Boa tarde, prezados leitores. O meu nome é Geraldo, mas aqui no prédio todo mundo me chama de seu Geraldo. Tenho sessenta e dois anos e trabalho como porteiro neste condomínio desde 1988. Ou seja, já vi esse prédio nascer, crescer e mudar com o tempo. Esta série é sobre as amantes que tive nesse condomínio. Também as que eu comi uma vez só quanto as minhas putinhas fixas.
Fisicamente, tenho estatura mediana, corpo um pouco avantajado na barriga – culpa das cervejinhas no fim do expediente –, mas ainda dou pro gasto. A pele é morena queimada de sol, os cabelos são grisalhos, já raleando aqui e ali, mas ainda dá pra ver que um dia foram pretos. Os olhos são pequenos, ligeiros, sempre atentos. Mãos calejadas do trabalho e um sorriso fácil quando preciso ser simpático. Mas o que ninguém sabe – ou finge não saber – é que por trás dessa cara de porteiro prestativo, eu sou um verdadeiro colecionador. E minha coleção não é de selos, moedas ou figurinhas... é de calcinhas das mulheres que comi.
Mas não se engane, tenho minha ética. Nunca revelo os nomes delas para ninguém. O que acontece entre quatro paredes, fica entre quatro paredes. Além disso, nunca roubo nem pego calcinhas usadas sem permissão. Cada peça que entra na minha coleção foi dada de bom grado, como um presente da dona. É isso que faz a coleção ter valor: a lembrança de que cada uma foi conquistada de forma legítima.
No capítulo anterior, eu contei como o relacionamento da Carolina com a Andréia estava evoluindo de apenas sexo pra talvez algo mais. Uma querendo saber mais da vida da outra e me usando como ponte.
Desde então, os dias e a vida passaram.
Tava ali na portaria, na hora do almoço, comendo minha quentinha equilibrada em cima do balcão. Normalmente eu ia pra copa, mas com o João doente e o síndico Alberto dando uma semana de folga além do atestado, sobrou pra mim segurar a base. Aí fiquei pensando no seu Alberto. O homem vivia num meio-termo esquisito: metade era gente boa de verdade, metade era medo de ser visto como patrão carrasco. Era como se ele tivesse sempre preocupado em não parecer ruim.
Minha mente viajou e imaginei seria se outros moradores fossem síndico. O Rogério síndico ia transformar isto num condomínio modelo. O cabra é certinho, justo, dessas pessoas que não dá pra odiar. Ia ser reunião atrás de reunião, mas cada uma com um propósito bem claro. E eu tenho certeza de que ele ia respeitar funcionário como ninguém e nunca deixava faltar nada. Só que também não ia passar a mão na cabeça de ninguém que fizesse besteira.
Agora, se fosse o Lucério, o prédio virava era um mecanismo. Ele ia resolver todos os problemas, disso eu não duvido. Só que conversar com ele ia ser igual falar com um robô que só simula educação porque foi programado pra imitar as pessoas. Nunca fez nada contra mim que eu saiba, mas um cabra que fala daquele jeito todo formal deve esconder alguma coisa ou então simplesmente não se importar com ninguém.
Pior ainda seria a dona Marieta como síndica. Aquela cara de defunto e a voz de sermão. Ia querer rezar antes de toda assembleia e fiscalizar a vida dos outros com régua e bíblia na mão. Imagina só: proibindo festa junina, criticando as roupas das mulheres, mandando bilhete pra moradora usar saia mais comprida. Credo em cruz, não sobrava ninguém satisfeito nesse prédio. Sem falar que iria demitir eu, Zé Maria, todo mundo e trocar por pessoas da igreja dela.
Foi aí que a porta se abriu e entrou a Lisandra com a quentinha dela na mão. Aquela loirinha era o próprio sol. Shortinho jeans curtinho, camiseta leve colada no corpo, mostrando a cinturinha fina. Mas o que me chamou mesmo a atenção foram as coxas dela: firmes, carnudas, lisinhas, brilhando um pouco de suor do calor.
— Ô, seu Geraldo! — ela sorriu largo, ajeitando o cabelo atrás da orelha. — Fiquei sabendo que o senhor tava almoçando sozinho aqui hoje e vim fazer companhia.
— Ôxe, coisa boa! — falei, animado, puxando a cadeira velha do canto pra ela sentar. — Uma quentinha acompanhada é duas vezes mais gostosa.
Ela riu, puxou a cadeira e se sentou, cruzando as pernas de um jeito natural, mas que deixava as coxas ainda mais evidentes sob o shortinho. Abriu o isopor, e o cheiro do feijão se misturou com o da minha comida. A gente começou a comer, trocando ideia do dia.
Aí ela contou sobre o fim de semana e o arraial da empresa do Rogério.
— Foi bem divertido. Montaram barraquinha de tudo, até cadeia e correio elegante.
— É? — mastiguei devagar, curioso. — E tu, correu muito risco de ser presa?
— Ah, quase! — ela riu de novo, os olhos brilhando. — Mas o Vinícius me salvou, comprou os bilhetes antes.
— E o que tu achou dele? — perguntei, curioso, sabendo que ela já vinha comentando desse rapaz. O cara que o Rogério tentava juntar com ela.
Ela deu uma enrolada no arroz com o garfo e falou mais baixo:
— Ele é legal... A gente combinou de se conhecer aos poucos, sem compromisso, sabe?
Eu percebi na hora que tinha hesitação ali. O jeito dela evitar o meu olhar, a forma como falou “sem compromisso. parecia meio desconfiada.
— Tá falando isso, mas o que é que tá te pesando, moça? — perguntei, encostando os cotovelos no balcão.
— É que, não sei, seu Geraldo. Parece que o Rogério e a Lorena tão tentando juntar a gente porque sim, sabe? Tipo, “vocês dois são solteiros, então pronto”. Ele é legal e eu super de boas sairia com ele, mas eu quero que seja natural. Não imposto.
Dei uma risadinha pelo nariz e balancei a cabeça.
— Olha, Lisandra, eu conheço esses dois. Rogério e Lorena não são de má-fé não. Se tão te apresentando o Vinícius, é porque veem coisa boa no rapaz. Eles têm carinho por você, moça, querem o melhor.
Ela corou na hora, desviando os olhos, mexendo de leve no garfo.
— Carinho... — murmurou.
