Naquele momento, as dúvidas que deveriam pairar na minha cabeça, não existiam. Procurar Aoi era a minha prioridade, a culpa e remorso por ter falado com ela daquela forma eram ainda maiores do que qualquer coisa.
Akemi sabia onde ela estava, eu sequer desconfiei ou me perguntei como. Eu simplesmente a segui. Chamamos um taxi, e assim seguimos ao local onde ela determinou.
O taxista seguia sem perguntas, enquanto por dentro, o que eu mais tinha eram perguntas para serem esclarecidas. A cada semáforo, a cada curva, o silêncio entre mim e Akemi só aumentava. Eu encostei a testa contra o vidro da janela, vendo os reflexos da cidade passarem rápido demais, como se o tempo estivesse correndo contra mim.
— Akemi… — quebrei o silêncio, com a voz presa na garganta. — Eu falei coisas horríveis pra Aoi. Coisas que… não consigo tirar da cabeça agora.
Ela virou devagar, me observando como se já soubesse exatamente o que eu ia dizer.
— Pode desabafar se quiser, Kouta-kun. O que aconteceu? — perguntou, calma demais.
— Aconteceu uma coisa terrível. — engoli seco. — Aoi teve que se rebaixar a fazer coisas horríveis para que eu pudesse me recuperar. Coisas que eu acredito que nem ela deva se orgulhar.
— Você está falando dos vídeos, não é? — Akemi comentou. Virei para ela, com os olhos arregalados, surpreso por até ela já saber.
— Aoi que te contou? — perguntei.
— Não, eu tenho meu jeito de descobrir. — Comentou.
Ela respirou fundo, mas não pareceu surpresa. Apenas pousou o olhar para a frente, como se refletisse sobre algo.
— Você foi pego de surpresa, Kouta-kun. — disse, por fim. — Ninguém reagiria bem a isso.
— Não é desculpa. — balancei a cabeça, apertando os punhos. — Eu só a ataquei na hora, não pensei em certas coisas que deveriam ser levadas em consideração.
— Tipo o que?
— Tipo o fato de tudo aquilo ter sido um sacrifício que ela fez por mim. — Disse, enquanto baixava a cabeça. — Tipo o fato de que eu nunca percebi os demônios que assolavam a vida dela. Eu sinto que poderia ter feito mais.
— Não se sinta assim, ok? Você fez muito por ela, olha o que ela foi capaz de fazer por você e sinceramente? Todos erram. — respondeu. — Mas você vai ter chance de se desculpar.
Levantei os olhos para ela.
— Será mesmo que eu vou?
Um pequeno sorriso se desenhou nos lábios dela.
— Claro que vai. Hoje, vai tudo ser resolvido. Confie em mim, Kouta-kun.
Eu fiquei ali em silêncio. Perdido em meus próprios pensamentos, enquanto Akemi seguia do meu lado. Ela pegou em minha mão, e acariciou os meus dedos, com carinho.
— Eu nunca tive chance com você no fim das contas, não é?
— Como assim?
— É a verdade. — ela apoiou a mão no meu braço. — Você sabe que eu sempre gostei de você, Kouta-kun.
— Akemi-chan, eu sou seu amigo, além disso. — Ela me interrompeu.
— Eu sei disso. Você sempre me viu somente como uma amiga. Eu sempre odiei a Aoi. Porque ela entrou em nossas vidas e roubou você de mim. Eu... Fui embora pra te esquecer, mas eu nunca consegui. Sabe, eu poderia aproveitar isso para te roubar somente pra mim agora.
Olhei para frente, tentando acreditar. Mas algo ainda me incomodava.
— Akemi… O que você está tentando dizer? — perguntei, de repente.
Ela desviou o olhar para a janela.
— Não é nada, Kouta-kun. Vamos, como eu disse,hoje tudo estará terminado.
— Terminado? Akemi-san, o que você quer dizer? — insisti. — O que está acontecendo?
— Não importa. — respondeu, seca. — O que importa é que você vai poder se ver finalmente livre de suas incertezas hoje.
Fiquei em silêncio, mastigando aquela resposta. Não era convincente. Mas eu não queria perder tempo discutindo.
