Mês passado houve uma festa tripla lá em casa, porque ocorreu um verdadeiro eclipse na minha vida. No mês do meu décimo nono aniversário eu finalmente mudei da casa da minha mãe. Recebi minha CNH provisória após passar na prova e consegui uma bolsa de pesquisa na universidade. Além disso, arrumei um emprego numa loja de materiais de construção perto da praia. O emprego não é grandes coisas, mas garante o aluguel de um pequeno e modesto apartamento que estou dividindo com JCD, um cara que conheci por meio de um anúncio na internet.
A festa foi para comemorar tudo isso e foi feliz. Mas vou direto ao que importa: entre os muitos convidados estava um tio que eu não via há algum tempo, GS, 37 anos, pedreiro e grande amigo da minha mãe. GS sempre foi simpático, razoável, mas discreto. O trabalho braçal lhe conferia um porte forte e viril, mas o olhar era doce e compreensivo. Isso fazia com que despertasse desejo e olhares lascivos de outras mulheres da família, o que já lhe rendeu algumas encrencas com cunhados e primos. Porém, ele sabia lidar bem com conflitos: apaziguava confusões com palavras firmes e frases curtas, perspicazes e cirúrgicas. Continha as consequências do desejo que causava — até aquele momento.
GS pediu para dormir na casa dos meus pais após a festa, pois havia bebido, estava de moto e não queria arriscar. Disse também que poderia me ajudar com a mudança no dia seguinte. Eu e meus pais aceitamos de pronto. Mas os quartos estavam ocupados: duas primas dormiam no quarto de hóspedes e o sofá estava molhado porque derrubaram comida e refrigerante durante os festejos. Minha mãe me consultou sobre a possibilidade de meu tio dormir no meu quarto. Concordei, e ela entregou a ele um colchão inflável para encher.
Eu estava radiante naquela noite. O dia tinha sido muito feliz. Minhas bochechas coravam de alegria e de saúde. Apenas 20 anos e tantas coisas boas acontecendo simultaneamente. Todos os convidados já tinham ido embora e eu refletia sobre isso sentado na cama. Fazia calor, eu estava sem camisa, de short curto azul, extremamente desbotado. Comecei a pensar na musculação que eu ia iniciar em breve. Gostava do meu corpo: meus 1,70 de altura, cintura esbelta e ombros atléticos. Fiquei viajando até que alguém interrompeu meu fluxo de consciência.
Era meu tio. Ele riu e observou que eu parecia distante. Perguntou se eu estava incomodado com a presença dele no quarto e disse que ia encher o colchão naquele momento, mas teve outra ideia olhando para mim.
— Posso te dizer uma coisa, Bentinho? Odeio dormir nesses colchões. Acordo quebrado, você entende?...
— Nossa, tio, eu estava viajando pensando em tudo que rolou… e sim, sim! Esse treco é horrível. Acho que é só um pouco melhor que dormir no chão, e olhe lá. Mas agora você vai ter que dormir nele, enquanto eu vou aproveitar minha última noite nesta casa, na minha cama cheirosa e macia.
— Nossa cara, que malvado você é! Nem parece que é filho da sua mãe, hahahaha…
O clima era leve e descontraído. Eu nunca tinha conversado muito com esse tio e, mesmo assim, me sentia bem perto dele.
— Ah, mano, não vai querer trocar de dormitório comigo? Aí eu é que vou acordar quebrado... nãozinho pra você!
Meu tio me olhou assustado e desviou o olhar para um dos cantos do quarto, onde havia um cesto de roupas e algumas caixas da mudança. Disse que viu algo estranho se mexendo ali. Eu saí da cama para verificar e, de súbito, ele se jogou nela, ocupando o maior espaço que conseguia.
