Continuando:
Uma semana depois do retorno, o silêncio foi quebrado. O celular de Mariana vibrou na mesa da cozinha enquanto tomávamos café. O nome "Pedro" brilhou na tela. Ela congelou, o pão que segurava caindo no prato.
Eu peguei o celular, meu corpo tenso. Era uma mensagem de texto, fria e direta:
"Achou que era fácil se livrar de mim, Mariana? Que você ia me usar pra conseguir o que queria e depois jogar fora? Você esta enganada, sua puta. E muito. Você acha que eu esqueceria tudo o que você fez? Eu não conseguiria esquecer. Cada gemido, cada chupada, cada estocada, cada gota do meu gozo que você engoliu. Tenho fotos de você de tudo que é jeito, coberta com a minha porra... com a bunda marcada, você seminua no chuveiro. Tudo. E eu vou contar tudo. Para o Guilherme, para nossos amigos. Você vai ser vista como uma vadia que fez seu namorado de corno. Não posso perder você agora que nossa parceria estava dando tanto lucro. Você precisa voltar! Me responde em uma hora, ou o show começa, Mariana. E dessa vez, o palco é aqui."
O ar pareceu sumir dos meus pulmões. O celular escorregou da minha mão e caiu na mesa, o som metálico ecoando no silêncio do apartamento. Mariana me olhava, os olhos arregalados, já compreendendo.
"O que foi, Guilherme? O que ele disse?" a voz dela era um sussurro aterrorizado.
Eu não conseguia falar. A ameaça era clara, e a frieza de Pedro me gelou a alma. Ele queria que eu a visse se desintegrar, soubesse de cada detalhe da sua humilhação, da forma mais íntima e dolorosa possível. Ele queria destruir não apenas Mariana, mas também a mim.
Eu a segurei, minha voz rouca de fúria contida. "Olhe com seus próprios olhos, Mariana." Eu queria que ela visse a vileza das palavras de Pedro, a forma como ele a reduzia a um objeto, a forma como ele tentava me usar contra ela. "Não responde nada. Agora o negócio é comigo!"
Um plano, nascido da adrenalina e da raiva, começou a se formar em minha mente. Pedro não esperava que eu estivesse por dentro de tudo. E muito menos que eu tivesse uma carta na manga.
Peguei meu próprio celular, as mãos tremendo, mas a determinação era inabalável. Eu iria revidar. Eu não seria mais o observador impotente. Eu seria o escudo de Mariana.
Com os dedos firmes, comecei a digitar, cada palavra carregada de uma promessa fria e calculada:
"Escuta aqui, seu filho da puta, que eu achei um dia que era meu amigo. Eu já sei de tudo. A Mariana já me contou cada detalhe do inferno que você fez ela viver. E mais: eu já salvei cada arquivo dos vídeos e fotos que você gravou dela. Tudo. Eu sou advogado, Pedro, e se você chegar perto dela de novo ou ousar ameaçar expor qualquer coisa, eu vou te processar! Tenho prova o suficiente para te jogar na cadeia por estupro, assédio, extorsão e violência psicológica. Você sabe bem o que fazem com abusadores de mulher na cadeia, não é mesmo? Pense bem antes de dar seu próximo passo. A brincadeira acabou. E você não vai gostar do que vai acontecer se continuar."
Apertei "Enviar". O alívio de ter jogado a bomba de volta para ele foi momentâneo, misturado com a ansiedade da reação que viria. Mariana me olhava, surpresa, seus olhos marejados de uma nova esperança e um medo antigo.
"Guilherme...", ela sussurrou.
Eu a puxei para um abraço apertado. "Está tudo bem, meu amor. Eu não vou deixar ele te tocar de novo. Nunca mais."
O celular de Guilherme vibrou poucos minutos depois, a resposta de Pedro vindo com uma velocidade brutal, destilando veneno em cada palavra.
"HA! Não acredito que você ainda quer ficar com essa puta depois de tudo que ela fez, seu corno. Você acha que me assusta com suas ameaças de advogado, 'amigo'? Que piada! Você acha que não sei lidar com caras como você? Mariana não é a santa que você pensa que ela é, ela é uma vadia interesseira, e ela me quis. Ela se entregou a mim de corpo e alma, e o que eu fiz com ela foi o que ela implorou. Você não sabe de nada, moleque. E se você acha que tem provas, pode vir. Mas saiba que eu também tenho. Eu tenho as palavras dela, as promessas dela, a boca dela implorando por mais. E se você ousar sujar meu nome, eu garanto que a vida de Mariana vira um inferno que ela nunca imaginou. Pense bem em quem você está defendendo e no que ela realmente é. Um processo vai expor os dois, não só a mim. E aí, quem vai ter mais a perder? Eu garanto que não sou eu. Eu estou ganhando muito dinheiro com essa vadia, não vou perder tudo só pq ela se arrependeu. Ou ela volta a gravar comigo por mais um tempo. Ou você e ela vão se arrepender amargamente."