Enquanto o carro avançava pelas ruas estreitas do centro, percebi pelo reflexo do vidro que havia um farol atrás de nós. Sempre na mesma distância. Sempre no mesmo ritmo.
Franzi o cenho.
— Você viu? Eu posso estar errado, mas... Tem alguém seguindo a gente…
Akemi olhou rápido pelo retrovisor, depois voltou o olhar para frente.
— Deve ser coincidência.
Mas eu sentia que não era. Ainda assim, me forcei a ignorar. Eu só queria encontrar Aoi.
O táxi parou diante de um galpão comercial abandonado. A pintura descascada, janelas quebradas, e uma porta de ferro pesada, enferrujada, que parecia não ser aberta há anos.
Desci do carro com o coração disparado.
— Ela está aqui dentro? — perguntei, tentando conter a ansiedade.
— Sim. — Akemi respondeu, com uma firmeza que me pareceu ensaiada.
Ela puxou a porta metálica para cima. O barulho ecoou alto, como se a cidade inteira pudesse ouvir.
— Entre. — disse ela, com um gesto.
Hesitei um instante, mas dei dois passos para dentro. A escuridão me envolveu. O galpão estava vazio, exceto por algumas caixas espalhadas. O silêncio era sufocante.
— Aoi?! — chamei, a voz ecoando nas paredes.
Nenhuma resposta.
— Aoi, sou eu, Kouta! — gritei, avançando alguns passos.
Atrás de mim, ouvi o som da porta sendo abaixada de novo. O coração gelou.
— Akemi? — virei o rosto, mas antes que pudesse terminar a frase, senti um impacto violento na lateral da cabeça.
Tudo girou. As pernas falharam. O chão se aproximou rápido demais.
No meio da queda, consegui enxergar Akemi parada ali, na entrada, metade do rosto mergulhado na sombra. Não havia ódio nos olhos dela, havia dor.
Minha visão embaçava, mas ainda ouvi sua voz, baixa, quebrada:
— Me desculpa, Kouta… eu não tive escolha.
E então, o escuro me engoliu.
Acordei num breu pesado, minha cabeça latejava como se tivesse sido esmagada por dentro. O ar que entrava pelos meus pulmões era raso, abafado… tentei inspirar mais fundo, mas algo me sufocava. Foi só então que percebi: uma mordaça apertava meus lábios, prendendo qualquer tentativa de fala.
Movimentei o pescoço, e o som da madeira rangendo contra ferro me entregou outra verdade amarga — eu estava amarrado a uma cadeira. Meus pulsos ardiam sob a pressão das cordas.
O silêncio do galpão não era vazio. Aos poucos, sons começaram a surgir, arranhando a escuridão. Um murmúrio grave, gemidos abafados, ecos distorcidos que mais pareciam vir de dentro da minha cabeça.
A venda sobre meus olhos foi arrancada de repente, e a luz forte me cegou. Pisquei várias vezes, e quando a visão enfim clareou, quase vomitei.
Diante de mim, um estúdio improvisado tomava forma dentro daquele galpão decadente. Câmeras, cabos, refletores improvisados. E no centro, um telão enorme exibia imagens que eu conhecia bem demais.
Diante de mim, sobre aquela tela fria, estava sendo projetado justamente um dos vídeos que assisti de Aoi. Onde ela estava amordaçada, enquanto era completamente fodida por aquele homem desgraçado. Ela já parecia completamente drogada, rendida, sem nenhuma reação.
Aquele vídeo que eu tanto conhecia, e que a minha mente tentava esquecer, mas que acabou sendo exibido pra mim, como uma verdade cruel que nunca poderia se apagar, como uma marca que sempre estaria ali, que por mais que a boa vontade dela existiu, a minha Aoi também não existia mais.
Meu peito queimou de ódio, cada músculo tentando romper as cordas. Eu forcei, grunhi contra a mordaça, mas nada cedia. A corda que me prendia mordia minha pele até abrir pequenos cortes.
Na minha frente, o cruel projetor continuava exibindo as cenas.
A tela apareceu imagens que insistiriam em ficar na minha mente, desde imagens onde Aoi era puxada contra ele mesmo, enquanto ele pressionou ela e chupava seus seios, passeava sua língua asquerosa pelo corpo dela enquanto ela estava imóvel na cama praticamente drogada e sem nenhuma reação.
