Antes de prosseguir com meu envolvimento com Lucas Rodrigues, preciso falar sobre duas coisas que aconteceram nesse período, duas pontas soltas que precisavam ser fechadas na minha história, dois fantasmas que precisavam ser enterrados de vez.
A primeira delas foi a gravidez de Camille.
Minha ex-namorada e atual madrasta, essa frase por si só já era absurda o suficiente. Como vocês bem sabem, eu suspeitava que o filho poderia ser meu desde aquela noite de raiva e erro que transamos. Mas o destino, cruel como sempre, decidiu resolver a questão da forma mais dolorosa possível.
O bebê nasceu morto.
Camille teve uma gravidez complicada desde o início, pressão alta, diabetes gestacional, uma série de complicações que os médicos tentaram controlar mas não conseguiram. No oitavo mês, o coração do bebê simplesmente parou de bater. Ela teve que passar pelo parto sabendo que estava trazendo ao mundo uma criança que não iria respirar.
Foi um choque grande. Para meu pai, que já tinha escolhido o nome, comprado o berço, preparado o quarto. Para meu irmão mais novo, que estava animado com a ideia de ter um irmãozinho. E para mim também, de uma forma que eu não esperava.
Apesar de Camille ter jurado várias vezes que o filho não era meu, que era do meu pai, que eu estava sendo paranóico, sei lá, alguma coisa na minha cabeça suspeitava que sim, que poderia ser meu. E agora nunca saberia. Aquela possibilidade morreu junto com o bebê, enterrada sem resposta, sem certeza, sem closure.
Fui ao velório. Não pelos motivos certos - não fui porque amava Camille ou porque tinha alguma conexão com aquela criança não-nascida. Fui porque precisava encerrar aquele ciclo, precisava ver com meus próprios olhos que aquela possibilidade tinha morrido. E também porque, no fundo, sentia uma culpa que não conseguia explicar. E se fosse meu filho? E se eu tivesse perdido a chance de ser pai por causa de uma noite de raiva e irresponsabilidade?
Vi meu pai chorando pela primeira vez na vida. Vi Camille destruída, um fantasma de si mesma. E senti uma dor que não era só minha, mas coletiva, familiar, humana. A dor da perda, da possibilidade que nunca seria realidade, do futuro que nunca aconteceria.
Saí daquele velório diferente. Não melhor, não pior - apenas diferente. Mais consciente da fragilidade da vida, de como nossas escolhas podem ter consequências que nunca imaginamos, de como o arrependimento tem um gosto amargo que nenhuma bebida consegue apagar.
O segundo acontecimento foi ainda mais pesado, de uma forma diferente. Foi uma conversa que tive com Raul.
Estava chegando no meu carro depois da aula quando o vi encostado no capô, esperando. Olhei para os lados instintivamente - o estacionamento estava quase vazio, o sol já se pondo no horizonte. Confesso que fiquei com medo. Medo dele fazer alguma coisa, medo da raiva que eu sabia que ele carregava, medo das consequências da minha vingança.
— Diga, Raul, o que você quer? — falei firme, tentando não mostrar o nervosismo.
— Você é um canalha — ele disse sem rodeios, a voz carregada de uma raiva fria que era pior do que gritos — acabou com meu namoro com o Carlos.
— E você acabou com o meu namoro com o Carlos — rebati, colocando a mochila no banco de trás sem desviar o olhar dele — não seja por isso, estamos quites.
— Você não era pra ter feito isso — ele deu um passo na minha direção, e eu me preparei para qualquer coisa — eu te odeio. Mas sabe o que você é? Você é um rico mimado de merda, isso que você é.
— Ai, Raul, me poupe seus ataques...
— ME POUPE? — ele gritou, e pela primeira vez vi lágrimas nos seus olhos — você sabe por que eu era garoto de programa, Lucas? Você tem alguma ideia?
Fiquei em silêncio. Não tinha resposta para isso.
— Você acha que é fácil ter uma vida que eu sempre quis ter quando a vida não me dá oportunidades? — continuou ele, a voz quebrando — eu sofri muito, Lucas. Muito. Minha família é pobre, humilde. Meu pai tá preso há sete anos por um crime que nem cometeu, mas não tinha dinheiro pra pagar advogado bom. Minha mãe trabalha como empregada doméstica doze horas por dia pra sustentar eu e meus três irmãos mais novos.
