DISCERE 2 - TEMPO DE AMAR - CAPÍTULO 18: FINAL

Um conto erótico de Escritor Sincero
Categoria: Gay
Contém 2378 palavras
Data: 31/10/2025 02:42:18

— Então, Narciso, conta pra gente. Mal voltou para a atuação e já foi indicado a um prêmio? — perguntou a jornalista, uma mulher loira, bronzeada demais, sorrindo para a câmera.

— É uma honra — respondeu ele, ajeitando-se na poltrona do estúdio. — Desde o início, eu sabia que Anjos da Estrada seria um verdadeiro sucesso. O roteiro do Eugênio Bacellar também foi um dos motivos que me fez apaixonar por Karlos, um personagem tão rico e cheio de camadas.

— Ficamos sabendo que você recebeu um convite da Glória Lerex para protagonizar A Cópia 2. Isso é verdade?

— Sim. E, infelizmente, precisei declinar o convite — confessou com serenidade. — Eu amo a Glorinha. Estradas da Índia é uma das minhas novelas preferidas, e Salve Miguel Arcanjo, que trata de um assunto tão delicado quanto o tráfico humano, me levou às lágrimas várias vezes. Mas preciso focar nos estudos. Este ano eu me formo, e quero muito estudar Cinema. É uma grande paixão da minha vida, sabe? Aprender como tudo é feito do outro lado. Para que, um dia, um ator possa dizer: "Eu amo os filmes de Narciso Figueiredo."

Enquanto a entrevista passava na TV, Narciso não estava no estúdio elegante exibido na tela, mas sentado no chão da sala da casa de João Paulo, ao lado do amigo e de Joana. O vídeo tinha sido gravado alguns dias antes, exibido apenas depois que ele fora indicado ao prêmio Melhores do Ano, na categoria Ator de Seriado.

Ele suspirou, apoiando o queixo no joelho. A mãe tinha permitido que dormisse ali, para que ele e João Paulo fossem juntos para o Instituto Discere no dia seguinte. As férias chegavam ao fim, e Narciso choramingava por dentro: além de voltar às aulas, teria de iniciar as gravações de uma nova série. O projeto, antes previsto para o Rio, fora transferido para São Paulo, o que exigiria dele mais disciplina do que nunca.

Durante as férias, Narciso mergulhara no roteiro. Passara dias em oficinas com pessoas em tratamento contra a dependência química. Seu novo personagem era um garoto que se perderia no mundo das drogas — um papel difícil, mas importante, que ele aceitara apenas porque queria ajudar a provocar debates sobre o tema.

Além da mudança física — o cabelo mais baixo e uma barba que começava a despontar —, Narciso também visitou vários centros de reabilitação para conhecer pessoas que vivenciavam esse vício terrível. Às vezes, o ofício do ator não é apenas ficar bonito diante das câmeras, mas retratar a realidade — e algumas delas não são nada fáceis de mostrar.

No último dia de férias, já no quarto de João Paulo, os dois estavam deitados: Narciso, sobre um colchão no chão, João Paulo, na cama. As mãos deles se encontravam entre os lençóis, e a luz suave do abajur criava sombras tranquilas nas paredes.

— O Noah falou comigo ontem — disse João Paulo, quebrando o silêncio.

— Sério? O que ele queria? — Narciso virou o rosto, curioso.

— Que eu fosse o presidente do Clube Arco-Íris. Ele me indicou para a diretoria.

— Que legal, bebê! Você sempre ajudou ele nas palestras, né?

— Sim, mas e se eu não conseguir? — João Paulo suspirou. — Tem o estágio, o estudo pro Enem, a conclusão do terceiro ano... Não quero falhar em nada.

— Você não vai fazer isso sozinho — Narciso respondeu, apertando de leve a mão dele. — Pode juntar mais alunos da comunidade. Foi o que o Noah fez, lembra? Ele não fez nada sozinho.

— Mas ele tinha amigos, eu...

