Jorge estava em cima de Vivian. Os braços delas presos as costas. Sua bunda pro alto era socada violentamente pelo meu amigo. Ela pegava e ele também. O quarto bagunçado, a cama revirada.
Eu simplesmente larguei minhas coisas no chão e corri. Talvez essa não seja a atitude que vocês estivessem esperando mas veja bem, Jorge não era um amigo recente. Crescemos juntos. Ele era a família que eu havia escolhido pra estar ao meu lado. Mais de uma vez briguei por ele. Mais de uma vez ele salvou minha pele. E Vivian... Era minha melhor amiga, minha confidente, minha motivação, meu alvo, meu orgulho. Crescemos juntos e aprendemos a viver juntos. É difícil conceber mais mesmo hoje eu sei que meu relacionamento com ela foi o mais maduro que já tive. Apoiávamos um ao outro e lutávamos pelos nossos sonhos e pela nossa felicidade. Acho que isso foi o que mais me magoou na época. Talvez se não fossem eles dois, eu teria tomado a atitude correta...
Eu corri. Corri até meus pés começarem a doer. Corri até sentir as coxas queimando. Corri até sentir o joelho incomodando. Corri na esperança de apagar aquela imagem dos dois em cima da nossa cama. Corri pra fugir do término inevitável e pra não ter que aceitar o fim de um sonho. Quando parei meu corpo estava lavado de suor mas o único fluido que não parava de verter eram lágrimas. Principalmente de raiva e decepção. Gritei tentando expulsar toda aquela dor do corpo. Estava frente a uma rua com um valão. Era estreita e tinha árvores do dois lados. Elas esconderam a minha vergonha.
Demorei até o fim da noite pra me acalmar. Estava sem telefone então dei um jeito de ir pra onde seria nossa nova casa.dormi no chão coberto de papelão. Não lembro quando ou quanto eu dormi mas lembro que foi um sono terrível. Não voltaria praquela casa pra pegar minhas coisas. "Os amantes que se fodam" pensei. Fui ao banco e saquei um dinheiro. Também solicitei um novo cartão para o endereço novo. Fui ao shopping e comprei algumas roupas. Precisaria delas pro estágio. Enquanto isso, comprei um celular novo e iliguei pra Márcia e Renato e pedi ajuda sobre me transferir ou jogar minhas aulas pra noite. Não viram dificuldades em me ajudar.
Com isso, me certifiquei que nenhum dos dois me acharia. Minha única opção era me afogar nos estudos e no meu projeto, o que fiz e pelo menos isso rendeu excelentes frutos, pois consegui boas bonificações e reformei meu novo AP. Embora tivesse sentimentos ruins quanto a Vivian, a nossa ideia com o salão de dança era tirar crianças da rua e dar a elas um motivador ou um abrigo, pelo menos. Então dei seguimento ao projeto e fiz o studio de dança. Consegui alguns professores que eu pagava como um laboratório e só dava aula para crianças carentes. Esse pequeno gesto me deu um pouco de alegria. Pensava em como Vivian ficaria feliz se tivesse comigo e ficava feliz pelo tanto de criança que eu ajudava. O ano correu e só tive notícias dos dois no dia da minha formatura. E não foram das melhores.
Jorge não conseguiu concluir o curso ainda e tava perdendo muitos créditos. Corria o risco de ser jubilado até o ano seguinte. Todo o aplicativos que tinha se metido acabaram em confusão e sobrevivia de alguns freelas pontuais. Parece que também havia apanhado do marido de uma aluna a qual assediou. Isso me deixou muito puto. Acabou com meu relacionamento pra trair a Vivian e ainda apanhar tentei mas acho que meu riso de satisfação me entregou. Já sobre Vivian...
De Jorge eu soube pelo pessoal que andava com a gente. Já de Vivian foi um pouco... Confuso. Quem me falou dela foram as 3 melhores amigas: Bia, uma ruiva de corpo bem brasileiro que chamava a atenção pela cara de sapeca, que estava se formando em artes cênicas e vivia ajudando e pedindo ajuda a minha ex-namorada; Irina, uma russa de corpo esguio, cabelos pretos e olhos azuis, que era da mesma turma e dançava ballet tão bem quanto Vivian. Cheguei a ver as duas dançando juntas. Era algo próximo de surreal; e Adriana, uma linda pretinha de corpo violão, cabelos afro e olhos verdes, que fazia artes plásticas. Um detalhe sobre Adriana: ela era trans. Vamos aos relatos das meninas...
