✧ Vontade Indomada ✧
(Lucas)
A fúria da clareira ainda era uma febre sob minha pele, uma brasa incandescente que o orvalho da noite não conseguiu apagar. O abraço, aquele ato desesperado de posse e proteção, fora apenas um paliativo, um curativo frágil sobre uma ferida gangrenada. A vulnerabilidade de Tiago era um espelho que refletia minhas próprias falhas, um abismo em minha alma que eu precisava preencher com a crueldade metódica de um ferreiro forjando o aço. Encontrei-o na manhã seguinte junto ao riacho, a água sussurrando segredos sobre as pedras lisas, e a decisão se cristalizou em minha mente com a frieza do ferro. Ele não seria mais a presa. Eu o transformaria na própria arma.
“Levante-se”, ordenei, e minha voz soou estranha no ar da manhã, desprovida de qualquer calor, como pedras se chocando. “Seu treinamento começa agora. Você vai aprender a matar, Tiago. Vai aprender a transformar seu medo em cinzas na boca de seus inimigos, assim como eu fui forçado a fazer.”
A túnica, pesada com o suor de uma noite de pesadelos e com a umidade que já subia do solo, tornou-se um sudário insuportável. Arranquei-a num gesto brusco e a joguei de lado, sentindo o ar fresco da floresta beijar minha pele quente. Era um gesto puramente prático, para me livrar de um estorvo, mas uma parte primitiva de mim estava intensamente ciente de seu olhar; da forma como seus olhos se arregalaram por uma fração de segundo, um vislumbre de algo que não era medo, antes de se fixarem, obedientes e perturbados, no chão.
(Tiago)
As palavras de Lucas eram um zumbido distante, uma ressonância abafada pelo martelar do sangue em meus ouvidos. Minha mente se recusava a se prender à lição, ao medo do dia anterior, à humilhação. Estava cativa, acorrentada à imagem imponente à minha frente.
Sem a camisa, Lucas parecia menos um homem e mais uma criatura forjada em pedra e fúria, um golem de vingança animado por uma vontade implacável. O sol nascente traçava os contornos de seus músculos peitorais e abdominais, cada fibra definida por uma vida de disciplina e violência. Cicatrizes, finas e brancas, serpenteavam por seu torso como hieróglifos de dor, cada uma contando uma história que eu ardia por decifrar. Gotículas de suor brilhavam em sua pele bronzeada, escorrendo lentamente por seu peito num caminho tortuoso, e eu me vi seguindo a trilha de uma delas, hipnotizado, até que se perdesse na linha escura de suas calças. Cada contração de seus músculos quando ele se movia era uma distração visceral, um poema brutal escrito em carne e suor que roubava o ar de meus pulmões e me deixava tonto.
(Lucas)
Começamos com a magia, a arte que deveria ser a extensão de sua vontade. Forcei-o a invocar escudos de energia, golpeando-os repetidamente com o lado chato da minha espada. O som metálico contra o chiado da magia preenchia o ar. Eu o ataquei até seus braços tremerem sob o esforço e o suor escorrer por seu rosto em rios, cegando-o. Depois, passei para o ataque.
“Concentre a energia na ponta dos seus dedos”, eu instruía, circulando ao seu redor como um lobo estudando sua presa. “Imagine-a como uma agulha de gelo, fina e letal. Agora, atire.”
Ele tentava, mas seus feitiços eram dispersos, fracos, lufadas de vento inofensivas que mal agitavam as folhas a seus pés.
“Você está pensando demais!”, rosnei, frustrado, e bati com a palma da mão aberta em suas costas.
O som seco ecoou, e eu o senti estremecer sob meu toque.
“A magia não responde à lógica, responde à vontade pura! Lembre-se daqueles homens! Lembre-se do som da risada deles, do cheiro de bebida barata, da bota vindo em direção ao seu rosto! Use esse ódio! Use esse pavor!”
