Ver aquele quadro no escritório da Donna foi uma surpresa para mim. Primeiro, eu não esperava que ela tivesse uma pintura da Libélula, já que parecia não ser muito fã de pinturas, apesar de ter um certo conhecimento. Eu esperava ver alguma escultura, mas não havia nenhuma. Porém, o quadro estava lá e era uma obra que eu nunca tinha visto na vida. Eu conhecia quase todo o acervo da Libélula; quantas vezes fiquei namorando fotos de suas obras no meu celular! Não diria que me lembraria de todos os quadros de cór, até porque eram muitos, mas eu tinha certeza de que ao ver um que já tivesse visto, eu lembraria. E aquele, com certeza, eu nunca tinha visto.
Donna provavelmente notou que eu fiquei paralisada olhando o quadro e me perguntou se eu tinha gostado. Eu disse que tinha amado e perguntei se ela o tinha há muito tempo. Ela respondeu que não era dela. Ela se levantou e disse para eu vir ver mais de perto. Fui até onde ela estava e ela explicou que havia um quadro da Libélula em cada escritório da galeria. No total, eram quatro escritórios e quatro quadros. Havia mais algumas obras dela no acervo da galeria que as vezes eram expostos, mas nem os do escritório, nem os da galeria estavam à venda; eram da coleção pessoal da dona da galeria. Foi aí que entendi que o quadro não estava ali por causa da Donna; na verdade, ele estaria ali mesmo se não fosse ela que trabalhasse ali.
Aquilo meio que tirou um pouco as minhas desconfianças de que Donna sabia quem era a Libélula, mas não totalmente. Eu ainda achava que ela sabia mais do que havia me contado. Outra coisa que me chamou a atenção foi que a dona da galeria era fã da Libélula. Já que a dona tinha uma coleção de quadros dela e, por algum motivo, os quadros eram expostos primeiro ali, com certeza havia alguma ligação entre a Libélula e a dona. Saí dos meus pensamentos com Donna me chamando para conhecer a galeria.
Donna me mostrou o local completo, e era muito maior do que eu imaginava. Havia quatro espaços com amostras de arte. O primeiro era só de pinturas e servia como entrada da galeria; tinha muitos quadros, a maioria de pintores desconhecidos ou que estavam no início da carreira. O segundo espaço era onde Donna trabalhava, o espaço das esculturas, que seguia o mesmo critério. Eram esculturas de todo tipo e formato, mas só de escultores desconhecidos ou que estavam começando. O terceiro espaço era dos artesanato. Nesse espaço tinha de tudo um pouco; costura, enxovais, móveis, utensílios domésticos e para o dia a dia. Sinceramente, eu amei aquele espaço; achei incrível a criatividade usada em algumas peças e, principalmente, a capacidade de aproveitar coisas descartáveis para criar itens lindos.
Notei uma diferença no espaço dos artesanatos: as paredes tinham vários desenhos feitos à mão. A maioria era em preto e branco, mas havia alguns coloridos. Eram desenhos de rostos, paisagens, caricaturas e lugares variados. Eu queria ter mais tempo para prestar atenção em cada detalhe daqueles locais, mas Donna não tinha todo o tempo do mundo, então a segui, já com planos de voltar para olhar cada um daqueles espaços com calma.
Seguimos para o quarto e último espaço da galeria, que era menor, porém parecia mais luxuoso. Ali aconteciam as exposições de artistas mais famosos. Donna me disse que cada exposição durava em média um mês; algumas eram pagas pela galeria ao artista ou ao dono do acervo para expor as obras, enquanto outras a galeria cedia o espaço de graça para o artista. A única coisa que a galeria não fazia era alugar o espaço para alguém que ainda não tivesse um nome consolidado ou donos de acervos e coleções sem expressão.
No momento, estava em exposição um acervo de esculturas de arte moderna. Eu até achei legal, mas, sinceramente, não era minha praia. Algumas esculturas, mesmo com as explicações técnicas da Donna, eu realmente não entendi direito o que o escultor queria transmitir com sua obra. Acho que eu teria que pegar umas aulas com Donna para entender mais daquela arte.
Mas não foram só os espaços que Donna me mostrou; ela também me apresentou a cozinha, os banheiros usados pelo público e a área de alimentação, onde havia uma lanchonete bem grande com uma enorme variedade de alimentos e bebidas. Eu realmente fiquei impressionada com o lugar; nunca tinha ido a uma galeria tão grande e espaçosa, nem mesmo em Paris. O que mais me chamou a atenção era que ali se valorizava muito os novos artistas e também as obras de artistas de rua. Eu ainda não conhecia a dona da galeria, mas com certeza ela merece os parabéns por ter criado um espaço daquele.
