu esperava. "Você tem."
Fernando sorriu, um sorriso de vitória. Ele se aproximou de Ana e a beijou com a autoridade de quem sabe que é desejado. E então, sem quebrar o beijo com a minha mulher, ele olhou para a namorada dele, que me olhava com uma fome evidente.
"Carla, meu amor", ele disse, a voz abafada pela boca de Ana. "Você tem a minha permissão para beijar o nosso convidado."
Naquele instante, com o gosto de outra mulher na minha boca e os olhos fixos na língua dele invadindo a boca da minha Ana, eu soube que não era mais um convidado. Eu era o calouro, e a minha iniciação na farra, na verdadeira farra, estava apenas começando.