Foi de Doer... - Parte 2/2

Um conto erótico de Tomás (Por Mark da Nanda)
Categoria: Heterossexual
Contém 12824 palavras
Data: 17/09/2025 17:28:15

E então ela começou a beijá-lo, as mãos subindo e descendo pelo seu peito. Como eu me mantive imóvel, assistindo, realizando a minha fantasia, ela novamente me encarou. Só que agora gritou:

- FECHA ESSA PORRA DE PORTA, TOMÁS!

Eu murmurei para mim mesmo:

- O que eu fui fazer?

[CONTINUANDO]

Surpreso, é o mínimo que eu podia me dizer naquele momento. Ainda encarei a Bia mais um pouco enquanto ela seguia beijando o Jeremias com uma verdadeira devoção. Então, ela se levantou de repente e veio na minha direção, me encarou com uma frieza que eu nunca vira antes e disse:

- SAI! Eu mesma fecho...

Dei um passo para trás e ouvi o creeec e depois o duplo clique. Estes pareceram me acordar do péssimo sonho de uma noite mal dormida e se eu achava que o que rolou naquela noite com a Bia e o Jeremias fora o pico da loucura, compreendi que a história estava só começando. Até então, eu achava que tinha armado o maior show da minha vida, apesar de não tê-lo assistido, mas eu tinha acendido um pavio que ia queimar tudo que eu conhecia. E depois daquela manhã, com a Bia jogando as pílulas no lixo e arrastando o Jeremias de volta para o quarto, as coisas certamente virariam de cabeça para baixo. E eu, o idiota do corno, estava no meio de tudo, de pau mole e coração acelerado, ainda tentando fingir que controlava a situação.

Fui até a sala, peguei as chaves do meu carro e a minha carteira. Saí batendo a porta, entrei no carro, dei a partida e sai sem olhar para trás. Se ela queria mesmo me excluir, que fosse, eu daria essa oportunidade para ela, mas resolveria tudo assim que eu retornasse. "O que eu fui fazer?", eu repetia na cabeça, igual um mantra. A Bia era minha, caralho, minha esposa, minha parceira, minha rainha de olhos azuis. E certamente agora ela estava lá, deitada em cima de um negão que tinha uma baita experiência que só vem com os anos e um corpo que, apesar de não ser de academia, era bem bom, sólido como um mármore bem escolhido.

Assim que acessei uma marginal, sem saber para onde ir, totalmente perdido, meu celular começou a tocar. Olhei na tela e o nome da Bia surgiu, com uma linda foto que eu havia tirado em nossa última viagem para um parque aquático de Campo de Dentro. Pensei se deveria atender e antes de decidir a chamada foi encerrada. Mensagens começaram a bipar e decidi estacionar para ver o que acontecia:

“Amor, o que acontece? Por que você saiu? Eu só estava brincando com você, seu bobo. Volta. Volta já ou vou dar para o Jê sem você assistir, hein!”

Havia algumas outras mensagens, recheadas de brincadeiras e emojis de risadas, de timidez, de beringela, enfim, ela tentava tornar leve uma situação que já parecia ter desandado. Comecei a analisar os fatos para tentar entender o que aconteceu e eu simplesmente não entendia. Talvez fosse mesmo uma brincadeira dela que eu havia mal interpretado, ou talvez não... Uma mensagem de áudio chegou:

Bia - “Amor, por favor. Eu estava brincando. Volta para casa. Ou me atende para a gente conversar. Juro que não quis te magoar.”

Liguei para ela, pois uma conversa teria que acontecer de uma forma ou de outra. Ela parecia ansiosa, até um pouco chorosa, ao atender:

- Amor, onde você está?

- Saí, para pensar...

- Por favor... Eu só estava brincando com você. Eu só ia fechar a porta para te deixar bravinho, mas já ia abrir para você entrar. Só que não deu tempo. Quando comentei com o Jê em fazer isso, você já estava saindo com o carro e não te alcancei. Volta aqui, por favor...

- Por que você fez isso, Bia?

- Foi uma brincadeira, amor. Eu ouvi sua conversa com o Jê e pensei em criar uma situação para brincar de te humilhar, mas acho que errei a mão.

- Jeremias ainda está aí?

- Tá, mas já disse que talvez seja melhor ele ir embora.

Refleti um pouco e decidi voltar. Antes passei numa farmácia e comprei alguns pacotes de camisinha. Se o Jeremias achava que iria engravidar a Bia, estava muito enganado. Apesar de eu ter aceitado suas condições lá no começo, algo começou a me desagradar e decidi que seria previdente.

Cheguei em casa uns 15 minutos depois. Guardei meu carro na garagem e entrei. Os dois estavam sentados na sala, ambos de roupas íntimas. Ambos me encararam curiosos, a Bia até mesmo meio temerosa, tanto que rapidamente veio até mim e me abraçou, apertado:

- Desculpa. Eu só queria brincar. Errei feio...

- Então, você entendeu a conversar que eu tive com o Jeremias na cozinha?

Ela confirmou com um movimento de cabeça:

- Eu havia brincado com ele no quarto ontem, aliás, ele comigo. Então, ouvi a conversa de vocês e pensei em me fazer uma pegadinha para te deixar cabreiro. Desculpa...

- Me responde uma coisa... Ontem, vocês transaram com ou sem proteção?

Ela olhou rapidamente para o Jeremias e me encarou:

- Com e sem. A primeira foi com camisinha. Eu exigi! Só que depois, ele não tinha outra, nem eu, então transamos sem, mas ele gozou fora. Juro.

- Fora... onde?

Ela baixou os olhos, encarando o meu peito, envergonhada. Então, piscou algumas vezes, como se quisesse evitar que lágrimas rolassem e disse:

- Na minha boca, seios e no meu bumbum, mas tudo fora. Juro...

Eu a olhava, mas já sabia daquilo. Até imaginava que ela tivesse deixado ele gozar dentro, mas saber que não me surpreendeu e agradou bastante. Acariciei a sua face e lhe dei um selinho na boca. Depois, entreguei a sacolinha com várias camisinhas. Ela sorriu e olhou para o Jeremias, brincando:

- Parece que hoje ainda vai ter, hein?

- Me apronto rapidinho, meu anjo! - Ele brincou, já acariciando o pau por cima do tecido da cueca.

Bia me pegou pela mão e olhou para o Jeremias:

- Eu só vou tomar uma ducha com ele e já volto, Jê. Fica à vontade.

- Banho!? Vocês dois, juntinhos? - Jeremias fingiu surpresa e colocou a mão sobre a própria boca: - Que safadeza é essa, dona Bia? Mulher minha não faz essas coisas com o marido não.

Ela achou graça e mostrou a língua para ele, sem sequer responder. Entramos no banheiro e tomamos um banho, onde ela aproveitou para me fazer um boquete rápido, mas sem deixar eu gozar:

- Guarda para mim... Quero beber seu leitinho hoje mais tarde, tá?

Voltamos à sala, onde o Jeremias bebia uma cerveja, ainda vestido com a cueca. Ela me encarou:

- Eu vou entrar sozinha com ele primeiro, tá? Deixa a gente começar e depois você vem. Só para eu não ficar meio sem jeito com você. Tudo bem?

Concordei e vi os dois entrando no quarto, mas agora sem encostar a porta. Foram minutos de uma angústia estranha na qual o meu pau endurecia e amolecia, respectivamente, pelo tesão e pela tensão. Logo, gemidos mais audíveis dela surgiram, até meio teatrais, acho que ele tentava me chamar a atenção. Decidi ir até lá e espiar. A Bia estava sendo chupada pelo Jeremias, as pernas arreganhadas de uma forma que eu nunca tentara antes. Não aguentei mais e entrei, observando dum canto. Ela notou e me encarou com um semblante estranho, parecia preocupada, talvez com medo da minha reação. Mas eu sorri e pisquei com um olho para ela. Então ela sorriu e relaxou, fechando os olhos e gemendo a uma linguada mais astuta do Jeremias. Pouco depois, foi ele que me encarou:

- Tomás, será que preciso mesmo usar camisinha? Já transamos sem e deu tudo certo, cara. Cá entre nós, “amigos/irmãos”... acho que seria desnecessário, não acha?

A entonação que ele usou na sua pergunta deixou bem claro que não era exatamente uma pergunta, mas apenas uma confirmação, uma lembrança do que havíamos combinado anteriormente. Decidi ser político e deixar com a Bia a decisão:

- A Bia decide, Jeremias. Se ela estiver disposta, não vejo problema. Só não quero nenhuma surpresa.

Ele a encarou e ela abriu um sorriso malicioso, peralta, como se ela esperasse a chance daquilo se consumar. Então, ela balançou a cabeça concordando, mas deixou claro sua condição:

- Sem gozar dentro, ok?

Jeremias, que já estava com o pau duro feito pedra, sorriu, balançou a cabeça, concordando, encostou a cabeça na entrada da bucetinha da minha esposa e começou a penetrá-la. Devo admitir, ele tem um senhor pau: grosso, grande, cheio de veias robustas e uma cabeça bem protuberante, brilhando de desejo. Era realmente um macho diferenciado. Conforme ele ia entrando na minha esposa, notei que já não havia tanta resistência por parte dela, era como se o seu corpo já estivesse se adaptando a aquele estranho invasor, ou talvez fosse uma resposta involuntária de seu próprio desejo.

Daí por diante, sucedeu-se uma verdadeira maratona de posições. Jeremias usou a Bia como se fosse uma boneca inflável para se saciar. Ele a virava sem perguntar se ela queria ou se gostava da posição; ele simplesmente se impunha e pronto! Iniciaram num “papai-e-mamãe”, mas logo ele a colocou de quatro, depois de frango assado, para galopar sobre ele e minha esposa, que no início parecia tímida, foi se soltando com uma vontade e uma destreza que eu não conhecia. Aliás, eu era um mero espectador ali, ela não interagiu comigo uma única vez sequer, concentrada no Jeremias e nas sensações que ele lhe despertava.

