DISCERE 2 - TEMPO DE AMAR - CAPÍTULO 2: A GINCANA

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 3326 palavras
Data: 20/09/2025 00:57:55

O campus do Instituto Discere estava mais vivo do que nunca naquela manhã. As arquibancadas montadas no campo principal já começavam a encher, enquanto bandeiras coloridas tremulavam com o vento suave. A Gincana das Quatro Estações finalmente teria sua primeira etapa, e os alunos, divididos em equipes temáticas, já se preparavam para a disputa.

Valentim, ainda de muletas, sentou perto da linha de chegada, com uma expressão entre animada e frustrada. O pé ainda engessado o impedia de participar — algo que para ele era quase uma tortura. Noah, ao contrário, estava radiante com sua camisa do terceiro ano, ajustando os óculos escuros e o protetor solar como se fosse para a praia, e não para um desafio físico.

Da mochila, Valentim retirou a lã e as agulhas. Já havia se tornado motivo de piada entre os colegas, que o apelidaram de "velhinho do tricô". O rapaz, no entanto, sempre levava na esportiva — afinal, não via no crochê nada de pejorativo.

Além disso, ficar de fora dos jogos o deixava ansioso, e crochetar era o que o ajudava a se acalmar. Ainda assim, nunca faltava espaço para provocações, inclusive da parte de seu próprio namorado.

— Vai queimar na largada, Noah? — Valentim provocou com um sorriso, batendo as agulhas contra o gesso como se fosse um tamborim improvisado.

— Engraçadinho. Só não reclama quando eu trouxer a medalha pra você beijar. A prova do ar é nossa, querido. — Noah piscou e saiu correndo para se reunir com sua equipe.

Enquanto isso, João Paulo observava tudo de maneira discreta. O uniforme esportivo simples contrastava com os tênis de última geração e os acessórios caríssimos dos colegas. Era a primeira vez que participava de algo tão grandioso. Tentava manter o foco no jogo, mas não conseguia evitar a sensação de deslocamento — como se estivesse participando de uma festa para a qual não havia sido realmente convidado.

Narciso, por sua vez, se comportava como se fosse o astro principal do evento. O cabelo loiro impecável, o sorriso treinado para fotos e a presença constante de sua mãe na arquibancada — transmitindo tudo para as redes sociais — eram quase mais chamativos que o próprio jogo. A cada passo, ele se certificava de estar em um ângulo bom para a câmera.

— Concentração, Narciso! — gritou um colega de equipe.

— Estou concentrado, só preciso que a luz bata bem. — respondeu ele, arrancando risos e olhares reprovadores ao mesmo tempo.

Do outro lado do campo, Gabriel chegava com um ar displicente, ajustando o uniforme como quem não tinha pressa. Assim que viu Noah, abriu um sorriso que misturava charme e veneno. A aproximação foi imediata.

— Boa sorte hoje, campeão. — disse Gabriel, encostando de leve no braço de Noah.

— Não preciso da sua sorte. — respondeu Noah, seco, tentando se afastar.

— Vai precisar. — Gabriel completou com um olhar enigmático, deixando Noah desconfortável.

A prova começou: uma corrida de obstáculos com direito a escaladas, túneis e cordas — tudo sob uma altura considerável . Noah se destacou logo no início, demonstrando agilidade e força, mas, misteriosamente, uma das cordas estava solta no segundo obstáculo. Ele quase caiu e perdeu segundos preciosos. Do outro lado da arquibancada, Gabriel observava com um sorriso sutil, como quem acabara de assistir a um plano dar certo.

Valentim, inquieto, percebeu a cena estranha.

— Isso não foi acidente... — murmurou para si mesmo, apertando o punho.

No fim, a equipe de Noah ficou em segundo lugar, atrás da equipe de Narciso, que comemorou como se tivesse ganhado uma final olímpica. João Paulo, exausto, mal conseguia respirar após completar a prova, mas sentiu um orgulho silencioso por não ter desistido.

Depois da corrida, os alunos se espalharam pelo pátio para comemorar — ou reclamar — do resultado. Gabriel não perdeu tempo: se aproximou de Valentim, com um ar debochado.

— Difícil torcer parado, né? Deve ser horrível ver o namorado suando por aí... rodeado de gente melhor preparada.

— Vai embora, Gabriel. — Valentim respondeu, firme, apertando as agulhas contra as mãos.

— Calma, não precisa ficar nervoso. Eu só quero conversar... com o Noah. Mas você já sabia disso, não é? — Gabriel piscou e saiu andando antes que Valentim pudesse responder.