Eu me inclinei um pouco, falando mais baixo:
— Eu prestei atenção no Rogério e tenho certeza. Ele gosta de você de verdade. Mas é como amigo. O máximo que ele pode retribuir é sendo um bom amigo. Eu sei do teu coração, sei o que tu guarda pelo Rogério. Só que Rogério ama a Jéssica, e isso não vai mudar. O quanto antes você aceitar e seguir em frente, melhor pra todo mundo. Não adianta se prender numa sombra, se pode encontrar luz num caminho novo. Porque assim você não perde nem as amizades e nem o emprego — falei sério, pra ela sentir a firmeza.
Ela respirou fundo, ainda meio sem jeito. Eu completei:
— Mas também não é por isso que tu tem que aceitar namorar com um rapaz só porque eles querem. Tu tem que sentir também. Eu só quero o melhor pra você, Lisandra.
Ela soltou o ar devagar e concordou com a cabeça.
— É... faz sentido. Eles realmente gostam de mim. E sobre o Rogério, eu prometi a mim mesma e à dona Jéssica que não daria mais em cima dele mais. Vou ser apenas amiga dele.
— Pois então... deixa fluir, ué. Conversa com o Vinícius, vê se bate o santo.
— Tem batido.
— Então, ótimo. É só questão de tempo — dei de ombros, voltando a atacar meu frango. — Se tiver casório, eu quero um convite, viu?
— Bestão! — Ela riu de leve e pareceu relaxar mais. Ficamos ali, comendo, trocando ideia.
— O senhor devia ter visto o Vinícius tentando pescar a garrafa... parecia uma vara de bambu torta, quase caiu — ela falou, e a risada dela encheu a portaria.
Eu ri junto, balançando a cabeça.
— Então o rapaz é desengonçado? Isso é bom sinal. Homem que não tem vergonha de passar ridículo costuma ser dos mais de coração bom.
Ela olhou pra mim com um sorriso meio cúmplice, como se guardasse aquilo pra pensar depois. E a conversa foi seguindo, cada garfada acompanhada de risada e história nova. Quando a comida já tava quase pela metade, a Lisandra baixou o tom de voz e soltou uma pergunta safadinha:
— E aí, seu Geraldo, o senhor andou comendo alguma moradora nova? Ou alguma diarista nova?
Quase engasguei com o feijão. Dei uma risada curta, abanando a mão.
— Ôxe, mulher! Essas coisas eu não posso sair contando por aí não. Segredo é segredo. Se eu abro a boca, sobra problema pra mim.
Ela mordeu o lábio, com aquele sorriso malandro, e respondeu brincando:
— Ah, mas o senhor sabe que eu sou exceção. Eu nunca conto nada pra ninguém. Sou de confiança.
Eu balancei a cabeça, mantendo o tom sério, mas sem perder a simpatia.
— Confiança eu tenho, Lisandra. Mas agora tá uma época meio tensa. Tem boatos correndo, coisa chegando no ouvido do síndico. E, aqui na portaria, qualquer parede pode ter ouvido.
Ela se inclinou um pouco, rindo baixinho:
— Então, conta por WhatsApp! Eu visualizo e apago em seguida, pronto.
Dei uma gargalhada alta, batendo a mão na perna.
— Vixe, nem pensar! Esse negócio de celular deixa rastro até no vento. Eu não arrisco, não.
— O senhor é muito desconfiado, viu? — ela falou, fingindo indignação. — Parece até que eu ia expor o senhor.
— Não é você não, minha jovem. É o mundo. Aprendi a ser esperto — sorri, voltando a comer mais um pedaço de frango. — Mas me diga uma coisa, e do seu lado? Antes desse Vinícius aí, não teve nenhum outro homem não?
Ela suspirou, mexendo no arroz com o garfo.
— Nada. Tava zerada todo esse tempo, seu Geraldo. E estava me sentindo bem assim — falou seca, sem rodeio.
Assobiei baixinho.
— Ave Maria... Uma moça bonita dessas ficar zerada? É coisa que não entra na minha cabeça.
Ela deu de ombros, sem graça, e completou:
— Desde que terminei com aquele namorado mala, o único e último cara com quem transei foi o senhor mesmo — falou quase num sussurro, olhando pro prato. — E isso já faz quase três meses.
Soltei um riso curto, meio sem acreditar.
— Se eu soubesse que tu ia passar tanto tempo sem sexo, eu tinha caprichado bem mais naquele dia — falei, rindo. — Na transa e no tal do date.
Ela soltou uma risadinha.
— Olha, não foi o pior sexo da minha vida, viu? — disse num tom só pra me cutucar.
Fiz uma cara de ofendido de mentira, e ela caiu na risada.
— Tô brincando, seu Geraldo. Foi bom, sim. Mas também não vá se achar demais. Não vou sair te recomendando pras moradoras não.
— Oxente, essa foi boa! Imagina se tivesse um desses app que avalia homem como se fosse motorista de Uber ou comida do iFood — respondi, rindo, entrando na brincadeira.
A conversa seguiu, mas aí ela entrou no modo fofoca total, baixando ainda mais a voz, quase sussurrando:
— Me diga uma coisa, seu Geraldo, é verdade que o seu Alberto ainda é virgem?
Eu quase cuspi o suco de caixinha que tava bebendo.
— Mulher, que história é essa? — olhei pra ela arregalando os olhos. — Virgem? O homem já tem quase cinquenta!
Ela riu alto, abanando a mão.
— Eu comecei a trabalhar faxinando o apartamento dele uma vez por semana. E vou lhe dizer, seu Geraldo, o homem é tímido demais. Parece até que tem medo de mulher. Não me desrespeitou nem nada, mas era o contrário: se afastava rápido, desviava o olhar. Teve uma hora que pensei até se ele não andava com spray de pimenta no bolso, de tanto receio.
Abaixei a voz.
— Tem uns boatos sobre isso, Lisandra. O seu Alberto mora aqui já faz quase trinta anos... e ninguém nunca viu ele com nenhuma mulher. Nunca.
Ela arregalou os olhos e suspirou.
— O seu Alberto é gente boa e esquisito ao mesmo tempo. Dá pena e medo dele ao mesmo tempo.
Dei de ombros, mas antes que eu falasse, ela soltou:
— A gente podia dar um jeito de ajudar ele a perder essa virgindade, né?
Arregalei os olhos, rindo.
— Ôxe! E qual é o teu plano, moça? Eu e tu transar com o homem? Ou a gente fazer show na frente dele? — falei em tom de brincadeira.
Por dentro, imaginei a ideia de transar de novo com a Lisandra, mas logo afastei a ideia porque tinha prometido pra loira que a primeira também foi a única e última vez. E ela parecia estar se interessando pelo rapaz Vinícius, nunca a atrapalharia. Além disso, a ideia de pôr outro homem era algo que só de imaginar me dava um estranhamento.
Ela gargalhou, cobrindo a boca.
— Credo, seu Geraldo! Não é isso não. — Abanou a mão. — Eu tava pensando que a gente podia falar com a Odete.
Internamente, minha cabeça rodou. A Odete! Era um bom plano. Além de ser minha amante, e de metade dos garanhões do condomínio, ela já tinha levado a própria Lisandra pra cama duas vezes, depois de meses de jogo de sedução. Se alguém toparia o seu Alberto, seria a Odete.
— Odete, é? — comentei, tentando esconder o sorriso. — Olhe... É bom tomar cuidado. Tu sabe que aquela mulher, se tu chega falando de sexo, ela vai querer te arrastar pra cama junto. E tu já me contou que não quer nem pensar em mulher com mulher de novo.
Ela fez uma careta.
— Pode ter sido uma ideia bem ruim — confessou, rindo sem jeito.
Balancei a cabeça.
— Você falar com ela seria uma ideia ruim pra ti, mas eu posso tentar falar com ela — falei rindo.
Ela bateu o garfo no isopor, sorrindo.
— O senhor não presta, seu Geraldo.
— E tu gosta assim — retruquei.
A gente foi terminando a comida nesse ritmo, misto de risada e fofoca. Quando finalmente raspamos o fundo das quentinhas, ela se levantou e abriu os braços. Levantei também e abracei ela forte, como amigos de longa data que éramos.
— Sempre bom prosear contigo, Lisandra.
— Sempre bom, seu Geraldo — disse, sorrindo, antes de sair pela porta e deixar a portaria mais leve do que tinha encontrado.
Na terça de manhã, a portaria estava sossegada, só o barulho dos carros passando de vez em quando lá fora. Eu ajeitava umas correspondências na prateleira quando vi o Zé Maria aparecer, magricela, com aquele jeitão dele de quem vinha mais pra prosa que pra serviço.
— Ô, Zé, cê já tem fofoca tão cedo, ômi?
— Nada. Só dei uma passada pra ver se tinha alguma coisa aqui preu fazer. — Ele fez um gesto com a mão, mas logo ajeitou o corpo na cadeira da frente, sem pressa de ir embora.
A gente começou a falar de besteira, coisas do condomínio, umas fofocas que as diaristas passaram sobre um dos moradores, até que ele respirou fundo e veio com a real:
— Geraldo... Me diz uma coisa. Cê sabe se aconteceu alguma coisa com a Andréia?
Meu coração deu uma fisgada, mas mantive a cara mansa.
— Ué, por quê? Que que houve?
Ele coçou a cabeça, meio sem jeito.
— Já vai pra dois mês e meio que ela não me chama pra sexo. Nem mesmo uma chupadinha. E ela amava o jeito que chupava ela. Tá esquisito demais.
Eu fiz de conta que tava surpreso.
— Dois mês e meio? — balancei a cabeça. — Vixe, Zé, aí eu não sei não, viu?
Ele riu sem graça, mas insistiu.
— Mas cê não reparou nada diferente nela, não? Se tá de caso com alguém, se tá mais ocupada... sei lá.
Eu dei uma enrolada, botando o corpo pra trás na cadeira.
— A Andréia nunca me fala nada dessas coisas não. Se ela não tá te chamando, deve ser coisa dela. Talvez tá sem cabeça, talvez arrumou outro... sei lá, eu não sei dessas coisas não, Zé.
Por dentro eu sabia muito bem. Desde que começamos aquele rolo a três (eu, Carolina e Andréia), ela tinha parado de dividir cama com o Zé Maria e todos os outros amantes. A buceta da Andréia era propriedade exclusiva da Carolina, quase todos os dias, que as duas deixavam eu pegar emprestado vez por outra. Mas não podia abrir o bico, se não o segredo delas ia pelos ares.
— Mas tu não acha estranho não? — ele insistiu. — Ela sempre foi animada comigo, de repente some assim... Tá de rolo com alguém, tenho certeza.
Suspirei, me fazendo de inocente.
— Ah, Zé... Andréia é assim mesmo, vai e volta. Não esquenta, não. Se tiver de rolar de novo, ela mesma vai atrás de tu. É o jeito dela.
Ele estreitou os olhos, como quem tentava adivinhar se eu escondia alguma coisa.
— Tu jura que não sabe de nada?
Olhei direto pra ele, firme, mas tranquilo.
— Sei de nada não, homem. O que ela faz ou deixa de fazer é problema dela. Eu não me meto onde pode dar ruim pra mim não.
Zé Maria ficou um instante quieto, como se pensasse se acreditava ou não. Depois levantou devagar.
— É... pode ser. Vou esperar mais um pouco. Quem sabe.
Ele soltou uma risadinha curta, mas parecia que não tava convencido de todo. Se despediu com um aceno e saiu pelos corredores.
Terça de noite, eu já estava fechando ajeitando as últimas coisas do meu turno, quando vi a Carolina e a Andréia chegando da academia.
As duas vinham suadas, as roupas de academia coladas no corpo. A Andréia usava uma calça legging preta que parecia pintada no corpo dela, a bela bunda dela balançando toda vez que ela dava um passo. A blusinha curta deixava a barriga de fora, brilhando de suor, e os seios empinados quase pulando pra fora do top apertado.
Já a Carolina, mais discreta, mas não menos gostosa. Um shortinho de academia azul, colado, que deixava as coxas torneadas à mostra, e um top branco que já tava meio transparente de tanto suor, grudado nos peitos enormes dela. O cabelo preso num rabo de cavalo, a pele bronzeada brilhando com aquele suorzinho. Só de ver, eu já sentia o pau subir.
Elas me viram e foram entrando na portaria sorrindo.
— Boa noite, seu Geraldo — disse Andréia, toda simpática, secando o pescoço com a toalhinha.
— Boa noite, seu Geraldo — completou Carolina, me olhando com aquele jeitinho dela, meio tímido, meio safado.
— Boa noite, minhas rainhas — respondi, sorrindo.
Conversei um pouco com elas, aquele papo de sempre, mas enquanto falávamos eu não deixava de notar os olhares da Carolina pra Andréia. Ela fingia naturalidade, mas a cada risadinha da Andréia, a Carolina não resistia e encarava, rápida, como se tivesse medo de ser pega. As mãos das duas se encostavam vez ou outra, mas nunca se seguravam de verdade. Eu, que conhecia bem as duas, sabia que tinha coisa ali. A Carolina podia não admitir nem pra ela mesma, mas tava se apaixonando pela Andréia. Tava escrito no jeito que olhava.
As duas se olharam e sorriram cúmplices.