Momentos em que ele a chupava, e seus olhos choramingavam como se ela não quisesse estar ali, mas o corpo dela já estava completamente rendido. Momentos em que ele praticamente puxava o cabelo dela e jogava seu pau contra o rosto dela, onde ela fechava a boca para não engolir o pau dele, porém, ela olhava para a câmera e observava alguma coisa, e logo em seguida fechava os olhos e começava a chupá-lo.
Também reassisti a cena do iate, fiquei ali por 20 minutos assistindo todo o tipo de degradação e humilhação passados por ela e eu senti a minha mente se quebrar, senti minha raiva voltar e tudo o que eu queria era quebrar a cara daquele maldito e sair dali.
Virei a cabeça para o lado e então meu sangue gelou.
Akemi estava ali, em pé, como uma boneca quebrada. Seu corpo vestia uma lingerie, porém completamente erótica, onde os seios estavam expostos, e ela vestia uma calcinha fio dental que parecia aperta-la entre as pernas. O rosto avermelhado, a língua semi-exposta entre os lábios, os olhos vidrados. Não se movia, não piscava. Um fio de saliva escorria pelo canto da boca. Dopada.
— Akemi… — tentei chamar, mas o som morreu na mordaça.
Foi nesse instante que a porta ao fundo rangeu. O eco metálico atravessou minhas veias como um prego sendo martelado.
Foi então que o meu algoz e maior pesadelo estava ali, na minha frente. Com aquele óculos de garrafa, com aquele sorriso triunfante, com os olhos de um predador em meio aquele monte de banha asquerosa. Era ele, o tal produtor.
Andava devagar, com a postura relaxada, como se fosse o dono de tudo aquilo. O sorriso nos lábios era mais do que triunfo — era escárnio puro. Ele me encarava como se tivesse diante de si um prêmio finalmente conquistado.
— Parece que a minha putinha já está pronta para o espetáculo. A nossa outra convidada já está sendo preparada. Hoje teremos um espetáculo inesquecível! Hahaha!
Parou alguns passos à frente, cruzou os braços e inclinou a cabeça para o telão, onde o rosto da Aoi se contorcia em mais uma cena humilhante, onde ele mesmo a humilhava, enquanto deflorava-a de todas as formas.
— E então, Kouta-kun… — sua voz soou calma, quase amistosa. — O que está achando do espetáculo? Eu confesso que essa puta é realmente gostosa!
Meu corpo inteiro tremeu, não de medo, mas de raiva. Eu só queria destruir aquele homem com minhas próprias mãos.
Ele deu um passo mais perto, abaixou o tom, quase sussurrando:
— Dói, não é? Ver com seus próprios olhos aquilo que você tentou negar… aquilo que ela fez… e ainda assim você continua acreditando ela fez por você.
A luz do projetor queimava minha retina como se tentasse marcar a imagem na minha cabeça. Eu via o rosto da Aoi na tela, via os cortes, os ângulos — tudo aquilo que já tinha me destruído antes — e, agora ali, tão perto, parecia um ataque ao pulmão. Tentei erguer o corpo, puxei com força os pulsos, rangeram as cordas, minha pele ardia, mas não saía nada além de um gemido abafado pela mordaça.
— Olha só pra ela, Kouta-kun — disse o produtor, caminhando devagar, sem pressa. — Ela nasceu pra ser uma estrela do pornô adulto, não nasceu? E você ai, querendo priva-la desse mundo que ela mesma escolheu!
A voz dele era doce como veneno. Ele encaixava palavras que entravam por dentro e envenenavam nossa mente, como um veneno que penetra nosso corpo e nos mata.
Minha visão tentava focar. Vi o reflexo das luzes brilhando nos olhos dele, num sorriso que não escondera sequer um fiapo de compaixão. Quis gritar de raiva. Quis xingá-lo até ficar sem língua. Não pude. As cordas e o couro me calavam.
Ele riu, com o fato das minhas tentativas, sem sucesso, de falar alguma coisa, enquanto o projetor continuava a exibir as malditas imagens da minha derrota.
— Você é patético, Kouta-kun. — respondeu ele, quase carinhoso, como quem explica a alguém que não entendeu a beleza de uma obra. — Você está vendo Akemi? Está vendo a sua namoradinha? Isso é demonstração de propriedade. De controle. De eficácia. Você entende? Eu cuido das pessoas. Eu transformo. E o mais bonito é quando elas acreditam que escolheram.
Vi Akemi com a cabeça caída, os olhos vazios. Meu peito se apertou ao vê-la daquele jeito. Parte de mim queria pular da cadeira e sacudir o corpo dela até fazê-la acordar. Outra parte sabia que ela era usada, que algo a tinha consumido antes mesmo de sairmos dali. Aquilo me cortava de um jeito novo.
— O que você quer de mim? — tentei falar com a voz engasgada, e a mordaça apenas apertou mais a pele.
Ele aproximou-se, ficando tão perto que pude sentir o cheiro de tabaco e álcool misturados com perfume barato. O sorriso ficou mais largo.
— Você está tentando dizer algo? Eu não ouvi! Hahahahaha!
Observei então, aquele verme asqueroso se aproximando de Akemi. Suas mãos então tocaram o seio dela, enquanto ele se colocou por de trás, começando a passar a língua dele pelo seu pescoço. As mãos do homem desciam o corpo dela, enquanto se colocavam entre as pernas dela, e assim começaram a dedilhar a sua bucetinha.
— Akemi-san é a minha mais antiga putinha. Toda obediente, ela trouxe você pra mim como eu mandei. Bastou só mostrar pra ela quem manda.
Ele então a virou, seus olhos estavam fundos e sem vida, como se estivesse sendo manipulada. Sua língua asquerosa invadiu seus lábios e assim ele a beijou, enquanto ela não tinha nenhuma reação a não ser aceitar aquilo.
Eu tentei chama-la, fazer ela voltar a si, mas era inútil. A mordaça calava qualquer coisa que eu viesse a dizer. O produtor continuava tocando o corpo dela, enquanto ao fundo, era exibido ali mais cenas de Aoi.
A única coisa que conseguia fazer naquele momento era apenas observar, a minha amiga sendo brutalmente violada enquanto aquele produtor asqueroso estava com as suas mãos praticamente tocando o seu corpo em cima dela, abraçando a contra a sua vontade enquanto ela não esboçava praticamente nenhuma reação.
— Eu acho que já está na hora de mostrar ao Kouta-kun o personagem principal do nosso filme de hoje.
Foi então que vi a porta se abrir, e dela, saiu um homem mais forte, segurando firme uma jovem que também estava amordaçada e amarrada. Ela estava quase nua, vestindo apenas um sutiã que realçava seus seios nus, e uma calcinha fio dental, da mesma forma que Akemi.
AOI! ERA AOI ALI!
Aoi me viu, e desesperada, tentava se soltar, e gritar por ajuda, mas era impossível. Ninguém poderia ouvi-la, estava amordaçada, e completamente indefesa. Tentei, em vão, me soltar dali, enquanto eles a jogavam na cama. O produtor me olhava, triunfante, enquanto masturbava Akemi, dedilhando seus dedos em sua bucetinha.
— Não podemos ter uma festa a quatro sem a Aoi-Chan, não é mesmo? Hahahahaha!
Ele então se aproximou de mim, e assim tirou a minha mordaça. Finalmente eu pude falar.
— Seu desgraçado! Solte as duas, elas são inocentes. Senão você vai se ver comigo!
— Hahahaha, é mesmo, Kouta-kun. Você é tão fraco e indefeso. Se deixou ser capturado pela minha assistente mais fiel.
— Como é? — perguntei.
— Akemi está comigo a muito tempo. Já faz oito anos, desde que eu a violei a primeira vez, enquanto ela estava quebrada demais por ter sido rejeitada por você. — Olhei para Akemi em seguida, que seguia com os olhos sem vida, olhando pra baixo, sem nenhuma reação.
— Akemi, o que ele está dizendo?
—Eu... — Pela primeira vez ela demonstrou alguma coisa. Me olhou, e começou a chorar. — Eu sou isso mesmo, Kouta-kun! Uma puta. Faz tempo que esse cara vem me comendo, e você nunca me salvou! Você só tinha olhos para Aoi, somente ela importava!
