O salário
Juntamos o meu salário, a gratificação, o salário de Murilo e o de Joel, sentamos na mesa e Joel chamou Bosco e Sebastião para a conversa. Papo reto, era o momento de sentar e pagar as contas, ver o que resta para pagar mercado e fazer os extras que precisamos, roupa, farmácia lazer. Bosco fala que não podia opinar já que não estava contribuindo. “Mas está comendo, e participando de nossa casa até poder ficar independente novamente e sair, se fosse eu que precisasse de você, você me ajudaria, então vai me ajudar a controlar a grana, tipo chamamos um marceneiro para arrumar o armário e um encanador pra montar a máquina de lavar pratos ou tentamos vendê-la”, Tião disse que nem uma coisa e nem outra, o correto era esperar os dois saírem antes, agora ela era inútil já que Bosco estava arrumando a casa quando não estava cuidando do pedreiro aleijado e distribuindo currículo, ninguém o chamava para trabalhar, tio Galvão disse que ele é gay, isso é tirar setenta por cento das vagas da frente dele. Duas semanas.
Tião diz que trabalhamos muito e chegamos tarde a máquina vai ser muito útil depois, nem montar e nem vender. Joel diz que era esse tipo de organização, mostra o que cada um trouxe pra casa, diz que com os salários de Murilo e meu, não haverá mais nenhuma ajuda externa, e era o certo, três adultos, era mais que suficiente para os três, mas somos cinco, então era hora de fazer boas decisões. Levamos a tarde de sábado inteira nisso e entramos pela noite, ia dar, e ia sobrar uma coisinha para alguma pequena emergência.
Tio Caio estava morando no apartamento de tio Nelson que passou para a casa do namorado, emprestou o apartamento enquanto o de meu tio passaria por uma desocupação (estava alugado por três meses a frente, meu tio sabia quando comprou), depois uma pequena melhoria para só então saírem do apartamento de tio Nelson (mas o morador ia sair com um mês e meio). Ok, tio Caio desce e diz que Murilo o convenceu a dar uma oportunidade a Tião, detestava trabalhar com amigos, mas acabou casando com seu funcionário, e sorriu, pergunta se estamos fazendo o orçamento, digo que sim, ele pergunta se queremos fazer mercado juntos, digo que ele veio falar com Tião, “Você não vai trabalhar, vai ficar observando e atrapalhando o andamento, então não vai receber um centavo, mas se você estiver…”, “Eu quero sim senhor, trabalhar na coberta, quero, com folga, férias, décimo terceiro e direito a adoecer, eu quero sim, doutor, eu começo na segunda”, Joel diz que ele pode varrer a oficina, e a gente começa a rir imaginando Tião rolando com a vassoura no cu, ele manda Joel chupar um canavial de rola e aí sim a gente ri, tio Caio não entende e a gente diz que não vai explicar a piada.
“Caio, tirando levar Tião pra mijar eu não tenho o que fazer, eu preciso e gosto de trabalhar, se você souber de alguma coisa, qualquer coisa, eu…”, “Você me deve muito favor, eu engoli muito sapo com vontade de dar um murro na cara de Lucas, puta que me pariu, já combinamos muito quem era o infeliz que ia te ver sem ter que ir todo mundo pra não sofrer com aquele cruzeteiro fazendo inferno.”
Caralho! Será que Lucas estava fazendo cruzeta e por isso o gordinho não retorna?
Voltei ao momento presente sem deixar transparecer minha preocupação, olhei para Joel e parecia que ele lia meu pensamento, tio Caio ouviu a cantilena de Bosco, sem se flexibilizar, eu queria estar a altura de ocupar o espaço que ele vai deixar, então não me movi, mas tio Caio é um grandíssimo filho da mãe, “Eu vou supervisionar Mateus, ele é muito novo, não tem mais que o ensino médio, eu também não, ele me entregou o teu currículo, ele ouviu minha resposta, dois mestrados em informática, você é muito qualificado, eu deixo você no emprego e quando você arrumar algo melhor, porque você merece algo melhor, eu perco um funcionário, uma empresa que não é a tecnologia, nem a marca, uma empresa do meu tamanho é a equipe, e rodízio de funcionários me dá pânico.” Foi aí que ele me testou, “Mas se ele lhe arrumar uma vaga… eu acato na hora”, pensei um pouco vendo a cara de Bosco tremendo o lábio pra mim, nervoso, achava humilhante não ter emprego, depender.