A mensagem era um misto de arrogância, negação e uma ameaça velada que tocava em pontos sensíveis. Pedro não recuaria. Sua mente perversa já estava traçando os próximos passos, não para se defender de um processo, mas para intensificar a tortura psicológica de Mariana, usando Guilherme como uma peça inesperada em seu tabuleiro doentio. A luta estava apenas começando, e Pedro acabara de mostrar que não se intimidaria facilmente.
"Guilherme...", a voz dela era um sussurro trêmulo. "Ele... ele vai fazer isso. Ele vai me expor. Vai contar tudo. Minha mãe... meus vizinhos..."
Eu vi o pânico em seus olhos. A fragilidade dela me impulsionou. Eu precisava ser a rocha, mesmo sentindo um tremor por dentro.
"Calma, Mariana. Ele está blefando. Ele sabe que se fizer isso, ele se ferra mais ainda. Ele quer te intimidar." Eu a abracei, tentando transmitir segurança. "Ele não sabe que eu salvei os vídeos. Ele acha que está em vantagem, mas não está."
Mariana estava inconsolável. "Mas e se ele não blefar? E se ele publicar? E se ele... e se ele realmente me fizer voltar? Eu não aguento mais, Guilherme! Eu não aguento!"
Eu a segurei firme, olhando em seus olhos. "Você não vai voltar para ele, Mariana. De jeito nenhum. E ele não vai te expor. Eu não vou deixar. Eu sou advogado, lembra? Eu sei como lidar com isso."
"Vamos fazer o seguinte, Mariana," eu disse, com a voz firme. "Você não vai responder mais nada a ele. Nem uma palavra. Você vai bloquear o número dele em todas as suas redes sociais, em tudo que você tiver. Ele não vai ter mais contato com você."
Mariana me olhou, apreensiva. "Mas e se ele...?"
"Ele não vai," eu garanti. "Eu vou cuidar disso agora. A próxima comunicação de Pedro não virá de um celular, mas de um tribunal. E não será uma ameaça, será uma intimação."
Eu sabia que não seria fácil. Pedro era perigoso. Mas agora, com as provas em mãos e a convicção de que Mariana precisava ser protegida a todo custo, eu estava disposto a ir até o fim. Eu iria usar cada recurso legal ao meu alcance para garantir que Pedro pagasse por cada dia de tormento que causou a Mariana.
Mariana bloqueou Pedro em tudo. Telefone, redes sociais, cada canal de comunicação que os ligava. Era um ato desesperado de auto-preservação, uma tentativa de cortar de vez o cordão umbilical de tormento. Por alguns dias, o silêncio de Pedro foi um alívio tenso, quase insuportável, para ela.
...
Algum tempo depois, enquanto Mariana caminhava pelos corredores movimentados da faculdade, uma sombra familiar se materializou à sua frente. Pedro. Não aquele Pedro raivoso e vulgar das ultimas mensagens, nem o sádico triunfante dos vídeos. Ele estava parado ali, no meio dos estudantes, com uma postura surpreendentemente contida, quase melancólica.
"Mariana", ele chamou, a voz baixa, quase um sussurro no burburinho do campus. Seus olhos, que antes brilhavam com malícia, pareciam carregar um estranho arrependimento.
Mariana congelou, o pânico subindo por sua garganta. Ela pensou em correr, gritar, mas seus pés pareciam presos ao chão. "O que você quer, Pedro?", ela conseguiu murmurar, a voz trêmula.
Ele deu um passo à frente, com as mãos abertas em um gesto de rendição. "Calma, Mari. Por favor. Só me escuta... só quero conversar. Numa boa. Eu não vou fazer nada, juro. Só preciso que você me ouça. Pela última vez. Por favor."
A vulnerabilidade em sua voz era quase chocante, um contraste gritante com o monstro que ela conhecia. Coagida pela surpresa e pela esperança mínima de que aquilo pudesse realmente significar o fim, Mariana assentiu com a cabeça, sem conseguir desviar o olhar dele.
Pedro a conduziu para um canto mais isolado do campus, perto de uma árvore grande, onde poderiam conversar sem serem facilmente ouvidos. Ele respirou fundo, parecendo ponderar suas palavras com cuidado.