— Porra, jogo sujo, mas você não vai ficar aí…
Corri para a cama. Me joguei nela tentando empurrá-lo para que saísse, mas ele era — e continua sendo — muito forte e maior que eu. Mal consegui movê-lo alguns centímetros. No meio da brincadeira, ele bateu o cotovelo no meu lábio, provocando um leve ferimento. Levantei assustado e corri para o espelho do roupeiro. Notei um hematoma pequeno, com uma manchinha de sangue. Meu tio me chamou de volta para a cama para verificar. Sentei ao lado dele, mais calmo, tocando os lábios doloridos. Ele me puxou para perto, sinalizando que eu deitasse. Então se levantou em 45 graus, me ajeitou melhor na cama e tocou meus lábios com as mãos ásperas, mas de maneira cuidadosa.
— Ai, Bentinho, me desculpa. Eu só queria brincar e me empolguei. Deixa eu ver isso aqui… logo logo melhora… foi mal…
Ele já ia se levantar da cama e eu olhava fixo para seu braço, tão forte, tão marcado pelo serviço braçal. O toque das suas mãos no meu lábio. De súbito, senti o coração acelerar. Ajeitei as pernas para não exibir a reação involuntária do corpo diante daquele homem. Até aquele momento tudo estava divertido. De repente, vi um homem sobre mim. Um homem qualquer, selvagem, brutal, um homem que poderia me devorar — e eu me entregaria numa bandeja.
Ele disfarçou, mas percebeu. Foi ao banheiro e retornou três minutos depois. Já ia encher o colchão novamente quando eu o interrompi.
— Olha, serião agora: pode dormir aqui. Você vê que esta não é uma cama grande, mas também não é das menores. A gente se vira até amanhã…
Ele me fitou com um sorriso contido.
— Vem, vem logo…
Ele deitou e retomamos a conversa. Perguntou pela minha namorada. Sim, eu namoro, mas ela estava viajando com os pais naquele dia. Chegamos a brigar por isso, porque ela não enfrentou os pais para ficar na minha festa.
— V. tá longe… e não estamos bem… mas acho que quando ela voltar a gente se acerta.
— Cara, posso te falar uma coisa? Uns tempos atrás eu pensei que você fosse gay, tá bom? Hahahah.
— Bissexuais existem, sabia?
— Você é bi?
— Não, meu caro. Tô brincando… de vez em quando penso em beijar caras, mas acho que é só curiosidade ou… sei lá… não lido bem… ah, não sei…
— Deixa eu ver como tá essa boca. Parece que inchou um pouco…
Meu tio se aproximou bastante do meu rosto para olhar meu lábio machucado, a ponto de eu sentir o hálito fresco dele. Depois se afastou, saiu da cama e apagou as luzes do quarto. Retornou e voltou a tocar meus lábios.
— Isso vai ficar bem…
As dúvidas que eu tinha sobre minha sexualidade estavam se dissipando naquele momento. Tentei continuar a conversa, mas minha voz estava carregada de tesão e eu não sabia o que deveria fazer. Senti o rosto do meu tio se aproximar novamente e seus lábios tocarem de leve os meus. Em seguida, ele começou a dar pequenos chupões no ferimento. Inicialmente fiquei imóvel. Paralisado. Meu coração disparava. Meu tio se afastou um pouco e, por alguns instantes, o silêncio pesou no ar.
Um milhão de coisas se atropelavam na minha cabeça. Subitamente, virei para meu tio e agarrei sua camiseta como um gato.
— Você não acha que está calor demais para dormir de camiseta?
Ele consentiu e eu o ajudei a tirar.
— Será que eu vou ter que te ferir também para poder te tocar assim?
— Não…
Ele respondeu e me puxou violentamente para si. Voltou a me beijar. Primeiro lentamente, depois acelerou. Inseriu sua língua e dançou com a minha. Meu corpo latejava. Eu comecei a morder aquele peito, lamber o pescoço, os pelos e passear pelo tórax.
Naquele noite eu fui a sobremesa daquele homem. O docinho jovem que recebeu leitinho a madrugada toda no abraço apertado daquele homem. Um lobo silencioso e devorador. Minha namorado retornou e meu tio passou a comer nós dois periodicamente. Nunca mais nos separamos.