O Escolhido de Eldoria ☆ Capítulo 36

Um conto erótico de Tiago e Lucas
Categoria: Homossexual
Contém 1655 palavras
Data: 18/09/2025 13:32:27

✧ Sinfonia da Aniquilação ✧

(Lucas)

A escuridão que eu convidei para entrar não foi uma mera visitante; foi a antiga matriarca da casa, retornando para reclamar seu domínio. Ela não apenas fluiu, mas se infiltrou em mim, um rio de alcatrão e estrelas mortas que percorreu minhas veias, afogando o homem assustado que eu era naquele momento. O medo e a dor, aqueles companheiros inevitáveis, foram dissolvidos, substituídos por uma fúria tão fria e precisa quanto a ponta de uma geleira. A adaga em minha mão, antes um simples pedaço de aço, agora cantava em harmonia com meu sangue, um diapasão vibrando com o poder de meu pai.

Não havia mais necessidade de encantamentos sussurrados ou gestos arcanos. Meu ódio, puro e concentrado, era o único feitiço, a única verdade. Focando toda a minha existência em um único ponto de aniquilação — os demônios de barro que ameaçavam Tiago — eu liberei tudo. O ar da caverna, antes úmido e estagnado, comprimiu-se em um vácuo sufocante antes de explodir para fora. Não foi um som, mas a ausência dele, uma onda de choque de pura energia sombria que transformou os morcegos em uma chuva silenciosa de cinzas e o eco em pó.

Como o punho de um deus esquecido, a onda de choque de entropia atingiu o golem. A criatura, um monumento de força bruta, estremeceu até suas fundações. Rachaduras negras, pulsando com uma energia profana que parecia beber a luz, espalharam-se por sua forma de pedra como um raio congelado no tempo. Por um breve instante, as gemas de esmeralda que serviam como seus olhos brilharam com uma luz verde e febril, um vislumbre de algo que se assemelhava a uma surpresa primordial, antes que a magia que o unia fosse desfeita. A criatura detonou em uma tempestade de cascalho e estilhaços pontiagudos que ricochetearam pelas paredes da caverna.

Em meio à nuvem de poeira sufocante, o corpo de meu amado caiu no chão encharcado. Ele tossiu violentamente, cuspindo uma mistura de água e terra, o peito arfando em busca de um ar que ainda não havia se assentado. Desorientado, ele ergueu o olhar em busca de seu salvador, mas o homem que encontrou de pé, imóvel em meio à devastação que criara, não era inteiramente o Guardião que ele conhecia e amava. Era algo mais antigo, mais sombrio, vestindo minha pele como uma máscara.

(Tiago)

Pisquei, a poeira arranhando meus olhos, cada inspiração uma batalha contra meus pulmões em chamas. E então eu o vi. Lucas não estava simplesmente de pé; ele era o epicentro de uma tempestade silenciosa. Um manto de sombras vivas e retorcidas envolvia-o, contorcendo-se e respirando a seu redor como criaturas famintas. Seus olhos, normalmente do tom de um céu iluminado, eram agora abismos insondáveis, poços de uma escuridão absoluta.

Um sorriso cruel e presunçoso esticava seus lábios, uma expressão de êxtase predatório que eu nunca tinha visto em seu rosto e que fez meu sangue gelar. O poder que emanava dele era avassalador, uma pressão palpável no ar que cheirava a ozônio e túmulos antigos. Era terrivelmente errado. O alívio momentâneo por minha salvação foi engolido por um terror profundo e visceral. Ele não havia apenas usado o poder de seu pai como uma ferramenta; ele o havia abraçado como sua própria alma.

(Lucas)

Nunca, em toda a minha vida, eu me senti tão completo, tão vertiginosamente vivo. Cada fibra do meu ser, cada célula, cantava um hino de força ilimitada e propósito claro. Eu podia sentir o pulsar lento e geológico da rocha sob meus pés, o caminho de cada gota de água que escorria a centenas de metros de distância, o bater frenético e assustado do coração de Tiago como um tambor em uma sala vazia. Tudo era tão claro, tão magnificamente simples. O poder era a resposta para a dor, para a fraqueza, para o medo. Sempre fora.

Olhei para a destruição que minha vontade havia forjado, para o pó fino que um dia foram monstros, e uma risada borbulhou do fundo do meu peito. Era um som áspero e descontrolado, estranho aos meus próprios ouvidos, o som de um homem que finalmente entendia seu verdadeiro e terrível lugar no mundo.

“Por que esse medo em seus olhos, pequeno Tiago?”, perguntei, e minha voz ressoou com um eco duplo, uma harmonia sombria que não era minha. “Diga-me. Eu não sou magnífico?”

(Tiago)

Seu riso era uma profanação, ecoando nas paredes da caverna e dentro da minha alma, um som de loucura e poder que me fez tremer incontrolavelmente. Juntando cada grama de força que me restava, cambaleei até ficar de pé, cada passo uma guerra contra o instinto primordial que gritava para eu fugir, para me esconder.

Aproximei-me dele, entrando na aura gelada que o cercava. Coloquei minhas mãos trêmulas em seu peito, sentindo o poder sombrio pulsar sob sua pele como um coração doente e febril.