— Amanhã à noite é a hora do ménage semanal — respondeu Andréia, falando baixo. — Vamos inventar que a gente vai faltar a academia, e você inventa uma desculpa pra vir no meu apartamento.
Eu sorri largo.
— Amanhã, eu vou guardar energia só pra vocês duas.
As duas riram, mas eu aproveitei pra cutucar mais fundo.
— Mas me diga uma coisa, Carolina, amanhã vou ter a honra de comer seu cuzinho virgem? — perguntei.
Ela arregalou um pouco os olhos, como sempre fazia quando eu falava sem rodeios, mas não perdeu a pose. Veio com aquele sorriso contido e respondeu:
— Eu já prometi, seu Geraldo. O meu cuzinho é seu. Só estou esperando uma ocasião especial... não quero que seja de qualquer jeito.
Dei uma risada gostosa.
— Ah, minha rainha, ocasião especial é qualquer dia que eu tiver com você na cama. Mas se você quer esperar, eu espero. Só não me deixe morrer de vontade.
— Não vou deixar — disse ela, mordendo o lábio, meio risonha.
Ficamos mais um tempinho conversando, mas elas já estavam se preparando pra subir. Antes, claro, deram aquela conferida discreta pelos lados, pra ver se não tinha nenhum curioso passando. Não havia ninguém. A portaria tava só nossa.
A Andréia se aproximou primeiro, colando o corpo suado no balcão e me puxando num beijo de língua quente, intenso. Quando ela se afastou, foi a vez da Carolina, mais hesitante, mas não menos safada. Segurou meu rosto e me beijou fundo, língua contra língua, me deixando arrepiado.
Quando se afastaram, já rindo, eu sabia muito bem o que ia acontecer. Não precisava ser adivinho: as duas iam subir e se pegar gostoso. Eu fiquei ali, saboreando o gosto das duas na boca, pensando comigo mesmo que amanhã à noite seria fogo puro.
Não levou dez minutos dentro do apartamento da Andréia, e as duas já tinham tirado toda a roupa e admiravam a nudez da outra. A Andréia nunca conseguia desviar o olhar dos seios grandes da Carolina. Sem dizer nada, as duas se abraçaram, os corpos se esfregando e as línguas exploravam a boca uma da outra.
As duas ficaram assim, esfregando a buceta da outra e beijando de língua. A Andréia pegou sua mão molhada e colocou na boca da Carolina. Carolina fez o mesmo, empurrando dois dedos com o suco de Andréia para dentro da boca da loira.
As duas foram se beijando até a cama, onde se deitaram uma com a cabeça enterrada entre as coxas brilhantes da outra. A língua da Carolina percorrendo a bucetona da Andréia, enquanto sentia que sua própria buceta estava sendo invadida pela língua dura da loira. Era algo que as duas faziam quase todos os dias. Estavam ficando cada vez melhores nisso, uma conhecia o corpo da outra melhor que qualquer outro homem as conheceu. Os lábios de uma se moviam sobre o clitóris da outra e elas podiam ouvir os barulhos molhados delas se chupando.
Os dedos da Andréia se moveram entre as nádegas da Carolina, procurando o buraquinho tão desejado por mim. O corpo da Carolina endureceu e se arrepiou quando sentiu o dedo da outra mulher circulando o buraco do seu cuzinho.
As duas se empurraram e se balançaram uma contra a outra enquanto mergulhavam a língua na buceta da outra. Gritos abafados e espasmos anunciaram o orgasmo, primeiro da Carolina. Por fim, da Andréia. A Carolina rolou para fora das pernas da loira e as duas ficaram abraçadas, curtindo o momento.
Depois de alguns minutos abraçadas, a Carolina foi a primeira a se levantar.
— Preciso ir — justificou. — Se aquele vizinho me vê saindo daqui tarde de novo vai desconfiar.
A Andréia não queria isso. Depois de todos esses anos de “transou, foi embora”, ela tava cansada dos homens (e da Odete) agirem assim com ela. A Carolina seria diferente! De um jeito ou de outro. Ela saltou da cama e abraçou a morena pelas costas, esfregando a bucetona contra a bundinha. Puxou o rosto dela e beijou sua boca, envolvendo seus braços ao redor de sua cintura.
— Então, fica a noite toda... — sugeriu Andréia.
— Não posso... — Carolina estava claramente tentada, ofegante. Mas tinha medo também. — E se alguém me ver saindo de manhã?
— Isso é problema para amanhã. Fica comigo esta noite...
A Andréia virou o corpo da Carolina pras duas se verem cara a cara. A Andréia não pensou duas veze e deu um beijo apaixonado nela. Logo, as duas estavam na cama de novo.
A Andréia abriu suas coxas e Carolina a montou. A Andréia envolveu as pernas ao redor da cintura da Carolina, deixando sua buceta à disposição. O corpo da Carolina se moveu um pouco para encontrar a posição certa, buceta com buceta.
Foi quando as duas mulheres começaram a se esfregar, friccionando os lábios molhados das bucetas. Carolina e Andréia colocaram toda sua energia nisso. Normalmente, as duas preferiam colar velcro na minha presença ou pra gravar pra mim. Era uma das primeiras vezes em que faziam isso a sós. A Andréia gozou primeiro com um grito e a Carolina gozou pouco depois, trincando os dentes. Talvez com medos dos vizinhos ouvirem.
Logo, a Carolina estava mais uma vez deitada nos seios ofegantes da Andréia.
— Fica comigo aqui esta noite, Carolina.
A Carolina abraçou sua amante loira e deu sorriso.
— Fico sim. Fico o tempo que você precisar...
Era quarta de noite. O Zé Maria terminava de esfregar o chão da lavanderia, guardando o balde, o rodo e o pano de chão no canto. Já tinha tirado o aviso de “manutenção” da porta e só faltava levar os equipamentos para o almoxarifado. Foi nesse momento que a Natália entrou, segurando um cesto de roupas sujas contra o quadril.
O olhar dele percorreu o corpo da mulher antes mesmo de responder ao cumprimento. Natália vestia uma calça legging cinza-clara que marcava cada curva de suas coxas e destacava o volume firme da bunda. A blusa era simples, de algodão branco, mas levemente solta, deixando visível o contorno dos seios grandes que balançavam discretamente a cada passo. O cabelo ruivo, preso num rabo de cavalo alto, deixava o pescoço exposto.
— Oi, seu Zé Maria! Não tô atrapalhando, né? — perguntou Natália, sorrindo de forma calorosa, com aquele jeito simpático que tinha com todos os funcionários.