Assim que me viram, vieram correndo até mim, sem me dar a chance de fugir. Adriana, que era a mais alta, veio agressivamente pra cima de mim:
-- o que você fez com a nossa Vivi?!!!! - a pergunta me pegou de surpresa tanto quanto elas por perceberem que eu não sabia do que se tratava a pergunta.
-- do que vocês estão falando?! Eu fui a vítima aqui! Ela me traiu! ELES me traíram. - disse eu, puto e indignado, sentindo sangue verter de feridas mal cicatrizadas.
-- ela nunca trairia você!!! E olha que ela teve foi oportunidade!!! Era completamente cega pelo negão dela!!! - bradou bia, irritada com a descoberta da traição.
-- pois fez e eu vi!!! Ninguém me contou, porra!!! Eu vi!!! Eu-eu ia fazer uma surpresa pra ela!! Comprei um AP pra nós dois com um estúdio embaixo pra seguirmos com nossa ong!! E... MERDA!!!!!!!! - era a primeira vez que punha aqui pra fora em palavras. Como doía. Como queimava. Mas não chorei.
As meninas me olharam confusas e eu também. Só então me toquei que elas chegaram falando como se tivesse acontecido algo com Vivian. Meu coração apertou. Os meninos falaram do traste do Jorge mas nenhuma palavra sobre ela. Fiquei aflito, nervoso, ansioso. Mesmo depois de flagrá-los, meu coração ainda era dela mesmo que meu orgulho jamais me deixasse admitir isso. Respirei fundo antes de continuar a falar.
-- o que aconteceu. Contém tudo.- ordenei. Minha voz saiu mais dura do gostaria. E elas notaram. Se entreolharam e Adriana começou.
-- vocês não eram de conversar muito, né? - perguntou mas de maneira a comprovar um fato. Que não era verdade
-- pelo contrário. Olha, sei que éramos novos mas sempre tivemos um amor maduro. Nos apoiávamos mutuamente, sempre lutamos pela felicidade um do outro... - espremi os lábios respirando fundo - era o que eu achava. Talvez no último ano...
-- o que houve no último ano? - Irina falou seu português cheio de sotaque pela primeira vez.
Havíamos nos afastado mas não como pensam. Ela estava completamente assoberbada pelos projetos e companhias que estava tirando e/ou participando, e eu... Bem... O apartamento era o segundo presente. Enquanto falava com elas, peguei minha carteira e puxei um anel. Feito sob medida, era um anel de ouro branco. O anel era uma pauta musical com algumas claves e no centro dele, um rubi polido e lapidado em forma de coração. Mostrei a elas. Ainda carregava comigo e não sei bem o por quê.
-- eu tava pegando muito trabalhos extras na empresa. Eu iria pedi-la em casamento hoje. - mais uma vez senti meu coração sangrar. Mais uma vez as imagens. Mais uma vez eu fiz uma força descomunal pra não chorar.- ela tava muito atarefada e a gente basicamente só se via na hora de dormir...
-- era a melhor hora do dia dela, Nando... - disse Bia, percebendo meu estado. -vamos apenas contar, meninas.
-- desculpa, Nando. Não foi isso que dizer... - disse Adriana pegando minha mão. Esse desencontro seu e da Vivi começou mais ou menos no meio do ano passado certo? - dizia enquanto acariciava minha mão como desculpas.
Puxando pela memória, foi sim. Quando os trabalhos se intensificaram. Pouco depois teve aquela noite estranha do pijama.
-- agora que você falou, sim... Ela passou a chegar mais tarde, quase junto comigo. E quando eu saia, não gostava de ficar sozinha... - disse, me soltando de Adriana e guardando o anel novamente.
-- pois é... No meio do ano passado, vivi começou a agir estranho... Foram pequenas mudanças mas nós notamos. - se aproximou e falou baixo, bia.
