Capítulo 4: A Síndrome do Primeiro: Corpo Libertado, Coração Confuso
O despertar não foi gentil. Foi uma invasão lenta e dolorosa da consciência, como se alguém estivesse martelando a parte de dentro do meu crânio. A primeira sensação foi um peso, uma moagem profunda e latejante no baixo-ventre. Não era a cólica familiar e mensal, era algo diferente, mais profundo, uma dor que lembrava uma ferida interna sendo pressionada. Eu me mexi sob os lençóis e um gemido baixo escapou dos meus lábios. Cada músculo do meu corpo protestava, especialmente as pernas e o núcleo mais íntimo de mim mesma.
Então, como um filme em câmera lenta, a memória da noite anterior inundou minha mente.
Roberto.
O beijo de vingança na praça. As mãos dele, ásperas e decisivas, em mim. O cheiro do carro, mistura de limpeza e desejo masculino. A escuridão do banco traseiro. E a dor. A dor aguda, cortante, que me fez prender a respiração quando ele entrou em mim. A sensação de estar sendo rasgada ao meio, seguida pela pressão insistentemente profunda que transformou a agonia em algo estranhamente cheio, potente. A lembrança do seu corpo suado sobre o meu, o som abafado dos nossos gemidos, o momento em que a dor deu lugar a uma onda turbulenta de prazer que me fez gritar e me contorcer sob ele.
Eu estava diferente. Já não era a mesma Fah que havia saído de casa na noite anterior. Algo físico, tangível, havia sido alterado para sempre dentro de mim. A virgindade, aquela construção social que carreguei como um fardo pesado e doce, não existia mais. Foi tomada, sim, mas eu a tinha entregado em um ato de fúria e libertação.
Sentei-me na cama, e o latejar entre minhas pernas se intensificou. Olhei para o lençol manchado, uma pequena pétala marrom-avermelhada que confirmava a veracidade daquilo tudo. Não era um sonho. Era a minha nova realidade.
A raiva que me impulsionara ainda estava lá, um carvão quente no meu peito, mas agora coberto pelas cinzas da dúvida. E do medo. E de uma curiosidade profana que começava a brotar no lugar da dor.
Precisava me lavar. Precisava me reconhecer.
Arrastei-me até o banheiro, meus pés descalços encontrando o piso frio. A luz do sol da manhã entrava pela janela, iluminando o vapor residual de algum banho matinal de meu pai. Tranquei a porta e, pela primeira vez, olhei-me no espelho sem o filtro da menina que fui até ontem.
Meus olhos estavam um pouco inchados, meus lábios levemente cheios, como se ainda carregassem a memória dos beijos de Roberto. Havia uma marca roxa, discreta, na base do meu pescoço - a assinatura da sua boca. Meus cabelos estavam uma bagunça erótica. Eu me estranhava. A mesma Fah, mas com uma história escrita no corpo.
Tirei a camisola lentamente, sentindo o tecido deslizar pela minha pele como uma última carícia. Meu corpo estava diferente aos meus olhos. Meus seios, sempre pequenos e firmes, pareciam mais sensíveis, os mamilos endurecidos não pelo frio, mas por uma memória tátil. A palma da minha mente ainda sentia o peso das mãos de Roberto neles, apertando, marcando.
Deixei a roupa cair no chão e entrei no box. Abri o chuveiro, deixando a água quente cair sobre mim como uma cascata purificadora. Fechei os olhos, deixando o líquido escorrer pelo meu rosto, pescoço, seios. Mas a água não conseguia lavar a sensação que persistia entre minhas pernas. Aquele latejar constante, um eco da noite anterior.
Minhas mãos, quase por vontade própria, começaram a seguir o caminho da água. Toquei meus seios, e um choque de prazer doloroso percorreu meu corpo. Meus mamilos estavam hiper sensíveis, e o simples roçar dos dedos fazia com que um calafiro me percorresse da nuca aos joelhos. Pressionei a palma da mão contra um deles, imaginando por um momento que era a mão de Roberto, e um gemido baixo escapou dos meus lábios.
A raiva ainda estava lá, sim, mas agora se misturava com isso - com o prazer físico que meu corpo lembrava. Era uma combinação perigosa e viciante.