Quando terminamos de ver tudo, Donna perguntou se eu me importaria de ficar um pouco sozinha, pois precisava se reunir com Orlando para resolver alguns assuntos sobre a galeria. Eu disse que não tinha problema algum e que aproveitaria para olhar a galeria com mais calma. Ela me agradeceu e disse que faria o possível para terminar a reunião antes do almoço, mas que, se não conseguisse, me avisaria para que eu pudesse ir almoçar ou comer algo na lanchonete. Eu disse que estava tudo bem; ela me deu um selinho rápido e saiu em direção ao seu escritório.
Fui direto para a entrada da galeria, queria ver cada pintura com calma e, quem sabe, encontrar outra obra da Libélula. Segui em direção ao primeiro espaço e, durante o trajeto, percebi que o lugar já tinha um certo movimento. Mesmo em uma segunda-feira de manhã, a galeria atraía algumas pessoas.
Passei o resto da manhã olhando as pinturas da entrada da galeria; infelizmente, não vi nada da Libélula, mas vi obras muito interessantes e bonitas. Notei também que a maioria estava à venda e por um ótimo preço. Não eram de artistas conhecidos do público, embora eu conhecesse alguns nomes.
Uma das garotas que trabalhava ali veio falar comigo, mas a conversa não durou muito, quando eu disse que estava apenas olhando e que tinha vindo visitar a convite da Donna, logo ela saiu de perto de mim. Provavelmente, a garota percebeu que eu não era uma visitante comum e não tentou me vender nenhum quadro. Mesmo assim, foi muito educada, disse que eu poderia ficar à vontade e que poderia chamá-la se precisasse de algo.
Quando eram quase onze horas, Donna mandou uma mensagem dizendo que não conseguiria me encontrar antes do meio-dia. Ela se desculpou e disse que havia um restaurante a uns cem metros à esquerda da entrada da galeria, e que eu poderia almoçar sem ela, se quisesse, ou fazer um lanche na galeria. Eu respondi dizendo que ela poderia ficar tranquila, que eu iria esperar para almoçarmos juntas.
Quando acabei de responder, olhei em direção à entrada da galeria e vi um casal de mulheres entrando que me chamou a atenção. Era uma mulher morena de cabelos curtos repicados, óculos escuros e um terninho social bem bonito. Ela era elegante e bonita, devia ter uns 30 anos no máximo. Ao lado dela estava uma garota mulata de cabelos trançados no estilo rastafarri. Ela vestia um vestido curto colado ao corpo, e que corpo! A garota provavelmente tinha uns 20 e poucos anos. Parei de olhar assim que elas se aproximaram e, antes de abaixar o olhar, notei que a garota tinha olhos claros e um rosto bem bonito. Abaixei a cabeça e elas passaram por mim. Assim que passaram, olhei novamente para as duas; elas realmente tinham chamado minha atenção pelo contraste entre elas. Quando levantei o olhar, a mulher mais velha estava olhando para trás, tinha tirado os óculos e pude ver que seu olhar era direcionado diretamente para mim. Quando a olhei, ela voltou a olhar para frente e falou algo com a garota, que olhou para trás. Por algum motivo, a mulher provavelmente comentou algo sobre mim, pois a garota fixou os olhos em mim antes de se virar novamente para frente. Elas seguiram em direção ao escritório da dona da galeria, subiram as escadas e entraram.
Provavelmente a mulher em questão era a dona da galeria, já que ela abriu a porta de vidro e a garota era muito nova para ser a dona do local. Pelo menos foi o que presumi, mas eu poderia estar enganada. Resolvi ir para a área dos artesanatos; com certeza, eu iria comprar algo para dar de presente para minha mãe e Milene.
Enquanto seguia para a área dos artesanatos, fiquei pensando por que a possível dona da galeria havia me olhado e o que ela disse à garota. Eu tinha quase certeza de que ela comentava algo sobre mim, pois a garota olhou diretamente nos meus olhos após ouvir a mulher. Provavelmente foi algo sobre minha roupa, cabelo ou outra coisa que mulheres sempre reparam umas nas outras, já que eu não conhecia ela, a não ser que Donna tivesse falado de mim para ela. Poderia ser isso; Donna provavelmente era amiga dela e talvez tivesse mostrado alguma foto minha.
Fui tirada dos meus pensamentos quando Donna me chamou. Ela se aproximou e disse que havia conseguido se livrar de Orlando mais cedo do que esperava e me convidou para almoçar. Eu queria muito ver os artesanatos, mas provavelmente teria tempo na volta e aceitei o convite.
Durante o almoço, perguntei a Donna se ela tinha contado para alguém sobre nós duas. Ela respondeu que não; ela disse que Orlando até perguntou quem eu era e ela disse que eu era uma amiga, mas só isso. Ela me perguntou o motivo da pergunta, e eu disse que era só curiosidade. Achei melhor deixar aquele assunto de lado.
