O Acerto de Contas
Claire estava encolhida em sua cadeira favorita, com as mãos segurando uma taça de vinho da qual não havia tomado um gole. As palavras da academia ainda ecoavam em sua cabeça, recusando-se a se acreditar.
"Emily e Jonathan amantes."
Só de pensar nisso, seu estômago embrulhou. Não era possível. Era?
Em frente a ela, recostada no sofá como se fosse a dona do lugar, estava sua melhor amiga, Vivian DeLuca. Vivian fora seu porto seguro por anos, sua confidente para tudo, desde mudanças de carreira a escolhas questionáveis de moda, passando pela farsa absoluta que era seu casamento. Ela era direta, perversamente afiada e tinha uma habilidade quase psíquica para cortar as besteiras de Claire.
"Tudo bem, querida. O que exatamente te fez ficar com essa cara de que você acabou de descobrir que o Papai Noel não existe?"
Claire soltou um suspiro. "Ouvi uma coisa na academia hoje. Sobre o Jonathan."
Vivian franziu a testa. "Conte-me."
Claire hesitou antes de forçar as palavras a saírem. "Que ele e Emily estavam tendo um caso quando o acidente ocorreu."
Vivian não reagiu a princípio. Simplesmente tomou outro gole de vinho antes de expirar pelo nariz. "Hã."
"Hã?" Claire piscou. "É só isso que você tem a dizer?"
Vivian deu de ombros. "Quer dizer, as pessoas adoram falar. Mas você..." Ela apontou um dedo para Claire. "Me diga você. Você viu alguma coisa?"
Claire balançou a cabeça imediatamente. "Não. Nunca."
Vivian assentiu, como se esperasse aquela resposta. "Tá. Mensagens estranhas? Ligações de madrugada?"
"Não sei." Claire franziu a testa. "Jonathan é médico. Oncologista. Ele está sempre recebendo ligações."
Vivian inclinou a cabeça. "Tudo bem. E a Emily? Ela disse alguma coisa? Deu alguma dica?"
"Não", admitiu Claire. "Ela e eu não éramos exatamente próximas, mas conversávamos em eventos do hospital e socialmente. Eu teria notado alguma coisa... não é?"
Vivian a encarou longamente. "Talvez sim. Talvez não. As pessoas veem só o que querem ver."
Claire suspirou. "Simplesmente não faz sentido."
"Não é?", Vivian refletiu. "Jonathan foi a muitos congressos, não me surpreende que outro médico tenha ido junto — então talvez..." Ela deu de ombros. "Duas pessoas atraentes, ambas casadas, ambas com muitas oportunidades..."
Claire sentiu um nó no estômago. "Eu nunca vi nada."
Vivian lançou-lhe um olhar penetrante. "Você já olhou?"
A pergunta a fez parar. Será que sim? Ela confiara em Jonathan sem questionar. Nunca pensara em verificar o celular dele, nunca suspeitara que ele faria algo tão... imprudente.
Vivian percebeu que a compreensão se formava e suspirou. "Olha, querida. Talvez seja verdade. Talvez não. Mas vamos ser realistas por um segundo: se for verdade, o que muda para você?"
Claire hesitou. "Tudo."
Vivian bufou. "É mesmo? Você não estava exatamente feliz no casamento antes de hoje."
Claire estremeceu, mas não conseguiu argumentar.
Vivian continuou, enumerando seus pontos. "Você e Jonathan mal se falam, a menos que seja sobre trabalho ou obrigações sociais. O sexo..."
Claire gemeu. "Por favor, não."
Vivian deu um sorriso irônico. "Encerro meu caso." Então, ela se acalmou. "O maior problema aqui é o marido da Emily."
Claire engoliu em seco. "David, sim, eu sei."
"Ele a amava, Claire", Vivian disse suavemente. "E se ela estivesse transando com seu marido..." Ela parou de falar, deixando o peso da situação se acomodar. "Será que ele já não sabe?"
Claire levou a mão à testa. "Eu nem sei como ele lidaria com isso."
Vivian suspirou. "Muito mal. Obviamente." Então, depois de um instante, seus lábios se curvaram num sorriso irônico. "Mas sejamos realistas: Emily não teria trocado David pelo Jonathan. Nenhuma mulher em sã consciência trocaria."