Naquele momento, Valentim percebeu que Gabriel não estava apenas de passagem. Ele estava ali para jogar — e não exatamente a Gincana.

***

O sol já se punha quando a cerimônia chegou ao fim. Narciso, pela primeira vez, subiu ao pódio para receber a medalha de ouro, enquanto Noah, com um sorriso cansado, recebeu a de prata. O público aplaudia, e os flashes capturavam cada instante para as redes sociais do Instituto Discere.

Narciso parecia intocado pelo esforço da mini maratona. O cabelo, ainda úmido de suor, caía de forma elegante, e a postura impecável dava-lhe uma aura quase inacreditável. João Paulo observava em silêncio, tomado por uma estranha mistura de fascínio e incredulidade. Como era possível que alguém fosse tão bonito? Era como se Narciso emanasse uma energia invisível que atraía todos os olhares — de mulheres e homens, igualmente.

— Mãe! — chamou Narciso, abrindo um sorriso largo.

Helena surgiu logo em seguida, saltitante, como se a vitória fosse dela também. Alta, de porte elegante, usava o cabelo curto e estiloso que lhe dava um ar moderno e confiante. No ombro, trazia uma bolsa enorme, carregada de tudo o que o filho poderia precisar. Era mãe, empresária e assessora, tudo ao mesmo tempo.

— Vamos tirar uma foto com a classe — pediu Narciso, já puxando o celular.

Os alunos se agruparam diante do pódio. Narciso fez questão de ter João Paulo ao seu lado, e quando passou o braço em torno dele para a foto, João sentiu o coração acelerar.

— Você foi incrível, cara — elogiou João, tentando soar natural.

Narciso apenas sorriu, como se o elogio fosse algo que já lhe fosse habitual.

— Ei, Narciso! — chamou um colega. — Vamos ao shopping comemorar!

Narciso ergueu a mão em um gesto de despedida.

— Hoje eu passo, tenho umas coisas para resolver. Aproveitem.

Helena, que revisava a agenda no tablet, levantou os olhos para o filho:

— Filho, eu tenho uma reunião na agência. Qual é o seu compromisso de hoje?

Ele deu de ombros, sorrindo com certa malícia.

— Nenhum, na verdade. Só não estava a fim de ir. Vou ficar mais um pouco com meus amigos. — E então pousou a mão no ombro de João Paulo. — Aviso quando for para casa.

— Está bem. — Helena se aproximou, beijou-lhe a testa e acrescentou. — Eu já enviei as fotos para a equipe de mídias. O restante das postagens vai sair no fim da tarde.

Depois de um último abraço, ela seguiu para o carro, desaparecendo entre os demais pais.

Narciso se voltou para João Paulo, que recolhia seus materiais dentro da mochila.

— E então? — perguntou com um sorriso. — Para onde vamos?

— Não vai mesmo com a turma? — questionou João, tentando esconder a surpresa. — Eles vão comemorar...

Narciso riu de leve e apoiou novamente a mão em seu ombro, firme, quase possessivo.

— Eu prefiro comemorar com meu amigo. Eu posso?

***

O fim de tarde já pintava o céu em tons de laranja e azul quando a turma chegou à cobertura do prédio de Valentim. A cidade parecia distante lá de cima, uma mistura de luzes e sombras que começavam a se acender. A piscina, iluminada e rodeada por plantas tropicais, refletia o crepúsculo como se fosse um pedaço do céu preso na água.

— Finalmente! — suspirou Karla, largando a bolsa em uma das espreguiçadeiras. — A gente merece.

Valentim foi o primeiro a entrar, mas permaneceu na parte rasa, com o corpo ainda tenso depois do dia corrido. Ele ergueu uma das pernas e deixou o pé apenas tocar a água, mexendo devagar enquanto observava os amigos se jogarem sem cerimônia. Logo, Narciso, Noah, João Paulo e Breno estavam rindo e jogando água uns nos outros, transformando a calmaria em festa.

— Não acredito que eu dei azar justo hoje... — resmungou Noah, passando a mão pelo cabelo molhado. — Tive que pegar o lado da corda quebrada no percurso.

— Graças a Deus que não peguei essa raia do percurso. — comentou Narciso, se inclinando no deck com um ar teatral. — Se foi o Grêmio Estudantil que escolheu os lugares, eu escapei por milagre.

O grupo riu da dramatização, mas logo o assunto mudou. Entre um respingo e outro, a conversa foi deslizando para algo mais leve.

— E se a gente fizesse uma festinha de carnaval na minha casa? — sugeriu Karla, ajeitando o cabelo encharcado. — Meus pais vão viajar.