— Isso mesmo. — Disse o produtor, enquanto voltou a ela. — Por isso mesmo que ela me fez conhecer a Aoi. E me apaixonei logo de cara!
— Akemi, me explica, como é isso? — Perguntei, olhando pra ela.
Aoi olhava e escutava aquilo também, com os olhos assustados, acuada, enquanto estava jogada na cama. Todos ali queriam uma explicação. Akemi então dizia.
— Eu te odeio, Kouta-kun! Mas eu... Eu também te amo... Você agora vai ser meu, e a Aoi será do produtor-san. Como tudo deveria ser...
— Você só pode estar ficando louca. — Exclamei ali, tentando me soltar. O produtor, com seu sorriso triunfante, foi então indo em direção a Aoi, que olhava ele com medo, com um temor brutal.
— Eu investi muito tempo e dinheiro para conseguir essa mulher. Pensei que matando você naquele dia no atropelamento, ela iria ceder, mas você sobreviveu! Mas o destino foi bom o bastante para te colocar em coma.
Aquela revelação me fez arregalar os meus olhos e meu coração gelar por perceber que meu atropelamento e tudo o que aconteceu foi apenas algo forjado por esse homem maldito, e não é só isso! A minha própria amiga também estava envolvida, mesmo longe, ela estava envolvida em tudo o que aconteceu comigo, mesmo que indiretamente.
—Seu miserável! Então quer dizer que o meu atropelamento foi só algo planejado por você?
— Exatamente! Fui eu mesmo que manipulei todos os acontecimentos.
— Quer dizer então que tudo o que aconteceu, foi planejado desde o começo... Aoi!
Olhei para ela, que me olhava com a mesma cara de horror, completamente surpresa por descobrir aquilo. Seus olhos saiam lágrimas, e naquele momento, olhei para Akemi também, que tinha seus olhos lacrimejando, mas não conseguia esboçar muita coisa.
— Agora é hora de mostrar pra você sua mulher gozando no meu pau, o que acha?
— Pare com isso! Você não ousaria!
— Quer pagar pra ver? — Ele então foi se dirigindo em direção da Aoi, enquanto acenou para o seu ajudante buscar alguma coisa. Ele trazia uma cartela, com um comprimido branco.
— Eu já estou vendo os rios de dinheiro entrando com esse vídeo circulando o mais profundo da internet mundial. Os dólares são tão cheirosos! Hahahaha.
Ele então pega Aoi pelo braço, enquanto amordaçada e amarrada e levanta ela para que ficasse de pé. Ele faz com que ela me olhe, enquanto ela desvia o olhar, completamente envergonhada, enquanto o homem agarra Akemi.
— Hoje eu vou devorar essas duas na sua frente. Depois disso, se você quiser se matar, será um favor que fará para as duas! Elas serão minhas putas a partir de hoje, e farão filmes pra mim, e eu vou fode-las sem camisinha até que elas fiquem prenhas! O que acha, seu merdinha?
Aoi estava diante de mim, enquanto aquele homem asqueroso passava sua mão pelo corpo dela. Ele agarrava seu seio enquanto ela se debatia abraçada junto a ele. Foi então que ele pegou o comprimido em mãos, e levou ele até sua língua enquanto ele colocava a mordaça dela para baixo. Ela então finalmente podia falar.
— Kouta-kun, me desculpe por você ter que passar por tudo isso! Talvez eu seja tudo isso que você falou e eu não mereço o seu perdão, mas por favor, não deixe que nada faça com que você... — Naquele momento ele é calou, levando os seus lábios até os dela e assim eu pude ver a língua dele junto a dela. Ele então passou o remédio para ela tomar, enquanto apertava sua coxa com uma das mãos, ainda atrás dela.
— Pronto. Essa puta agora vai calar a boca. Está pronto para ver ela babar de tanto chupar o meu pau, Kouta-kun?
Naquele momento tudo veio na minha cabeça. Os vídeos, o momento em que ele disse que era o responsável pelo meu atropelamento, todos os momentos felizes em que eu tive com Aoi. Eu apenas fechei os olhos, não queria ver aquele momento. Eu só queria que um milagre acontecesse, mas será mesmo que milagres existem? Foi então que abri os olhos e naquele momento a luz se apagou.
— Makoto Kambara! É a polícia! Mãos para cima, você está preso!
Naquele momento, uma luz emergencial do balcão ligou, era mais fraca, mas conseguíamos ver melhor tudo que estava acontecendo. Um policial arrombou a porta, e estava com a arma apontada para o produtor.
— Hein? Mas que merda, como assim? — Ele dizia, jogando Aoi no chão naquele momento. Ele então olhou para Akemi. — Desgraçada, isso foi obra sua?
—A-Acabou pra você... Makoto-san. — Akemi dizia, ainda grogue com o remédio, enquanto estava ali, de pé.
— Sua desgraçada!
O produtor rosnou, e do nada desferiu um soco. O som da pancada pareceu ecoar até as paredes. Akemi tombou, o nariz sangrando. Foi uma reação tão brutal que eu, preso à cadeira, senti cada fibra do meu corpo estremecer.
— Seu covarde desgraçado! Acabou pra você, você vai se fuder!
O policial avançou, rádio na mão, ordens, comando, tudo num ruído organizado comparado ao caos ali dentro. A prioridade dele era neutralizar. Aquele deveria ter sido o fim do pesadelo. Mas o produtor não era de perder fácil. Ele tinha olhos de quem já previa saída para tudo. Vi o movimento chegando — pequeno, calculado, como um predador usando a própria presa pra criar distração.
Um dos capangas, um sujeito alto e largo que eu tinha notado quando entrei, moveu-se num ímpeto para proteger o chefe. O policial mirou nele, passos decididos, e tentou agarrá-lo. Nesse instante, o produtor fez algo que me congelou de horror: ele apoiou a mão nas costas do capanga, murmurou qualquer coisa curto, e então empurrou o sujeito com força deliberada direto contra o policial.
Os dois colidiram com violência. O policial cambaleou, perdeu o equilíbrio e a arma fez um som seco contra o piso quando a mão dele tocou. O capanga caiu por cima do policial, num emaranhado de braços e pernas; o rádio chiou; outros civis no galpão gritaram. Foi um golpe sujo e eficiente — não uma luta limpa, mas um empurrão calculado que transformou o policial em um obstáculo humano por um segundo.
Aproveitando a cena, o produtor não esperou. Num movimento quase coreografado, ele correu para o fundo do galpão. Minha visão borrada tentou acompanhar e eu o vi bater a mão numa alavanca junto a umas pilhas de caixas metálicas. Um compartimento se abriu num dos cantos, uma pequena abertura disfarçada por painéis — uma saída lato escondida, um vão que parecia feito para manutenção ou para escoamento.
Ele se esgueirou para dentro, mas não sozinho: arrastou uma sacola com equipamento e por um segundo me deu a impressão de que tudo estava coreografado, que essa fuga não era improvisada; era orquestrada. Enquanto tanto, o policial que havia sido empurrado rolava, se levantava, cuspia, tentava recuperar a arma; outros agentes vieram pela porta, gritando ordens. O caos virou um rosnado constante.
Eu tentava puxar as cordas com os ombros e as mãos até doer. Akemi jazia com o rosto ensanguentado, a respiração irregular. A Aoi, no chão, ainda parecia atordoada, os olhos perdidos. Se ele conseguia escapar, então todo aquele esforço daqueles que tinham vindo talvez tivesse sido em vão.
Vi a movimentação perto do compartimento. O produtor se arrastava pelo espaço estreito, metade do corpo já sumia. Do lado de fora, um policial finalmente conseguiu erguer o outro; havia mãos se apoderando do capanga que caíra; mais vozes, mais passos. Mas o produtor tinha vantagem: conhecia a estrutura, tinha uma rota nascosta que aparentemente mal as autoridades conheciam.
Por um segundo, ele virou a cabeça para trás. Fixou o olhar em mim com aquela expressão de triunfo que me doeu. Parecia brincar com a ideia de que eu ia assisti-lo sair. E então ele gritou algo que todos ouviram.
— Nunca vão me pegar, seus trouxas! Você vai morrer, Kouta-kun. Escreva o que tô falando!
— Vão atrás dele! — O policial então ordenou que o outro fosse até ele, enquanto ele passou a desamarrar Akemi e Aoi, e cobri-las com um cobertor.