Claire abriu a boca para argumentar, mas... não conseguiu.
Vivian arqueou a sobrancelha. "Até você consegue ver isso."
Claire se mexeu desconfortavelmente, e o sorriso irônico de Vivian se alargou.
"Ah-ha", ela provocou. "Não me diga que você estava pensando nele."
Claire zombou. "Isso é ridículo."
Vivian sorriu. "É mesmo?"
Claire expirou lentamente, rolando a haste da taça de vinho entre os dedos. "Jonathan e eu convidamos David para jantar há duas semanas."
Os olhos de Vivian se aguçaram de curiosidade enquanto ela girava seu próprio vinho. "E então?"
Claire hesitou, mas o sorriso malicioso de Vivian a fez suspirar. "E... ele é impossível de ignorar."
Vivian riu baixinho. "Eu podia ter te contado isso."
Claire lançou-lhe um olhar. "É mais do que apenas o tamanho dele. Ele ocupa espaço – espaço de verdade –, mas não de uma forma que seja desagradável. É como se ele soubesse que é a maior presença no ambiente, e nem precisasse se esforçar." Ela tomou um gole de vinho. "Eu gosto de estar no controle, Viv. Você sabe disso. Mas David..." Ela balançou a cabeça. "Ele me faz sentir como se eu não tivesse controle, e eu odeio isso."
Vivian sorriu. "Você odeia?"
O silêncio de Claire se estendeu um pouco demais.
Vivian riu. "Ah, isso é uma delícia. Então, o que o Jonathan achou?"
Claire zombou. "Ele fez beicinho, mas não disse nada. Você sabe como ele é."
Vivian assentiu. "E você? Você o viu depois."
Claire se remexeu na cadeira. "Entrei na academia dele."
Vivian engasgou com o vinho. "Espera aí. Você?" Ela pousou o copo, com os olhos arregalados. "Claire Hart entrando de bom grado numa academia? O inferno deve ter congelado."
Claire bufou. "Eu faço ioga."
Vivian fez um gesto de desdém. "Isso é só respirar com passos ao lado. Academia, né? Pesos? Máquinas? Suor?"
Claire franziu os lábios. "É uma academia legal."
Vivian deu um sorriso irônico. "É. E tenho certeza de que é por isso que você está lá. Não porque você é fascinada por força e musculos."
Claire franziu a testa. "David é tudo o que eu odeio em um homem."
Vivian arqueou uma sobrancelha. "Por quê."
Claire expirou bruscamente. "Ele é arrogante, musculoso, completamente irresistível, e aquele sorrisinho maldito dele."
Vivian assentiu, com uma expressão nada convencida. "Mmhmm."
Claire insistiu. "Ele não se submete. Ele não tenta impressionar. Ele simplesmente... é." Ela soltou um gemido de frustração. "E eu odeio isso, me irrita."
Vivian sorriu. "Acho que o que você odeia é que, pela primeira vez, você não é quem deixa alguém nervoso. Você não é quem detém todo o poder."
O maxilar de Claire se apertou.
O sorriso de Vivian aumentou. "Talvez seja a ordem natural das coisas."
Claire estreitou os olhos. "O que isso quer dizer?"
Vivian se inclinou, a voz provocante, mas cheia de verdade. "Que você, Senhorita, controladora como é, se sentiria atraída por alguém como David Williams? Faz todo o sentido. Você não respeita homens que caem aos seus pés. Mas um homem que se mantém firme e não se dobra?" Ela deu de ombros. "Isso é uma coisa completamente diferente."
Claire sentiu um nó no estômago. Ela odiava o quão bem Vivian conseguia enxergar através dela. Mas... será que ela estava errada?
Dias depois.
Claire se obrigou a manter uma expressão neutra, mas seu pulso acelerou quando as palavras de Mia se estabeleceram. David termina seus exercícios na sauna. A sauna mista. A sauna tradicional.
Ela cruzou os braços e lançou um olhar ponderado a treinadora. "E como exatamente você sabe disso?"
Mia deu um sorriso irônico. "Porque quando você vê alguém como Dave lá, você nunca mais esquece."
Claire expirou lentamente, tentando ignorar a onda de calor que lhe percorria o estômago. "Tenho certeza."