Eu podia sentir sua frustração crescendo, uma nuvem escura e impotente que o envolvia, deixando-o ainda mais desconcentrado e trêmulo. Era um círculo vicioso, e a minha paciência, sempre um recurso escasso, estava se esgotando.
(Tiago)
Quando a magia falhou por completo, tornando-se apenas faíscas patéticas que morriam em minhas mãos, ele empurrou uma adaga em minha palma. O aço frio era um choque contra minha pele febril.
“Se sua magia te abandonar, você terá o aço. Ele nunca falha.”
Antes que eu pudesse protestar, ele se posicionou atrás de mim, seu corpo pressionado contra o meu. O calor que emanava dele era avassalador, quase febril, um forno vivo envolvendo minhas costas. Senti o contorno rígido de seu peito contra minhas omoplatas, seus braços me envolvendo para guiar minha postura, uma gaiola de músculos e intenção. Sua respiração era um sopro quente em minha nuca, eriçando os pelos finos ali, e o cheiro dele — uma mistura crua de suor, couro e o ozônio residual da magia — inundou meus sentidos, entorpecendo-me.
Minha mão, segurando o cabo de couro da adaga, tremia incontrolavelmente. A lâmina parecia pesada, estranha, uma profanação em minhas mãos, mas não era o peso da arma que me paralisava. Era o peso esmagador do corpo dele contra o meu, a proximidade sufocante que desfazia cada pensamento coerente que eu desesperadamente tentava formar.
(Lucas)
Eu senti o tremor que percorria o corpo dele como se fosse o meu, a maneira como sua respiração ficou presa na garganta num suspiro silencioso. Ele não estava prestando atenção. Sua distração era tão palpável quanto o calor que irradiava de sua pele, uma corrente elétrica no ar entre nós. E eu soube, com uma certeza visceral e sombria, a causa exata dessa distração. Uma faísca perversa, uma crueldade deliciosa, acendeu-se nas profundezas de mim. Lentamente, de propósito, eu flexionei meus músculos peitorais, sentindo-os se contraírem e pressionarem com mais força contra as costas dele. Vi, pelo canto do olho, seus cílios tremerem e seus olhos se fecharem por um instante, uma rendição em miniatura.
“A adaga é uma extensão do seu corpo, Tiago”, eu disse, a voz baixa e rouca, um sussurro de lâmina e seda, propositalmente perto de seu ouvido sensível. “Mas seu corpo está tenso como uma corda de arco prestes a se romper. Você não pode lutar assim.”
A desculpa era frágil, um véu de seda sobre uma intenção de ferro.
“Você precisa relaxar”, continuei, a palavra deslizando como veneno e promessa.
Soltei seu braço que segurava a adaga e, com uma lentidão torturante, peguei sua outra mão. A pele dele era macia, quente, intocada. A minha era um mapa de calos e cicatrizes. Girei-o para que ficasse de frente para mim e, ignorando seu suspiro engasgado e o pânico em seus olhos, guiei a mão dele para a frente, pressionando sua palma aberta contra o meu peito suado, diretamente sobre meu coração.
“Sinta aqui”, sussurrei, meus olhos fixos nos dele. “Sinta meus batimentos. O controle. É isso que você precisa encontrar em si mesmo.”
A mentira era tão descarada que beirava a verdade. Eu queria que ele sentisse meu controle, sim, mas também queria desesperadamente que sentisse o momento exato em que eu estava prestes a perdê-lo completamente.
(Tiago)
O choque me atravessou como um raio, um relâmpago que partiu do ponto de contato e incendiou cada nervo. A pele quente e úmida de Lucas contra a minha palma enviou uma onda de calor por todo o meu corpo, fazendo minhas entranhas se contraírem. Sob meus dedos, senti a rocha sólida de seu músculo peitoral e, mais fundo, a batida poderosa e constante de seu coração. “Tum-tum”. “Tum-tum”. Era um tambor de guerra, firme e implacável, um ritmo que desmentia a calma perigosa em seu rosto. Naquele instante, o pretexto ridículo do “relaxamento” se desfez em fumaça. Isso não era um treinamento. Era um jogo. Um jogo perigoso cujas regras eu não conhecia, mas que eu, de repente, com uma clareza assustadora, ansiava por jogar. E por vencer.