Ele limpou as lágrimas com as costas da mão, mas novas continuavam caindo.
— A única solução que eu tive desde novo foi vender o meu corpo. Eu não vendia porque eu achava bom, porque eu queria, porque eu gostava. Eu vendia por pura necessidade. Pra ter o que comer, pra poder dar o que comer para minha mãe e meus irmãos. Pra pagar um cursinho e tentar entrar numa faculdade pública.. Para ter a roupa que eu precisava pra não ser humilhado.
Cada palavra era uma punhalada de culpa no meu peito.
— Você é um playboy de merda, sempre teve tudo na sua vida — continuou ele, apontando pra mim — escola cara, carro do ano, mesada gorda, pai presente, mãe que te ama, e tudo o que tem direito. Já eu? Eu não tive nada. Cada coisa que eu tenho, eu consegui vendendo pedaços de mim mesmo.
— Raul...
— Não me interrompe! — ele gritou — quando eu comecei a ficar com o Carlos, foi porque eu queria te atingir. Isso eu assumo. Eu estava chateado porque você me deu um fora, e sei lá, eu só queria te conhecer melhor. Desde o primeiro dia de aula você foi gentil comigo, me tratou como igual, sem saber nada, absolutamente nada sobre mim. E isso significou mais do que você imagina.
Ele pausou, respirando fundo.
— Mas então... então eu comecei a conhecer o Carlos de verdade. E tudo mudou. Eu me apaixonei por ele, Lucas. Pelo jeito dele de fazer piada até nas situações mais tensas, pelos beijos que me faziam esquecer de toda merda da minha vida, pelo toque dele que era gentil de uma forma que eu nunca tinha experimentado, pelo corpo dele, mas principalmente pela pessoa que ele é.
A voz de Raul ficou mais suave, quase nostálgica.
— O Carlos, pouco a pouco, foi ganhando meu coração e me fazendo descobrir o que era amor de verdade. Amor que não vinha com preço, que não tinha prazo, que não era transação. E eu pensei: finalmente. Finalmente eu tenho algo bom, algo real, algo meu.
— E então veio você — a raiva voltou à sua voz — ligou pra ele e ele foi feito um cachorro caramelo abanando o rabo. Não sei o que vocês falaram, não sei o que aconteceu naquele final de semana. Mas ele voltou diferente. Voltou mais triste, com aquele olhar de quem perdeu alguma coisa. Mas também voltou com mais sede de mim, como se estivesse tentando me usar pra esquecer você.
Ele balançou a cabeça com amargura.
— Mesmo assim, a gente estava bem. A gente estava construindo algo. Até em casamento o Carlos falava, Lucas. Casamento! Eu, um ex-garoto de programa, filho de presidiário, pobre, achando que poderia ter um final feliz. E então você vem e joga a bomba. Acaba com o meu namoro a troco de nada.
— Não foi a troco de nada...
— FOI SIM! — ele gritou — foi vingança pura e simples! Você é um desprezível, Lucas, isso que você é. Você é podre por dentro. Você não devia ter feito isso.
Raul se aproximou mais, seu rosto a centímetros do meu.
— Eu devia me jogar da ponte — disse com uma calma assustadora — e você ter essa culpa e esse sangue pelo resto da sua vida. Seria o que você merece. Mas não vou fazer isso. Sabe por quê? Porque eu não sou você. Eu não destruo pessoas por prazer.
— Raul...
— Eu vou seguir em frente — ele continuou, se afastando — e espero de verdade que você tome no cu algum dia. Porque aqui se faz, aqui se paga. Hoje você me tirou o Carlos. Espero que um dia alguém tire de você alguém que você ama, sem você ter chance de se explicar, sem você poder fazer nada. Aí você vai saber como é essa dor.
Ele fez aspas com os dedos.
— Eu sei que eu errei. Devia ter contado pro Carlos sobre meu passado desde o início. Mas o medo de perder ele era maior do que qualquer coisa. E você usou isso contra mim. Jogou baixo, muito baixo. Mas saiba que nossa "guerra" acabou. Não vou me vingar, não vou fazer nada com você. Vou deixar o karma fazer seu trabalho. E você venceu, se era isso que você queria.
Ele começou a se afastar, mas se virou uma última vez.
— Você é um cuzão, Lucas. Um cuzão com diploma e carro do ano, mas continua sendo um cuzão.
E então foi embora, deixando-me sozinho no estacionamento com o peso das suas palavras esmagando meu peito.