A última posição foi a única em que recebi alguma atenção. Jeremias a colocou para galopar de costas para ele e de frente para mim, e ela galopou, como uma amazona desvairada. Vez ou outra olhava para mim, mordia os lábios, fechava os olhos, sorria, enfim, ela estava vivenciando uma aventura totalmente fora de sua imaginação reprimida. De repente, ela parou e arregalou os olhos. Imaginei que estivesse gozando, mas a verdade era outra:

- Não! Aí não, Jê...

- Ô princesa, não te fiz gozar gostoso hoje? Será que eu mereço esse presente?

Só então notei que, pela posição das mãos dele, certamente ele estava cutucando seu cu, um lugar praticamente intocado. Ela insistiu:

- Não! Por favor... Nem o Tomás usa esse buraco aí. Eu... Eu só não me sinto bem...

- Eu faço devagar. Vou usar toda a minha paciência para te mostrar como pode ser prazeroso.

- Por favor, hoje não...

Ele se resignou, afinal, insistir poderia quebrar o clima. Segurou em sua cintura e passou a levantá-la e baixa-la com vontade, fazendo seu pau aparecer e sumir nas carnes da minha esposa, as batidas de seus corpos ecoando alto:

- Posso gozar na sua boca de novo? - Ele perguntou, arfando.

- Melhor não. Não é o melhor momento...

Entendi de imediato que a presença do marido, no caso eu, mesmo que ela não quisesse demonstrar, era um impeditivo inconsciente para que ela se liberasse plenamente. Talvez, fosse ainda algum resquício de sua criação, ou medo do que eu poderia pensar, mas fato é que ela parecia se limitar:

- Ajuda aí, Tomás! - Pediu o Jeremias.

- Amor, aproveite como quiser. Eu estou bem tranquilo. - Falei.

- Até demais! - Ela me retrucou: - Você dizia ter tesão nisso, mas já estou sendo comida aqui há um tempão e você continua aí... vestido. O que está acontecendo, amor? Não gostou?

Era verdade. Apesar de ser minha a fantasia, algo que eu cultivava há muito tempo, ali, vendo tudo acontecer, me causava um frenesi de sensações e sentimentos que, ao mesmo tempo em que me excitava, me broxava. Acho que eu entendi as limitações que a Bia estava se auto impondo: era algo inconsciente, algo que a gente não controlava. Foram segundos pensando naquilo, mas foi tempo suficiente para a Bia se desengatar do Jeremias e vir na minha direção, claramente preocupada:

- O que foi? Não gostou, né? Eu sabia que isso ia acontecer, Tomás. Eu te falei que isso não ia dar certo, mas você me ouviu? Nãããão! Quis só realizar essa sua fantasia tonta e... e... e agora!? O que a gente vai fazer? Como vai ser o nosso casamento daqui para frente? Você não está pensando em me largar, né? Tomás, eu te amo! Não faz isso comigo e...

Essa conversa ainda foi longe e só parou quando eu a beijei. Quando nossos lábios se separaram, tirei as minhas roupas e coloquei a mão dela sobre o meu pau, duro igual aço. Ela olhou para ele, para o Jeremias, para meus olhos e se ajoelhou à minha frente, começando um boquete como nunca havia me feito antes, muito mais safado, mais babado, mais intenso. Ela queria e estava me sugando como nunca havia feito antes. Olhei de relance para o Jeremias que nos olhava meio... inconformado ou chateado, afinal, sua transa havia sido interrompida pela Bia:

- Por que cês não vem para cá? - Ele chamou: - Assim, a gente brinca juntos.

- Os três!? - Perguntou, Luíza, quase engasgando com a própria saliva.

- É, ué. Por que não? Seu marido tá aí, cê também. É bom que todo mundo se diverte.

Bia me encarou e me deu a mão, puxando-me até a cama. A princípio, a ideia parecia interessante, excitante, mas foi subirmos na cama que me dei conta de que a concorrência era injusta, pois o meu pau, embora não fosse pequeno, parecia o de um adolescente perto da jeba do Jeremias, tanto que minha excitação começou a dar lugar a uma encanação, e a encanação a um broxamento. Bia me encarou perplexa; Jeremias, com um sorriso meio debochado; e eu não sabia para onde olhar. Resultado: broxei a transa de todos.

Saí do quarto arrasado, dizendo que eles podia aproveitar, só que a Bia veio atrás de mim. Jeremias ainda demorou um pouco, mas também surgiu atrás da gente. Por orientação dele, decidimos relaxar, beber alguma coisa e conversar, deixando que as coisas fluíssem normalmente. Eu tive a “brilhante” ideia de querer saber os detalhes das transas deles, pensando que isso poderia me excitar. Bem... Excitou bastante, mas a eles. Logo, notei que se procuravam com o olhar e ficou claro que eu estava sendo o empata foda. Combinei de deixá-los à vontade mais aquela noite, afinal, a Bia havia gostado dele, e lá se foram eles para o quarto. Vez ou outra, ela vinha atrás de mim, tentando me levar para lá, mas recusei em todas. Eles transaram até altas horas da madrugada.

Eu dormi no sofá aquela noite, afinal, ficar no quarto de hóspedes seria testemunhar em estéreo a trepada da minha esposa. Acordei com o sol batendo na cara e o cheiro de café vindo da cozinha. A Bia estava lá, de robe curto, fazendo ovos mexidos como se nada tivesse acontecido. O Jeremias já tinha ido embora. Ele disse que tinha "trabalho" para resolver, mas eu imaginava que era só para nos dar espaço. Ela me olhou de lado, com um sorriso meio culpado e, ao mesmo tempo, meio safado:

- Dormiu bem, amor? - Perguntou, servindo um prato para mim.

Eu peguei o garfo, mas minha mão tremia e eu não sabia por quê:

- Mais ou menos... E você? Pelo barulho que ouvi a noite toda, parece que também não, né?

Ela riu, leve, faceira, algo que me acertou o peito em cheio:

- Foi bom, melhor do que eu imaginava. Mas lembre-se que eu fiz isso por nós, né? Pela fantasia...

Eu forcei um sorriso quando ouvi o "por nós". Aquilo soava tão estranho... tão certo e errado ao mesmo tempo saindo da boca dela, mas não era o pior, tinha também um brilho nos olhos dela que eu sabia que não era por minha causa:

- Só não entendi por que você não curtiu com a gente... O que acontece? Você se dizia tão... a fim.

- Pois é... Nem eu entendo direito isso, amor. - Respondi, coçando a cabeça: - Sei lá... Acho que fiquei meio acanhado perto do Jeremias.

- Bobeira, né, amor! Sou sua esposa e daria toda atenção para você antes dele. Acho que você perdeu uma chance de realizar a sua fantasia.

- Mas eu realizei! De uma forma ou de outra, assisti você com ele, né?

Ela concordou com um meneio de cabeça e tentamos fazer daquele um dia normal em nossa rotina. Não deu certo. Pois logo começamos a transar como coelhos:

- Isso! Me fode assim, ó... - Dizia a Bia numa posição ensinada pelo Jeremias: - É gostoso, amor, experimenta.

E assim foi a semana inteira, com transas inesperadas, posições desconhecidas, outras conhecidas mas melhor exploradas, enfim, a gente transou como nos velhos tempos, somente eu e ela, sozinhos, pela casa toda. Ela vivia molhada e gemia alto para caralho, fazendo-me gozar forte quando ela contava as coisas que havia feito com o Jeremias, tentando repeti-las comigo.

Certo dia, voltei mais cedo do trabalho e a vi animada rabiscando um papel que eu nunca tinha visto antes, com a gaveta de panos de prato aberta. Dei um passo atrás e fiz um barulho. Ela veio saltitante me receber com beijos e abraços. Depois, num momento em que ela estava no quarto dobrando roupas, fui até a cozinha e abri a tal gaveta apenas para achar um calendário com três dias destacados em vermelho e ao lado, coraçõezinhos, pequenos pintos, e um escrito: “Feriado do sexo”. Eram justamente os seus dias férteis... Certamente ela estava preparando algo especial para nós. Ledo engano...

No primeiro desses dias, ela havia preparado um jantar, no mínimo, fora do comum: lasanha à bolonhesa, e isso para uma sexta-feira. Arrumou a mesa primorosamente para apenas duas pessoas, com dois pratos, duas taças, dois jogos de talheres... Fui tomar um banho animado, achando que seria naquela noite. Entretanto, assim que saí do banho, enquanto me arrumava, isso pouco antes das 20:00, Jeremias apareceu em nossa porta sem ser convidado, trazendo duas garrafas de vinho caro e um sorriso de quem sabe que vai comer:

- Olá, casal. Eu... estava passando aqui perto e pensei em dar uma passada, falar um oi...

- Com duas garrafas de vinho na mão!? - Perguntei, meio inconformado.

Bia pegou na minha mão, beijou o meu rosto e cochichou:

- Amor, é só o Jeremias, o SEU amigo, lembra? Não vamos fazer essa desfeita com ele, né?

- É, Tomás, o SEU amigo... - Ele resmungou, sorrindo de canto.

Jantamos e bebemos, e naturalmente logo o papo foi para o lado do sexo. Ele queria saber como estávamos indo e a Bia, animadíssima, disse que estava tudo “às mil maravilhas!” Ela contava que estávamos fazendo como eles haviam feito, o que me envergonhou um pouco, mas foram tantos os elogios que ela fez a minha performance, que acabei ficando feliz. Acabou que o clima esquentou e ela me pediu para transarmos os três juntos novamente. Eu não iria dar aquele vexame novamente, então propus de cada um transar com ela separadamente. Decidimos, eu e ele, quem seria o primeiro, no par ou ímpar e eu, claro, perdi. Eles foram para a nossa suíte, enquanto eu fiquei na sala, bebendo vinho e ouvindo os sons: gemidos abafados, gritinhos, a cama rangendo, como uma máquina mal engraxada, batendo ritmada na parede como um pistão. Demoraram mais do que eu esperava e apaguei. Fui acordado com um tapinha no ombro por um Jeremias suado:

- Sua vez, Tomás. Ela já tá amaciada, prontinha para você.