— Que nada, Natália — respondeu ele, ajeitando o boné gasto e tomando cuidado pra não usar o “dona” ou “senhora” que ela não gostava. — Já terminei o serviço aqui. Só tô juntando as tralhas pra levar pro almoxarifado.
— Ah, então tá ótimo — disse ela, caminhando até uma das máquinas. Pousou o cesto no chão e começou a separar as roupas com calma, agachando-se de vez em quando. O Zé Maria desviava o olhar para fingir concentração, mas sempre voltava a espiar, acompanhando como a legging se esticava mais ainda quando ela se inclinava.
— E aí, como é que o senhor tá? — Natália puxou conversa, encaixando a primeira leva de roupas dentro da máquina.
— Tô indo, na lida de sempre — respondeu ele, encostando o rodo no canto. — E com a se... contigo, tudo certo?
— Ah… mais ou menos. Tô com umas dores nas costas esses dias. Acho que é coisa da idade — falou com um riso leve, como quem fazia piada de si mesma.
O Zé Maria não deixou passar:
— Que idade, que nada! A senhor... Você ainda é nova demais pra falar isso.
A Natália riu, aquele riso fácil, que abria ainda mais seu rosto bonito.
— O senhor é bem lisonjeiro — disse em tom de brincadeira. — Mas a dor é real. Depois dos 30, a gente perde a garantia.
O Zé Maria coçou a nuca.
— O seu Geraldo tem umas mãos milagrosas. Resolve dor nas costas, dor nos ombros, em coisa de cinco minutos. Parece que a gente nunca teve nada. É impressionante.
— Jura? — Natália parecia genuinamente surpresa. — Olha, se isso for verdade, vou acabar marcando uma sessão com ele. Porque olha… eu acordo quebrada ultimamente.
— Pois pode falar com ele sem medo. Ele ajuda todo mundo, não tem tempo ruim — garantiu Zé Maria, enquanto fechava a tampa da caixa de ferramentas.
— Então, vou mesmo. Se funcionar, depois eu conto pro senhor — Natália ajeitou o cesto vazio, esperando a máquina terminar de encher de água.
Ele pegou o balde e o rodo, preparando-se para sair.
— Bom, já tá tudo pronto aqui. Vou levar essas coisas. — Olhou para ela uma última vez e acrescentou: — Qualquer coisa que precisar, é só chamar.
— Obrigada, seu Zé Maria. O senhor é sempre muito prestativo. — Ela sorriu outra vez, genuína, antes de voltar a se inclinar para conferir o sabão na máquina.
O zelador saiu da lavanderia, andando devagar pelo corredor. Antes de virar a esquina, olhou discretamente para trás. A Natália estava de costas, mexendo no painel da máquina, a legging moldando cada detalhe da sua bunda e coxas. Zé Maria respirou fundo, pensativo, antes de seguir adiante, já imaginando que aquela mulher, mesmo sem querer, deixava os homens do prédio com a cabeça virada.
Na sexta, era por volta das 21h. O saguão tava calmo. Eu tava encostado no balcão, com aquele meu sorrisão de sempre, e o Zé Maria sentado na cadeirinha de metal. Nós dois távamos assistindo a uma partida de futebol na televisão da guarita quando o Érico apareceu.
— Boa noite. Chegou meu pacote? — perguntou Érico.
— Chegou sim, seu Érico — respondi, girando pra abrir o armário de encomendas. — Mercado Livre, né? O senhor é freguês.
— E o senhor é meu entregador oficial — ele respondeu rindo, mas já com o olho voltando pra tela.
O Zé Maria entrou na conversa:
— A gente tá aqui vendo o jogo do meu Londrina.
— Londrina? — falou Érico, curioso. — Você torce pra eles mesmo?
— Ué, nasci lá. Vou torcer pra quem? — disse Zé Maria, com aquele orgulho manso. — É Série C, mas é meu time do coração.
Enquanto eu mexia nas caixas, aproveitei pra me meter:
— Eu sou Náutico, também tá na Série C. Sei que nunca vou ver meu time disputando a Série A quase todo ano, como o Sport, mas torcer é torcer, né? — falei no meu jeito de brincar com a própria desgraça.
— Pelo menos, você é feliz sendo realista — disse Érico, sorrindo.
— Realista e sofredor — devolvi, puxando o pacote e colocando no balcão. — Aqui, Érico.
Foi aí que a porta de vidro se abriu e entraram a Sarah e a Natália, vindas da academia. Rapaz, parecia até cena em câmera lenta. Eu quase esqueci o jogo e o pacote.
A Sarah tava com um shortinho preto justinho que moldava aquela bundinha redondinha dela, e o top lilás deixava os peitões ainda mais em evidência, suados do treino. O cabelo preso no rabo de cavalo, e aquele ar de mulher que tinha acabado de detonar na academia. A prima da Carolina era tão gostosa quanto a minha amante secreta.
A Natália definitivamente não ficava atrás, não. A legging azul clara grudava nas coxonas e naquele quadril largo, e o top branco dava o destaque certo pros seios. A bundona dela, redonda e empinada, fazia qualquer cristão duvidar da própria fé. O suor brilhando na pele dela parecia até provocação. Ave Maria, se um dia essa ruiva me desse moral, eu tava lascado.
A Sarah foi direto me cumprimentar:
— Oi, seu Geraldo! Tudo bem?
— Melhor agora, dona Sarah — respondi com meu jeitão safado, mas respeitoso.
Já a Natália se inclinou pro balcão, olhando pra TV e depois pro Zé Maria:
— Boa noite, Zé Maria. Quanto tá o jogo do Londrina?
Ele riu, surpreso:
— Olha só! Você conhece o meu time?
— Ei! Não me ofenda! Eu também sou de Londrina! — disse ela, sorrindo. — Morei lá até me mudar pra cá quando passei no curso de engenharia.
As duas trocaram um olhar cúmplice e depois riram juntas. Eu só fiquei observando, achando graça de como as mulheres têm esses códigos secretos que a gente nunca entende.
O Érico tentou puxar assunto:
— E a academia?
A Natália se adiantou:
— Foi ótima! Mas olha, treinar com a Sarah é um privilégio. Mulher perfeita. Forte, disciplinada, linda demais. Eu acho que nunca vou chegar no nível dela.
A Sarah ficou sem jeito:
— Ah, Natália, para com isso...
— Tô falando só a verdade — insistiu Natália.
Eu percebia bem: a ruiva tava querendo ganhar ponto com a Sarah. E a Sarah, que parecia não estar na mesma sintonia, só dava aquele meio sorriso. Essas coisas eu conhecia de longe. Já tinha visto mulher tentando conquistar outra de jeito diferente. No fundo, eu pensava se será que a ruiva não tava querendo era coisa a mais com a morena.
