Uma Nova Chama na Chácara - O Grande Final
Eu, Margarete, aos 71 anos, acreditava que o tempo havia apagado de mim qualquer chance de sentir o coração pulsar com a força de uma juventude esquecida. Mas ali, na chácara em Mafra, com Gustavo ao meu lado, descobri que o amor não respeita idade, regras ou convenções. Cada toque dele, cada sussurro, era uma chama que reacendia minha alma, e naquele dia, meu aniversário, o mundo parecia conspirar para selar nosso pacto proibido.
O sol ainda se arrastava tímido sobre as serras de Mafra quando abri os olhos, sentindo o peso quente do braço de Gustavo sobre meu ventre. A luz da manhã filtrava-se pela janela de madeira, desenhando listras douradas em sua pele bronzeada, como se o próprio dia quisesse abençoar o que compartilhávamos. Ele murmurava algo contra meu pescoço, palavras indistintas que dançavam entre o sonho e o desejo, suas mãos despertando meu corpo com movimentos lentos, quase sagrados.
— Margarete… — sussurrou, meu nome em sua boca soando como uma prece profana.
— Não fale — respondi, virando-me para encará-lo, meus lábios roçando sua clavícula, onde o sal do suor da noite ainda permanecia.
Fizemos amor como quem colhe frutas maduras no pomar: com cuidado, saboreando cada instante, cada suspiro. Seus dedos entrelaçaram-se aos meus, prendendo-me contra os lençóis úmidos, enquanto os pássaros da chácara começavam seu coro lá fora. Ele ria baixo, um som grave que vibrava em meu peito, quando arqueei as costas sob seu toque. — Você é meu ritual matinal — murmurou, traçando círculos suaves em meu umbigo com a ponta dos dedos.
— E você é minha heresia — retruquei, mordiscando seu lábio inferior, sentindo o calor de seu sorriso contra minha pele.
A manhã avançou, mas nós permanecemos entrelaçados, como raízes de uma árvore que nenhuma tempestade poderia derrubar.
Após o almoço, uma feijoada pesada que comemos entre risadas e beijos melados de cerveja, Gustavo me puxou para o pátio. O ar estava parado, impregnado com o cheiro de terra molhada e eucalipto, e havia uma urgência em seus olhos que fez meu coração disparar. Sem cerimônia, ele me empurrou contra a parede de tábuas envelhecidas da chácara, suas mãos agarrando meus quadris com uma fome que me arrancou um gemido antes mesmo do primeiro toque.
— Aqui? Alguém pode ver… — murmurei, uma mentira frágil, pois sabia que o isolamento do rancho nos pertencia inteiramente.
— Deixa que vejam — respondeu ele, seus dentes roçando meu ombro enquanto minha saia subia em um movimento fluido, como se o tecido soubesse que não havia como resistir.
Não havia languidez agora. Éramos puro instinto, dois corpos movidos por uma necessidade primal, suando não pelo calor do sol, mas pela urgência de nos fundirmos. Seus gemidos ecoavam contra meu pescoço, sincronizados com o canto das cigarras que vibrava ao redor. Minhas mãos deslizaram por suas costas, sentindo os arrepios sob meus dedos, e pressionei-as com força, querendo que ele sentisse o quanto eu o amava, o quanto precisava dele.
Depois, desabamos na rede amarrada entre duas árvores, balançando como náufragos em um mar de prazer. — Você me esvazia e me enche ao mesmo tempo — confessou ele, os olhos semicerrados contra a luz do sol poente.
Sorri, meu coração ainda acelerado. — É assim o amor, Gustavo. Um incêndio que não consome.
À noite, ele transformou o quarto em um santuário. Velas de cera derretiam sobre latas enferrujadas, lançando sombras dançantes nas paredes. O vinho tinto, servido em copos simples de café, era apenas uma desculpa para nossa celebração particular — meu aniversário, um marco que, na presença dele, parecia insignificante diante do que vivíamos. — Gustavo, você é a melhor coisa que já me aconteceu — sussurrei, meus olhos brilhando com lágrimas que eu não queria derramar.
— Hoje é seu dia, minha rainha — respondeu ele, sua voz carregada de uma ternura que fazia meu peito apertar.
O amor que fizemos então foi diferente. Lento, não por preguiça, mas por uma sacralidade que não precisava de palavras. Cada beijo era uma promessa, cada toque uma declaração. Quando ele entrou em mim, houve um momento de pausa, um silêncio onde nossos olhares se encontraram, e vi neles tudo o que nunca ousamos dizer em voz alta. Movemo-nos como dançarinos em uma coreografia antiga, guiados apenas pelo som de nossas respirações ofegantes. O cheiro do sexo misturava-se ao suor, ao vinho, ao perfume da noite que entrava pela janela.
— Margarete… — ele gemeu, e meu nome em sua voz soou como um adeus que eu não queria ouvir.
— Fica — supliquei, segurando seu rosto entre as mãos, meus dedos tremendo contra sua pele quente. — Fica até o fim.
Quando o êxtase nos atravessou, estávamos envoltos em um cobertor, nossos corpos ainda tremendo. Ele apontou para a janela, a lua cheia flutuando sobre os campos de Santa Catarina como um disco de prata. — É seu presente — brincou, mas sacudi a cabeça, meus olhos fixos nos dele.
— Meu presente é você. O melhor presente que uma viúva de 71 anos poderia ganhar.
Rimos, mas havia lágrimas em meus olhos, uma mistura de alegria e melancolia. Sabíamos que dias como aquele eram roubados do tempo, fragmentos de um paraíso que carregaríamos em segredo, como um tesouro escondido.
Na chácara, onde o vento sussurra os nomes dos amantes e os leva para longe, Gustavo e eu escrevemos nossa própria religião. Não com palavras, mas com a carne, com o pulsar dos nossos corações, com a entrega que desafiava o mundo. Meu aniversário não era apenas uma data — era a celebração de um amor que, contra todas as regras, nos tornou inteiros. E enquanto a lua brilhava lá fora, eu sabia que, com Gustavo, cada dia seria um recomeço, uma chama que nunca se apagaria.