Tio Caio já colocou ele para fazer o treinamento na montadora, queria ele e mais três subordinados a ele na parte de processos eletrônicos, iria passar duas semanas de capacitação com tio Galvão já no próximo mês, mas Bosco é arrogante com sua capacidade, passar por isso ia torná-lo um colega de trabalho mais humano. “Você não começa na segunda, Sebastião, começa na quarta, a menina que contratamos para a recepção está marcando encontros com clientes, já foi advertida e segunda-feira eu a demito, na terça ficamos sem ninguém na vaga, na quarta você se torna o recepcionista por um mês de experiência, mas eu quero que você aprenda o que fazemos lá e como fazemos, para responder aos clientes adequadamente, vai levar Sebastião para o nosso escritório sempre que ele precisar descansar, tomar água ou usar o banheiro, você, Sebastião, não peça para ir ao banheiro, você vai pedir ajuda para comer cada dia a uma pessoa diferente, mas Bosco e Murilo vão sempre tomar a frente, principalmente Bosco. Bosco, em um mês você tem seu salário, eu encontro uma funcionária decente, nos dois sentidos, e sim, acredito que antes disso as pessoas vão ver seu currículo e retornar no tempo delas, sem você as importunar e valorizando sua capacidade. Quarta-feira, seu salário como recepcionista é uma coisa a mais que o mínimo, mas eu tenho convicção que será apenas um mês, você vai mostrar sua carteira e dizer para futuros empregadores que gosta de trabalhar, e essa experiência é prova disso. Sebastião, você vai ser menos alegre, menos brincalhão, eu gosto muito de você e eu vou sofrer pra caralho ter de demitir o melhor amigo de meu marido. Qualquer dúvida recorra a mim. Eu sei que vocês vão comemorar, mas nem eu, nem tio Caio vamos poder ficar nem pra ver, afinal fica de mau tom usar sexo com aspirante a funcionário.”
Meu tio saiu puto de raiva ao meu lado, ficou um climão chato entre nós e logo que a gente chegou ao saguão ele me chamou de moleque, menino, pirralho, de… respirei fundo e ouvi, depois ele me perguntou se eu não ia falar nada. “Não, meu chefe chegou na casa de meu noivo e mandou eu decidir sobre dar ou não emprego ao melhor amigo do meu futuro marido, em dose dupla, sem combinar comigo antes. Se meu tio estivesse lá ele diria que isso foi uma cachorrada com seu sobrinho de dezoito anos, dezoito, não sei se fiz certo, mas quando o senhor encontrar meu tio, diga para ele vir nos fins de semana, a vida sem ele tá bem difícil, estou dispensado, senhor?”, ele tentou falar comigo, mas eu não deixei ele encostar em meu ombro, caralho, é complicado, é difícil isso, eu estava realmente sentindo o que falei.
Eu liguei para Fernando, eu precisava de um amigo, mas ele não atendeu, eu estava numa quitanda perto de casa e foi Joel que me encontrou, eu devo ter saído correndo, eu me comportei como moleque, menino, pirralho, eu desabafei com Joel sobre minha vontade de saber sobre Fernando, ele não disse que eu estava certo ou errado, a gente sentado num banco de praça, ele deve ter falado com Murilo que me achou, Murilo chegou e me abraçou e eu chorei, Joel falou o nome de Fernando e… eu vi a cara deles… eu não ia voltar a falar sobre isso.
Passei um final de semana bem bosta, trancado no quarto sem quase comer, tio Caio veio falar comigo quando chegou do mercado com os meninos, comprou amendoim com casquinha salgada sabor salsa, dos que deixa os dedos verdes, disse que se esqueceu de mim, que eu era seu pupilo, seu substituto, que era complicado lembrar de minha idade, e que somos parentes, família, os únicos com laços sanguíneos um do outro, porque meus irmãos… Minha irmã mais velha telefonou, perguntou onde eu estava e eu menti, disse a cidade, disse que nosso tio não era boa gente e que estava trabalhando com estoques num mercado, que estava dividindo uma casa com outros três e estava bem, mas precisando de uma força, não de grana, também de dinheiro, mas era mais o caso de ter presença, contato, ela desconversou e disse que qualquer coisa eu aparecesse e não disse onde estava. Meu tio perguntou como eu reagi a isso, eu reagi correndo pelo bairro.