Valentim abriu um sorriso, já se animando. — Seria perfeito. Assim o Breno finalmente conhece sua casa, né?

Karla corou levemente e desviou o olhar. Ela e Breno ainda não tinham revelado o namoro, temendo a reação dos pais dela. Mas, ali entre amigos, o clima de confiança era reconfortante.

Com a ajuda de Noah e Narciso, Valentim se deitou em uma boia colorida, deixando o objeto embalar pela água morna. O riso fácil voltou ao seu rosto, como se a preocupação tivesse se dissolvido ali mesmo.

— Festinha de carnaval! — celebrou, levantando um dos braços no ar.

— Mas vai ser algo mais íntimo, né? — interrompeu João Paulo, encolhendo os ombros e tremendo apesar da piscina aquecida. — O pessoal da escola às vezes me dá medo.

Narciso não perdeu tempo. Nadou até ele e o abraçou com força. — Não se preocupa, eu te protejo, meu caro amigo!

A gargalhada foi geral, enchendo o espaço com ecos de cumplicidade. Karla, empolgada, já fazia planos.

— Vou mandar preparar toda a área da piscina. Vai ser incrível. Quero todos lá.

Enquanto o céu escurecia e as primeiras estrelas surgiam, o grupo seguiu mergulhado na água e nos sonhos de uma festa que prometia ser inesquecível.

***

O som suave da chuva batendo contra as vidraças do Instituto Discere dava ao campus um ar melancólico. Os corredores, sempre movimentados, pareciam mais silenciosos, e o barulho ritmado da água criava uma atmosfera de recolhimento. Valentim, apoiado nas muletas, caminhava lentamente, cada passo carregando não apenas o peso da perna lesionada, mas também a frustração de estar afastado das competições e as aulas de educação fisica. O que mais o inquietava, porém, eram as provocações constantes — sempre discretas, sempre veladas — de Gabriel.

Noah, também se sentia cada vez mais incomodado. Gabriel se aproximava com aquele sorriso calculado, sempre pronto para soltar uma frase que feria sem deixar marcas visíveis.

— Saudades dos velhos tempos, Noah? — murmurava em tom baixo, quase cúmplice, mas suficiente para cutucar onde doía.

Noah revirava os olhos, fingindo indiferença, mas por dentro sentia o peso do passado o puxando de volta. Valentim percebia, mas não sabia o que fazer além de tentar se manter ocupado.

Nos momentos de desespero, ele se apegava ao tricô. Com a ajuda da mãe de João Paulo, que agora trabalhava na empresa de Victor, Valentim treinava os pontos com dedicação. O resultado, no entanto, ainda deixava a desejar. Karla ganhara uma camisa com apenas uma manga, Noah um gorro que não lhe cabia na cabeça, e João Paulo meias que ficavam frouxas demais. Mesmo assim, todos incentivavam. Sabiam que era uma forma de Valentim descarregar a ansiedade que os últimos eventos no colégio tinham lhe trazido.

Naquela tarde, reunidos em torno das últimas tarefas antes do Carnaval, o cansaço se fazia sentir.

— Esse trabalho de geografia é péssimo. Ainda bem que é o último dia de aula. Depois disso, uns dias de folga. — resmungou Karla, fechando o caderno com força e coçando os olhos cansados.

— Eu terminei o meu e não me importo se tiver ruim. Sei que vou passar. — afirmou Valentim, sem desviar o olhar da cueca de tricô que estava confeccionando para Noah.

— Sorte sua. — suspirou o namorado, digitando no notebook. — Por causa dos treinos de natação, estou todo atrasado. Mas hoje esse trabalho sai, nem que seja de madrugada.

Enquanto eles se ocupavam, em outra sala João Paulo vivia um drama diferente. Dois colegas ricos zombavam discretamente de seu celular antigo e das roupas simples. Ele fingia não ouvir, mas cada comentário era como uma picada.

— Sério, João Paulo, como você consegue tirar fotos com essa coisa? — um deles riu, balançando o aparelho na frente de todos.

— Larga de ser inconveniente, Leonardo. — interveio Narciso, pegando o celular das mãos do garoto e devolvendo a João Paulo.

— É Leandro. — corrigiu o rapaz, rindo sem graça.

— Foi o que eu disse, Leonardo. — respondeu Narciso, com um sorriso tranquilo.

Os olhos de João Paulo marejaram, e sem dizer nada ele deixou a sala. Caminhou até a varanda do segundo andar e se apoiou no corrimão de metal, observando a cidade em silêncio. Ali, a chuva parecia mais distante, o barulho mais suave, quase reconfortante.