"Olha, Mariana... eu sei. Eu sei que passei de todos os limites. Eu... eu queria pedir desculpas pelo que eu te fiz. Pelas coisas que eu disse, pela forma como te tratei lá em Nova York. Foi... foi um erro. Eu realmente sinto muito."
As palavras eram como um veneno doce, tentando adormecer a desconfiança de Mariana. Ele continuou, seu tom quase confessional. "Eu sempre tive muito fetiche por você, Mariana. Desde o colégio. Você era a garota mais linda, a que todos queriam. E eu... eu nunca achei que conseguiria te ter. Quando finalmente aconteceu, quando eu te tive... isso bugou com a minha cabeça. Principalmente pelo fato de você ser comprometida com meu melhor amigo, e de por causa disso, eu nunca poder te ter em definitivo. Isso me fez querer te dominar, te possuir de uma maneira que... acabei fazendo tudo que fiz."
Ele baixou o olhar, como se estivesse genuinamente envergonhado. "Tudo virou uma bola de neve, Mariana. Eu perdi o controle. Mas agora... eu entendo. Eu entendo que eu te machuquei. Profundamente." Ele a olhou nos olhos, com uma intensidade que beirava a súplica. "Lembro daquele dia no quarto do hotel, quando você disse que queria que eu fosse seu amigo de novo. Eu lembro, Mariana. E eu... eu sinto falta da nossa amizade também."
Ele se aproximou um pouco mais, a voz carregada de uma falsa sinceridade. "Me dá mais uma chance, Mariana. Uma última chance para aquele Pedro amigo. Aquele que você conhecia antes de tudo isso. Eu prometo que, depois disso, eu sumo da sua vida para sempre. Eu apago todo o material que tenho de você. Tudo. Você nunca mais vai ter que se preocupar com isso. Mas... eu queria uma última noite com você. Como um adeus. Para selar essa promessa."
Mariana ouvia, o coração disparado, a mente em conflito. A proposta era perversa, mas a promessa de liberdade, a perspectiva de ter todo aquele material apagado e de Pedro sumir de sua vida, era uma tentação avassaladora. Era o que ela mais queria no mundo.
Ela hesitou, olhando para a grama. As palavras "uma última noite" ecoavam em sua cabeça, mas a ideia de ter sua vida de volta, de proteger Guilherme e sua família da exposição, parecia valer qualquer sacrifício.
"Eu... eu preciso pensar, Pedro", ela sussurrou, a voz quase inaudível. "Eu te dou uma resposta depois."
Pedro assentiu, um sorriso quase imperceptível surgindo em seus lábios, como um lobo que sabe que sua presa está prestes a cair na armadilha. "Tudo bem, Mariana. Eu espero. Mas pensa bem, essa é a sua chance de se livrar de mim de uma vez por todas. Para sempre."
Ele se afastou lentamente, deixando Mariana ali, sozinha com a terrível decisão que tinha que tomar. O lobo havia se disfarçado de cordeiro, e a armadilha estava montada.
O peso da decisão esmagava Mariana. A visão do Pedro "arrependido" na faculdade, a promessa de liberdade e a aniquilação das provas, tudo isso a impulsionava para uma solução desesperada. Ela amava Guilherme e não suportava a ideia de arrastá-lo ainda mais para o pântano de sua humilhação. Se houvesse uma chance de resolver aquilo sozinha, de proteger o homem que a amava daquela sujeira final, ela a agarraria.
Naquela noite, sob o pretexto de ir ao banheiro, Mariana pegou o celular e, com as mãos trêmulas, desbloqueou o número de Pedro no WhatsApp. Respirou fundo, o coração batendo forte no peito, e digitou a mensagem, cada palavra pesada com a sua esperança e seu medo.
"Caso eu aceite a sua proposta, você promete nunca mais me atormentar? Eu quero que você mostre que está arrependido e me prometa que vai realmente apagar tudo, todos os vídeos e fotos, sem deixar rastro. Além disso, o Guilherme nunca pode saber do que você me propôs hoje, da nossa conversa na faculdade e dessa última noite. Estamos de acordo?"
Ela enviou a mensagem e esperou, a respiração presa na garganta. Os minutos se arrastaram como horas. Então, o celular vibrou. A resposta de Pedro veio, rápida e cheia de uma calma calculista que a fez arrepiar.