-- ééé... Nossa... Ela era tão alegre e do nada parecia mais fechada... Ela, que sempre foi a rainha dos calouros, sempre abraçou e ajudou, não gostava nem que eles tocassem nela. - Adriana arrematou rápido.
-- roupas também. Roupas de Vivi passaram a ser menos bonitas. - Irina tentando se comunicar.
-- a princípio associamos a briga entre vocês mas essas coisas foram piorando. As notas dela despencaram! Ela finalizou o semestre passado a muito custo! - esclareceu Bia
-- peraí. Como assim? Tá dizendo que ela não conseguiu se formar agora? Ela era a melhor bailarina que já vi! - disse, incrédulo.
As três se olharam confusas.
-- o que? - Disse já sentindo meu sangue ferver.
-- gato, a Vivian trancou a faculdade no começo do ano passado. Ela sumiu. Ninguém sabe dela. - Adriana dizia isso prestando atenção em mim como a sondar alguma coisa
-- o que? Foram até a casa dela? - eu falava com uma urgência que não devia, a traição parecia abrir novas feridas mas infelizmente, eu ainda amava demais Vivian e queria o bem dela.
-- não... Não nos julgue más amigas... Mas assim como ela, vivemos em repúblicas e nunca ficamos fuçando muito o passado uma da outra.
Cumprimentei elas meio desnorteado e fui me afastando. Ouvi algumas vezes meu nome mas eu precisava saber de Vivian e só uma pessoa poderia me fornecer informações sobre ela. Me detestava só de pensar nisso mas não tinha jeito. Precisava falar com Jorge e ver o que ele sabia.
Rodei pelo campus e pelas repúblicas e não achei o desgraçado. Já tava desistindo de procurar quando eu vejo ele passa do com a galera do futebol. Esperei que passassem e o puxei pelo cangote. Eu era maior, mais forte e tava bem puto. Ainda mais com ele. Puxei e joguei ele na parede. O pessoal parou assustado e somente mandei seguir o caminho deles. Minha cara devia estar muito feia porque nem titubearam em obedecer.
-- o que tá fazendo, cara? Some assim e agora aparece querendo briga? - disse o verme. Olha a ousadia do cavalo.
-- Jorge, cadê a Vivian? - perguntei na lata. Sem enrolação.
-- eu que vou saber? Você acabou com tudo, cara!!! Só porque ela me preferiu a você!! Seu babaca!! Pensei que éramos amigos!! - ele gritava. Mas gritou com a pessoa errada sobre o problema errado.
Dei uma chute frontal nele com tanta força que ele perdeu o ar. Seu corpo se chocou com força na parede e o prendi pelo pescoço.
-- AMIGO?! AMIGO?! SEU IDIOTA!! SE VOCÊS TIVESSEM ME DITO EU SAIRIA DO CAMINHO DE VOCÊS DOIS!!! EU AMAVA VOCÊS DOIS!!! E ME TRAIRAM!! FUI ESFAQUEADO PELOS MEUS MELHORES AMIGOS!! PELO MEU IRMÃO!! PELA MINHA MULHER!! VAI SE FUDER, JORGE!! - dei-lhe mais um safanão e me afastei.
-- não era pra você descobrir desse jeito... Ela tentou resistir mas no final acabou cedendo. Nós nos amamos, Fernando!! E você com seu rompante estragou tudo!!! Ela se sentiu um lixo e voltou pra favela!! - ele dizia enquanto babava e chorava de dor e desespero.
-- ainda né dói, mas eu ainda possuo sentimentos por ela. Queria ver nós três vencendo na vida e fazendo algo de bom pela mulecada da favela mas aqui eu já vi que não sai mais nada. - virei as costas pra sair. - essa é a última vez que nos veremos, Jorge. Ainda sim, espero que se recupere e que mantenha ao menos a palavra de ajudar a comunidade.
Fui embora correndo. Precisava ver Vivian. Precisava vê-la e bem porque desde que as meninas me falaram, eu tava com um péssimo pressentimento. Eu sentia meu coração constantemente pular uma batida. O caminho de volta sendo tortuoso e minha mente imaginando as piores coisas possíveis. A subida ao morro foi como um revival mas de filme de terror. Alguns conhecidos vieram falar comigo mas me aconselharam a meter o pé da favela porque ia dar ruim se me pegassem ali. Eu não entendi o por que mas nem deu tempo. Logo dois meninos do tráfico me pegaram.