O sorriso de Mia ficou malicioso. "Ah, querida, você não tem ideia."
Claire se virou, mais para se recompor do que qualquer outra coisa. "Obrigada pela informação."
Mia riu baixinho. "Sempre que precisar." Então, enquanto se afastava, acrescentou por cima do ombro: "Me avise se precisar de mais informações sobre os hábitos do Dave."
Claire revirou os olhos, mas não conseguiu conter a curiosidade que corria por suas veias.
Ao voltar para a academia, ela avistou David imediatamente. Ele estava em um dos suportes de agachamento, recolocando os pesos, com uma camada de suor brilhando nos braços. Mas não foi apenas o tamanho dele que chamou sua atenção — foi a maneira como as pessoas se movimentavam ao seu redor.
Não necessariamente em direção a ele. Eles não interromperam. Eles não pressionaram.
Eles só... queriam ser vistos por ele.
Um aceno sutil. Um olhar de reconhecimento.
Ela observou um rapaz mais jovem no supino terminar uma série e olhar discretamente para David, como se esperasse aprovação. Uma mulher se espreguiçando ali perto chamou sua atenção e sorriu, e quando ele lhe deu um breve aceno de cabeça, ela praticamente sorriu radiante. Até mesmo um dos homens mais velhos, alguém claramente experiente, endireitou-se um pouco quando David passou e murmurou um "Bom dia" casual, ao qual David respondeu com um simples e firme aceno de cabeça.
Foi fascinante.
Sem conversa. Sem grandes gestos. Apenas reconhecimento. E isso significava tudo para eles.
E pela primeira vez, Claire se perguntou se David percebia o efeito que tinha nas pessoas.
O olhar dela o percorreu, observando como a regata cinza se ajustava ao seu corpo largo, como seus trapézios e ombros pareciam ainda mais poderosos sem a camiseta de sempre. Ele fora feito para isso: força, comando, presença.
Então, pela primeira vez, ela notou a tatuagem.
Estava na omoplata esquerda, parcialmente oculta enquanto ele se movia. Ela não conseguia distinguir bem o que era, mas estava lá — uma marca escura contra a pele bronzeada.
Claire franziu a testa ligeiramente. Um detalhe que ela já havia deixado passar.
Um momento depois, David girou os ombros, pegou sua toalha e foi em direção aos fundos. Em direção aos vestiários. Em direção à sauna. Claire expirou lentamente, sua mente repassando as palavras de Mia.
Sauna tradicional. Sem roupas. Apenas toalhas. Seu estômago se contraiu. Pela primeira vez desde que entrara naquela academia, ela se perguntou o que seria necessário para tirar David Williams de sua presença controlada.
O coração de Claire batia forte contra as costelas ao entrar na sauna, e a onda de calor úmido a envolveu imediatamente como uma segunda pele. O aroma de cedro e vapor enchia o ar, pesado e inebriante.
Ela hesitou logo depois da porta, com o pulso acelerado, observando o espaço através da densa névoa. Havia duas outras mulheres lá dentro, sentadas casualmente nos bancos mais baixos, enroladas em suas toalhas, a conversa baixa quase inaudível por causa do suave chiado da água batendo nas pedras quentes.
E então lá estava ele. Sentado no banco de cima, com a toalha pendurada na cintura, o corpo forte relaxado contra a parede de madeira. A cabeça inclinada para trás, os olhos fechados, o peito largo subindo e descendo em respirações lentas e controladas. Completamente à vontade. Completamente alheio à presença dela.
Só isso fez Claire cerrar o maxilar. Ela não estava acostumada a ser ignorada. Atravessou a sala com cuidado, mantendo os movimentos deliberados e controlados, e sentou-se no banco inferior, em frente a ele. O calor penetrou em sua pele, o peso do vapor a pressionava, mas ela mal percebeu. Estava ocupada demais reparando nele.
De perto, sem a distração do movimento ou da roupa, David Williams era algo completamente diferente.
Pernas grossas e poderosas, salpicadas de pelos escuros. Uma barriga definida. Ombros largos, brilhando de suor. Braços grossos e mãos enormes. E então...