— Você pode fazer amigos, João — disse Narciso, firme, mas com um sorriso encorajador. — Eu sei que o pessoal da classe não foi muito aberto com você no começo, mas aos poucos você ganhou o respeito deles. Isso já é um grande passo.

João Paulo deixou um pequeno sorriso escapar, sentindo a segurança que vinha do outro. Ficaram em silêncio por alguns segundos, apenas ouvindo o barulho suave do vento lá fora.

Na manhã seguinte, os uniformes estavam prontos, dobrados sobre a cadeira. O Instituto Discere havia adotado quatro modelos de farda naquele ano, conforme decisão do comitê de pais e mestres:

Camiseta polo de algodão branco, com gola azul-marinho e o brasão bordado no peito;

Camiseta sem mangas para as aulas de educação física, prática e leve;

Um moletom cinza, macio, com o emblema da escola bordado, ideal para dias frios;

Um casaco confortável de tecido estruturado, substituindo as antigas gravatas e paletós.

O objetivo era simplificar sem perder a identidade do colégio. Narciso, em especial, adorou a mudança: ele odiara as gravatas e ternos do ano anterior. Agora, se vestir para as aulas parecia muito menos uma obrigação e mais um convite para viver o cotidiano com leveza — algo que, para ele, entre sets de filmagem e câmeras, era um verdadeiro presente.

No dia seguinte, Joana preparou um café reforçado. O cheiro do café recém-passado se espalhou pela cozinha, misturado ao aroma da manteiga derretendo sobre o pão quente. Narciso amava a simplicidade da sogra: nunca fora fã de cafés chiques e refinados; para ele, nada se comparava a um café simples, preparado com carinho. João Paulo, aos poucos, se sentia mais à vontade com a presença do parceiro em sua casa. Já existiam pequenas mudanças no ambiente — um quadro novo na sala, uma toalha colorida na mesa — sinais de que estavam criando um espaço que pertencera a ambos.

Depois do café, os três seguiram juntos em um carro de aplicativo. Deixaram Joana no trabalho, se despedindo com um abraço rápido e carinhoso, e seguiram em direção à Escola Discere.

O jardim da instituição parecia estar vivo, tomado por um mar de novos alunos. Calouros riam nervosos, ajeitando mochilas e uniformes, enquanto veteranos comentavam, em grupos, sobre as expectativas para o último ano. Os canteiros exalavam o perfume das flores recém-podadas, margaridas e lírios formando pequenos mosaicos de cores. Borboletas dançavam sobre as pétalas, e alguns estudantes, entusiasmados, registravam o momento com seus celulares, congelando o início de mais um ciclo.

Enquanto caminhavam em direção às placas que exibiam as listas de turmas, Narciso avistou um rosto familiar entre a multidão. Seu coração reconheceu antes mesmo de sua mente confirmar: era Maximilliam, o rapaz que haviam conhecido na festa de Halloween do ano anterior. João Paulo franziu o cenho, demorando alguns segundos para ligar o nome à figura diante dele.

Maximilliam parecia mais confiante do que na última vez em que o viram. Usava o uniforme da escola: uma camiseta branca de mangas cinza, gola em "V" azul-marinho, e o brasão do Discere bordado sobre o lado esquerdo do peito. Seu corpo robusto preenchia o tecido de forma natural, e um relógio prateado brilhava discretamente em seu pulso esquerdo. O cabelo castanho-escuro caía em ondas sobre a testa, lhe conferindo um ar leve e despretensioso.

Ao notar Narciso e João Paulo se aproximando, ele abriu um sorriso largo, genuíno, o tipo de expressão que tornava claro que aquele reencontro prometia boas histórias no novo ano letivo.

— Max, o que está fazendo aqui? — perguntou Narciso, estendendo a mão para cumprimentá-lo.

— Eu decidi dar uma chance para essa escola e... — respondeu ele, com um meio sorriso.

Antes que pudesse terminar a frase, uma voz feminina soou de forma debochada:

— Fazendo amizade, tetinha?