Ele tinha vomitado tudo, falado tudo que precisava ser dito. E eu fiquei mal. Realmente mal. Porque por um lado, ele tinha razão. Assim como Carlos também tinha razão nas coisas que me disse. E pela primeira vez, comecei a me ver não como o mocinho da minha própria história, mas como o vilão da história de outras pessoas.
Sei que isso pode parecer piegas, mas faz parte da vida. Em algum momento de nossas vidas, sempre vamos ser o vilão de alguém ou o mocinho de outra pessoa. E como eu já falei várias vezes ao longo dessa história, eu estava num processo de amadurecimento. Toda essa situação - a morte do bebê de Camille, o confronto com Raul, a perda de Carlos - estava me fazendo amadurecer de uma forma dolorosa mas necessária.
Agora, voltando ao Lucas Rodrigues.
Após nosso primeiro encontro naquela festa na praia, depois da troca de Instagram e WhatsApp enquanto ele guardava o violão, ele foi embora com os amigos da banda. E eu fiquei ali, bêbado e confuso, sem saber exatamente o que tinha acabado de acontecer.
Não sei explicar o que senti naquele momento, mas foi uma coisa boa. Diferente de tudo que tinha sentido nos últimos meses. Apesar de saber que ali seria um terreno arriscado - afinal, ele namorava -, algo bom em mim nasceu ou floresceu. Como uma planta que finalmente recebe sol depois de meses no escuro.
E eu sabia, com aquela certeza irracional que a atração provoca, que seria questão de tempo até ter Lucas Rodrigues comigo.
A noite terminou de forma nada romântica - acabei bebendo mais e mais, e terminei dormindo com um colega da minha turma de Nutrição. Sexo mecânico, sem sentimento, só mais um corpo na lista. Mas dessa vez, pela primeira vez em meses, eu não estava pensando na pessoa com quem estava transando. Estava pensando em Rodrigues.
O final de semana passou voando, cada hora parecendo uma eternidade. Quando chegou segunda-feira, estava ansioso de uma forma que não sentia há muito tempo. Ansioso para vê-lo na academia, para confirmar que aquele encontro tinha sido real e não uma alucinação alcoólica.
Quando finalmente cheguei na academia no meu horário habitual, lá estava ele. Malhando bíceps, a camisa regata marcando cada músculo do corpo, o suor começando a brilhar na pele. Quando me viu entrar, ele me olhou e sorriu - aquele sorriso que me desarma completamente.
Fui até ele tentando parecer casual, como se meu coração não estivesse disparado.
— E aí, beleza? — falei, estendendo a mão num cumprimento, jogando charme.
— Tranquilo — falou ele me olhando firme, apertando minha mão um segundo a mais do que o necessário.
— Desculpa por sábado — disse coçando a cabeça nervosamente — eu tava muito bêbado, acho que falei besteira, né?
— Relaxa, acontece — ele disse piscando o olho pra mim, e senti meu estômago dar um nó — e então, vai malhar o quê hoje?
— Peito.
— Vou só fazer esse exercício e vou começar peito também — falou ele com aquele olhar que me penetrava até a alma — podemos fazer juntos, o que acha?
— Pode ser — tentei soar casual, mas minha voz saiu mais animada do que eu pretendia.
E então treinamos juntos pela primeira vez. Eu dava alguns toques pra ele sobre a execução dos exercícios - afinal, estava mais avançado em Educação Física. Ele dava outros toques, mais sutis, que não tinham nada a ver com musculação. Um olhar prolongado demais, um toque na minha lombar pra "corrigir a postura", uma risada que durava mais do que a piada merecia.
Fomos conversando, nos conhecendo pouco a pouco, mas bem aos poucos. Não era um date - estávamos numa academia lotada, suando, fazendo supino. Mas tinha algo de íntimo naquela troca, algo que ia além do físico.
Quando terminamos o treino, ficamos escorados no meu carro no estacionamento, conversando como se não tivéssemos nenhum outro compromisso no mundo. E foi ali que ele começou a me contar sobre sua vida de verdade.
Ele tinha namorado uma menina por anos. Foi fazer um intercâmbio no Canadá, e lá ficou com um cara pela primeira vez. Meio que se apaixonou, viveu um romance de filme naqueles doze meses longe do Brasil. Quando voltou, ainda namorando a menina, conheceu o melhor amigo dela. E se apaixonou de novo.