Olhei no celular e vi que eles haviam ficado lá por quase duas horas. Eu entrei e lá estava ela: deitada de barriga para cima, pernas abertas, respirando alto, a buceta inchada, meio aberta e vermelha, com porra escorrendo pelas coxas, com marcas de mãos e chupões por todo o corpo. O cheiro era forte, de sexo cru, de macho que havia marcado território. Meu pau endureceu na hora. Me despi e me joguei em cima dela, que pareceu ter acordado de um cochilo, mas não me recusou. Soquei tudo o que eu tinha dentro dela. Ela gemeu, mas era um gemido diferente do que eu estava acostumado, era mais... distante, como se o corpo estivesse ali comigo, mas a alma já voasse longe. Variamos algumas posições e durei pouco mais de meia hora, enchendo a sua buceta com o que eu tinha de leite. Depois, caí de lado, ofegante:

- Nossa, amor!? Foi bom demais! Gozei gostoso... - Ela murmurou.

Só que logo ela se levantou, dizendo que ia verificar se o Jeremias não gostaria de tomar um banho ou comer alguma coisa. Levantei-me algum tempo depois e fui atrás dela, só para encontrá-la sentada no colo dele, conversando animadamente, uma taça de vinho na mão. Ao me ver chegar, ela me informou que convidou o Jeremias para pernoitar até o dia seguinte, afinal, ele havia bebido bastante e não seria bom dirigir. Quando pensei em dizer algo, ela se adiantou:

- Mas, é claro, que ele ficará no quarto de hóspedes e nós em nossa suíte. Ele é só nosso convidado.

Eu acreditei. Mas, no meio da madrugada, acordo e nada de Bia ao meu lado. Levantei-me em silêncio e fui encontra-la transando com o Jeremias na sala de casa, em um silêncio quase absoluto, ele sentado no sofá e ela em seu colo, de frente, beijando-o como se fossem namorados. Voltei para o quarto sem saber o que fazer, mas a imagem era clara, eles não estavam apenas transando, estavam se entrosando, praticamente fazendo amor. Decidi interrompê-los, pois aquilo já estava passando dos limites. Acho que nem demorei tanto assim, mas quando voltei à sala, eles já haviam terminado. Ela estava sentada ainda sobre o seu colo, mas agora de lado, um braço ao redor de seu pescoço, conversando:

- Beatriz!? - Falei, um tom mais seco, meio ríspido.

- Ah! O-Oi, amor. Eu... Eu já estava indo para cama. É que eu... fiquei com sede e... acabei ficando aqui de papo com o Jê.

- Ah, sim... Mas... de madrugada!? - Resmunguei, encarando-a e não me contive: - E desde quando você precisa enfiar o pau dele na sua buceta para conversar?

Eles me encararam, ele surpreso, ela ainda mais. O Jeremias tentou ensaiar uma desculpa esfarrapada, de que eu havia sonhado, mas ela não, pois me conhecia bem demais. Depois de alguns segundos, ela falou:

- Poxa, amor... Também não é assim...

- Então, vocês não estavam transando? Você não estava sentada no colo dele, de frente para ele agora há pouco, trepando, se beijando? - Insisti.

Eles se entreolharam e ela suspirou. Levantou-se então do colo dele e veio na minha direção, colocando a mão no meu peito:

- Amor...

Só que o Jeremias se levantou e também veio, olhando diretamente nos meus olhos:

- Eu peço desculpas, Tomás, mas realmente a gente se encontrou sem querer e depois de tudo o que aconteceu, a gente já criou uma certa intimidade. Então, a gente pensou em dar umazinha. Daí como você estava dormindo, não quisemos te acordar. Foi só isso.

- Só isso!? Tá me dizendo que agora vai ser assim, bagunça dentro da minha própria casa e sem a minha concordância? É isso, dona Beatriz? - Retruquei.

- Não, não tem. - Ele insistiu: - Mas tem que aceitar que às vezes pode acontecer e isso não significa que ela te ame menos. Nada disso! Só estamos dando vazão a esse no lado que ela está descobrindo. - Mas mudou o tom logo em seguida: - Você me conhece melhor do que ninguém, Tomás. Sabe que eu gosto de transar, que sou praticamente um “profissional amador”. Então, acho que já imaginava que eu e a Bia poderíamos transar às vezes sem a sua presença ou ciência, não é mesmo?

Ele estava me chantageado com uma verdade que só eu conhecia, uma que poderia me causar um baita problema em meu casamento. Isso me chateou bastante, tanto que encerrei a conversa, negando com movimentos de cabeça e voltando para o meu quarto. Bia demorou um pouco a voltar, mas quando veio, se sentou ao meu lado e disse algo que me matou um pouco por dentro:

- O... Jeremias me convidou para eu conhecer o seu apartamento dele e... - Ela desviou o olhar e continuou: - Eu queria. Acho que é melhor assim, amor. Estou sentindo um clima estranho entre vocês e não quero que percam a sua amizade. Talvez assim você fique menos incomodado.

Era tudo o que eu não queria, perder a Bia de vista. Fui enfático:

- De forma alguma! Se quiserem se encontrar será aqui e quando eu estiver por perto. Você é minha esposa, Bia, e não admito que faça algo pelas minhas costas, entendeu? Só quero honestidade e transparência.

- Prometo!

Ela aceitou e assim começou o meu calvário. No sábado, Jeremias sequer foi para a sua casa, passando o dia na minha. Ela sempre que ia ter um momento com ele, me avisava, meio acanhada. Eles tentavam ser discretos ao máximo, diminuindo os gemidos, os barulhos, mas eu parecia muito mais atento e ouvia tudo. Não sei quantas vezes eles transaram, mas eu e ela, apenas uma, e só quando fomos dormir.

No domingo, quando eu pensei que tudo se repetiria, ela o mandou embora logo cedo, após o café da manhã, dizendo que queria aproveitar o seu maridinho. Jeremias não insistiu, se despedindo e indo.

Coincidentemente nos dois meses seguintes, sempre nos dias férteis da Bia, ele aparecia. Ele chegava no começo da noite, sempre trazendo alguma bebida e comida, e após algum papo, a sorteávamos. Fato é que, antes ou depois de mim, ele a comia por horas. Às vezes, eu espiava pelo buraco da janela, ou mesmo pela porta que agora seguia aberta, vendo ele a devorar devagar, beijando cada centímetro da sua pele branquinha dela, sussurrando coisas em seu ouvido que faziam ela rir e gemer ao mesmo tempo. Ele era paciente, como um lobo velho caçando.

Eu sempre dava o meu melhor para "começar” ou “terminar o serviço". Transava com ela como se ela fosse a última mulher do mundo, mesmo que estivesse escorrendo porra alheia. Aliás, foi no início do quarto mês que notei que eles, além de transarem sem camisinha, ela já o havia liberado para gozar dentro:

- Bia! E se você engravida?

- Risco zero, amor! O Jê usou um gel lubrificante com espermicida, para matar os bichinhos.

- E você acreditou nele? Está ficando louca!? Ele é praticamente um desconhecido, um estranho,Como assim, estranho? - Ela me interrompeu, surpresa: - Ele é seu amigo de infância, não é?

Calei-me, quase sendo pego em minha própria mentira. Aliás, foi ali que eu decidi que precisava contar para ela a verdade sobre o Jeremias, antes que ela descobrisse por outras formas.

Com o passar dos meses, comecei a notar que a Bia participava com menos entusiasmo dos nossos momentos de intimidade: os beijos eram mais curtos, os abraços menos apertados, os gemidos mais fracos, ela praticamente nem me procurava mais. "Só tô cansada, amor", dizia ela, e eu engolia seco, me convencendo que era normal.

Enquanto isso, seguíamos sem nenhuma gravidez. O teste dava e dava negativo. Vi a Bia chorar diversas vezes no banheiro, abraçada a mim:

- Vamos continuar tentando, amor. - Eu dizia, beijando a testa dela: -Vai dar certo.

Ela assentia, mas seus olhos já demonstravam a obviedade que eu não enxergava: ela estava se afastando de mim. Parecia que ela já havia descoberto algo que eu ainda não havia entendido.

Aí veio a mudança. Depois de três meses, a Bia começou a falar sobre a nossa intimidade para o Jeremias de uma forma que eu nunca imaginei que pudesse. Foi assim que ele descobriu sobre a nossa dificuldade de engravidar e ele então propôs uma ajuda diferenciada:

- É para maximizar as chances, Tomás. - Disse ele durante o café da manhã em minha casa.

A Bia corou, mas topou na hora, antes mesmo de falar comigo. Jeremias continuou:

- Sete dias corridos, Tomás: dois antes, os três férteis e dois depois. Assim, não tem erro. - Ele explicou, olhando para ela com uma intensidade que me deu um frio na espinha, antes de me encarar: - E eu sei que nos dias em que eu venho, você se desdobra. Então, acredito que as suas chances irão aumentar ainda mais.

- Não se vocês continuarem transando sem proteção e você gozando dentro, né, Jeremias!? - Falei, num tom hesitante.

Mas a Bia apertou minha mão:

- Amor, eu já disse que ele nos protege, não falei? Além do mais, é pela nossa família, amor. Você topa, né?

Eu já não sabia mais o que era certo ou errado. Eu vivia uma confusão sem tamanho. Topei. E assim virou rotina. Todo mês, por um ano inteiro, seria assim: uma semana inteira de inferno e paraíso misturados. O Jeremias se instalava na nossa casa durante aqueles sete dias como um visitante indesejado por mim, mas muito desejado por ela. Começou dormindo no quarto de hóspedes, mas logo foi dormir com a gente na nossa suíte e, por fim, após uma discussão qualquer por falta de espaço, Bia praticamente me enxotou da minha suíte:

- Os incomodados que se mudem, Tomás. - Disse ela.