Ele se mexeu. Não muito, apenas um simples alongamento, movendo a perna para aliviar a tensão dos agachamentos. Mas naquele momento, a toalha se mexeu o suficiente. Claire respirou fundo, com o estômago embrulhado. Era a coisa mais aterrorizante e linda que ela já vira. Um calor a percorreu profundamente e, pela primeira vez, ela não tinha certeza se era da sauna.
Claire engoliu em seco, apertando as coxas enquanto sua mente girava em uma direção que ela definitivamente não havia planejado ao entrar na sauna. Não era apenas o tamanho dele — era tudo. A pura presença dele, a masculinidade crua que ele carregava com tanta naturalidade.
Mas o tamanho dele...
O cérebro dela se agarrou a ele, sem ser convidado, sem ser desejado, mas completamente imparável. Meu Deus.
Não era só o fato de ele ser grande. Ela já sabia disso — seus ombros, seus braços, seu peito. Ela o vira na academia, observara como seu corpo se movia com precisão e potência. Mas isso? Era algo completamente diferente. Seu pau era lindo, mas assustador. Era sedutor.
Era o tipo de coisa que fazia uma onda visceral de medo, misturada a algo mais sombrio, mais perigoso, algo que ela não estava pronta para assimilar. E não era apenas o corpo dele — era ele.
David Williams não era um idiota musculoso. Ele não era um bruto sem noção. Ele era calmo, confiante, seguro de si de um jeito que a maioria dos homens apenas fingia ser. Ele não pedia atenção. Ele não precisava de validação. E ainda assim... Todos lhe davam.
Até eu, pensou Claire amargamente.
Ela odiava estar como todos os outros, sentada ali, suando na toalha, completamente incapaz de parar de encará-lo, completamente incapaz de parar de se perguntar como seria.
Estar com um homem assim. Ser tocada por um homem assim. Seu estômago se contraiu, uma onda de calor que não tinha nada a ver com a sauna percorreu seu corpo.
E então... David se mexeu novamente, rolando os ombros, o movimento fluido, sem esforço. Seus olhos se abriram. E se fixaram nos dela.
A respiração de Claire ficou presa.
Não foi justo.
Não foi possível.
E ainda assim, aconteceu.
Os olhos dele — aqueles olhos incrivelmente afiados e penetrantes — a absorviam com um tipo de posse que fazia suas veias arderem. Ele não era sutil, não lançava olhares furtivos como um colegial tímido. Não, David Williams a olhava como se tivesse todo o direito. Como se ela fosse algo para ser visto, devorado, reivindicado.
O calor da sauna não era nada comparado ao calor que inundava seu corpo, acumulando-se, deixando sua pele hipersensível até mesmo ao ar úmido. Ela apertou os dedos na toalha, sem saber se queria se proteger do olhar dele ou se sentar mais ereta e deixá-lo olhar.
Porque ela sentiu. Sentiu algo dentro dela acordar.
Pela primeira vez em anos, ela se sentiu vista. Não como a incorporadora imobiliária Claire Hart, não como a Rainha do Gelo. Não como a esposa educada e organizada de Jonathan. Não como uma mulher a ser tolerada, administrada ou acomodada.
Mas como mulher — uma que um homem como David Williams claramente desejava. E então... O bastardo piscou para ela. Foi lento, deliberado, cheio de arrogância e, de alguma forma, mais devastador do que se ele tivesse estendido a mão em meio ao vapor e a tocado.
Seu estômago embrulhou, seu pulso disparou e, antes que ela pudesse processar o que estava acontecendo... Oh, Deus. Foi breve. Uma fração de segundo. Mas foi real. Uma descarga aguda e inegável de prazer, emanando de dentro dela, roubando seu fôlego, deixando-a atordoada, abalada — completamente à mercê de um orgasmo que ela jamais esperaria. Num piscar de olhos.
Claire agarrou a toalha com mais força, cravando as unhas nas próprias coxas enquanto se forçava a respirar, a ignorar a sensação quente que ainda crescia em sua barriga.
David deu um sorriso irônico. Ele sabia. Claro que ele sabia. E isso só piorou a situação.