— Eu era um cafajeste — admitiu ele sem vergonha — traía ela bastante. Não me orgulho disso, mas era quem eu era na época. Até que não aguentei mais a mentira e terminei com ela.
— E o melhor amigo dela?
— Rafael — disse o nome com carinho — ele tem até um filho de um relacionamento anterior. Bruninho, adoro aquele moleque desde o primeiro dia. E acabei me apaixonando pelo pai e pelo filho como um pacote completo.
— E vocês estão juntos há quanto tempo?
— Alguns meses eu diria, a gente se conhece a mais tempo, mas estamos juntos a pouco tempo — respondeu, e vi orgulho nos seus olhos — estou tentando fazer diferente. Tentando ser fiel, ser presente, ser o parceiro que ele merece.
Houve uma troca de olhares muito forte naquele momento. Um reconhecimento mútuo de que aquilo era perigoso, era errado, mas era inevitável.
A gente se despediu, mas claro que eu pensei muito em Rodrigues durante toda aquela noite. Sei lá, ele tinha um ar de safado e cafajeste que me lembrava um pouco de mim mesmo. Imaginar ele, as coisas que ele me disse sobre seu passado, me fez subir pelas paredes. E só me deu mais e mais vontade de ter aquele homem só pra mim. Ou pelo menos provar.
Durante aquela semana, a gente combinou de treinar todos os dias. Viramos parceiros oficiais de academia. E a cada dia, íamos nos conhecendo mais, nos abrindo mais. Contei a ele sobre minha história - sobre Luke, sobre Carlos, sobre minha autodestruição. Ele contou mais coisas sobre sua vida, sobre as dificuldades de ser pai de criação, sobre o medo de repetir os erros do passado.
E sempre, depois do treino, ficávamos escorados no meu carro conversando. Eram conversas que se estendiam por horas, sobre tudo e nada. Como dois adolescentes descobrindo o mundo juntos, mesmo sendo adultos com histórias complicadas nas costas.
Até que finalmente, duas semanas depois daquele primeiro encontro na festa, ele me pediu uma carona.
— Meu carro tá na oficina — disse ele com um sorriso que sugeria que talvez o carro não estivesse na oficina coisa nenhuma — pode me dar uma carona?
— Claro — respondi, tentando não mostrar o quanto meu coração estava acelerado.
O caminho até o prédio dele foi preenchido com conversas superficiais sobre treino, sobre a semana, sobre nada importante. Mas havia uma tensão no ar, uma expectativa, um algo não-dito que vibrava entre nós.
Quando chegamos em frente ao prédio dele, estacionei mas nenhum de nós fez menção de sair do carro. Ficamos ali, conversando sobre coisas aleatórias, prolongando aquele momento, ambos sabendo para onde aquilo estava indo mas nenhum querendo dar o primeiro passo.
Até que ele me olhou. E eu olhei de volta. E então não nos aguentamos mais.
Não sei quem beijou quem primeiro. Foi simultâneo, urgente, inevitável. Nossas bocas se encontraram com uma fome que vinha sendo construída há semanas. Era um beijo quente, molhado, cheio de vontade - porque ambos queríamos aquilo há tanto tempo.
Ele ainda namorava Rafael. Mas naquele momento, por alguns minutos, ele esqueceu Rafa completamente. E se entregou pra mim da mesma forma que eu me entreguei pra ele.
Nosso beijo foi mais que intenso, foi revelador. Foi a confirmação de que aquela química que sentíamos não era imaginação. E aos poucos, entre beijos e mordidas, fomos tirando nossas roupas. Camisas voaram pro banco de trás, shorts foram retirados com urgência.
— Você é muito gostoso — ele disse sussurrando no meu ouvido, a respiração quente me fazendo arrepiar inteiro.
— Não mais que você — respondi com a voz rouca enquanto ele tocava meu peito, meus braços, minha barriga, explorando cada centímetro como se estivesse mapeando um território novo.
— Posso? — disse ele, a mão descendo, acariciando meu peito com uma delicadeza que contrastava com a urgência dos nossos beijos.
— Deve — foi tudo que consegui dizer.
E então ele começou a passar a língua pelo meu pau, descendo devagar, suas mãos explorando todo o resto do meu corpo, e introduzindo um dedo no meu rabo. Cada toque era elétrico, cada chupada no meu pau deixava uma marca invisível mas permanente.