A dona da voz era uma garota de expressão confiante. Usava o uniforme impecavelmente arrumado: camisa branca de mangas compridas com um brasão no peito, gravata preta ajustada e uma saia plissada que lhe dava um ar elegante e, ao mesmo tempo, provocativo. O cabelo caía em ondas escuras sobre os ombros, emoldurando um rosto marcado por maquiagem caprichada. Seus lábios pintados em vermelho se destacavam ainda mais quando ela sorriu.

Ela se proximoude Narciso e, sem cerimônia, encostou o rosto no dele, distribuindo dois beijos de cumprimento.

— Eu sou Laís, a irmã mais velha de Max — disse, como se já fosse natural tomar o espaço.

Logo atrás dela, surgiu um rapaz de postura completamente diferente. Trazia o uniforme da escola de maneira relaxada, com a camisa manchada por algum liquido verde. A calça, larga, exibia uma corrente presa no bolso, e o look se completava com um gorro que trazia o bordado da marca do hotel da família. O skate nas mãos e a forma descontraída como se movimentava deixavam claro: um verdadeiro skatista.

— Esses são meus irmãos, Laís e Luís — apresentou Max, tentando manter a compostura.

João Paulo, no entanto, não conseguiu segurar o riso que escapou sem querer.

— Algum problema? — perguntou Laís, estreitando os olhos e o encarando com cara de poucos amigos.

— Nada. Eu só achei linda a sua maquiagem, parabéns — respondeu ele, forçando um tom neutro.

— A minha empregada que fez — disse Laís com desdém, desviando o olhar dele como se nem merecesse atenção. Em seguida, voltou-se para Narciso, o tom agora mais leve: — Narciso, eu não fazia ideia de que você estudava aqui. Espero que nos tornemos bons amigos. Inclusive, vocês sabem onde fica o segundo ano?

— Estamos indo para os totens — explicou João Paulo, mas foi rapidamente cortado.

— Me acompanha, Narciso — disse Laís, já enlaçando o braço dele e puxando-o para a direção dos totens.

— Esse aí já era — brincou Luís, colocando o skate no chão e deslizando logo atrás dos dois.

— Tá bom, então... — João Paulo murmurou, revirando os olhos enquanto os seguia. Por dentro, a vontade era de gritar de ciúmes, mas ele havia feito uma promessa a Narciso — e teria de engolir o incômodo em silêncio.

Arthur Aguiar — filho do empresário Frederico Aguiar, dono do imponente Grand Hotel — entrou pelos portões do novo colégio com o peito estufado e um meio sorriso confiante. Usava o uniforme impecável: uma camisa branca por baixo de um suéter cinza escuro com o brasão da escola bordado no peito. O cabelo acobreado, meticulosamente penteado, lhe dava um ar de galã adolescente. Carregava a mochila de lado, apoiada no ombro, como quem já estava acostumado a ser notado.

Ao seu lado vinha Cristian Monteiro, o inseparável amigo. De descendência portuguesa, Cristian tinha a pele morena, olhos verdes penetrantes e os cabelos pintados de roxo, que chamavam atenção de imediato. Assim como Arthur, trajava o uniforme da escola, mas carregava no jeito um ar mais descontraído. Desde que chegara ao Brasil, anos atrás, havia se tornado a sombra fiel do filho do empresário, parceiro de todas as confusões. Os dois até faziam planos de, em breve, tatuarem algo em comum, como um símbolo da amizade que acreditavam ser eterna.

— Cara, eu estou sentindo que vai ser o nosso ano. — Arthur disse, confiante, girando a cabeça de um lado a outro para observar o ambiente novo.

— Por favor, ano passado foi um saco. — Cristian suspirou. — O teu pai é muito temperamental. Foi só uma brincadeira...

— Brincadeira? — Arthur ergueu as sobrancelhas, incrédulo. — Eu literalmente levei uma surra. E tudo por causa da tua ideia idiota de sabotar o hotel.

