Eu nunca planejei trair. Mas às vezes a vida cria um instante tão carregado de desejo que resistir parece uma escolha contra a própria natureza.
Naquela sexta-feira, saí do trabalho exausto, com a cabeça cheia e o corpo pedindo silêncio. Liguei pra minha esposa, disse que estava indo pra casa, mas o que eu queria mesmo era fugir um pouco — da rotina, das cobranças, de mim.
Peguei o carro e deixei a cidade pra trás. Janela aberta, vento frio, estrada deserta.
Foi quando vi um carro parado no acostamento, capô levantado, luz fraca piscando.
Uma mulher estava ali, tentando entender o problema. Vestido colado, cabelo solto, expressão entre o cansaço e a surpresa. Reduzi, parei ao lado quase sem pensar.
— Precisa de ajuda? — perguntei.
Ela sorriu, num misto de alívio e desconfiança.
— Acho que sim… o carro simplesmente desistiu de mim.
Fiquei ali por alguns minutos, fingindo saber o que fazia, até perceber que não ia resolver nada. Ela contou que voltava de um evento, que o guincho ia demorar. Ofereci carona até a cidade.
Ela hesitou. Depois, assentiu.
A estrada seguiu silenciosa por alguns minutos. Mas não demorou pra o clima mudar.
O jeito que ela cruzava as pernas. O perfume leve que dominava o ar. O olhar que às vezes me encontrava, às vezes fugia.
Falamos de música, de viagens, de nada importante. Mas cada palavra carregava algo — uma faísca, um convite velado.
A cada curva, eu sentia mais o peso do desejo crescendo entre nós.
Quando paramos num posto pra ela tentar o guincho, ela desceu. Eu fiquei ali, tentando recuperar o fôlego. Quando voltou, o batom estava retocado, o olhar, decidido.
No silêncio que seguiu, nossas mãos se encontraram por acaso sobre o câmbio.
Não houve afastamento.
O ar ficou denso. O coração acelerou.
Ela soltou um riso baixo, quase um sussurro:
— Você devia tomar cuidado com o que desperta nos outros.
Aquilo me atravessou. Eu a encarei — e vi o mesmo fogo que sentia em mim.
Encostei o carro num ponto escuro da estrada, sem dizer uma palavra.
Por alguns segundos, só o som da nossa respiração preenchia o espaço.
Ela virou o rosto, o olhar convidando o que a boca ainda não dizia.
Quando me inclinei, não houve hesitação.
O beijo veio quente, intenso, como se o mundo inteiro tivesse esperado por aquilo.
As mãos exploravam, o corpo respondia, o ar se tornava espesso, impossível de respirar.
O tempo desapareceu.
Só restou o gosto do proibido, o cheiro dela na minha pele, o coração batendo forte demais.
Quando voltamos à estrada, o silêncio era outro — pesado, cheio de lembrança.
Antes de descer no posto, ela me olhou e disse:
— Eu não vou esquecer isso.
Engoli em seco, sem saber o que responder.
— Nem eu.
Cheguei em casa com a alma em conflito.
Falei, fiz, menti… tudo como se nada tivesse acontecido.
Mas lá dentro, algo tinha mudado — pra sempre.