— Não liga pra eles. — disse Narciso, surgindo ao seu lado. Também apoiou os cotovelos no corrimão, compartilhando a vista. — No fim, caráter não tem etiqueta.

João Paulo esboçou um sorriso, mas a dor não desaparecia.

— Nós somos amigos, certo? — perguntou Narciso.

— Eu sou? — murmurou João Paulo, mais para si mesmo do que para o outro. — Não sei. O mundo de vocês parece inalcançável. É sempre uma competição: o melhor tênis, o carro mais caro, as férias mais luxuosas. Cansa não ter nada. Eu sei que a minha mãe faz o que pode, mas... é apenas cansativo.

Narciso suspirou fundo, seus olhos também marejados.

— Eu e minha mãe viemos do nada. A carreira foi a salvação. Desde pequeno fui jogado em um universo que não pedi: comerciais, novelas, filmes... horas de gravação enquanto outras crianças brincavam ou estudavam. E, ainda assim, para ela nunca era o suficiente.

Ele limpou discretamente uma lágrima. Era fácil encontrar Helena pelos corredores do Instituto, carregando sacolas com presentes caros para professores, sempre tentando abrir portas para o filho. Narciso já começava a sentir o peso daquela influência.

— Não preciso disso, mãe. Quero conquistar por mérito. — tinha dito em um raro momento de firmeza. Mas Helena, sempre elegante e fria, respondera apenas: — No mundo real, mérito não paga contas, querido.

O silêncio entre os dois na varanda foi quebrado apenas pelo som da chuva. Narciso desviou o olhar.

— Desculpa, eu preciso ir. — murmurou, mas foi interrompido quando João Paulo segurou seu braço e o puxou para um abraço.

— Obrigado por me defender lá na sala. — disse com sinceridade. — E lamento por você não ter tido a infância que quis.

— E eu lamento por você ser pobre. — escapou da boca de Narciso. Rapidamente, tentou se corrigir. — Não que isso seja ruim! Eu digo... lamento pelas piadas que fazem com você. Você entende, né?

João Paulo arregalou os olhos, surpreso, mas em seguida começou a rir. Não era a resposta que esperava, mas havia algo de ingênuo na forma como Narciso falara. O riso foi leve, quase libertador. Narciso, percebendo o papel de bobo que fazia diante de alguém que gostava, acabou rindo também.

E assim, em meio à chuva, as dores de ambos pareciam um pouco mais suportáveis.

***

A chuva castigava as vidraças da sala de atendimento, criando um fundo cinzento que dava à cena um ar ainda mais dramático. Gabriel estava sentado diante da psicóloga da escola, a Dra. Eunice, ajeitando a gola da camisa social como se buscasse um certo conforto. O primeiro mês de aula tinha sido turbulento, e ele parecia determinado a mostrar isso.

— Sabe, Dra. Eunice... esse começo foi difícil. — disse em tom baixo, olhando fixamente para o chão. — Mas pelo menos encontrei uma amiga de verdade aqui dentro. É raro achar alguém em quem se possa confiar.

Com um suspiro calculado, Gabriel ergueu lentamente as mangas da camisa. No braço, um hematoma arroxeado denunciava um golpe recente.

— Você brigou com alguém? — perguntou a psicóloga, inclinando-se para observar a marca.

— Ah, isso não foi nada. Eu me machuquei. — respondeu ele depressa, puxando a manga de volta, como se quisesse apagar a prova.

A Dra. Eunice apoiou as mãos sobre a mesa e falou com firmeza, mas em tom acolhedor:

— Gabriel, você sabe que aqui é um lugar seguro.

Ele suspirou fundo, passando a mão pelo próprio braço como quem tenta afugentar a dor.

— Eu sei, Eunice, eu sei, mas eu tenho medo. Alguns pais dessa escola são poderosos, e eu não quero confusão. Só quero estudar e passar de ano.

— É alguém da sua turma? — insistiu a psicóloga, com cautela.

Gabriel levantou os olhos marejados, e a voz lhe saiu embargada:

— Sabe, Eunice, eu vim de Brasília para São Paulo em busca de um novo começo. Eu estudava com Noah Salles Trajano, mas foi um relacionamento tóxico, horrível. Ele me fez sofrer muito.

As lágrimas escorreram e ele levou a mão ao rosto, soluçando. A psicóloga se apressou em lhe entregar um pacote de lenços.

— Eu pensei que tinha me livrado — continuou, limpando os olhos com gestos lentos, dramáticos. — Mas quando cheguei aqui, descobri que o Noah também estava nesta escola. E o namorado dele, Valentim Almeida Cardoso... ele descobriu do nosso passado.