Eu saí mesmo, chateado e inconformado com a forma com que ela falou comigo, mas, para a minha surpresa, logo ela veio atrás de mim e dormiu comigo, apenas comigo no quarto de hóspedes. Entretanto, no dia seguinte, ela tentou me convencer a voltar para a nossa suíte e como me mostrei relutante, ela retornou sozinha. Acabei deixando que eles lá ficassem, transformando-me eu no hóspede de minha própria casa.

Sempre que o Jeremias chegava na sua semana de ajuda, trazia malas cheias de roupas e "surpresas" para a Bia: lingeries sensuais e transparentes, óleos de massagem, até um vibrador que ele dizia ser "para aquecer". Eles transavam sempre que tinham tempo: de manhã, antes do café; no final da tarde; à noite, até altas horas, com a cama batendo na parede como um tambor de guerra.

Uma coisa que estranhei é que era praticamente impossível para ele ficar nessa rotina sem prejudicar seu trabalho. Foi quando ele nos contou que estava fazendo estágio num escritório de advocacia e que, por isso, conseguia conciliar os horários da sua “dupla jornada”.

Eu tentava me desdobrar com a Bia nos dias em que estava em casa e também nos outros. Pode parecer besteira, mas realmente quando ele estava lá, eu transava com muito mais vontade e gozava muito mais na Bia. Era algo inconsciente, como seu eu quisesse que o meu esperma vencesse o dele. Nos dias que ele não estava, eu fodia ela com tudo, e colei um calendário na parece, marcando datas para "reforçar". "Hoje é dia de Tomás", eu brincava e ela ria. Mas mesmo nesses dias, eu sentia o fantasma dele: a buceta dela agora seguia mais folgada, mais... acostumada. Ela gozava? Sim, e bastante, mas era como se ela me usasse para se preparar para os encontros com ele.

Teve um mês em que a gente foi para a praia de novo, só nós três. A Bia estava mais confiante, dançando na areia com o Jeremias enquanto eu bebia cerveja debaixo do guarda-sol como se eles fosse o casal. Naquela noite, na pousada, eu ouvi eles pela parede fina: ela rindo de piadas dele sobre os anos 80, gemendo quando transavam. Depois trocamos de parceiro apenas para eu cumprir a minha tabela.

No mês seguinte, ela surgiu com uma tatuagem estilizada na nádega: "P do J". Perguntei do que se tratava e ela rindo feito uma criança, respondeu tranquilamente:

- Putinha do Jeremias!

Fiquei horrorizado e tivemos uma baita discussão:

- Calma, amor. É só uma brincadeira, para apimentar.

- Você nunca fez isso nem para mim, Beatriz! Porra! E vai fazer para um amante!?

- Mas... você nunca me pediu. - Ela justificou, olhos arregalados: - Quer? Se quiser, eu faço. Que tal um “E do T”?

- “E do T”!? Mas que porra é “E do T”? - Perguntei, ainda inconformado.

- Esposinha do Tomás, ué!

A discussão escalou ainda mais, porque notei a diferença no tratamento para um e outro: para ele parecia algo mais como uma posse concedida; já para mim, parecia puro escárnio. Ao final, ela disse ter entendido a minha posição e que a brincadeira fora uma péssima ideia, principalmente por não ter sido combinado comigo. Ainda assim ela a usou o dia todo e o Jeremias, solícito como ele só, tentou tirá-la com a língua, várias vezes, inclusive na praia, na frente de todos, para meu desespero, mas para diversão da Bia.

Às vezes, eu me masturbava, espiando pelo buraco na janela, já havia desistido de assisti-los na porta, vendo aquelas cenas que me deixavam louco de tesão e ciúme. Ele a comia de todos os jeitos que eu conhecia e de outras que nem sei o nome.

Uma vez, novamente flagrei eles no sofá da sala, onde a gente assistia TV em família, ela quicando em seu colo debaixo de um cobertor e nesse dia quase “deu ruim”, pois eu estava acompanhado do meu sogro que só não entrou comigo, porque havia esquecido um embrulho e voltara ao carro para busca-lo:

- SUMAM DAQUI VOCÊS DOIS! - Gritei, tentando não me alterar muito: - Seu pai foi buscar um embrulho no carro e já tá chegando.

Eles saíram correndo e rindo, cada qual se escondendo em seu respectivo quarto. Ela surgiu pouco depois, com as bochechas vermelhas e os cabelos levemente desgrenhados para receber o pai. Jeremias algum tempo depois, quando eu o apresentei como um “grande amigo” de infância ao meu sogro, dizendo que ele estava passando uns dias em casa.

Em outra oportunidade, havíamos bebido mais do que o normal, os três, e o Jeremias me chamou para assistir de perto:

- Vem junto, corninho. Vou te ensinar como se faz.

Meio a contragosto, mas muito embalado pela bebida, sentei numa cadeira no canto, o pau estranhamente duro na mão, vendo ele a arrombar devagar, centímetro a centímetro, até ela chorar de prazer:

- Olha para o seu marido e diz quem eu sou. - Ele mandou.

- Ué!? Você é... o Jê, não é? - Ela disse, rindo.

- Não, safada! Você sabe do que eu estou falando. Nós já combinamos isso, lembra?

- Para Jê. Não precisa, né!?

- Fala! - Ele cravou o pau bem fundo e parou, fazendo ela dar um longo gemido de dor e prazer: - Fala ou eu paro e nunca mais volto para te foder!

Ela então falou baixinho algo que eu não entendi direito, algo parecido com um “acho”, sem me encarar. Jeremias insistiu, agora fazendo um rabo de cavalo com seus cabelos e puxando sua cabeça de forma que ela me encarasse nos olhos:

- Fala direito, alto, olhando bem nos olhos dele. Vai!

E deu uma nova estocada na buceta dela, fazendo ela se contorcer de prazer, gemendo de olhos fechados. Quando ela os abriu, após nova insistência dele, ela tinha um semblante constrangido, mas ainda assim falou:

- O Jê é o meu amante, amor. Meu aman...

- Não foi assim que te treinei. Fala direito! - Ele a interrompeu, chacoalhando a cabeça dela.

Eu estava assombrado, o pau murcho e ela me olhou novamente, com algo no olhar que eu não consegui desvendar:

- O Jê é o meu macho, Tomás. Meu... macho!

- Isso, putinha gostosa. É assim mesmo que gosto de ver. - Disse o Jeremias e ainda segurando sua cabeça de modo que ela me encarasse, falou: - Agora, pede! Pede para mim o que o seu marido não tem condição de te dar.

- Aiiiii... Me fode, Jê! Mete esse pauzão gostoso em mim. Vai! Me arregaça, seu puto.

Ele voltou a bombar nela, fazendo ela arfar e fechar os olhos, e insistiu:

- Só isso!?

Ela arfava, perdida em sensações, mas ele parecia querer mais:

- Só isso, putinha?

- Me dáfilho! Goza em mim e me engravida, JeremiAHHHHHHHHHH!

Ela começou a tremer e ele acelerou ainda mais suas estocadas até começar a urrar, certamente gozando, enchendo a bucetinha dela de porra. Só então me toquei que não vi o Jeremias colocar creme espermicida algum antes de transarem. Perguntei a respeito, mas fui sumariamente ignorado pelos dois.

Bia estava de olhos fechados, ainda concentrada e aproveitando aquele momento. Estava com a boca meio aberta, respirando pesadamente, ainda tomada por uma volúpia sem igual. Quando abriu os olhos, me encarou novamente com aqueles lindos olhos azuis e gemeu:

- Ai. Desculpa, amor... mas é tão bom...

Eu não entendia mais nada do que acontecia em minha vida. Acabei gozando no chão, sem tocar o meu pênis que estava meia bomba, mais para mole eu diria. Jeremias gargalhou e a Bia riu, mais comedida, mas riu também, como se estivesse satisfeita em proporcionar “prazer” para todos. Aquilo me quebrou um pouco mais.

No dia seguinte, quando Jeremias foi embora, voltei a cobrá-la sobre a falta de uso do tal espermicida, mas ela me disse que não lembrava e vendo que estávamos prestes a discutir, ela se insinuou para mim da forma mais safada possível, e eu a fodi com raiva, marcando ela como minha. Ela gozou de verdade daquela vez, e forte, apertando as unhas nas minhas costas, enquanto gritava:

- Tomás, eu te amOHHHHHHHHH!

Os meses seguintes foram mais do mesmo. O Jeremias trouxe um presente: uma correntinha dourada com um pingente em forma de coração, mas negro. Ela usava o tempo todo. Além disso, passou a ser comum eu chegar em casa e encontrar flores, sinal de que ele havia estado ali. Eles começaram a sair sozinhos. Diziam que era um passeio simples, um café, mas ela voltava horas depois, com o cabelo levemente desgrenhado e o cheiro dele impregnado em seu corpo e quando eu perguntava a respeito, ela dizia ser coisa da minha cabeça.

Comecei a trabalhar mais para não pirar, fazia horas extras como quem respira, mas à noite, quando eu voltava, se ele estava lá, minha tormenta vinha forte. Ela cozinhava para nós e ele a agradecia, com a mão na coxa dela debaixo da mesa. Ela sorria para mim, mas o toque era para ele.

Não me lembro se no oitavo, nono ou décimo mês... Enfim, a rotina estava enraizada. Eu mal piscava pros outros dias; minha cabeça estava nos sete dias dele. Eu tentava engravidá-la como um louco, achando que isso a faria se voltar para a nossa família. Eu a fodia de manhã cedo, antes do trabalho, ou à noite. Mas senti que ela estava mudando: os beijos eram mais castos, os gemidos mais baixos. O "Tô com sono " virou desculpa frequente. Ainda assim, eu persistia, enchendo ela com o que tinha, rezando para o teste dar positivo.