Tio Caio começa a chorar e eu adorei ver isso, finalmente eu vejo um mínimo de sentimento nele. A gente fica quieto por um tempo, tio Galvão surge e fala que fizeram feijoada, exige que a gente se esforçasse, quando ele fala que era por ele eu resolvo sair da cama, “Tio Caio, me abrace por ele, por todos eles, vamos pôr uma pedra sobre o assunto, me ajude.” Tio Caio me beijou e eu adorei sentir aquele homem me imprensando contra a parede, dizendo que me queria, que estava com saudade de nós dois. E eu também estava, mas não naquele momento, ele entendeu, almoçamos a feijoada no apartamento dele que era na verdade de tio Nelson, assistimos dois filmes naquela tarde. Nem todos os momentos bons são com sexo, e eu estava perdendo essa chama, mas sentia o calor vindo das minhas relações. Mais uma semana, Tião com dente novo e permanente, tratamento na boca toda, Murilo conversando com as irmãs de sempre em sempre, aconselhou a mais velha, sua gêmea a repensar o fim do casamento, talvez fosse mesmo o fim, mas conversar sempre deixa tudo leve, sem remorso, sem culpa e sem dívida. Disse que deveria ter perdoado os pais, não por eles, mas por si mesmo, deveria perdoar, não esquecer, nem tirar a responsabilidade e as consequências de seus atos das costas de quem errou, mas cada um tem um caminho e a ele não cabia ser o peso de referência do mundo, exemplo pra ninguém, mas é melhor sentir a dor e deixar partir.
Murilo voltou triste aquele dia, naquele dia Tião tirou o gesso e começou a fisioterapia, duas tipoias seguravam os braços dele, mas o banho foi outra coisa, “Se minha mulher pudesse ler minha cabeça ela ia ficar triste e com raiva, não, ela ia ficar decepcionada comigo, se pudesse ler meu coração quem sabe fosse entender e me ajudar a entender. Eu tô com medo, eu tive carinho que só recebi da mãezinha e dela, vocês estão cuidando de mim e me dando amor, e a gente se divertiu, e eu estou com medo de estar virando gay, porque esses dias estão acabando, vocês precisam ficar com a casa livre e eu preciso ir, mas eu vou sentir falta demais de tudo, do cuidado em me dar água com canudinho, perguntar se machucaram na hora de escovar meu dente, até da dedada que Joel deu no meu rabo! Eu vou sentir falta.”
Era cedo pra despedidas, ele ainda não recebeu o primeiro salário. A verdade era que a presença de Tião e Bosco era uma generosidade necessária e uma obrigação desgastante, mas eu ia sentir falta, nas refeições, nas risadas, em alguns momentos no sexo. Joel falou dessa forma, elegante e honesta, para não magoar dizendo a verdade.
Bosco estava feliz, muito feliz, no começo da semana eu o chamei ao escritório e disse que mandei o currículo dele a uma empresa e tive uma resposta, ele abriu um sorriso lindo, enorme, ficou preocupado no instante seguinte e perguntou se foi chamado, perguntou quem ia ficar no lugar dele, encontrei uma garota obesa, muito simpática e mãe solo, morando com os pais depois de deixar o ex, ela precisava desse trabalho, não tendo tempo a perder com cantada de cliente, não era surda, cadeirante ou algo que a impedisse de trabalhar conosco, era o que eu precisava. Sobre Bosco, ele pareceu triste em nos deixar, tio Caio falou da oficina de carros elétricos e híbridos, a primeira da cidade fora da concessionária, inovação, pioneirismo, ele estava com medo, ia precisar de gente que gostasse de trabalhar, não ter falado logo com ele era necessário, o currículo estava sendo analisado lá onde ele terá o treinamento junto com tio Galvão, “E seu currículo é excelente, querem te roubar de mim, mas eu não deixo, você quer esse emprego, Bosco?”, Bosco o abraçou e não controlou o choro, depois me abraçou agradecendo, vieram buscar ele porque estavam precisando dele na oficina, eu pedi para esperarem cinco minutos. Eu estava pensando em dar uma gratificação ao funcionário do mês, não seria ele, ficar no emprego é fundamental para o prêmio.
Bosco quando terminou de ouvir a despedida antecipada de Sebastião disse que tinha algo a falar, contou da oferta de trabalho, dos quinze dias de treinamento, das esperanças nesse recomeço, “Eu nem quero sair daqui, eu sei que vou ser expulso, eu tenho medo de ficar sozinho, sozinho dentro de um relacionamento errado, sozinho comigo mesmo o tempo todo, sem ter como discutir o orçamento com ninguém, e eu nunca havia feito aquilo, sozinho não, solitário, gostei de vocês cuidando de mim, que sorte eu tenho por ser amado por vocês, eu adoro vocês, e… foi bom demais ter de conviver com essa pessoa rude, bruta, mal educada, grossa e dependente, ‘quero mijar, ei, Bosco, balança direito’, ‘ei, amigão, acorda, eu quero mijar’, em dois dias você vai dar conta dessa parte, a mão vai aguentar chegar até lá.”, Bosco respirou fundo e enxugou os olhos.