“Lucas, por favor… pare com isso”, implorei, minha voz um fiapo que se quebrou em um soluço. “Isso não é você. Esse poder… ele vai consumir tudo o que você é. Ele vai te destruir. Por favor, volte pra mim! Volte!”

(Lucas)

Sua súplica era um ruído de fundo, o zumbido insistente de um inseto no meio da minha sinfonia de poder. Seu toque era fraco, sua preocupação, patética. Ele não entendia. Como poderia? Ele via uma prisão onde eu encontrava a liberdade. A escuridão dentro de mim, agora a força dominante, irritou-se com sua interferência, com sua tentativa tola de me arrastar de volta para a jaula da mortalidade e da fraqueza.

“Você é tão… irritante”, eu disse, e as palavras saíram frias como o ar de uma tumba.

Sem pensar, movido por um impulso cruel que não reconheci como meu, minha mão se ergueu. O movimento foi rápido, preciso e desprovido de paixão. O som estalado do tapa ecoou no silêncio que se seguiu, um som mais chocante e ensurdecedor do que qualquer explosão demoníaca.

(Tiago)

A dor do golpe foi aguda, uma explosão de fogo em minha bochecha, mas não foi nada comparada à dor que rasgou meu coração em dois. O choque me deixou paralisado, a marca vermelha de seus dedos queimando em minha pele como um ferro em brasa. Lágrimas quentes e incontroláveis brotaram em meus olhos, deslizando pelo meu rosto empoeirado, traçando caminhos limpos em meio à sujeira. Eu não chorei pela dor física. Chorei pela visão do homem que eu amava me olhando com um desprezo frio e alienígena, como se eu fosse menos que nada, uma pedra em seu caminho.

Meu soluço foi um som pequeno e quebrado na imensa e silenciosa caverna, o último pedaço de minha esperança se estilhaçando. E foi esse som, esse pequeno eco de puro sofrimento, que de alguma forma pareceu quebrar o feitiço.

(Lucas)

O som do choro de Tiago foi como uma adaga de gelo cravada em meu peito, perfurando a euforia sombria e me prendendo de volta à realidade. Por um instante vertiginoso, a névoa de poder se dissipou, e eu vi. Eu vi o que tinha feito. Vi a marca vermelha e inflamada em sua pele pálida, as lágrimas traçando sulcos em seu rosto, o terror e a traição em seus olhos — uma dor que eu causei. O horror me engoliu inteiro, uma onda nauseante de autodepreciação. O monstro não era o golem. Era eu. O veneno de Malakor não era uma arma; era uma gaiola que me transformava exatamente naquilo que eu mais odiava no mundo. Eu precisava fugir. Precisava me afastar dele antes que a escuridão ressurgisse e o machucasse ainda mais, talvez para sempre.

Sem uma palavra, sem um olhar para trás, virei-me e corri para a escuridão opressora do túnel, meu único pensamento sendo colocar a maior distância possível entre minha corrupção e a única coisa pura que restava em minha vida. Não prestei atenção ao chão irregular, meu pé pousando sobre uma laje de pedra que afundou com um clique sinistro e audível. Das paredes, entalhes ocultos se abriram e lâminas em forma de foice, cobertas com a ferrugem de séculos e gravadas com runas que brilhavam com uma luz doentia e verde, dispararam em um arco mortal e sibilante.

Um grito de agonia pura e lancinante rasgou o ar quando as lâminas me encontraram. Fui arremessado para a frente, meu corpo convulsionando violentamente antes mesmo de atingir o chão. Onde meus pés e tornozelos estavam, agora havia apenas tocos ensanguentados e ossos estilhaçados. A dor era uma supernova branca e absoluta em minha mente, eclipsando até mesmo o poder sombrio que ainda pulsava em minhas veias, um tormento tão avassalador que me fez desejar a inconsciência.

(Tiago)

O grito de Lucas me tirou do meu torpor de dor e choque. Esquecendo o tapa, o medo, a escuridão em seus olhos, eu corri em sua direção, o nome dele rasgando minha garganta.

“Lucas!”

Eu o vi caído, contorcendo-se em uma poça crescente de seu próprio sangue, e meu mundo, já em frangalhos, desabou completamente. Eu tinha que ajudá-lo. Tinha que estancar o sangramento. Quando me ajoelhei freneticamente ao seu lado, um movimento rápido e cristalino no teto chamou minha atenção tarde demais. Uma aranha de cristal, do tamanho de um cão de caça, desceu em um único fio de seda cintilante.

Antes que eu pudesse reagir, suas múltiplas pernas afiadas se cravaram em meus ombros e costas. Uma dor gelada, diferente de qualquer outra que eu já senti, espalhou-se por todo o meu corpo, não de veneno, mas de uma paralisia mágica e imediata. Meus músculos congelaram, minha respiração tornou-se superficial e presa no peito. Caí de lado, próximo a Lucas, meu corpo uma estátua, mas minha mente terrivelmente, gritante e desperta. Tudo o que eu podia fazer era observar, impotente, enquanto a vida de meu amado se esvaía em um fluxo carmesim no chão de pedra, preso em um pesadelo onde tudo, absolutamente tudo, parecia irremediavelmente perdido.

Continua…

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