Vai que gostar de pau e buceta ao mesmo tempo era coisa de família e a Sarah não era lá diferente da prima Carolina.
Depois de umas risadinhas, elas foram pro hall dos elevadores. Primeiro a Sarah, rebolando naturalmente, quadril solto, perna forte e ainda úmida do suor. A bundinha parecia pedir olhar. Logo atrás, a Natália vinha com a bundona balançando dentro da legging azul, o rabo de cavalo vermelho se mexendo como um chicote. Eu, Zé Maria e Érico ficamos calados, só acompanhando aquele desfile que não tava no calendário do prédio. Cada um mergulhado na própria tentação.
Só que aí caiu a ficha: o Érico era marido de uma delas. Eu até pigarreei pra disfarçar, ajeitando o boné na cabeça. Melhor não se complicar.
O Zé Maria puxou o assunto de volta:
— Mas então, seu Érico, tem acompanhado a Terceirona? Acha que o Londrina tem chance esse ano?
— Chance sempre tem — respondeu Érico, tentando segurar o riso.
Eu cocei a cabeça, meio sem jeito:
— É, mas precisa melhorar muito a defesa.
— Defesa e ataque — rebateu Zé Maria, como se falar de tática fosse a salvação praquele clima.
Fiquei pensando comigo mesmo: podiam falar o que fosse, mas depois de ver aquelas duas rebolando, ninguém ia conseguir prestar atenção no jogo direito.
A noite passou e já era sábado de manhã. Estava ajeitando umas coisas na portaria, quando a Andréia apareceu. Ela sempre vinha com aquele jeitão meio leve, mas eu percebi logo de cara que tinha alguma coisa atravessada na garganta dela.
— Bom dia, seu Geraldo — disse, meio sorrindo, mas o sorriso não vinha até os olhos.
— Bom dia, dona Andréia. Tá cedo hoje, hein? — comentei, só pra puxar papo.
Ela deu de ombros e ficou em pé ali, apoiada no balcão. Conversamos umas coisinhas banais primeiro, até que ela respirou fundo e soltou:
— Então... Eu chamei a Carolina pra jantar comigo amanhã, num restaurante italiano. Só nós duas. — Aí ela fez uma careta. — Mas ela reagiu mal. Disse que entre nós era só sexo, que eu não sou namorada dela. Brigamos e agora estamos sem falar.
Cocei a cabeça, pensativo.
— Oxe, dona Andréia... A Carolina às vezes bota um muro em volta dela, sabe? É medo, eu acho. Medo de se expor, porque todo mundo fofocou quando do divórcio dela. Mas ela gosta da senhora, disso eu sei. Só que ela tem dificuldade de botar isso pra fora.
— É muito fácil falar, seu Geraldo — bufou Andréia. — Ela vive enchendo o meu saco, dizendo que eu devia considerar me divorciar. Como se fosse simples assim! Só que parece que ela quer que eu mude a minha vida inteira, que eu pule no escuro. E isso sem ela me dar nenhuma garantia de que viria junto. Nem sequer um jantarzinho, um cinema. Nada!
— Pois é... — balancei a cabeça devagar. — Eu não sei se é justo cobrar isso de você. Um relacionamento, mesmo do nosso tipo escondido, não pode ser só na cama, né? Tem que ter um pouco do resto também. Tipo a nossa amizade.
Andréia cruzou os braços e suspirou alto.
— E pra piorar, seu Geraldo, ela fica escondendo a gente das amigas da academia. Até parece que elas iam morrer de medo de “sapatão”. Metade daquelas mulheres já beijou outra mulher, algumas já até transaram. Elas iam acolher a gente, não zoar.
— Dona Andréia, eu venho de outra geração, né? Mas até eu sei que hoje em dia isso não é mais bicho de sete cabeças. Ela esconde porque o problema tá dentro dela, não nas amigas.
Ela me olhou, com uma expressão entre cansada e agradecida.
— Eu sei que o senhor não pode ajudar, não quero que faça ponte nenhuma entre nós. Só precisava desabafar com alguém. — Ela apertou os lábios, quase num sorriso. — E o senhor é o único amigo que eu tenho aqui pra isso.
— Oxe, dona Andréia, amigo é pra isso mesmo. — sorri, tentando aliviar. — Eu só fico triste de ver vocês assim, brigada. Vocês duas são boas demais juntas, só falta uma coragem aí no meio. Mas se precisar de ouvido, de café, de piada besta, eu tô aqui.
Ela riu um pouquinho, mas eu vi que os olhos estavam marejados. Abaixou a cabeça e respirou fundo.
— Obrigada, seu Geraldo. Eu precisava mesmo ouvir isso.
Ficamos em silêncio por uns segundos. Depois ela mudou de assunto, falando de uma receita nova que tinha aprendido, tentando aliviar o clima. Eu fui acompanhando, deixando ela rir, porque às vezes era só isso que uma pessoa precisava: um ouvido pra falar o que sentia.
Algumas horas se passaram. Eu estava terminando de arrumar umas caixas na portaria, ajeitando as coisas no meu canto, quando vi a Carolina chegando. Ela tinha aquele jeito elegante até quando parecia cansada. Usava uma calça social preta, bem justa nas coxas proporcionais, uma camisa clara de botão e um blazer escuro por cima. O salto baixo batia no chão com firmeza. Parecia ter vindo direto do trabalho, mas os olhos mostravam certo peso.
— Boa tarde, seu Geraldo — disse, meio contida, mas ainda com aquele sorriso simpático que sempre carregava quando estávamos sozinhos.
— Boa tarde, dona Carolina. Vinda da lida? — comentei, olhando pro blazer.
— Sim. — Ela respirou fundo e ficou parada ali, como se procurasse as palavras. — Na verdade, eu vim aqui porque precisava conversar.
— Oxe, a dona sabe que, pela senhora, eu seria um ouvido a domicílio sempre que me chamasse — brinquei.
A Carolina ajeitou a alça da bolsa no ombro e abaixou um pouco o tom de voz.
— A Andréia me chamou pra jantar amanhã, só nós duas, num restaurante italiano. E... sei lá, isso tem cara de date. — Ela suspirou, claramente desconfortável. — Eu tô com medo de que ela esteja se apaixonando.
Por dentro, me lembrei na hora da conversa que tinha tido com a própria Andréia de manhã. Mas não podia deixar a Carolina saber disso. Então apenas cocei o queixo e falei:
— Dona Carolina, se fosse só jantarzinho de amiga, ela chamava mais gente. Sozinha assim, é, parece mesmo encontro. Mas medo de quê? De ser gostada? A Andréia é uma das mulheres mais incríveis que já conheci.