Minhas mãos desceram pela minha barriga, até o Monte de Vênus, onde o latejar era mais intenso. Eu estava com medo de me tocar lá. Medo do que iria sentir. Medo da dor, medo do prazer, medo da confirmação de que aquilo havia realmente acontecido.
Respirei fundo e separei os lábios externos com os dedos. A água quente bateu direto no clitóris, e eu estremeci violentamente, precisando me apoiar na parede do box. Era uma sensação intensa, quase dolorosa, mas incrivelmente prazerosa. Meu corpo lembrava. Lembrava da língua de Roberto, dos seus dedos, da sua penetração.
Comecei a esfregar suavemente o clitóris com a ponta dos dedos, e ondas de prazer começaram a se espalhar pela minha barriga. Meus joelhos afrouxaram. Era diferente de quando me masturbava antes. Antes era uma descoberta tímida, quase culposa. Agora era uma reafirmação. Meu corpo não era mais virgem, e ele sabia disso. Ele ansiava por mais.
Com os olhos fechados, me deixei levar pelas sensações. Uma mão apertando um seio, beliscando o mamilo, enquanto a outra trabalhava meu clitóris com uma pressão cada vez maior. A imagem de Roberto sobre mim veio à tona, nítida e quente. Lembrei do seu rosto contra meu pescoço, dos seus grunhidos no meu ouvido, do cheiro do seu suor. Lembrei do momento exato em que ele entrou em mim, da dor que se transformou em uma sensação de preenchimento brutal.
Meus dedos se moveram mais rápido. Eu estava me masturbando com uma urgência que nunca sentira antes. Era como se meu corpo, agora iniciado, exigisse sua dose de prazer. A água escorria pelo meu corpo, misturando-se ao meu suor e aos meus fluidos. Meus gemos ecoavam no box, abafados pelo barulho do chuveiro.
Levei dois dedos à entrada do meu sexo. Ainda estava dolorido, sensível. Pressionei suavemente, sentindo a mesma resistência da noite anterior, mas agora conhecida. Empurrei para dentro, devagar, sentindo meu corpo se abrir para meus próprios dedos. Era diferente. Era eu me possuindo. Eu era a ativa e a passiva ao mesmo tempo.
A penetração me fez gemer alto. Movi meus dedos para dentro e para fora, num ritmo lento, explorando meu interior, sentindo cada centímetro de mim mesma. Com a outra mão, continuei a massagear meu clitóris, e as duas sensações se combinaram em uma onda avassaladora de prazer.
A imagem na minha mente já não era mais de Roberto. Era de mim mesma. Era do meu corpo, da minha descoberta, do meu poder. A raiva se dissipara, transformada em puro, cru e animal desejo.
Meu corpo começou a tremer incontrolavelmente. Arquejei as costas, meus dedos se movendo mais rápido, mais profundamente. Um orgasmo estava se aproximando, diferente de todos os que eu tivera antes - mais profundo, mais total, mais sujo. Gritei quando ele veio, um grito abafado pelo barulho da água, meu corpo convulsando, minhas pernas cedendo completamente. Caí de joelhos no box, ofegante, tremula, com a água quente caindo sobre minhas costas.
Fiquei ali por um longo tempo, a água lavando meu corpo, mas não minha alma. A confusão era agora maior do que nunca. Eu me sentia poderosa, sim, por ter tomado posse do meu prazer. Mas também me sentia suja, confusa, assustada. O que eu era agora? Uma mulher? Uma puta? Uma vingativa?
Quando finalmente saí do banheiro, envolta em uma toalha, o mundo lá fora parecia mais nítido, mais cru. Meu corpo estava limpo, mas marcado. Minha mente, um turbilhão.
O telefone vibrou. Era uma mensagem de Roberto: "Acordei pensando em vc. E naquela buceta gostosa. Quero mais."
Eu olhei para a mensagem, e depois para meu reflexo no espelho. Meus olhos brilhavam com uma luz que eu não reconhecia. Uma parte de mim queria bloquear seu número, apagar a noite da memória. A outra parte, a parte que ainda latejava entre as pernas, queria responder. Queria saber o que mais meu corpo recém-descoberto era capaz de sentir.
A Fah de antes teria chorado. A Fah de agora simplesmente sorriu, um sorriso pequeno e secreto. O jogo tinha mudado. E eu, finalmente, estava aprendendo as regras.