-- olha ele aí... O patrão tava querendo mesmo te ver...
Achei estranho mas os segui sem falar nada. Existia uma tensão quase palpável no ar. As pessoas na favela fingiam não ver. Passei em frente a casa de Vivian mas tava tudo fechado. A minha casa também. Havia tempo que não falava com minha mãe mas ela sempre me mandava mensagem. Pensando bem, tem tempo que ela não mandava nada. Subimos pelas escadas e vielas até eu ficar de frente pro dono. Não sabia o nome dele mas era conhecido como Cirilo. Um preto mais alto que eu forte e barrigudo. Ostentava alguns cordões de ouro e pulseiras. Era careca mas com uma barba encrespada bem maneira. Assim que estive de frente pra ele tentei um diálogo.
-- e aí, Cirilo... Os meninos falaram que queria me ver. Aconteceu alguma coisa? - perguntei preocupado.
-- o reizinho tá de volta!!! Depois do que fez com seus amigos tu tem coragem de voltar aqui, malandro... - disse se levantando e vindo na minha direção.
-- como é? Cirilo, não sei a história que você soube mas com certeza não é a verdade. Olha pra mim... Eu vim atrás da Vivian porque acabei de saber que ela largou a faculdade! - falei um pouco mais alto e isso foi o suficiente pro primeiro murro
-- eu dei tudo a vocês e você na primeira oportunidade deixa os dois pra trás!!! Seu gananciosozinho de merda!! A garota foi embora da favela junto com a família e botamos sua mãe pra fora por sua causa!! - disse me dando um bico na cabeça que fez tudo rodar.
-- espera, Cirilo. Tem algo errado... Me deixa provar. - dizia ainda tonto. Eu via a raiva nos olhos dele.
Como eu disse no conto anterior, pra quem não é da favela, não sabe que esses caras são tudo: prefeito, governador, presidente... Rei!! E eles ajudam a comunidade onde o estado falha. Cirilo cuidou para que não nos faltasse nada e tinha um estranho orgulho paterno de nós três. A raiva em seus olhos era decepção e desperdício de tempo.
Só tinha uma oportunidade de provar que há ia uma confusão. Pensei em mostrar o estúdio que fiz por causa de Vivian mas talvez ele não entendesse. Pela segunda vez no dia, eu ia tirar o anel e sentir aquilo me destruindo por dentro. Tirei a carteira com calma e cuidado. Tirei o anel e mostrei pra ele. Ele olhou confuso. Me aproximei e entreguei em sua mão.
-- olhe os dizeres por dentro, cirilo.- disse caindo no chão ofegante e ainda tonto. Senti a têmpora sangrando, empapando minha orelha e camisa.
Quando fiz aquela aliança, procurei sintetizar tudo que mais agradava a ela. As notas musicais pra lembrar do ritmo, o ouro branco pela pureza, o rubi pela paixão. A única coisa que coloquei minha foi a coisa mais brega do anel: nossas iniciais separadas por um coração.
Cirilo ficou admirando a jóia sem entender então comecei a falar.
-- consegui ter sucesso na vida, Cirilo. Trabalhei muito e tive um pouco de sorte. Com o dinheiro que consegui, comprei uma casa pra mim e pra Vivian e nela tinha um espaço pra fazer um estúdio. Dar a favela aquilo que a favela nos deu. Esse sempre foi o sonho dela. No dia que comprei a casa, pedi que fizessem essa aliança. Eu planejava pedi-la em casamento hoje, no dia de nossa formatura.
Cirilo arregalou os olhos surpreso e confuso.
-- então que diabos tá havendo aqui? - ele disse bem perdido.
-- eu não sei! Eu é que apanhei... - disse sentado no chão arfando.
-- falaram que você tinha arranjado uma mulher e passado a perna nos dois. Por isso ela voltou mas ela nunca falava o que tinha acontecido!! - disse ele puto, agora ciente de que foi enganado-- eu quero saber quem foi que trouxe essa informação. Vai atrás do filho da puta- ele disse me ajudando a levantar colocou o anel no meu bolso.