"Mariana, minha querida, eu concordo com tudo. Eu entendo que você queira paz, e eu também quero. Juro pela minha vida que, se você cumprir a sua parte, eu vou apagar cada mísero arquivo. Você nunca mais vai me ver, nem ouvir falar de mim. E sim, o nosso segredo da faculdade, e o que vier a acontecer, fica só entre nós. O Guilherme não vai saber de absolutamente nada, palavra de homem."
Mariana sentiu um alívio momentâneo, mas a continuação da mensagem a fez gelar, revelando a verdadeira face da "calmaria" de Pedro.
" Tudo será apagado e o Guilherme nunca vai saber. Terça-feira, às 19h, naquele motel na Zona Sul. Mate a aula, assim ele não desconfia de nada. Quero aproveitar bem essa última vez. Sabe, Mariana, eu sei que fui um monstro, e estou tentando mudar. Respeito muito você e sua decisão. Mas, já que é a última vez, e para que o sexo seja realmente inesquecível, você poderia... poderia ser a minha puta por esta última noite? De corpo e alma? Eu quero que a gente possa aproveitar ao máximo, mas não quero que você pense que não mudei, por isso estou perguntando. O que me diz?"
A audácia da pergunta, a forma como ele tentava mascarar seu sadismo com um falso respeito, revoltou Mariana. Mas ela estava presa. A liberdade de sua vida e a paz de Guilherme dependiam disso. Com um nó na garganta, ela digitou a resposta, sentindo uma parte de si morrer a cada palavra.
Tudo bem, Pedro. Pela última noite... eu serei a sua puta."
Ela enviou a mensagem e desligou o celular, jogando-o na cama. As lágrimas vieram, quentes e amargas. Ela estava prestes a fazer o maior sacrifício de sua vida, na esperança de que, depois disso, o pesadelo finalmente terminasse. A imagem de Guilherme, confiante e alheio, me vinha à mente, e a culpa a dilacerava. Era por ele. Por nós.
...
Posteriormente, eu tive acesso a aquelas mensagens pelo computador, e fiquei furioso, mas não poderia deixar transparecer.
Respirei fundo, tentando organizar meus pensamentos no turbilhão de emoções. Não podia confrontá-la ainda. Não agora. Eu precisava agir. Pedro não sabia que eu estava lendo as mensagens. Essa seria a minha vantagem.
Peguei meu próprio celular. Digitei o número de Pedro, meu coração batendo forte, mas a mente focada.
"Pedro, seu desgraçado. Eu vi suas mensagens para a Mariana. Seu plano sujo. Eu sei do encontro na terça. É para você parar. Agora." Minha voz interior tremia, mas eu me forcei a manter a calma, a focar no que ele entenderia: a ameaça.
A resposta de Pedro veio quase que imediatamente, surpreendentemente calma, mas com uma camada que me gelou a espinha.
‘’Gui, desculpa, mas que bom que você está por dentro. Sinto muito que tenha descoberto assim. Eu sei que errei com a Mari, fui longe demais. E, sim, eu sinto um certo arrependimento por isso. Você sempre foi meu parceiro, e mesmo com tudo, ainda considero você um amigo, de verdade."
Uma risada seca escapou dos meus lábios. Amigo? Ele estava me chamando de amigo enquanto planejava mais uma noite de prazer com a mulher que eu amava. A perversidade dele era de outro nível.
A próxima mensagem chegou:
"Mas sabe, Gui, a verdade é que eu sempre fui fissurado na Mariana. Desde o colégio. Sempre tive uma inveja fodida de você por ter ela. E, para ser sincero, eu consegui despertar nela coisas que você nunca conseguiu. Aposto que ela nunca te deixou comer o cu dela, certo? Já comigo, foi diferente. Além ela ainda me prometeu que sua bunda seria só minha. Ela cumpriu a promessa não é mesmo? Ela é uma mulher incrível, com um corpo sem igual, e tem um potencial que você nem imagina. Se você quiser, eu posso te ajudar, cara. Posso te ajudar a ter uma Mariana mais liberal, que faça todas as suas vontades na cama, que seja completamente submissa ao seu prazer. Você sabe tem uma mulher super gostosa, ela só precisa ser lapidada. Eu posso te ajudar a ter isso. Em troca, eu apago tudo da Mari. Nossas contas se zeram, e eu prometo sumir da vida dela. Ela tem que ter essa última despedida comigo, e depois disso, ela é sua, do jeito que você sempre quis. Pra você fazer todo tipo de coisa. O que me diz?"