No mês seguinte, o início do meu fim foi sutil. Durante os sete dias, tudo igual: gemidos altos, risadas ecoando pela casa. Mas depois, quando o Jeremias ia embora, eu a puxava para a cama. Ela vinha por obrigação, sem o fogo de antes. Eu deitava em cima dela, beijando o pescoço, apertando os peitos firmes:

- O que foi, Bia? Não quer fazer amor comigo? - Perguntei, meu pau sem saber se endurecia ou amolecia contra a coxa dela.

Ela abriu as pernas, mas o corpo estava rígido:

- Tá bom, amor. Vai. - Disse num tom matriarcal, sem tesão algum.

Eu entrei, socando devagar, esperando o gemido que sempre vinha. Nada! Ela mordia o lábio e olhava para o teto como se estivesse cumprindo uma tarefa. Gozei rápido, frustrado, e rolei para o lado:

- O que tá acontecendo? - Perguntei, virando para ela.

- Nada... só tô cansada. É o trabalho, os dias com o Jeremias... Sei lá! Acho que tudo tem me deixado meio exausta, sabe?

Nos dias seguintes, aquilo se transformou numa virou rotina bizarra: sexo por obrigação. Ela participava o mínimo, virando de lado depois, fingindo dormir. Passei a trocar o sexo por masturbação, imaginando os velhos tempos, mas o ciúme crescia como um tumor. "É só uma fase", eu tentava me convencer. "Quando engravidar, ela vai se voltar para a família e tudo vai melhorar!"

Como nada é ruim que não possa piorar, o mês seguinte chegou. Ela começou a cancelar nossas noites. "Dor de cabeça", "Cansada do trabalho". Suas aulas estavam puxadas, com as crianças da escola, mas eu via o celular dela piscando com mensagens que não eram do trabalho, afinal, corações, emojis de fogo e outros certamente não viriam da distinta diretora, uma senhora de quase 60 anos.

Uma vez, peguei ela no banheiro, se maquiando para um "passeio" com o Jeremias fora dos 7 dias combinados:

- É só um jantar, amor. - Ela disse.

Voltou às duas da manhã, cheirando a vinho e a colônia masculina. Eu a confrontei na cama, depois de uma transa meia-boca onde ela nem gozou:

- Porra, Bia, o que tá acontecendo? Você não me quer mais?

Ela suspirou, virando para mim:

- Claro que quero, Tomás. É só... complicado. A gente tá tentando tanto, e nada. E o Jeremias... ele me faz sentir viva, sabe? É diferente... Mas você é o meu marido e eu te amo.

Aquelas palavras deviam me acalmar, mas só me deixavam mais vazio. Só que elas me fizeram pensar em algo: realmente ela não engravidava, nem de mim, nem do Jeremias, e isso era estranho. Procurei um médico e após fazer alguns exames, recebi a minha sentença de morte: eu era estéril, com uma contagem quase zerada de espermatozoides. Não tive coragem de contar à Bia de imediato, mas eu o faria, num momento futuro. Talvez a gente pudesse até adotar uma criança, se ela quisesse. Sempre há uma possibilidade.

Mas foi no mês seguinte, o décimo primeiro, que tudo implodiu. Foi numa noite pós sete dias. O Jeremias tinha ido embora de manhã, deixando a casa fedendo a sexo e suor. Eu cheguei do trabalho mais cedo, animado com uma bonificação que havia recebido, louco para ter a "minha vez". Passei numa loja e comprei um conjunto com uma correntinha dourada e dois brincos, ambas com uma gotinha transparente, bem delicada e simples, talvez ela trocasse aquela do Jeremias que já usava há tempo demais. Eu a encontrei no sofá, rolando o celular com um sorriso bobo nos lábios:

- Ei, gatinha... - Falei, sentando ao seu lado e lhe dando um beijo no ombro: - Que tal se a gente...

Ela se afastou de mim num pulo, como se a própria lepra a tivesse tocado, mas logo me encarou com algo no olhar que me deu um calafrio:

- Tomás, não hoje. Tô destruída...

- Destruída? De quê? Aconteceu alguma coisa?

- Não, não... Nada! É que o... Jeremias...

- Ah, qual é, Bia? Ele tem te comido há dias e eu até aliviei, mas hoje que ele não está, nem um beijo eu ganho?

Acho que o tom saiu mais azedo do que eu queria. Ela largou o celular, olhos faiscando:

- Ah, qual é, né!? Você começou isso. Você me jogou nos braços dele e agora reclama? Eu faço isso por você, pela sua fantasia doida! Se não aguenta, fala logo e a gente para com essa merda toda!

- Por mim!? Bia, você tá viciada nele! Pode até tentar, mas não me engana. Eu vejo como você olha para ele, como ri das piadas ruins dele. E comigo? Parece uma porra de uma obrigação!

Ela se levantou, robe caindo um pouco, revelando a marca vermelha na coxa - mordida dele, fresca:

- Viciada!? Não! Sim... Talvez eu esteja, sim! Ele me fode como um homem de verdade, não como um maridinho inseguro que precisa de um negão para se valer. Você quer um filho? Então para de me cobrar! Ou melhor: deixa o Jeremias fazer o trabalho sujo! Garanto que ele me engravida se quiser...

As palavras me acertaram como um soco. Eu gritei de volta, coisas que não lembro direito, coisas abomináveis, sobre traição, sobre o casamento, sobre como ela tinha mudado. Ela pegou uma vaso de planta, mas o jogou ao chão. Eu tirei o embrulhinho com o presente da minha pasta e fiz o mesmo, atirando-o aos seus pés. Ela se surpreendeu e me encarou, boquiaberta, mas nada disse. Então se ajoelhou e pegou o embrulho, os ombros caídos, um semblante de pura dor. Abriu e lágrimas rolaram por sua face. Ela só me disse um “desculpa”, mas, no fim, decidiu dormir na casa de seus pais. Eu tive minhas dúvidas se ela havia realmente ido para lá, mas se eu ligasse para confirmar, eu poderia gerar desconfianças em sua família.

Ela só voltou dois dias depois, usando os brincos e a correntinha de gotinhas, mas nesta colocou o pingente de coração negro do Jeremias. Naquela semana não rolou sexo. Nem na próxima. Nem no mês todo. A gente mal se falava. Eu vivia no sofá, ela no quarto, e o Jeremias... bem, ele sumiu por dois meses, mas logo voltou para os seus “sete dias”, como se nada tivesse acontecido, ou talvez não soubesse, não sei... Ela sempre o recebia com um abraço apertado e beijos na porta. Ele me cumprimentava protocolarmente e trocava meia dúzia de palavras, antes dela o arrastar para o quarto. De lá, eu ouvia os gemidos, mas agora só restava raiva, sem tesão algum.

O que eu não sabia, e isso me mata até hoje de lembrar, era que ela já sabia da minha esterilidade. Não sei quando ou como, mas ela achou o laudo dos meus exames, só que não compartilhou comigo sua decepção.

A gente estava cada vez mais distante. Agora, embora conversássemos quase normalmente, a nossa intimidade se reduzira a simples selinhos de bom trabalho ou quando retornávamos ao final do dia. Só depois eu soube o porquê: ela estava transando com ele quase todo dia. Sim: os sete praticamente se transformara em vinte e três! Eles passaram a se encontrar durante o dia para rapidinhas no apartamento dele, no carro, no parque à noite, até no banheiro da escola fizeram uma vez. Não bastasse isso, os finais de semana eram recheados de desculpas para ela sair: "Reunião na escola", "Compras com a Karina", “Uma prima me chamou”.

Eu já desconfiava, mas só tive certeza mesmo quando, num dia em que ela estava tomando banho, esqueceu o celular desbloqueado e vi a troca de mensagens entre eles. Ela nem mesmo se dava ao trabalho de apagar as mensagens e ali havia várias, de dias, semanas. Quando eu a confrontei, ela suspirou e confessou uma versão “editada”:

- Foi um beijo, Tomás, coisa rápida, só para manter a chama.

Mas ela estava mentindo! Ela estava se entregando totalmente a ele, não apenas o corpo, mas também seu coração, talvez sua alma.

O inferno dos meses doze a dezoito foram particularmente ruins para mim. Eu emagreci mais de 5kg, mal dormia, trabalhava dobrado para não pensar, não presenciar, não confrontar. A gente transava praticamente zero, às vezes, uma vez a cada mês ou mais. Ela dormia virada para o outro lado da cama e eu mais no sofá do que na cama, rolando sites de corno como se buscasse onde eu havia errado para tentar consertar, ou talvez fosse para me punir, lendo histórias de maridos abandonados.

O Jeremias virava um paxá nos sete dias oficiais em que pernoitava em casa: fazia churrasco na varanda (ele era fera no espeto, com temperos que aprendera na Bahia, de onde viera jovem), assistia novela com ela no colo, namoravam na minha frente como se eu não existisse. Aliás, eu era um mero coadjuvante da minha própria tragédia, na minha própria casa.

No décimo quinto mês se não me engano, ela fez uma tatuagem permanente na banda direita da bunda: um coração vermelho vazado com a maldita combinação “P do J” dentro. Quando vi, chorei de raiva e ela também, mas ainda me consolou com palavras que certamente ela própria não acreditava:

- É só para lembrar da aventura, Tomás.

Mesmo com lágrimas nos olhos, eu a toquei, e alisei com força, não querendo acreditar que fosse permanente. Ela me olhava e soluçava. Ao final, como se fosse algo de importância menor, perguntou:

- Linda, né?

Não respondi. Apenas me levantei e engoli o choro na garganta. Ela seguiu tentando me convencer de que não era nada e que ainda faria uma para mim, com aquela maldita combinação “E do T” que, naquela altura, mais me parecia um “Ex do Tomás”.

No décimo sexto mês, eles viajaram sozinhos para um fim de semana prolongado em Ubatuba, dizendo que queriam relaxar da “tensão”. Eu fiquei em casa, bebendo sozinho, imaginando eles fazendo amor na praia à noite, sob as estrelas. Seu pai ligou no sábado querendo falar com ela e eu, justo eu, tive que mentir, dizendo que ela havia viajado para fazer um curso do trabalho. Voltaram grudados, ela com um bronzeado novo e um brilho nos olhos que me doía ver:

- Tomás, fomos numa praia de nudismo. - Ela disse, sorrindo.