Terminamos o almoço e voltamos à galeria, onde ficamos conversando no escritório. Perguntei a Donna quem era a dona da galeria; ela me disse que seu nome era Valentina e que logo iria me apresentar, mas não naquele momento, pois ela estava com sua nova namoradinha e as duas não se davam bem. Senti uma certa raiva nas palavras dela, mas mais uma vez fiquei na minha. Também fiquei surpresa ao saber que a mulher e a garota que vi eram um casal.
Donna com certeza tinha seus segredos, ou algumas coisas que eu não sabia, mas achei que isso era normal, já que ainda estávamos nos conhecendo. Resolvi mudar de assunto e disse que depois queria ir novamente à área dos artesanatos, que queria comprar algo para minha mãe e minha madrasta. Donna disse que eu poderia ficar à vontade para ir quando quisesse ou que ela poderia ir comigo naquele instante. Eu disse que depois iria, que não tinha pressa.
Quando terminei de falar, minha mãe me ligou e pedi licença a Donna para atender. Conversei com minha mãe por um tempo e, claro, Donna ouviu a conversa e perguntou se minha mãe estava na cidade. Eu disse que sim e expliquei que tanto minha mãe quanto minha madrasta tinham vindo comigo. Donna disse que queria muito conhecê-las e achei aquilo bem legal.
Combinei com minha mãe de passar a tarde na galeria; ela conheceria Donna e eu pegaria minha mala. Naquele momento, já tinha mais confiança para dormir no apartamento de Donna, ainda mais depois de ela me apresentar seus amigos de trabalho e de querer conhecer minha mãe. Acho que ela não era nenhuma psicopata que iria me atacar à noite. Pelo menos, não para me fazer mal.
Aproveitei um momento em que Alexia apareceu com alguns papéis para Donna ver e fui até a área dos artesanatos. Comprei algumas lembranças para meu casal favorito: um jogo de talheres de bambu para minha mãe e uma caneta de pena para Milene. Achei que era a cara delas. As lembranças foram super baratas, mas eu tinha certeza de que elas iriam gostar. Quando voltei ao escritório, Alexia estava saindo; ela parecia meio triste, mas assim que me viu, abriu um sorriso e me cumprimentou. Retribui e não consegui evitar de reparar que ela era uma mulher muito linda.
Minha mãe apareceu à tarde e Donna foi comigo até a entrada da galeria. Depois das apresentações, conversamos um pouco, mas não por muito tempo. Elas não quiseram entrar; Milene disse que ainda tinha algumas coisas para resolver. Perguntei a Donna se realmente eu poderia ficar no apartamento dela e ela disse que não teria problema algum. Peguei minha mala e me despedi da minha mãe e de Milene. Donna disse para eu levar a mala até o carro, me mostrou onde ele estava, me deu as chaves e disse que só iria pegar sua bolsa e que já iríamos embora.
Fui até o carro, desativei o alarme e guardei minha mala no banco de trás. Depois, me sentei no banco do passageiro e fiquei esperando Donna. Ela ainda demorou uns vinte minutos, mas finalmente apareceu com um sorriso no rosto. Seguimos para o apartamento dela e não demoramos muito para chegar. Era um prédio bem bonito, por sinal; ou Donna era rica ou ganhava muito bem. Acho que seria a primeira opção, já que provavelmente o salário da galeria não seria tão alto. Pelo menos, era o que eu achava naquele momento.
Subimos pelo elevador e paramos no décimo andar. Seguimos por um corredor até chegar à porta do seu apartamento. Assim que entramos, vi que era realmente bem bonito. Donna disse para eu ficar à vontade e pediu minha mala para guardar. Entreguei e me sentei no sofá da sala, admirando a bela decoração minimalista do lugar. Logo, Donna voltou com uma roupa mais confortável e se sentou no meu colo, já procurando minha boca para beijar. Eu amava o beijo dela; era suave e seus lábios eram muito macios.
Depois do beijo, ela perguntou se eu queria sair para jantar fora ou se preferia que a gente mesmo preparasse o jantar. Eu disse que preferia que a gente mesmo preparasse, pois eu estava um pouco cansada para sair de novo. Ela então sugeriu que pedíssemos algo para comer. Acabei concordando e perguntei se poderia tomar um banho. Donna se levantou, pegou minhas mãos e me levou até o seu quarto, que por sinal, era bem bonito. Ela me levou até a suíte, disse que eu poderia usar o que quisesse e que iria fazer o pedido do nosso jantar antes de voltar para tomar banho comigo.
Ela saiu e eu comecei a me despir. Eu realmente estava precisando de um banho depois de uma viagem e de passar o dia todo na galeria. A água estava uma delícia e eu até relaxei um pouco, sentindo a água cair sobre meu corpo.
Depois de alguns minutos, vi Donna aparecer totalmente nua pela porta do banheiro. Ela estava linda como sempre, e imaginar que eu estava vivendo pela primeira vez uma cena que eu repetiria muitas e muitas vezes a partir daquele dia.
Continua…
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper
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