O coração da Dra. Eunice se apertou.

— O Valentim fez isso no seu braço? — perguntou com cautela, apontando para o hematoma.

Gabriel, então, encenou um novo choro, ainda mais intenso, a voz quase suplicante:

— Eu não quero acusar ninguém, Eunice. Pelo amor de Deus. — escondeu o rosto nas mãos, deixando as lágrimas caírem em abundância.

— Não se preocupe, querido. Estou aqui para ajudar. — afirmou a mulher, enquanto escrevia algo no prontuário com a caneta que tilintava contra o papel.

Do lado de fora, a chuva caía ainda mais forte, como se o céu compartilhasse da melancolia daquela sala. Mas a verdade era outra: Gabriel não era um menino indefeso. Ele construía, peça por peça, um universo no qual era o mocinho injustiçado. E aquela era apenas a primeira pedra de um plano que traria dor e sofrimento para Valentim e Noah.

***

Victor observava a chuva escorrer pela vidraça da sala, as gotas se acumulando e formando riscos que desciam lentamente, como se o tempo tivesse diminuído o ritmo. O barulho suave da água do lado de fora preenchia o silêncio da casa, quando a porta se abriu.

Valentim entrou com a mochila nos ombros e a deixou sobre o aparador. Caminhava com cuidado, apoiado nas muletas, ainda em processo de adaptação. Ao notar o pai ali, em casa tão cedo, franziu a testa.

— Pai, o que está fazendo em casa tão cedo? — perguntou, avançando em direção à sala.

Victor se levantou e, com delicadeza, ajudou o filho a se acomodar no sofá.

— Filho... — começou, o olhando com uma expressão séria, mas ao mesmo tempo carregada de ternura. — Eu queria mesmo falar com você.

Valentim arqueou a sobrancelha, surpreso.

— Sério?

— Sim. — Victor fez uma breve pausa, como se organizasse as palavras. — Lembra do teu tio José? Bem, aparentemente, o negócio de tabacos na Irlanda está indo de vento em popa. Ele matriculou seu primo Phelip em um curso para jovens empreendedores.

Valentim apenas o encarava, tentando entender aonde aquilo ia chegar.

— Você me disse há algum tempo que não sabia se queria fazer administração — prosseguiu Victor. — Mas o legado da minha empresa está em suas mãos. Eu sei que no ano passado, com a questão do TDAH, o namoro com Noah... não foi fácil. Mas eu queria que você cogitasse a possibilidade de fazer essa especialização. É apenas um ano e meio.

Valentim respirou fundo, se ajeitando no sofá.

— Mas seria no caso em São Paulo, né?

Victor desviou o olhar para a janela, onde a chuva seguia firme.

— Infelizmente, não, Valentim. O curso é em Dublin. Eu sei que o seu inglês está em dia, mas quero que faça um intensivo para se preparar. Em dezembro, eles aplicam a prova admissional.

O coração de Valentim acelerou.

— No caso, eu teria que morar em Dublin a partir do ano que vem?

— Sim. — A voz de Victor saiu firme, mas carregada de expectativa. — É um instituto renomado, e seu tio disse que fez toda a diferença para o sucesso de Phelip como gestor na empresa. Eu sei que sempre te exigi muito, mas agora... — Victor segurou a mão do filho e a apertou com carinho, em um gesto inédito entre eles. — Estou implorando que faça isso por nós. Pela nossa família.

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Comentários

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POR OUTRO LADO JP TEM QUE COMEÇAR A SE DEFENDER SEM VIOLÊNCIA MAS SABER DAR AS DEVIDAS RESPOSTAS A ESSE RIQUINHOS DE MERDA.

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NÃO SEI PORQUE TODOS AINDA DÃO OUVIDOS A GABRIEL. É SÓ SE RETIRAR QUANDO ELE CHEGAR PERTO OU DEIXAR ELE FALANDO SOZINHO. QUANTO MAIS RETRUCAM MAIS ELE CRESCE. MAIS UMA VEZ O PAI DE VALENTIM VAI FAZER MERDA MANDANDO O FILHO IR PRA DUBLIN. PRATO CHEIO PRA GABRIEL CHEGAR EM NOAH. DEPOIS NINGUÉM PODE RECLAMAR. NARCISO É OUTRO MERDA, TENHO CERTEZA QUE ELE DETESTA JP POR ELE SER POBRE. BABACA. TEM QUE SE FERRAR, LOIRINHO METIDO A BESTA.

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