Minha hesitação se desfez, substituída por uma ousadia que brotou das profundezas do meu ser, alimentada pelo desejo e pelo desafio em seus olhos. Meus dedos, antes rígidos de choque, se curvaram, explorando a textura de sua pele, a curva do músculo, o caminho de uma cicatriz áspera perto de sua clavícula. Meu corpo se moveu por conta própria, impulsionado por uma necessidade que eu mal compreendia. Soltei a adaga, que caiu na grama com um baque surdo e esquecido, e usei minha outra mão para espelhar a primeira, ambas as palmas agora espalmadas em seu peito. Seus olhos azuis queimavam, selvagens, uma tempestade contida, mas ele não me parou.
Encorajado por seu silêncio, deslizei minhas mãos por seu torso, aprendendo a geografia de seu poder, mapeando cada cume e vale. Então, em um impulso que misturava adoração e desafio, eu me rendi. Olhando diretamente para seu rosto tenso, eu me inclinei e pressionei meus lábios contra o centro de seu esterno. O gosto dele era sal, ferro e poder. Viciante. Minha língua traçou um caminho diagonal para a esquerda, encontrando o pequeno nódulo de seu mamilo. Eu o circulei com a ponta da língua, uma provocação deliberada, antes de puxá-lo suavemente com meus lábios, saboreando o som agudo e engasgado que ele soltou, um som de puro choque e prazer.
(Lucas)
A gaiola frágil de meu autocontrole não se quebrou; ela se estilhaçou, explodindo em mil pedaços de vidro. Uma onda de prazer tão intensa que doía me percorreu, um raio branco que fez minhas pernas fraquejarem. Minha mente, sempre um turbilhão de táticas, fúria e penitência, ficou completamente em branco. Havia apenas a sensação. A umidade e o calor de sua boca em minha pele, a sucção suave se tornando mais exigente, mais ousada.
Então, sua mão livre se ergueu e bateu em meu outro músculo peitoral. Não foi um golpe para machucar, mas o estalo agudo da palma contra a pele suada ecoou na clareira silenciosa como um trovão, um ato de marcação, de posse. Um gemido rouco e gutural foi arrancado do fundo da minha garganta, escapando sem permissão. Era uma sinfonia de sensações contraditórias — a ardência aguda do tapa, a humilhação profunda de minha reação audível, o prazer avassalador que ameaçava me derrubar.
“Ah… Tiago…”, seu próprio nome em meus lábios era uma prece e uma maldição, uma rendição completa.
(Tiago)
O som que ele fez, aquele gemido quebrado e rendido, foi como querosene jogado no fogo que me consumia. Naquele momento, ele era meu. Não o Guardião impiedoso, não o guerreiro lendário, mas apenas Lucas, desfeito sob meu toque, vulnerável sob minha boca. Minha possessividade, um reflexo sombrio e faminto da dele, emergiu com uma força que me surpreendeu. Segurei seus ombros largos com ambas as mãos para me firmar e foquei minha atenção no mamilo em minha boca. Eu o chupei com força, com um fervor que beirava a violência, usando meus dentes para arranhar levemente a pele sensível ao redor, querendo deixá-lo marcado.
Lucas arqueou as costas, um espasmo violento sacudindo seu corpo, e seus dedos se enterraram em meus cabelos, não para me afastar, mas para me pressionar ainda mais contra si. Seus gemidos se tornaram mais altos, mais desesperados, uma melodia de agonia e êxtase que era a música mais doce que eu já ouvira. Senti seu corpo inteiro se contrair, um tremor sísmico o sacudindo dos pés à cabeça. O cheiro denso e almiscarado de sua liberação encheu o ar no momento exato em que um espasmo final o atravessou e ele gozou, gritando meu nome na quietude da floresta, um som que era ao mesmo tempo uma quebra e uma bênção.
Continua…