-- Cirilo, por favor, só me diz onde ela tá e pra onde mandaram minha mãe....- falava enquanto tentava me recuperar. - eu preciso falar com a Vivian
Cirilo pegou um paco de dinheiro e deu na minha mão.
-- eu não quero saber como mas acha a garota. Depois volta porque eu preciso tirar esse história a limpo quero saber quem foi o filho da puta que me fez de bobo!! Ah! - quase esquecendo do principal- sei que eles foram pro interior de Minas.
Isso acendeu uma luz.
-- eu sei onde eles estão! - me soltei dele e o agradeci. Logo em seguida fui embora o mais rápido que pude.
Fui pra casa. Fiz uma pequena mochila de viagem com algumas roupas. Tô ei um banho demorado pra tirar o sangue de mim enquanto pensava. No banho eu sorri e chorei. Sorri porque de fato eu a amava. Amava Vivian com todas as minhas forças e mesmo indo contra todo meu ser, me vi capaz de perdoá-la. Mas também chorei de medo. Medo de ser tarde, de nosso tempo já ter passado, de tudo já ter mudado a única coisa que me movia até Minas era a esperança de que ela tivesse bem e de vê-la de novo. Queria entender o que houve mas a motivação era o bem estar dela. Parti assim, com um misto de sensações e emoções.
A viagem foi horrível minha cabeça não parava de pensar as maiores atrocidades. O ônibus deslizava sereno pela estrada noturna em um silêncio quase sepulcral. Dormi e acordei várias vezes. Em todas elas revivi a cena da traição. Sempre percebendo que deixava passar alguma coisa.parecia que meu subconsciente agora começava a desbloquear a cena com mais clareza. As coisas pareciam fora de lugar. A cena estava mais suja, mais sombria. Acordei pela quarta vez com o motorista me cutucando dizendo que chegamos ao destino. Procurei uma pensão meia boca e comecei a procurar por Vivian.
Passei dias a sua procura mas parecia que tinha parado na cidade errada. Ninguém sabia dela. Já estava desistindo quando vi sua irmã mais nova. Era impossível confundir. Continuava aquela pretinha linda de olhos expressivos. A diferença é que agora estava próximo a maioridade e tinha um corpo quase tão bonito quanto o da irmã.queria me aproximar mas algo me alertou na hora. E se ela soubesse da história tal qual Cirilo? Optei por seguir até seu destino e perguntar por ela. Mas se ela tava aqui, por que ninguém conhecia Vivian?
Segui a menina a distância até uma farmácia e assim que a vi saindo, fui até lá.
-- boa tarde, meu amigo - falei com o máximo de simpatia que consegui.
-- outro carioca? Esses trem tão vindo tudo pra cá? - retrucou com uma surpresa divertida.
-- eu tô procurando o endereço daquela carioquinha que saiu daqui. Sou primo do rio e queria fazer uma surpresa... Será que você ajuda o irmão aqui? - disse ainda rindo de sua surpresa.
Ele me olhou desconfiado mas felizmente minha simpatia valeu apena.
-- ah! Eles tão morando no sítio do velho Nestor. É logo ali seguindo aquela estrada.
Fiquei tão feliz que esqueci de agradecer. Só corri pela estrada.
Vou abrir um parêntese divertido aqui porque a gente escuta mas sempre acha que é piada. Quando um mineiro falar que um lugar é logo ali, se prepare pra uma booooa caminhada.
Andei pela estrada por longas duas horas. É isso porque parte dela fiz correndo. Vi pastos e paisagens idílicas. Vacas e cavalos. Até que me vi frente a uma porteira. Eu estava perto. Meu corpo todo tremia de ansiedade e tensão. Não sabia o que iria acontecer quando me vissem. Passei pela porteira e comecei a explorar o sítio. Ele era imenso com um aviário, um pasto e também um cativeiro pra porcos. Parecia uma fazenda de produção de produtos agrícolas mas algo bem artesanal. Bem ao longe vi uma casa e a direita da casa, em um aclive longínquo, vi uma silhueta muito conhecida. Mesmo distante, eu sabia quem era. Vivian. Ela estava embaixo de uma árvore.corri até lá e me aproximei com cautela.
-- Vivian? - falei baixo mas audível.