— Ideia que você acatou na hora, inclusive foi você quem comprou a tinta vermelha. — Cristian retrucou, levantando as mãos em defesa.

O episódio ainda pesava entre eles. O escândalo da festa de Halloween do Hotel Sky Vision tinha custado caro a Frederico Aguiar, que enfrentou um processo complicado até chegar a um acordo milionário em segredo de justiça. O preço da "brincadeira" foi a mudança de Arthur para uma nova escola, na esperança de respirar outros ares.

Entre risos abafados e provocações, os dois seguiram em direção ao saguão central, onde os totens eletrônicos indicavam as salas de cada turma. Descobriram que pertenciam ao primeiro ano, cuja classe ficava no terceiro andar. O problema era que os elevadores estavam lotados, abarrotados de alunos que também se apressavam para chegar a tempo.

No instante em que uma das portas começou a se fechar, Arthur avançou decidido e meteu a mão para impedir. A porta se abriu de novo, revelando os ocupantes: João Paulo, Narciso, Laís, Luís... e Max.

Arthur congelou.

Lá estava ele: Max, o garoto que, meses atrás, havia lhe salvado a vida na casa de máquinas do Sky Vision. Lembranças se sobrepunham como flashes rápidos: a poeira sufocante, a crise de asma, o desespero por ar... e a mão de Max abrindo a mochila, lhe entregando um inalador como quem oferecia um pedaço de vida.

Os olhos de Arthur e Max se cruzaram, e por um momento o tempo pareceu parar. O coração de ambos acelerou em sintonia, cada batida ecoando como um tambor surdo. Havia algo estranho naquela troca silenciosa de olhares — uma intensidade que poderia ser confundida com gratidão, conexão, talvez até com algo mais profundo. Mas nenhum dos dois deixou espaço para esse pensamento.

O que sentiram, quase ao mesmo tempo, foi ódio.

Continua em breve

***

Oi, pessoal! Vamos a alguns avisos rápidos? Foi muito prazeroso escrever o início da saga Discere, mas confesso que tenho outros livros a caminho. Por isso, o último capítulo da saga será lançado apenas no início de 2026. Eu sei que faltam mais de dois meses, mas quero me dedicar de verdade a esse universo que tanto amo.

E, para não deixar vocês na mão, vou divulgar a sinopse da minha nova história. Confira:

Agora, vamos falar de um próximo lançamento pelo qual estou muito ansioso! Para quem não sabe, sou formado em Comunicação — é daí que vem minha paixão por escrever e criar histórias. Por isso, estou finalizando meu novo livro "Breaking News – Te Amo".

Na maior emissora de televisão do país, onde cada segundo é notícia e cada pauta pode mudar o rumo de uma carreira, Bruno Assis vê sua vida dar uma guinada inesperada. Jovem, tímido e recém-formado em Comunicação Social, ele nunca planejou muito - as coisas simplesmente foram acontecendo. E, para sua surpresa, uma delas foi conquistar o emprego dos sonhos na redação da prestigiada TV Mundo.

É nesse ambiente caótico e fascinante que Bruno conhece Miguel Torres, um jornalista experiente e admirado por todos, que carrega no currículo um passado inusitado: ele já foi integrante da famosa boyband "Axis". Entre reuniões de pauta, gravações e cafés apressados, um sentimento inesperado começa a surgir entre os dois.

Mas o amor floresce mesmo sob os holofotes? Entre segredos, pressões da mídia e dilemas do coração, Bruno e Miguel vão descobrir que, no jornalismo - e no amor - nem tudo é preto no branco.

Uma história sobre sonhos, visibilidade, e a coragem de amar sob os olhos do público.

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 0 estrelas.
Incentive Escrevo Amor a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Foto de perfil genérica

POIS É CREIO QUE AGORA SÃO LUIS E LAIS QUE PRECISAM LEVAR UMA BOA LIÇÃO DE MORAL E DE CARÁTER. VEREMOS.

0 0