Domingo é dia de cu
Eu, Margarete, aos 70 anos, pensava que conhecia todos os segredos do meu coração. Mas ali, na chácara silenciosa de Mafra, com Gustavo ao meu lado, descobri que o desejo tem um jeito de reacender o que julgávamos apagado. Cada toque dele, cada sussurro, era uma faísca que transformava minha alma em brasa. O que começou como um consolo para nossas perdas agora era uma dança perigosa, e eu não queria parar.
A luz da manhã filtrava-se pelas persianas, desenhando listras douradas sobre os lençóis bagunçados. Estiquei o braço, buscando o calor de Gustavo, mas encontrei apenas o vazio. Antes que a saudade pudesse me engolir, ele surgiu do banheiro, usando apenas uma cueca preta que abraçava suas coxas musculosas, o torso ainda úmido do banho, brilhando como se o sol tivesse decidido morar em sua pele.
— Bom dia, rainha — disse ele, deitando-se ao meu lado, o corpo tão próximo que eu podia sentir o calor que emanava dele.
Virei o rosto, tentando esconder o rubor que subia pelas minhas bochechas. — Rainha? Já estou coroada de rugas… — brinquei, mas minha voz tremia, traída pelo desejo que já pulsava em mim.
— Coroada de histórias — ele corrigiu, sua boca encontrando meu ombro, beijando as sardas que o tempo havia desenhado. Cada toque era uma promessa, um convite que meu corpo aceitava antes mesmo que minha mente pudesse protestar.
Seus dedos desceram pela minha coluna, lentos, deliberados, e um arrepio percorreu-me, fazendo-me arquear as costas. Tentei segurar seu pulso, mas ele apenas sorriu, aquele sorriso travesso que me desarmava. — Tenho um presente — murmurou, a voz rouca, cheia de segredos.
Da mesa de cabeceira, ele pegou um frasco azul-celeste, o líquido dentro brilhando sob a luz. Franzi a testa, o coração disparando. — Isso não é daqueles…
— Lubrificante à base de água — ele interrompeu, vertendo uma gota na palma, o líquido reluzindo como uma joia líquida. — Mais suave que seda, Margarete.
Puxei o lençol até o queixo, o nervosismo misturando-se à excitação. — Gustavo, eu… não sou mais aquela jovem que…
Ele se aproximou, tão perto que nossos narizes quase se tocavam, seus olhos cor de mel prendendo os meus. — Você é você — sussurrou, a voz grave, cheia de uma certeza que me desmontava. — E eu quero você, não uma fantasia.
Deixei que ele afastasse o lençol, expondo minha pele madura ao ar fresco da manhã. Seus lábios roçaram meu pescoço, enquanto sua mão lubrificada traçava um caminho lento, do joelho à coxa, cada toque enviando choques pelo meu corpo. — Assim? — perguntou, um misto de calor e provocação na voz.
— Menos conversa… — rosnei, puxando-o pela nuca, meu corpo já rendido ao que viria.
O lubrificante escorria entre nós, frio no início, mas logo aquecido pelo calor dos nossos corpos. Seus dedos circulavam com uma paciência torturante, explorando-me de uma forma que fazia meu coração disparar e meu fôlego falhar. Mordi o lábio, tentando conter um gemido, mas era inútil. O prazer era avassalador, um ardor doce que me fazia querer mais, sempre mais.
— Por que… — consegui murmurar, arqueando-me contra ele, buscando alívio para a tensão que crescia.
— Porque você merece devoção — ele respondeu, seus lábios encontrando meus seios, sua língua traçando caminhos que me faziam tremer.
Quando ele me penetrou, o mundo pareceu se dissolver. Não havia gemidos altos, apenas nossas respirações entrecortadas, o ranger suave da cama, o pulsar dos nossos corpos em sintonia. Agarrei seus cabelos, surpresa pela fluidez do movimento, pelo prazer que superava o leve ardor inicial. — Gustavo… — chamei, a voz quebrada, perdida em sensações que eu nunca imaginei possíveis.
— Eu sei — ele murmurou, acelerando o ritmo, cada movimento preciso, como se ele conhecesse cada segredo do meu corpo.
O êxtase veio em ondas, meu corpo tremendo sob o dele, meus gemidos abafados contra seu ombro. Ele não parou, guiado por um desejo que parecia tão intenso quanto o meu, até que ambos nos entregamos completamente, o quarto preenchido pelo som das nossas respirações e pelo perfume agridoce do lubrificante.
Deitados de frente, suados e entrelaçados, ele traçou o contorno do meu quadril com o dedo ainda brilhante. — Arrependida? — perguntou, mordiscando minha orelha, sua voz um sussurro provocador.
Virei-me para ele, fingindo um olhar severo. — Você planejou isso.
— Por semanas — admitiu, rindo ao ver minha expressão de falsa indignação. — Pratiquei na minha mente. Queria que fosse perfeito… para você.
— Na bunda? — perguntei, entre o choque e a fascinação, erguendo-me nos cotovelos.
Ele me puxou de volta, prendendo-me sob seu corpo, seus olhos brilhando com uma mistura de ternura e desejo. — Queria que fosse você. Sempre você, Margarete.
O relógio marcava meio-dia quando nos encontramos novamente, agora com eu por cima, movendo-me com uma ousadia que não sabia que ainda possuía. O frasco vazio jazia no chão, testemunha silenciosa da nossa entrega. — Domingo que vem… — comecei, ofegante, sentindo o calor dele sob mim.
— Já tenho dois frascos novos — ele interrompeu, suas mãos firmes nos meus quadris, guiando-me com uma confiança que fazia meu coração disparar.
Ri, um som rouco e raro, antes de calar sua boca com um beijo longo, faminto. Lá fora, o mundo seguia seu curso, alheio ao que acontecia entre nós. — Não saio daqui hoje — anunciei, desabando sobre seu peito, meu corpo ainda vibrando com o prazer.
Gustavo acariciou meus cabelos prateados, sua respiração lenta, já meio adormecida. — Nem eu, rainha.
E assim ficamos, até que a manhã se transformasse em tarde, e o amor, uma promessa que se renovava a cada toque, a cada olhar. A chácara, antes um lugar de silêncio, agora era nosso santuário, onde o desejo não conhecia idade, e o coração, nenhuma regra.