— Você é muito gostoso — ele confessou largado meu pau — sempre quis isso desde quando te vi pela primeira vez na academia.
— Digo o mesmo — respondi, puxando ele pra mais um beijo profundo.
E então ali, de frente ao prédio dele, com o risco de alguém passar e ver, acabamos transando no carro. Lucas Rodrigues me pegou de um jeito que eu não era pego há meses. Com vontade, com desejo, mas também com uma conexão que ia além do físico.
Meu carro era pequeno, um hb20 branco. O Rodrigues me comeu forte, ele tinha um pau macio e reto acho que devia ter uns 19cm, foi um sexo gostoso como a tempos não tinha, acabei gozando jatos e mais jatos de porra melando o teto do meu carro e o vidro lateral, eu gozei como a tempos não gozava Até hoje não sei como conseguimos fazer o que fizemos naquele espaço apertado. As janelas ficaram embaçadas, nossos corpos entrelaçados em posições que desafiavam as leis da física e da ergonomia. Mas funcionou. Funcionou perfeitamente.
Depois, suados e ainda sem fôlego, ficamos ali deitados da forma mais desconfortável possível, meu encosto reclinado, ele meio que em cima de mim, nossas respirações sincronizando lentamente.
E foi naquele silêncio pós-sexo que percebi: eu sabia que estava me envolvendo em uma cilada. Lucas Rodrigues era como se fosse meu espelho - refletindo não quem eu era, mas quem eu poderia ser. A gente tinha algumas coisas parecidas de caráter, algumas histórias similares. E ele namorava. Eu sabia que isso seria um grande problema, uma repetição de padrões que eu jurei que nunca repetiria.
Mas eu não queria saber de nada naquele momento. Só queria me entregar ao presente, sem medo do passado ou ansiedade pelo futuro. Aquele envolvimento com Lucas Rodrigues foi algo "leve" apesar de toda a atmosfera pesada em volta dele - o namorado, a culpa, a repetição de erros.
Mas foi algo que me fez despertar de uma vida que vinha levando no automático. Ele não conhecia nada da minha vida antes - não tinha preconceitos, não tinha julgamentos pré-formados. Eu me abri pra ele de uma forma que não me abria há meses. Falei sobre Luke, sobre Carlos, sobre minha autodestruição, sobre a vingança contra Raul. E ele não me julgou.
Assim como eu não julguei as coisas que ele também fez - as traições do passado, as mentiras, os erros. E isso foi bom pra mim de uma forma que eu não esperava. Porque me mostrou que existia um mundo lá fora onde as únicas pessoas não eram Luke ou Carlos.
Eu tinha passado tanto tempo obcecado por eles dois - por ter Luke, por reconquistar Carlos - que esqueci que existiam outras pessoas no mundo. Outras conexões possíveis, outros futuros imagináveis.
Por tanto tempo, olhei apenas para Luke e Carlos. Eram eles que ocupavam meus pensamentos, meus sonhos, minhas esperanças. Luke tinha sido meu primeiro amor verdadeiro, aquele que me ensinou o que era desejo, paixão, mas também dor e trauma. Carlos tinha sido aquele que me mostrou que eu poderia amar de novo, que poderia construir algo sólido, até eu mesmo destruir tudo por orgulho e vingança.
E enquanto eu olhava fixamente para essas duas estrelas no meu céu, não percebia que havia outras luzes brilhando ao meu redor. Não via que talvez o amor pudesse estar ao meu lado, em lugares inesperados, com pessoas que eu nem imaginava.
É engraçado como a gente se torna cego quando se apega demais a uma ideia, a uma pessoa, a um futuro imaginado. Quantas oportunidades eu deixei passar porque estava ocupado demais olhando pra trás? Quantas pessoas eu ignorei porque não eram Luke ou Carlos?
Lucas Rodrigues me mostrou isso sem nem saber. Não era melhor que eles, não era pior. Era apenas diferente. E talvez diferente fosse exatamente o que eu precisava para finalmente sair do ciclo autodestrutivo em que tinha me jogado.
Mas essa percepção ainda estava começando. Ainda era frágil, incerta, coberta pela culpa de estar com alguém comprometido. Ainda viria muita coisa pela frente antes que eu realmente entendesse o que estava acontecendo.
Por enquanto, estava apenas vivendo. E pela primeira vez em muito tempo, isso parecia ser o suficiente.