Ela baixou o olhar, mordendo de leve o lábio.
— Porque pra mim... Pra mim a gente não é um casal. Isso tudo é só sexo. Sem sentimentos. Sem envolvimento romântico.
Cruzei os braços e balancei a cabeça.
— Dona Carolina, olha... Eu até acredito que vocês duas não tenham sentimento nenhum por esse velho gordo aqui. Talvez amizade.
— Eu te vejo como amigo — admitiu Carolina. — E como o ex menos escroto que já tive.
— Obrigado pela sinceridade — continuei. — Mas dizer que entre vocês duas não tem nada? Pera lá. Faz mais de dois meses que vocês duas transam cinco vezes por semana. O corpo pode até se acostumar, mas o coração sempre dá um jeito de entrar na jogada.
Ela soltou uma risadinha curta, meio amarga.
— O senhor fala como se fosse simples. Mas não é. Eu não quero me enganar.
— Mas também não precisa fingir que não existe — retruquei. — Tem coisa que a gente sente, mesmo se não quiser. E, não me leve a mal, mas tem sido os meses mais felizes das duas em um bom tempo.
Ela ficou em silêncio por um instante, e então suspirou.
— O grande problema é que a Andréia vive insistindo pra gente sair juntas, se assumir pras amigas da academia. Ela fala como se fosse fácil.
— E não é? — perguntei, genuíno. — Essas mulheres aí tão tudo no mesmo barco, cada uma com seu segredo. Não iam julgar vocês.
Carolina fez uma careta.
— Mas por que eu tenho que mudar a minha vida toda, se ela não muda nada na dela? Se a Andréia quer tanto assim sair pra cinemas, pra jantares, assumir pras amigas que eu também gosto de mulher... Então que faça a parte dela também. Que peça o divórcio daquele traste de marido ausente que não pisa faz seis meses.
Ajeitei o boné e soltei um riso curto, sem ironia.
— É... A senhora tem razão. Fica pesado pedir pra um mudar tudo enquanto o outro não dá o primeiro passo. Fica parecendo cobrança injusta. Mas também não é fácil pra ela, sabe? Tá presa entre coragem e medo.
— Eu não quero que o senhor interfira nisso, seu Geraldo — ela disse firme, mas com voz suave. — Só precisava desabafar com alguém.
— Oxe, mas claro — sorri. — Eu sou bom nisso, em ouvir. Não vou meter colher, não. Só vou guardar aqui comigo. Mas digo uma coisa: vocês duas têm algo bonito. Não deixa o medo engolir isso.
Carolina me olhou de lado, com um meio sorriso cansado, como quem queria acreditar mas não sabia se podia. Ficou alguns segundos em silêncio, mexendo no celular sem foco, antes de agradecer.
— Obrigada, seu Geraldo. Eu precisava mesmo.
— Pra isso que eu tô aqui. Portaria é ouvido de amigo — falei, tentando dar leveza.
— Um amigo que me come toda semana e tá doido pra me enrabar, né filhadaputa... — brincou Carolina.
Ela riu baixinho, ajeitou o blazer e foi embora, deixando no ar aquele cheiro de perfume caro misturado com dúvida e medo. Eu fiquei olhando enquanto ela se afastava, pensando que era complicado demais aquele coração de gente nova. Pra mim, amar sempre foi simples. Mas talvez essa simplicidade fosse coisa rara hoje em dia.
Era sábado de noite quando eu tava no estacionamento junto do Zé Maria, por causa de mais um problema encontrado pelo Lucério. O homem disse que tinha encontrado um problema no chão perto das vagas do canto, uma infiltração ou sei lá o quê. Quando o outro zelador apareceu pra nos cobrir, eu e o Zé Maria fomos lá olhar e avaliar.
Pra mim parecia pouca coisa, uma rachadurazinha besta, talvez só um vazamento pequeno.
— Isso aí não vai atrapalhar nada ainda não — comentei, coçando o queixo. — Mas é bom resolver logo, senão depois vira dor de cabeça.
— É — respondeu Zé Maria, meio de lado. — Melhor cortar logo o mal pela raiz. Do jeito que o Lucério é, amanhã já espalha que o prédio tá caindo.
Dei uma risadinha. Era bem o estilo dele mesmo.
Nisso, escutei um motor e vi o carro da Natália entrando. Ela estacionou bem perto da gente. Quando desceu, foi como se a noite tivesse clareado. Aquela mulher tinha um corpo de encher os olhos de qualquer um: as pernas firmes e torneadas, a bunda grande e bem marcada no jeans justo que ela usava. A blusinha simples, cor clara, se moldava nos seios médios dela. O cabelo ruivo caía solto, balançando enquanto ela se movia. Até o jeito dela andar tinha um ritmo gostoso, com quadris que balançavam como quem não fazia esforço nenhum.
— Boa noite, Natália! — falei logo, sorridente. Lembrava que ela detestava ser chamada de “dona”.
— Boa noite, seu Geraldo, boa noite, seu Zé Maria! — respondeu ela, toda simpática, aquele sorrisão que mostrava os dentes perfeitos.
O Zé Maria também cumprimentou e ficou ajeitando a postura, todo besta.
Ela abriu o porta-malas e eu arregalei o olho com a quantidade de sacola. Era coisa que não acabava mais.
— Oxente, minha filha, mas tu fez a feira do mês todinho, foi? — falei, meio rindo.
O Zé Maria concordou:
— Isso aí é coisa demais pra carregar sozinha.
A Natália suspirou, ajeitando uma mecha de cabelo atrás da orelha.
— Pois é, eu tava pensando em fazer duas viagens.
Olhei pro Zé Maria e ele olhou pra mim. Fiz um gesto com a cabeça e falei:
— Ô, Zé, vai lá ajudar a moça. Eu termino de olhar isso aqui sozinho.
Ele fez uma careta de dúvida.
— A senhora quer ajuda?
Natália riu baixinho.
— Quero sim, se não for incomodar. É muita sacola, vou acabar ficando sem braço.
— Então tá certo — respondeu Zé Maria, já indo pra perto dela.
Ele pegou mais da metade das sacolas de uma vez, mostrando que ainda tinha braço pra coisa. A Natália olhou e comentou:
— Nossa, assim até melhor. Fico com um braço livre pra chamar o elevador e abrir a porta. Obrigada, viu?
— Que nada, Natália — disse Zé Maria, meio envergonhado.
Fiquei observando os dois se afastarem em direção ao elevador. Ela puxava assunto, sorria, e ele respondia meio tímido, mas dava pra ver que estava todo contente. Eu balancei a cabeça, meio rindo sozinho, e voltei minha atenção pro problema do chão.