— Sinto muito termos atrasado, o gps que implantei em Aoi-san foi desconectado e foi difícil achar esse lugar. — Disse o policial para Akemi.
— Tá... Tá tudo bem, o importante é que... Vocês chegaram. — Ela disse, ainda grogue.
O policial pediu então uma garrafa de água, e assim entregou para Akemi beber, enquanto Aoi fazia o mesmo. Ele então disse que beber bastante água iria amenizar os efeitos da droga e logo elas estariam bem.
— Akemi, me diz, o que aconteceu aqui? Como esse policial chegou aqui? — Perguntei, com mais dúvidas do que respostas. O policial tratou de sana-las.
— Akemi-san nos procurou ontem para fazer uma denúncia contra esse homem e disse que ela e sua amiga estavam sendo vítimas de abusos sexuais constantes e que ele as usava para ganhar dinheiro. Ela me disse que ele planejava capturar você, pra fazer todo esse show aqui, e ela queria parar com essa tirania dele, então dissemos que precisávamos de uma prova de que ele estava mesmo cometendo esses crimes e ela fez tudo isso acontecer.
— Akemi, isso é verdade? — Perguntei, mas ela ainda não estava com condições de responder. Mas, Aoi me falou.
— Sim... Kouta-kun... Ela me procurou no parque, e me contou tudo. Quando estive com o Kenta-san. Ela me esperou terminar de falar com ele, e me contou tudo sobre o plano. Eu... Não aceitei,. mas ela disse que seria o único jeito de nos livrarmos desse monstro! — Ela disse, chorando, enquanto abraçava seu próprio corpo. — Mas eu não imaginava que ele iria trazer você até aqui!
— Akemi... Aoi...
— Vamos tirar você daqui. — Disse o policial, tirando as minhas amarras e cordas, e finalmente me livrando de tudo aquilo. Eles tinham perdido o grande, mas não nós. Mas já tinham as provas para coloca-lo na cadeia.
E, embora o produtor tivesse fugido, no ar, ainda se sentia a presença dele: a certeza de que havia outros passos planejados, de que ele ainda estava algumas curvas à frente. Agora livre, eu fechei os punhos com raiva e dor, olhos fixos nas duas, e eu jurei que faria alguma coisa para captura-lo.
Mas parecia que o destino tinha outros planos para todos nósO Produtor tinha conseguido escapar, por uma saída de emergência que tinha no galpão, que dava para um túnel, que dava para o outro lado da rua. Era uma casa abandonada, alugada por ele mesmo para casos assim. Ele olhava pela janela o cerco de policiais lá fora, se aglomerando ao galpão, enquanto ele sorria triunfante.
— Os idiotas pensaram que iriam me pegar, mas estão todos loucos. Aquelas merdinhas vão me pegar, depois que eu matar o Kouta-kun, eu vou torna-las minhas escravas e elas vão dar até a morte! Não perdem por esperar.
— Quem não perde por esperar é você, seu tarado desgraçado.
O produtor então se virou. — Quem é que está ai? — Quando ele virou, ali estava ele. O seu algoz, um homem que usava um Zukin que deixava apenas os seus olhos á mostra, um gi preto, uma hakana, tabi, luvas, e uma katana empunhada em sua mão.
— Kurohane!? — Ma-maldição, mas o que eu fiz pra vo-vocês?
O produtor então é pego pelos cabelos e levado, e na casa, ecoava apenas gritos de desespero do mesmo. Os policiais então ouviram os gritos, e deduziram que o homem estava lá. Kouta e as meninas sairam do galpão, enquanto os policiais se mobilizavam para arrombar a porta. Foi então que não encontraram nada lá, apenas uma pena de corvo na parede, presa a uma Kunai.
— Esse ai tá morto. O que ele fez pra ser caçado por eles? — perguntou o policial?
— Será que tem a ver com o garoto e as meninas? — Perguntou o outro.
Kouta, Aoi e Akemi foram levados para formalizar depoimentos, enquanto alguns policiais estavam ali, procurando o suspeito, ou ao menos seu corpo. Pois já sabiam que muito provavelmente a essa altura, ele estaria morto.