44 anos de submissão e desejo

Um conto erótico de Edmar Borsato
Categoria: Heterossexual
Contém 1052 palavras
Data: 18/09/2025 18:43:54

Quarenta e quatro anos de casamento. Digo em voz alta e ainda me surpreendo com o peso da frase. Para muitos, é tempo demais para que ainda exista fogo. Para nós, é justamente esse tempo que tempera cada gesto, cada silêncio. Só que o fogo dela arde diferente: ela manda, ela governa, e eu me dobro.

Naquela noite, depois do jantar, ela ajeitou a taça de vinho na mão e me olhou de cima a baixo. Um olhar que conheço bem — o que antecede a provocação. Sorriu torto e disse:

— Sabe, às vezes penso no Carlos… ele sempre sabia como segurar uma mulher, firme, sem hesitar. Diferente de você, que parece pedir licença até para me tocar.

O nome do ex ecoou em mim como navalha. Ardeu. O sangue subiu ao rosto, não de raiva, mas de um misto de vergonha e algo que me fazia estremecer por dentro. Quarenta e quatro anos ao lado dela e ainda me sentia pequeno, diminuído quando me comparava. E, estranhamente, essa pequenez me excitava.

Ela se levantou devagar, andando pela sala como uma rainha que inspeciona seu súdito. Os saltos batiam no piso, secos, impondo ritmo. Parou diante de mim e encostou a ponta do dedo sob meu queixo, erguendo meu rosto.

— Olhe para mim, — ordenou. — Sempre tão obediente… Talvez seja isso que me prende a você. Não é como o Carlos, mas pelo menos sabe o seu lugar.

A humilhação latejou em mim. Meu corpo denunciava o efeito que a mente tentava negar. Sentia-me ridículo, mas entregue. Ela percebeu — claro que percebeu. Riu baixo, quase um sussurro venenoso.

— Veja só… até quando eu falo de outro homem, você se aquece. Patético. Mas é o meu patético.

E ali, de pé diante dela, entendi: minha submissão era o tributo que pagava ao poder dela. Quarenta e quatro anos não tinham me endurecido; tinham me tornado ainda mais dela. Quanto mais ela me diminuía, mais eu pertencia.

O vinho ficou esquecido na mesa, a luz baixa tingindo sua pele de dourado. Ela não precisou levantar a voz, não precisou me tocar mais do que aquele gesto no queixo. Apenas suas palavras me bastavam para me manter aceso, dominado, humilhado — e completamente dela.

Ela voltou a se sentar, cruzando as pernas devagar, como se cada gesto fosse um aviso de que tudo estava sob controle — o dela, nunca o meu. Bebeu um gole de vinho, lambendo de leve os lábios. Eu continuei de pé, quase imóvel, sem saber se deveria sentar ao lado dela ou permanecer ali como uma estátua obediente.

— É engraçado… — ela começou, olhando para o vazio, mas sabendo que cada palavra era para mim. — Com o Carlos, eu tinha que disputar espaço. Ele queria sempre provar que era mais forte, mais capaz. E, no fim, cansava. Já você… você me poupa de qualquer esforço. Só preciso falar, e obedece. Até gosta quando eu piso em você, não gosta?

Meu silêncio foi a confirmação que ela queria. O rubor no meu rosto, o nó na garganta e a respiração acelerada me entregavam mais do que qualquer resposta. Ela sorriu satisfeita, como quem assiste ao efeito de um veneno cuidadosamente administrado.

— Quarenta e quatro anos e você ainda me olha como um menino assustado diante da professora. — Ela balançou a cabeça, fingindo reprovação. — Tão pouco homem… e ao mesmo tempo, tão meu.

A cada comparação, a cada diminuição, eu me sentia mais pequeno. Mas, em vez de me afastar, era como se me acorrentasse ainda mais a ela. Um peso delicioso me esmagava, e eu não queria me libertar.

Ela pousou a taça na mesa e inclinou o corpo para frente. O olhar encontrou o meu com a precisão de uma lâmina.

— Sabe qual é a diferença? — sussurrou, firme. — Carlos podia ser mais homem, mas nunca seria capaz de se entregar assim. Só você é capaz de se humilhar até se perder, e ainda me agradecer por isso.

Foi nesse instante que entendi que o jogo não era sobre comparação com o passado, mas sobre a certeza absoluta de quem me possui no presente. Eu não era o melhor, nunca seria. Era apenas o que se curva, o que aceita, o que precisa da humilhação para existir ao lado dela.

E o clímax veio silencioso: não em um toque, não em um gesto físico, mas na vertigem de me sentir diminuído e, paradoxalmente, completo. A excitação ardia em mim como um segredo sujo e inevitável. Ela sabia. Ela sempre soube. E, ao ver seu sorriso triunfante, percebi que não havia maior prazer para mim do que ser exatamente o que ela dizia: o seu patético.

Naquele instante, o silêncio da sala pesava mais do que qualquer palavra. O vinho já não importava, a casa parecia desaparecer. Só havia ela — e eu, pequeno diante da sua presença.

— Sente-se no chão, — ordenou de repente, sem erguer a voz.

Obedeci sem hesitar, dobrando os joelhos, como quem aceita uma sentença. Ela riu baixo, satisfeita, recostando-se na poltrona como uma rainha diante de seu servo. A humilhação queimava, mas em mim se misturava com algo mais profundo, impossível de negar.

— Olhe para você… quarenta e quatro anos casado comigo e continua assim, ansioso pelo meu olhar, faminto até pela minha crueldade. — Seus olhos brilhavam com malícia. — O Carlos nunca se ajoelharia assim. Mas você… você nasceu para isso.

O nome dele voltou a cortar, mas agora não doía: ardia. Era o tempero exato que ela sabia usar. E eu sentia minha respiração acelerar, o corpo responder, a vergonha se transformar em excitação. Eu estava no chão, diminuído, e ao mesmo tempo em êxtase.

Ela se inclinou para frente, quase sussurrando:

— É por isso que ainda estamos juntos. Porque no fundo, você gosta de ser meu brinquedo, meu reflexo pequeno. E eu gosto de lembrar, todas as noites, quem manda aqui.

E quando ela se recostou de novo, erguendo a taça em um brinde silencioso, percebi que o clímax não era um ato físico. Era esse instante: a rendição completa, a aceitação de que minha maior fraqueza era também meu maior prazer.

Quarenta e quatro anos de casamento, e ali, no chão da sala, humilhado e excitado, eu soube que continuaria a ser dela por todos os anos que restassem. Não por amor apenas, mas por submissão. E, secretamente, por desejo.

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 0 estrelas.
Incentive Edmar Borsato a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários