Olá meus amores, essa é a segunda parte desse conto, caso não tenha lido recomendo voltar e ver a primeira parte que está cheia de desejos.
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Ele segura a caneca por um segundo, como se o gesto fosse a desculpa perfeita para ficar ali. O vapor sobe entre nós, formando um véu translúcido que o escritório aceita como testemunha muda. Dou um gole. O café está amargo na medida certa — como tudo entre nós, algo que pede açúcar e atenção.
“Fica até tarde com frequência?” ele pergunta, e há curiosidade na voz. Não é a curiosidade profissional; é outra coisa, mais perto de uma pergunta feita para testar limites.
“Quando preciso,” respondo, guardando a vergonha numa gaveta onde já cabem tantas coisas que nem eu sei mais o que existe lá dentro. Percebo que minhas palavras chegam abafadas pela proximidade. Ele se inclinou, os ombros quase encostando no encosto da minha cadeira. O relógio no pulso dele brilha por um instante; a pulseira de couro marca a pele, um traço que, por alguma razão, me desperta.
Seus olhos não me deixam — e essa é a diferença entre um olhar e um convite. Olhar pode ser distração; convite exige resposta. Sinto o calor subir pela garganta, como quando corro sem perceber e então paro para ouvir o coração. Minhas mãos encontram-se inquietas: uma segura a caneca, a outra escorrega para o bloco de notas, apenas para ter algo firme nas pontas dos dedos.
Ele fala de banalidades — o fim de uma reunião, um e-mail que passou despercebido — mas a voz baixa e medida é apenas o pano de fundo. O que importa é o que não diz. De repente, ele afasta uma mecha do meu rosto com o polegar; gesto natural, quase imperceptível, mas tão íntimo que me sinto como se estivesse nua — E naquele momento era exatamente o que eu desejava.
“Você tem uma faísca quando fala sobre projetos,” diz ele, e não há elogio mais perigoso. Porque é verdade: quando fico animada, minhas mãos ganham vida própria, minha fala acelera, e meu cabelo — sempre rebelde — se solta com mais coragem. Imagino que ele acredite estar elogiando meu talento. Eu sei que está nomeando algo maior.
Sem pensar, minha mão vai até o botão do meu casaco. Não é pela frieza; é pela necessidade de mudar o código da minha postura. Tiro o casaco lentamente, como se cada movimento pudesse ser registrado. A manga revela a pele do antebraço: mais clara, com sardas alinhadas como estrelas mal colocadas. Ele observa. Há um pequeno sorriso, apenas um relevo nos lábios, e meu nome sai da boca dele como se fosse algo que poderia ser dito apenas naquele instante, naquela penumbra.
Quando ele encosta o dorso da mão na minha, é um choque que ajuda a definir o que sentimos: não é um toque de cortesia, é uma confirmação. A sua palma é quente, a textura das linhas é uma topografia que minha imaginação começa a mapear. A diferença de temperatura entre nossas peles assinala relatos antigos: proximidade, então distância; aproximação, então recuo. Hoje, porém, não há recuo.
Ele puxa a cadeira e senta-se diante de mim, tão perto que minha respiração encontra a dele como se fossem dois instrumentos afinados no mesmo compasso. O cheiro do perfume envolve meu rosto — amadeirado, com um lampejo cítrico — e o som de seus batimentos, quando me esforço para ouvi-los, se mistura ao ar condicionado. Fecho os olhos por um segundo, não por timidez, mas para amplificar sensações: o calor, o leve tremor nas pernas, o gosto metálico da ansiedade na boca.
Quando nossos lábios finalmente se encontram, acontece como um acorde que conhecia a melodia antes mesmo de tocar. O beijo é primeiro investigativo — um reconhecimento: a forma da boca, a pressão certa, o modo como ele busca resposta. Não é apressado; é compassado, como se cada movimento tivesse sido discutido em silêncio. Meus dedos agarram a gola da camisa dele, sentindo o tecido sob a pele. A gravata que antes fora formal agora está frouxa, um pedaço de coisa íntima entre nós.
Seus lábios exploram os meus com uma certeza que me assusta e me encanta. Há ternura e fome ali, uma mistura que desfaz certezas. Os nós do meu estômago se desfazem em fogo. O mundo reduz-se ao encontro das nossas bocas, ao pulso acelerado na lateral do pescoço dele, ao tilintar sutil da caneca esquecida na mesa.
Em algum momento, nossas respirações se descompassam e as mãos dele começam a decidir. Uma delas segura minha nuca, firme, com aquele cuidado que não quebra; a outra percorre meu antebraço, sobe, como se quisesse ler todo o mapa de mim. Sinto o tecido do meu vestido ceder sob a pressão das palmas. Não há pressa, e ainda assim tudo acontece rápido: os sapatos no piso brilham e a noite, lá fora, fica mais densa.
Há pensamento racional lutando comigo: a reputação, os olhares, o que aconteceria se alguém passasse, se alguém abrisse a porta. Mas a fila de argumentos hesita diante do calor das mãos dele, da forma como meu nome é sussurrado entre beijos. “Não aqui,” digo, num fio de voz que mistura aviso e súplica. Ele sorri contra meus lábios, entendendo o pedido como estímulo.
Puxo-o um pouco mais, trazendo o corpo dele encostado ao meu, e a proximidade acende outra chama — o perigo agora parece parte do sedimento que constrói o prazer. Os limites se tornam maleáveis; o proibido, um tempero. Sinto a ponta dos dedos dele desenhando contornos invisíveis pelas minhas costas, um traçado que me faz lembrar lugares que pertenço apenas a mim e, naquele instante, também a ele.
Quando nos afastamos, ofegantes, nossos olhos se encontram e, por um segundo, somos duas pessoas que sabiam exatamente o risco que corriam. A luz da mesa projeta sombras longas, compasso de um relógio que continua batendo indiferente. Ele roça os dedos nos meus lábios — um gesto que pede consentimento, que pede que eu me renda de novo.
“Vamos subir um andar?” ele sugere, e a pergunta, apesar de prática, é carregada de intenções. Subir um andar significa atravessar um limiar: do comum ao proibido com vista aérea. Meus dedos passam nos cabelos, que caem soltos sobre os ombros. Sinto uma onda de excitação entre medo e desejo; a ideia de serem observados pela cidade lá embaixo me dá vertigem.
Concordo sem dizer sim. Levanto-me, os joelhos um pouco trêmulos, e observo a gravata dele deslizar entre os dedos. Nossos corpos alinham-se novamente na penumbra do corredor, e o elevador, quando chega, abre como um palco pronto. Ao entrar, nossas imagens espelhadas nas portas metálicas se aproximam. Já não há volta fácil: o ar circula, e o espaço diminuto funciona como amplificador do que prometemos.
Enquanto as portas se fecham, ainda trocamos um último olhar — um aviso, um pacto. A luz do painel do elevador marca os andares que subimos e, com cada número que passa, minha respiração fica mais curta. Eu sei que aquilo será lembrado, que ficará gravado em detalhes que ainda não consigo nomear. Sei também que, quando tudo terminar — ou quando apenas começar — eu estarei ali para avaliar as consequências. Por ora, o resto do mundo é apenas ruído. Nós, por outro lado, respiramos afinados.
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Essa é a segunda parte dessa historia de romance proibido. Se você gostou deixe um comentário, ainda tenho muitas histórias para contar aqui!!
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