- Sério? Que bom para vocês...

- É uma delícia. A gente precisa ir um dia.

Até me surpreendi com ela fazendo planos comigo ainda, mas nada respondi. Preferi deixar o silêncio e a minha cara de decepção falarem por mim:

- E... eu... é... eu realizei uma fantasia minha...

Ela ficou em silêncio me encarando enquanto eu próprio a encarava, surpreso e curioso. Ela se sentou à mesa, o Jeremias ao seu lado e falou:

- Fizemos um amigo lá, amor, um moreno lindo de olhos verdes, alto, forte, e... - Ela olhou para o Jeremias, que a encarava com ciúme no olhar, mas ela apenas sorriu meio encabulada e voltou a me encarar: - Eu dei para ele também. Transamos juntos, os três. Fizemos até uma DP, sabia?

Ela sorria parecendo não entender o quanto aquilo me machucava. Ela agora não se entregava a ele apenas, mas a tudo o que ele se propunha obter dela. Não quis participar daquele teatro de horrores e simplesmente me levantei da mesa:

- Amor, você pode participar também. Se você quiser a gente poderia... nós três... hoje... - Ela disse, levantando-se mas sem sair do lado do Jeremias.

Eu a encarei, mas sabia que discutir não levaria a nada. Apenas peguei a chave do meu carro e fui para um hotelzinho fuleiro na beira da rodovia. Fiquei três dias lá, apenas comendo, remoendo e dormindo a base de remédios. Eu apenas existia. As ligações e as mensagens se amontoavam, mas as ignorei todas: não atendi, não li, não respondi.

Quando retornei, na segunda-feira, eu estava destruído. Ela estava verdadeiramente nervosa, olhos inchados, meio vermelhos. Jeremias estava ao seu lado, fingindo estar nervoso também. Fui sincero:

- Não quero falar sobre o que aconteceu. Só me deixem em paz.

Não sei o que aconteceu, mas nossa vida voltou a uma certa “normalidade”. Bia se mostrava muito mais presente, mais participativa, até mais carinhosa, embora o nosso sexo continuasse escasso.

No mês seguinte, ele a levou a um show de samba no centro, vestida num vestido vermelho colado que eu nem sabia que ela tinha. Não fui. Recusei-me a ser o corno que presenciaria os dois dançarem colados para o deleite de todo o clube. Ela postou uma foto no Instagram, encostada num balcão, nada demais se não fosse um negão enorme ao seu lado. Depois ela postou outra, dele e dela abraçados com a legenda "Noite perfeita ❤️", mas apagou logo depois, certamente por medo de que alguém a visse, mas se eu vi, outros também poderiam. Pior foi o comentário dele na postagem "Minha musa".

Fiz questão de deixar o meu celular desbloqueado com o print daquele absurdo para que ela visse que eu vi. Ela viu e só me encarou entristecida, mas sem ter o que dizer, deu de ombros e foi para o quarto. Talvez tenha sido melhor assim.

No décimo sétimo mês, ela começou a ousar ainda mais nas roupas, usando só as que ele dava, curtas, insinuantes, lingeries caras, saltos altos. Em casa, andava nua quando ele estava. Uma vez, durante os seus “sete dias”, ele me pediu para buscar uma cerveja na cozinha enquanto estávamos todos na sala. Não sei por que, mas eu fui. Quando voltei, os peguei transando no sofá: ela de quatro, ele socando por trás, a tatuagem tremendo em sua bunda:

- Desculpa, Tomás, mas esse filme deixou a gente meio... tarados... - Ela falou, entre gemidos, sem parar.

Gozaram juntos, a porra dele saindo de sua buceta e se espalhando pelo tecido do sofá, do meu sofá! Eles se levantaram e foram para o quarto. Ela ainda voltou querendo limpar a bagunça, mas eu já estava fazendo isso, afinal, era ali que eu dormiria. Ela me assistiu em silêncio por segundos, nua, suada, a porra ainda escorrendo e depois foi para o quarto. Nessa noite eles não transaram, mas ela chorou horrores. Acho que algo nela estava morrendo também.

No décimo oitavo mês, veio a notícia que abalaria o mundo de vez:

- Positivo, amor! Vamos ter um bebê! - Ela falou com lágrimas nos olhos e um sorriso enorme na boca.

Eu a abracei, chorando também, mas não de alívio e sim por saber que agora seria o fim de tudo. Estranhamente, naquele dia, ela pediu para marcarmos um jantar de comemoração com o Jeremias, porque precisávamos ter uma "conversa séria", os três. Imaginei que ela, sem saber de minha condição, estivesse pensando em, enfim, descartar o Jeremias. Que inocente eu era...

O Jeremias chegou com flores, vinho e um charuto cubano fedorento. Sentou-se na cabeceira da mesa como se fosse o patriarca. Quando soube da gravidez, afogou o charuto no copo de cerveja e nos parabenizou:

- Parabéns, família! - Disse, erguendo a taça de vinho e encostando no copo de suco da Bia: - Fico muito feliz por vocês.

Meu estômago revirou. A Bia apertou minha mão debaixo da mesa, mas ela estava fria, nervosa. Então, veio a facada:

- Tomás... - Ela começou, voz tremendo: - Eu... Eu te amo. Sempre vou te amar, mas... as... as coisas mudaram. Esses meses com o Jeremias... não foi só sexo. A gente... se apaixonou.

Aturdido, olhei para ela, depois para ele, que tentava manter uma expressão séria, solene, quase paternal:

- Apaixonou!? Bia, mas que papo é esse? Isso é loucura! A gente... A gente... Era só uma fantasia! Como você pode?

Ela baixou os olhos, envergonhada:

- No começo, era, mas... Ah, Tomás, não te explicar. Ele... Ele me faz rir, cuida de mim e o sexo... - Ela se calou, talvez com receio de me machucar ainda mais, como se pudesse: - Eu... Eu não aguento mais fingir.

- Cuidar de você... - Desdenhei: - E eu não cuido de você? Eu trabalho feito um burro para te dar uma vida legal e é ele que cuida de você?

- Não é só o dinheiro. É o carinho, afeto, amor...

- E eu nunca te dei isso?

- Sim! Claro que sim! E é por isso que é tão difícil, eu amo os dois.

Eu balançava minha cabeça negativamente, lágrimas escorriam de meus olhos, mas eram de raiva, de mim, deles, de tudo o que havíamos feito. Ela continuou:

- Eu sei que você me ama. Eu sei, eu sinto, mas amor não é tudo. Eu... quero mais. Quero mais paixão na minha vida, entende? Eu quero isso para o bebê: quero uma família de verdade.

O Jeremias pigarreou, inclinando o corpo levemente para a frente:

- Tomás, eu sei que não era nada disso que havíamos combinado, mas... aconteceu. Cara, a Bia é especial! Eu já tenho quase cinquenta e nunca tive uma mulher assim. Não é só o corpo, porque ela é linda demais, mas a alma dela é algo que ilumina, é pura demais. E eu me deixei levar, me envolvi. Lamento, mas não dá para voltar atrás.

- Você é um safado de carteirinha, Jeremias, isso sim! Já contou para ela do nosso combinado? - Gritei, batendo a mão na mesa e me levantando, decidido a fodê-lo também tanto quanto ele estava me fodendo: - Bia, ele nunca foi meu amigo. Eu conheci ele na internet e foi ele que bolou o plano para te foder. Eu errei, eu sei, mas ele é só um canalha que está mentindo.

- Eu sei... - Ela resmungou.

- Você sabe!?

- Sim. Ele já me contou isso há um tempo. - Ela suspirou e então me encarou, com um semblante que só posso definir como sendo de decepção: - E você? Nunca mentiu para mim, Tomás? Não está mentindo nesse exato momento?

Gelei e me sentei novamente, encarando seus lindos olhos azuis. Pisquei algumas vezes em silêncio:

- Do que você está falando?

- Dos seus exames...

Recostei-me na cadeira, branco igual neve, tão gelado quanto. Ela começou a esfregar a minha mão, achando que eu estivesse a beira de um ataque. Mas me recuperei, puxei a minha mão e perguntei:

- Há quanto tempo você sabe?

- Há algum tempo...

Ela encarou o Jeremias por um instante em silêncio. Então me olhou nos olhos e pegou a minha mão novamente:

- O importante não são os nossos erros, Tomás. O que passou, passou!

Só quero que você sabia que não houve armação dele, ou minha. Foi algo que aconteceu. O bebê é dele, eu sei. Aliás, nós sabemos já que você não pode, né?

Baixei os meus olhos. Eu me sentia como se flutuasse num limbo. Não sentia nada, nem raiva, nem decepção, tristeza, alegria, simplesmente nada! A Bia acariciava a minha mão, mas era uma sensação tão distante que eu nem me dava conta:

- Mas... eu já conversei com o Jê. Se você quiser, pode ser o pai no papel. Sei que é um sonho seu e a gente aceitaria isso. Poderíamos combinar as visitas, guarda, mas...

Eu ri uma risada amarga e fiquei tão surpreso que, ao puxar a minha mão dela, me desequilibrei e caí da cadeira:

- Visitas? Guarda!? Sério isso!? - Resmunguei, os olhos carregados de lágrimas: - Se o filho é dele, ele que assuma! Vou assumir porra nenhuma de vocês!

O Jeremias assentiu, com uma calma que me deu vontade de lhe socar a cara:

- Eu cuido dela, Tomás. A gente vai morar no meu apê, mas você será sempre bem-vindo. E ó, a gente tem uma proposta. Não queremos te deixar na rua. Você pode vir morar com a gente, tipo um trisal de verdade. Ela vai ser minha mulher, mas você continuar sendo o marido para todo mundo: quando a gente sair, vocês podem ficar de braços dados, sentados lado a lado, mas sem abusar, hein?