Eu vi seu corpo se empertigar. Ela usava um vestido leve sobre uma camisa feminina de manga. O vestido ia até abaixo dos joelhos. Seus cabelos loiros em um coque frouxo. Seu corpo parecia ter ganho curvas mais voluptuosa mas não havia engordado uma grama sequer. Continuava linda. O tempo parecia ter parado pra ela. E ela havia reconhecido minha voz. Eu sabia disso. Ela se virou pra mim lentamente e pude ver lágrimas se formando em seus olhos.
-- Nando? - disse com a voz chorosa.
Não consegui me segurar. Avancei sobre ela, segurando seu rosto delicadamente e a beijei. Não. Aquilo não foi um beijo. Dizer que foi um beijo é minimizar toda a carga emocional daquele momento. Eu me derramei dentro dela. Despejei todo o meu ser. Dei a ela todo meu amor incondicional. Mostrei a ela que eu fui e continuo sendo só dela. Que no corpo dela estava meu lar e que minha completude só vinha quando estávamos juntos e, acima de tudo, que meu mundo só fazia sentido com ela nele. Foi intenso, foi forte mas o mais importante de tudo, é que foi recíproco.
Suas mãozinhas me puxaram pro corpo dela se encaixando perfeitamente ao meu corpo como sempre fora. Eu sentia o beijo salgado das lágrimas dos dois. Aquilo não era só um abraço também. Era ela recuperando o que ela achava que tinha perdido. Eram dois corpos se fundindo em um único ser de amor. Era ela dizendo que mesmo quando eu não quis, eu pertencia a ela e mesmo não admitindo, ela me pertencia.
As peças de roupa foram caindo naturalmente, sem urgência, sem pressa. Minha camisa foi estirada no chão pra nós e eu sentei sobre ela. Vivian tira as mangas do vestido e a camisa, ficando só de calcinha. Ela era perfeita. Ela sempre foi perfeita. Sempre linda. Os seios um pouco maiores mais ainda durinhos, uma linha fina e quase imperceptível no baixo ventre eram as novidades. Ela se aproxima como se flutuasse e senta no meu colo de frente pra mim. Somente quanto sinto seu sexo roçando no meu percebo que após ela, não transei mais. Ela abre minha calça com cuidado e esmero e afasta sua calcinha sentando com sua buceta e envolvendo meu pau com aquela sensação tão deliciosamente familiar.
Nós não transamos ou fudemos ou qualquer coisa assim. Acho que aquela foi nossa primeira vez fazendo amor de verdade. Ela cavalgava com calma enquanto nós beijávamos. Minhas mãos deslizavam delicadamente em suas costas vez por outra, eu me afastava pra olhar pro seu rosto, pra me certificar de que aquilo era real, de que novamente eu me sentia inteiro. Enquanto a olhava, ela intensificou levemente os movimentos circulares. Ela ia gozar e eu iria junto. Ela arfa com força e sinto sua buceta espremer meu pau com força. Eu a abraço pela cintura e gozo como nunca havia gozado na vida.o céu alaranjado dava um toque feerico a cena.
A deitei sobre nossas roupas e ela se aninhou em meu corpo como sempre fazia. Senti-la assim novamente era uma felicidade sem tamanho. Seu calor familiar, seu cheiro de lar. Me senti completo após quase dois anos.
-- o que você faz aqui, Nando? - ela disse meio sonolenta.
-- vim pegar minha mulher de volta. - disse resoluto. Ela sentiu e percebi seu corpo vibrando animado.
-- eu quero você e mesmo que você ame o Jorge, eu vou lutar por você até que me diga pra parar. - a menção do nome do Jorge, seu corpo treme.
-- você não sabe... - ela disse em um misto de incredulidade e finalmente entendendo algo.
-- Não sei o que? - disse confuso.
A escuridão noturna começava a tomar o sítio e logo não enxergávamos nada na nossa frente. Alguns poucos vagalumes passeavam por ali. E nesse momento, recebi a notícia mais chocante que poderia esperar.
-- Nando... - disse Vivian baixo, com um tom de tristeza sentida.
-- sim, meu amor. - disse apertando o corpo dela contra o meu.
-- eu fui estuprada.