“Quando a gente se conheceu, ambos estávamos na merda, agora a gente está só sem grana, mas antes era na merda mesmo, e somos muito diferentes, eu me fechando em mim e você fazendo piada em voz alta, detestei você, porra, até o som da tua respiração dormindo me incomodava, falar com quem? Você precisava de mais ajuda do que eu. Tião você queria ajuda pra se masturbar, e eu nunca ofereci essa ajuda, foi mal”, eu quero te oferecer essa ajuda, você ainda não pode fazer isso, e eu posso fazer isso por você, eu que sempre mantive o corpo sarado, gosto da tua barriga macia, eu falo baixo e gosto de sua voz, eu gosto de você, e você não é gay como nós, mas se você um dia estiver querendo só… sei lá, putaria, eu aceito esse bem pouco que você queira me dar”, Tião se vira para Murilo e pergunta se o veado pediu para punhetar e ser fodido, a gente não pode segurar a gargalhada, mas nos esforçamos e seguramos, Murilo diz que muito humildemente sim, “Quero não, mas não quero mesmo, eu quero que você segure minha mão, beije minha bochecha, use seu creme no meu pé, mande eu parar de falar merda, ria de minhas merdas, menos que isso não quero. Gostei de gostar de mim, vou seguir me amando, quero uma pessoa que se ame também, que não queira bater punheta pra mim se eu não bater pra ela também, eu quero um cara que chegue com uma promoção do trabalho e me beije pra comemorar, que diga que quer foder gostoso e depois pesado, que essa noite merece. Mateus, eu tô errado? Eu mereço que esse sujeito saia de minha frente e deixe o idiota do Bosco vir irritado e diga, ‘caralho, Tião, vê se faz algo que presta e me beija, gordo’, aí, sim, tô errado, Mateuzinho? Diz, novinho, se eu tô errado, eu preciso namorar, porra, pau amigo de veado eu não quero ser, quero namorar com esse preto.” Agora se tratam por ‘preto’ e por ‘gordo, se beijaram e foram para o sofá, Tião exigiu nossa presença fodendo ao lado deles para comemorar um preto ganhando emprego e um gordo ganhando o primeiro namorado.
Sabe aquele spoiler que eu quase soltei lá atrás, dizendo que a gente não transava mais com desconhecidos, algo assim, e disse os casais com quem fodia, bem, e os casais agora são tio Galvão e tio Caio, tio Renato e tio Nelson, Bosco e Tião. Mas eu sentia falta de Fernando. Bosco sentou no colo de seu agora namorado, falava o quanto era gostoso dar a bunda e ser bem comido por um macho que gosta de você (Lucas deveria ter sido um merda), cavalgava. Ao lado dele estava eu sentado no sofá, Murilo chupava meu pau e alternava entre por um ou dois dedos no meu cu, de quatro ele recebia as bombadas suaves de Joel, como eu adoro ver um comendo o outro, parece que eles fizeram de propósito, eu estava me apaixonando por eles mais uma vez, meu cu estava em paz, mas minha piroca e minha boca queriam ambos, eu alternava entre beijar a boca de Murilo e foder a boca de Murilo, eu pedia para Joel me deixar comer o cu de Murilo, ele dizia que não, que ele queria gozar rápido e deixar uso cheinho de porra para eu meter em meu noivo de cu arrombado e galado e sentir Murilo com uma bocetinha.
Murilo me pedia tapa e eu dizia que não que eu iria gozar na cucetinha que nosso marido estava preparando pra mim, “Hoje eu sou teu macho, você é o veadinho”, mas eu queria meter, não podia esperar, peguei o gel, mas antes eu empurrei Joel sobre Murilo e chupei o seu cuzinho, a voz grossa e rouca de Joel disse que adora sentir meu pau no seu cu, “Me come, Mateus, me fode, seu porra, só não goza dentro de mim, que eu estou fazendo uma bocetinha em Murilo só pra você”. Bosco e Tião já haviam gozado e nos observavam, eu fodia firme e beliscava os mamilos de Joel, “Goza nele e faz a bocetinha num macho pra teu marido, amor”, ele tentou segurar um berro, eu segurei sua boca. Ele sai e a porra escorre, meto, assim que entro, Murilo goza, é meu salário.