Enquanto isso, perto do elevador, o Zé Maria equilibrava as sacolas no braço, firme como quem estava acostumado à lida pesada.
— Desde quando o senhor trabalha aqui no condomínio, Zé Maria? — perguntou Natália.
— Desde 1993 — respondeu ele, com um certo orgulho escondido no tom. — Faz tempo já, viu?
Natália arregalou um pouco os olhos, surpresa.
— 1993? Nossa, mais tempo do que eu tenho de vida! Sou de 1994.
Zé Maria sorriu de canto.
— Pois é... E olha que o seu Geraldo tá aqui desde 1988.
— Meu Deus, então vocês dois praticamente fundaram o prédio! — disse ela, rindo com naturalidade. — Vocês são quase patrimônio histórico do condomínio.
O elevador chegou, e os dois entraram. Natália apertou o botão do andar dela e o Zé Maria encostou as costas na parede, ainda firme com as sacolas. Natália se ajeitou do outro lado, virada de frente pra ele, sorridente.
— E nesses anos todos, deve ter visto de tudo, né? — perguntou ela, curiosa.
— Vixi... nem te conto. Outro dia, semana passada mesmo, teve morador que esqueceu a chave dentro de casa e tentou entrar pela janela do segundo andar. Subiu pela escada de alumínio, parecia filme. Resultado: caiu em cima do arbusto e ficou preso lá, gritando. — Zé Maria balançou a cabeça, rindo da lembrança. — Eu que tive que ir tirar o homem de lá. Até hoje chamam ele de “Homem-Aranha do 302”.
Natália levou a mão à boca, gargalhando.
— Não acredito! Tadinho, mas deve ter sido engraçado demais.
— Foi, ué. Outro dia também teve o cachorro da dona Lourdes, aquele pincher nervoso, entrou no elevador sozinho, desceu até o estacionamento, e não queria sair de jeito nenhum. Ficou latindo pra todo mundo que passava. — Ele fez uma pausa, imitando o latido fino. — Tive que pegar e levar o bicho no colo, parecia até que ele era o dono do prédio.
A Natália ria solta, os olhos brilhando de divertimento.
— Eu consigo imaginar a cena! Esse condomínio devia ter uma série só pra contar essas histórias.
— E olha que eu nem comecei — disse o zelador, animado com a reação dela. — Outro dia teve morador, que se mudou pra este ano ainda, que podia ficar com qualquer vaga, que era VIP. Foi brigar comigo, falando que tinha direito porque era médico. Eu só disse: “Doutor, o senhor é grande e dá dois de mim. Mas não dá três. Se o senhor não sair, eu vou chamar o síndico.” Claro que só funcionou porque ele não conhecia o síndico.
A risada de Natália encheu o elevador, alta e espontânea.
— Gente, eu precisava andar com você o dia inteiro só pra rir dessas histórias.
O elevador apitou no andar dela, e os dois saíram juntos pelo corredor. A Natália puxou a chave, se inclinando para abrir a porta. Foi um pouco de esforço pelo peso das sacolas. Entraram no apartamento, e Zé Maria seguiu atrás, colocando as sacolas na mesa como ela indicou.
— Pronto. Tá tudo aí — disse ele, batendo levemente as mãos pra tirar o pó.
— Muito obrigada, de verdade. — Natália já mexia no celular pra mandar um pix simbólico.
Zé Maria levantou a mão, balançando a cabeça.
— Que isso, Natália. Foi coisa simples demais. Nem me sinto bem de pegar dinheiro por isso.
Ela parou, olhou bem pra ele e sorriu.
— Tá bom. Então, em troca da ajuda, fica aqui meu convite: sábado que vem, tem jogo do Londrina. Vem assistir comigo aqui no apartamento.
Zé Maria reagiu surpreso.
— Opa... sério mesmo?
— Sério. — Ela apoiou as mãos na cintura, com um sorrisinho maroto. — Ou será que você é do tipo machista que ainda duvida que eu amo futebol e torço de verdade pelo Londrina?
Ele deu uma risadinha, coçando a nuca.
— Aceito, claro. Aceito sim.
— Então tá combinado! — disse Natália, satisfeita. — Vai ser bom ter companhia pra xingar esse time ruim que parece que não quer subir.
— Combinado. Pode deixar que eu venho — respondeu o zelador, já se encaminhando pra porta.
Eles se despediram com simpatia, Natália ainda sorrindo pelo jeito leve da conversa.
Pois bem, leitor. No próximo capítulo, eu finalmente vou comer a Sarah (foi mal que adiamos um pouco DE NOVO).
Antes de encerrar, vamos às perguntas:
1) Quem deveria ceder primeiro: a Carolina assumir que é um namoro e não apenas sexo com a Andréia ou a Andréia pedir o divórcio do marido?
2) O Zé Maria deve conseguir comer a Natália logo no próximo sábado ou vocês acham que o zelador precisa se esforçar mais pra conquistar esse peixão e, no próximo sábado, os dois só assistam futebol mesmo?
3) Vocês preferem que, usando as massagens como atalho, eu passe na frente do meu amigo Zé Maria e coma a Natália primeiro ou isso seria muito filhadaputisse da minha parte atravessar o amigo e eu já comi mulher demais por enquanto?
Diga nos comentários para o que você torce que aconteça.
Na parte 09 da nossa saga, nós teremos a vingança da Carolina e mais uma calcinha pra minha coleção. O que vocês acham que a Carolina vai aprontar?
NOTA DO AUTOR: Este capítulo não estava previsto e é meio que um filler que se passa na mesma semana de “Eu e Minha Esposa Pulamos a Cerca... E o Caos Explodiu - Parte 07” e “Eu, minha esposa e nossos vizinhos – Parte 14”. Eu escrevi ele porque queria dar um pouco mais de espaço pra Carolina e Andréia, já que as duas ficarão fora de foco nas partes 08 e 09 e só voltam como um casal na parte 10.
E eu também estou com problemas pra terminar as partes 07 e 08 de “Quem Vai Comer a Advogada Evangélica?”, que cronologicamente se passam na mesma semana e devem obrigatoriamente ser publicadas antes que eu possa seguir a história. Talvez eu as termine até o final da semana que vem.
Um capítulo filler que eu posso publicar seria uma parte 15 (ou 14.5) do “Eu, minha esposa e nossos vizinhos” que se passe no sábado/domingo em que o Rogério e a Jéssica contem seus sonhos eróticos um pro outro. Aí, metade do capítulo seria do ponto de vista da Jéssica.