Ele deu uma risada, como se contasse uma de suas piadas horríveis. Não ri, nem mesmo a Beatriz que o encarou meio zangada. Ele continuou:

- Mas, claro, você ajudaria aqui nas despesas e a cuidar da casa e do bebê. E de vez em quando, quem sabe, você poderia até participar. Lembra como gozou assistindo? Pode ser assim que...

Bia corou e o encarou inconformada. Mas depois olhou para mim e assentiu devagar:

- Seria justo, Tomás. Você nos uniu. Agora, poderia continuar com a gente.

Eu olhava para eles, a mão dele agora sobre a dela, ambas sobre a mesa sem mais mistério, sem nenhuma ocultação. A nossa aliança ainda brilhava em seu dedo, mas agora a tatuagem em sua bunda parecia ter muito mais valor do que ela, gritando a quem ela pertencia:

- Vocês só podem estar loucos! - Falei, rangendo os dentes: - Mas querem saber? Vocês se merecem. Espero mesmo que sejam muito felizes...

Levantei-me e saí da mesa, sentando-me no sofá da sala. Eles sabiam que a partir dali, qualquer tentativa de conversar poderia descambar em discussão, talvez até mesmo uma agressão. Então, eles saíram, talvez até mesmo para comemorar a gravidez. Para mim, restou apenas o silêncio e a morbidez de um sentimento que ainda tentava sobreviver no meu peito. Tudo ali me lembrava ela e uma ideia rapidamente me passou pela cabeça: acabar com tudo. Talvez assim eles sentissem um pouco da dor que eu também sentia.

Eu também saí de casa e andei a esmo pelas ruas escuras da cidade, uma chuva fina caindo, enquanto eu pensava na merda toda. Voltei de madrugada e para a minha surpresa, a encontrei dormindo sozinha em nossa suíte. Deitei do meu lado da cama e toquei a barriga dela na esperança de sentir algo:

- Eu não consigo, Bia. - Cochichei para o nada: - Nem por você, nem pelo bebê, nem por ninguém, porque isso me mataria devagar.

Ela se mexeu na cama, apenas murmurando um nome: "Tomás". E eu chorei em silêncio, sabendo que o corno, embora eterno, ainda tinha um lugar em seu coração.

Eu não conseguiria mais olhar para a Bia sem sentir um vazio que parecia engolir meu peito. O Jeremias tinha tomado o meu lugar. Mas algo dentro de mim, talvez um resquício de orgulho, talvez de raiva, talvez um fiapo de amor-próprio, gritava que eu não podia continuar assim. Eu não mendigaria migalhas de afeto enquanto eles construíam uma vida em cima das minhas ruínas.

Naquela noite, deitado ao lado dela, decidi que precisava sair do buraco. Não seria fácil, mas eu não podia me deixar morrer aos poucos. O Tomás que conheci na faculdade, aquele que conquistou a Bia com risadas e sonhos de uma vida juntos, ainda estava em algum lugar dentro de mim e eu precisava encontrá-lo, mas, para isso, eu teria que abdicar de meu maior sonho: a minha própria família.

Na manhã seguinte, levantei antes do sol nascer. A Bia ainda dormia, o rosto sereno, como se o mundo não estivesse desmoronando ao nosso redor. Preparei um café forte, sentei na cozinha e comecei a escrever um bilhete. As palavras saíam tortas, carregadas de dor, mas também com uma clareza que eu não tive em meses:

“Bia,

Eu te amei com tudo que tinha. Talvez tenha sido esse o meu erro: amar tanto que esqueci de amar um pouco a mim mesmo.

Você escolheu o Jeremias e eu não te culpo. Você encontrou algo que eu não te dei. Talvez eu até pudesse, mas não enxerguei a tempo e isso acabou com a gente.

Não vou ficar assistindo você viver seu sonho enquanto eu me apago. Vou embora. Não porque te odeio, mas porque preciso me salvar. Desejo que você seja feliz. Desejo mesmo, de verdade, mas não posso ser parte disso. Não dessa forma.

O bebê não é meu e não é justo com ele, eu fingir que sou o pai que vocês querem, enquanto o próprio pai está ao seu lado.

Cuide-se. Quem sabe, um dia a gente se encontra de novo, sem rancor.

Tomás.”

Dobrei o papel, deixei sobre a mesa da cozinha e peguei duas malas. Coloquei todas as roupas que encontrei na área de serviço, meu laptop, alguns livros, enfim, tudo o que eu consegui reunir sem fazer alarde, além do pouco de dignidade que me restava. Antes de sair, olhei para a nossa cama uma última vez. A Bia ainda dormia, a minha correntinha com o pingente preto brilhando no pescoço. Fechei a porta com cuidado, como se quisesse não acordar o passado, e saí.

Dirigi até o hotel simples na marginal, onde já tinha ficado antes, quando precisei de espaço para respirar. Passei os primeiros dias em um torpor, alternando entre chorar, beber e tentar entender onde eu tinha errado. Mas, no fundo, sabia que culpar a mim mesmo não me levaria a lugar algum. O que aconteceu com a Bia e o Jeremias havia transcendido a fantasia, era sobre escolhas, sobre o que cada um de nós busca na vida, e eu precisava descobrir o que eu queria buscar.

Tive um estalo e liguei para um amigo de infância, o Marcos, que morava em Florianópolis. Ele era havia feito faculdade comigo, mas tinha montado uma pequena consultoria que estava crescendo. Talvez ele pudesse me ajudar:

- Vem para cá, caraio! - Ele disse: - Aqui tem praia, sol, e sempre há chance para recomeçar.

Não pensei duas vezes. Fui para lá. Peguei o que restava da minha poupança, aluguei uma quitinete modesta e comecei a trabalhar com ele. O ar salgado do mar parecia sempre desinfetar algo em mim, como se cada onda dessalgasse um pedaço da minha dor.

No começo, eu ainda pensava muito em Bia, até sonhava com ela, com. Eu via aqueles olhos azuis em toda mulher que cruzava o meu caminho e pior, ouvia o som dos gemidos dela com o Jeremias onde quer que eu estivesse. Mas, aos poucos, comecei a preencher os dias com coisas novas, minhas mesmo, apenas para mim: voltei a malhar, algo que abandonei quando o casamento virou rotina; inscrevi-me em aulas de surfe e apesar de tomar caldo atrás de caldo, a adrenalina de estar na água me fazia sentir vivo. Conheci pessoas novas, amigos e amigas do Marcos, fiz os meus próprios, uma galera que não sabia nada do meu passado e não me olhava com pena.

Um dia, enquanto tomava uma cerveja gelada na praia com o Marcos, ele me perguntou:

- E aí, maluco, tá pronto para voltar para o jogo?

- Qual é, meu!? Que história é essa?

- Tem uma amiga minha que tá afinzona de te conhecer melhor...

- Há! Qual é?

- É sério, maluco! Topa?

Eu ri, mas a pergunta ficou ecoando. Eu não estava pronto, não ainda. Mas, pela primeira vez em meses, senti que poderia estar. Aliás, saber que eu havia despertado o interesse de alguém me fez um bem danado. Eu ainda estava vivo e a vida me chamava.

Seis meses depois, já estava mais leve. Ganhei músculos, o cabelo cresceu um pouco e o bronzeado me dava um ar mais despojado. Foi quando conheci Laura, a irmã da tal amiga do Marcos, uma bióloga que trabalhava com conservação marinha. Ela era o oposto da Bia: cabelo cacheado e bagunçado, pele morena do sol, olhos pretos como jabuticabas e um sorriso que parecia iluminar tudo sem esforço. Tinha nada de certinha, mas também não era de joguinhos. Era direta, autêntica, e me olhava como se eu fosse alguém interessante.

Começamos a sair. Ela me contava sobre tartarugas marinhas, eu falava sobre números e planilhas. Ríamos das nossas diferenças, e, aos poucos, fomos gostando um do outro, aliás, a gente. Não sei se era paixão, mas certamente não era o amor febril que senti pela Bia. Era algo bem mais calmo, mais sólido. Quando finalmente transamos, foi diferente, não havia fantasias malucas, só nós dois, sem pressa, sem comparações. Ela me abraçava forte, como se quisesse me segurar no presente e, pela primeira vez, eu não pensei no Jeremias, nem na Bia, nem na porra da tatuagem na bunda dela.

Um ano depois, eu e a Laura já estávamos morando juntos. A consultoria do Marcos cresceu e eu me tornei sócio. Comprei uma prancha de surfe decente e até consegui ficar de pé em algumas ondas, mas seguia tomando caldo direto. Minha vida não era perfeita, mas agora era minha. Eu não era mais o corno, o marido traído, o idiota que abriu a porta para o caos: eu era o Tomás, e era o que me bastava.

Soube por amigos em comum que, logo após minha saída, Bia e Jeremias se mudaram para o apartamento dele, no centro da cidade. Foi um bá-fá-fá só! Virou o comentário e durou por meses. Todos a olhavam com desprezo. Ainda assim, ela parecia feliz com sua gravidez. Lembro que, pouco depois da minha mudança cheguei a ver seu perfil numa rede social, com fotos do barrigão e legendas sobre “nova fase” e “amor verdadeiro”. O Jeremias, sempre ao lado, com aquele sorriso confiante, como se tivesse conquistado o mundo.

Mas a verdade é que o Jeremias não era o príncipe encantado que a Bia imaginava. Ele era um caçador, o tal “profissional amador”, como ele mesmo dizia. Só que caçadores não ficam presos a uma única presa...

Nos primeiros meses, tudo parecia perfeito: ele a mimava com flores, jantares, sexo intenso que a fazia se sentir no topo do mundo. Ela deixou o emprego na escola, dizendo que queria se dedicar à maternidade, mas, na real, eu sabia que o Jeremias devia ter pedido que ela estivesse disponível para ele, além de que não devia estar sendo fácil aguentar a pressão dos pais de seus alunos.