Meu mundo desabou. A proposta era obscena, repugnante. Mas a ideia de ter Pedro longe de Mariana para sempre, e, no fundo, a semente perversa que ele plantava sobre "uma Mariana mais liberal", começou a corroer minhas defesas. Ele sabia meus pontos fracos, minhas inseguranças como homem. E a promessa de apagar tudo era a chave para a liberdade de Mariana. Eu odiava cada palavra, mas a lógica fria e distorcida dele começava a fazer sentido na minha cabeça. Eu também queria essa Mariana que ele tinha desperto.
"Você só pode estar maluco, Pedro!", digitei, furioso. "Eu nunca que aceitaria uma proposta dessas! Você acha que eu sou o quê? Eu amo a Mariana, seu doente! E a última coisa que eu quero é que ela seja a 'puta' de alguém, muito menos a sua! Apague essas porras de vídeos e fotos agora, e suma da vida dela, ou eu juro que vou te caçar até no inferno com um processo que vai destruir a sua vida!"
"Calma, Gui. Não precisa surtar. Eu entendo sua revolta. Mas pare e pense. Você já viu o que ela fez por você e pela mãe dela, não é? O que ela suportou. Você viu o quão longe ela foi. Você sabe o quanto ela é capaz quando quer te agradar, quando quer te proteger. Essa 'despedida' é o que vai libertá-la, Gui. Para sempre. Você quer que ela viva o resto da vida com essa ameaça pairando sobre a cabeça dela? Com o medo de que tudo venha à tona a qualquer momento? Eu sou a única pessoa que pode garantir a paz dela. Não existe processo que apague um arquivo digital de verdade, Mas eu tenho esses poder, Gui. Eu apago, e pronto. Sumiu. Para sempre."
Minhas mãos suavam. Ele estava certo sobre o medo. Eu sabia que a ameaça constante de exposição a estava consumindo. Mas a ideia de usá-la como moeda de troca, de "lapidá-la" como ele dizia... era repugnante.
"Eu não confio em você, Pedro. Por que eu acreditaria que você vai apagar tudo? E por que eu aceitaria algo tão degradante para a mulher que eu amo?", retruquei, mas a voz em minha cabeça já não era tão firme quanto a primeira. A racionalidade, por mais doentia que fosse, começava a se infiltrar.
Pedro, como se sentisse minha hesitação, continuou a envenenar meus pensamentos.
"Porque é a única saída, Gui. Para ela. Para você. Você acha que essa pureza dela é real? Você não viu o que ela fazia no Central Park? No metrô? Ela gostava, Gui. Não minta para si mesmo. Você viu os vídeos. Ela é viciada em satisfazer, e você sabe disso. Você tem uma mulher que tem um tesão que você nem sabia que existia. Você não quer isso? Não quer uma mulher que faça tudo por você na cama, sem limites, sem vergonha, sem precisar se preocupar com ela se entregando para outro como fez comigo? Ela já provou o prazer de se libertar, de ser sem freios. Eu só estou te oferecendo a chave para você ter essa versão dela, só para você. Uma Mariana sua, completamente sua, sem as amarras que ela tinha antes. É a chance de ter a mulher que você sempre sonhou, sem as ameaças do passado. Pense nisso, Gui. Pense no prazer que vocês dois podem ter juntos, sem a minha sombra."
A cada mensagem, Pedro desmontava minhas defesas. Ele explorava minha culpa, meu medo de perder Mariana, e, de forma mais perigosa, meus próprios desejos ocultos. A ideia de ter uma Mariana "lapidada", sem freios, apenas para mim, era um veneno que começava a me seduzir, por mais que eu detestasse admitir.
‘’Além do mais, o que eu teria a ganhar se não apagasse os vídeos? Eu só estou pedindo uma última noite, e apagado tudo. Se eu não fizer isso depois da última noite. Não tenho mais nada a ganhar, ou você acha que ele e você irão aceitar qualquer outra coisa de mim depois de não ter cumprido a minha palavra? Pensa nisso. Não acha que vale o risco para acabar com tudo?’’
A voz dele era um sussurro demoníaco na minha mente: ela já é assim, Gui. Ela já te traiu. Ela já se entregou. Por que não ter o bônus, e tirá-la de mim para sempre?
Eu fechei os olhos, o rosto pálido. Era uma escolha entre o inferno presente e um futuro incerto, mas que prometia, de forma doentia, uma liberdade. Eu precisava proteger Mariana, e se esse era o único caminho para tirar Pedro de nossas vidas...
Com os dedos tremendo, digitei minha resposta, sentindo uma parte da minha alma se esvair a cada palavra, mas a imagem de Mariana livre de Pedro me impulsionava...
@mari.anna_arroyo