O bebê nasceu, uma menina, com a pele clara, olhos grandes e esverdeados. A Bia a batizou de Maya, e, por um tempo, a vida parecia um conto de fadas. O Jeremias era atencioso, postava fotos com a filha, levava a Bia para passeios. Mas, aos poucos, as rachaduras começaram a aparecer. Ele voltava tarde do estágio e o conhecendo, eu já imaginava o que estava fazendo.

Entretanto, meses depois, eles se separaram. Bia saiu do apartamento do Jeremias e retornou para a casa de seus pais, com a Maya a tiracolo. Eles a receberam de braços abertos, mas conhecendo-os, imagino bem o olhar de reprovação da minha sogra, o típico “eu te avisei” que Bia tanto odiava. Digo mais, imagino o tanto que ela tentava ser forte, agora pela filha, mas também o tanto que se arrependia por ter jogado o nosso casamento fora.

Certa vez, ela me mandou uma mensagem:

“Tomás, sei que não mereço, mas queria te pedir desculpas. Você sempre esteve certo. Eu fui uma idiota.”

Eu li, mas não respondi. Não por raiva, mas porque já tinha seguido em frente. A Laura estava ao meu lado, rindo feito uma boba, enquanto tentava salvar um bife que queimou na churrasqueira da varanda. Eu não precisava da Bia para ser feliz. Entretanto, mulher é um bicho estranho, e Laura sacou que algo me incomodava. Fui sincero:

- A Bia... Ela me mandou uma mensagem.

- Ah! A Bia... - Laura resmungou, mordendo um pedaço de carne, olhando para o chão: - E o que ela queria?

Peguei meu celular e digitei a senha na frente da Laura: a data do nosso primeiro beijo. Ela abriu um lindo sorriso. Abri o aplicativo de mensagem e coloquei o aparelho nas mãos dela:

- Leia. Minha vida só tem sentido com você. Não quero que nada nos atrapalhe, nem a menor desconfiança.

Ela sorriu novamente e leu. Não havia nenhum outra mensagem antes daquela, porque eu já havia apagado todas. Ela me encarou:

- Por que não responde?

- Não queria mexer nisso novamente.

- Você ainda sente algo por ela?

- Você diz... tipo... amor, paixão? É isso?

- Qualquer coisa, ué!

Fiquei calado por um segundo, mas a pergunta era realmente boa. Eu sentia uma espécie de saudade da Bia, mas não da minha esposa. Era algo mais como um parente distante, um querer bem. Disse isso para a Laura e ela concluiu:

- Acho que você deveria responder. Ela só está pedindo o seu perdão. Talvez ela queira isso para seguir adiante.

Achei bem maduro da parte da Laura e a beijei, com gratidão. Escrevi uma mensagem e mostrei para ela, que pegou o meu celular e a alterou, mostrando para mim. Concordei e enviei:

“Bia, a vida é feita de escolhas. Você escolheu o seu caminho e agora eu trilho o meu. Não restou mágoa alguma. Fica em paz e seja feliz, você e sua filha.”

Ela recebeu, visualizou, mas não me respondeu.

Dois anos depois, eu estava em São Paulo a trabalho, fechando um contrato para a consultoria de uma grande empresa. Resolvemos fazer uma pausa e então fui até um café com um dos sócios da empresa. Era uma tarde de sexta, o lugar estava cheio. Sentamo-nos numa mesa de canto, fizemos nossos pedidos e enquanto conversávamos, notei que ele sorriu e me cutucou:

- Ou é o meu dia de sorte, ou é o seu. Olha ali.

Olhei para o meu lado e, por ironia do destino, lá estava ela, Bia, sentada numa mesa de canto, me olhando com olhos arregalados e um sorriso nos lábios. Uma linda menininha moreninha, certamente sua filha que agora devia ter seus quase três anos, brincava com um brinquedo no chão. Ela estava mais magra, o cabelo preso num coque frouxo, com a mesma correntinha dourada, mas sem o pingente preto. Seus olhos azuis ainda impressionavam, mas já não brilhavam como antes:

- Minha ex... - Resmunguei para o Adalberto, o sócio da empresa.

- Eita! Quer sair correndo? Ainda dá tempo. - Disse e riu.

Rimos. Até eu achei graça. A Bia seguia me olhando, mas parecia paralisada. Levantei a mão em um aceno tímido e ela sorriu mais ainda, um sorriso cansado, mas sincero. Fui até sua mesa:

- Como você tá, Tomás? - Ela perguntou, a voz suave, quase receosa.

- Tô bem, Bia, vivendo, né? Tô trabalhando numa consultoria agora.

- Que bom! E... cê tá com alguém?

Eu podia mentir, mas para quê? Se a verdade liberta, talvez ela precisasse da verdade para seguir em frente:

- Sim. Laura. Já tem algum tempo...

Ela desviou o seu olhar para a Maya que desenhava com giz de cera num livro no chão:

- Pois é. E eu tô sozinha... - Resmungou e voltou a me encarar: - O Jeremias... bem... ele sumiu.

- Aconteceu alguma coisa?

- A... - Ela discretamente indicou a filha com o dedo e virou o rosto meio de lado, como se não quisesse que a filha ouvisse: - Não é dele.

- Como é que é!?

- É! Isso! Acho que é daquele outro lá da praia. Lembra daquela viagem em que eu me envolvi com um carinha de lá? Então...

- Caralho, Bia! - Sentei-me surpreso com os caminhos da vida: - Mas... Porra, cara! Essa, eu não podia imaginar.

Ficamos em silêncio por um instante, a Maya totalmente alheia a nossa conversa. Ela continuou, os olhos marejados:

- Eu fui uma idiota, Tomás. Você não merecia nada do que aconteceu. Desculpa por tudo.

Toquei a mão dela por um instante, um gesto de paz:

- Tá no passado, Bia. Você tá bem, a Maya tá bem. É o que importa. Não guardo nenhuma mágoa. Fica tranquila.

Ela sorriu, enxugando uma lágrima:

- Você tá bem, Tomás. Fico feliz.

Quando me levantei para ir embora, ela me abraçou de surpresa.

- Desculpa por tudo mesmo. - Sussurrou.

Eu assenti, sem dizer nada. Não havia mais nada a dizer. Abaixei-me para me despedir da Maya que esticou sua mãozinha para um cumprimento solene. Apertei com gentileza aquela mão suave e notei um pequeno sinal de nascimento, uma manchinha meio arredondada. Saí do café com um peso a menos no peito, sabendo que, apesar de tudo, eu tinha encontrado meu caminho. A Bia, bem, ela estava encontrando o dela, mas agora com a Maya como sua bússola.

Só que ao chegar no hotel e me despir para um banho, lembrei-me de algo que me fez ter um calafrio. A mancha no dorso da mão da Maya era praticamente idêntica a uma que eu tenho no antebraço. Olhei para a minha e só pude dizer uma coisa:

- Não é possível.

Liguei para a Laura no mesmo instante que, por ser bióloga, tinha muito mais entendimento dessas questões do que eu. Contei da minha desconfiança e ela me disse ser impossível, já que eu era estéril. Então, a lembrei que eu não era totalmente estéril, tinha uma contagem quase zerada, o que inviabilizava, mas não impedia uma gravidez:

- Tá! Mas... seria quase como acertar na Megasena?

- Ué! Vai que dá?

Ela ficou calada por um instante e eu já imaginei o que se passava em sua cabeça. Tratei de tranquilizá-la:

- Você é a minha mulher e será para o resto da minha vida. Nada irá mudar e tenho tanta certeza disso que liguei para você me ajudar a pensar.

- Liga para a Bia. Faça o exame. Tire essa dúvida do seu coração. A gente... se decide depois.

Desligamos, mas eu não tinha que decidir nada depois. Peguei o primeiro avião para Floripa e fui atrás da Laura que estava em seu trabalho naquele momento. Eu já tinha um certo “acesso” ao seu local de trabalho e entrei até encontra-la, toma-la em meus braços e beijá-la como poucas vezes fiz:

- Não tenho que decidir nada depois. Eu já tomei a minha decisão. Só posso torcer para que seja a mesma que a sua.

Ela sorriu e me beijou novamente, enquanto uma tartaruguinha ou jabuti, ou sei lá o quê, me beliscava o sapato.

Liguei naquela mesma noite para a Bia, da sala de jantar da minha casa com a Laura ao meu lado. Contei das minhas desconfianças e ela praticamente repetiu tudo o que a Laura havia me falado. Inclusive, a própria Laura participou da conversa e a convenceu que as chances eram reduzidas, mas existentes. Um mês depois fizemos o exame e 15 dias depois saiu o resultado: a Maya, apesar de todas as chances contra, era minha filha. Tive uma vontade imensa de esfregar o laudo na cara do Jeremias, só para mostrar que tamanho não era documento, mas de que adiantaria?

Hoje, sou o feliz pai de uma jovem e ativa menininha que hora diz querer ser contadora, hora professora, mas acho mesmo que será bióloga, pois parecer adorar as tais tartaruguinhas ou jabuti, nunca vou saber diferenciar. Tento ser o mais presente possível em sua vida e nos falamos quase todo o dia. Inclusive com a Bia a relação também tem se estreitado, muito embora eu sempre faça questão da Laura estar junto quando tenho que encontrá-la. É uma família perfeita? Talvez não. Mas para a gente é essa imperfeição que torna tudo muito mais gostoso de viver.

OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO SÃO FICTÍCIOS E OS FATOS MENCIONADOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL SÃO MERA COINCIDÊNCIA.

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Foto de perfil de Mark da NandaMark da NandaContos: 314Seguidores: 688Seguindo: 28Mensagem Apenas alguém fascinado pela arte literária e apaixonado pela vida, suas possibilidades e surpresas. Liberal ou não, seja bem vindo. Comentários? Tragam! Mas o respeito deverá pautar sempre a conduta de todos, leitores, autores, comentaristas e visitantes. Forte abraço.

Comentários

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Nossa, que história! Uma montanha russa de sentimentos, aquele tipo de história que mexe com o leitor. Obrigado por mais essa história, Mark!

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