Mais tarde:
Quando Claire entrou pela porta da frente naquela noite, percebeu que algo estava errado. Assim que entrou no saguão, seus sentidos foram imediatamente agredidos pelas notas quentes e sensuais de jazz suave que flutuavam pela casa — a suavidade aveludada de um saxofone percorrendo o espaço como uma carícia lenta. As luzes eram baixas, reduzidas a um brilho âmbar romântico, e velas tremeluzentes adornavam quase todas as superfícies planas, preenchendo o espaço com o brilho suave e dourado da chama. O aroma familiar de baunilha e sândalo enchia o ar — uma vela que ela não acendia há meses, uma que ela um dia amara.
Seus saltos estalaram suavemente contra o piso de mármore enquanto ela se aprofundava, estreitando os olhos ligeiramente. Ela ficou imediatamente nervosa. Jonathan estava em casa. E mais do que isso, ele estava preparado.
Seu olhar se voltou para a sala de jantar, onde uma pequena mesa estava elegantemente posta para dois. Não a mesa grande de sempre, com sua extensão infinita, mas a mesa íntima perto da janela com vista para o jardim — aquela que eles nunca usavam. Havia taças de cristal, talheres reluzentes e sua porcelana favorita, tirada do armário onde estava acumulando poeira.
E então ela sentiu o cheiro.
Sua refeição favorita. O aroma rico e inebriante do risoto de trufas, das costeletas de cordeiro com alecrim e o aroma inconfundível do pão fresquinho. Era servido no buffet do seu restaurante favorito, aquele que Jonathan nunca tinha paciência para esperar, sempre reclamando que as porções eram muito pequenas e a espera, muito longa.
Seus olhos se estreitaram ainda mais enquanto ela tirava o casaco e caminhava em direção à sala de jantar.
Jonathan apareceu da cozinha, secando as mãos com uma toalha e, por um breve momento, ela quase não o reconheceu.
Ele estava sorrindo – sorrindo de verdade. Seus olhos eram calorosos e atentos, em vez de distraídos e distantes. Ele havia trocado a roupa de trabalho por uma calça escura sob medida e uma elegante camisa azul-marinho de botões, aberta na gola. As mangas estavam arregaçadas o suficiente para fazê-lo parecer casual sem esforço, mas elegante. Como se ele se importasse.
O olhar dela percorreu-o, mas ele perguntou antes dela.
"Surpresa", disse ele, aproximando-se dela com um sorriso encantador. Deu um beijo suave em sua bochecha e, em seguida, colocou delicadamente uma mecha de cabelo atrás da orelha dela. "Dia difícil?"
Claire piscou, confusa por um instante, sem confiar totalmente na ternura repentina na voz dele. Desconfiada. Ela estudou o rosto dele, as sobrancelhas ligeiramente franzidas, a sensação dos olhos de David ainda pairando no fundo de sua mente, assombrando-a, provocando-a com a lembrança da humilhante traição de seu corpo.
"Dia difícil", ela murmurou lentamente, deixando as palavras no ar enquanto o encarava, esperando a fachada quebrar.
Os lábios de Jonathan se curvaram em um sorriso cúmplice, como se ele já sentisse o muro que ela tentava construir. Sem lhe dar chance de questioná-lo, ele gentilmente pegou a mão dela e a guiou até a mesa.
"Então deixe-me tentar melhorar", ele disse suavemente, puxando a cadeira dela com o floreio galante de um homem que de repente estava ansioso para agradar.
Claire hesitou por um breve segundo, os olhos perscrutando o rosto dele, à espera de alguma pista sobre o que havia causado aquela demonstração repentina. Mas não havia nada. Apenas calor e atenção.
Então ela se sentou.
Ele lhe serviu um copo de um tinto profundo e aveludado — a garrafa já estava aberta e respirando. Sua safra favorita, perfeitamente envelhecida, do tipo que ela geralmente reservava para ocasiões especiais. Ela ergueu o copo, a borda roçando seus lábios, mas não bebeu imediatamente. Em vez disso, encarou-o por cima, com os olhos ligeiramente semicerrados.
"O que é tudo isso?" ela finalmente perguntou, com a voz baixa, mas investigativa.
Jonathan sorriu novamente, inclinando-se levemente em sua direção enquanto estendia o braço por cima da mesa, seus dedos roçando levemente as costas da mão dela. "Eu só queria fazer uma coisa legal para você", disse ele suavemente, quase casualmente demais. "Sem motivo. Sem interesses. Só nós dois."
Os olhos dela se estreitaram ainda mais. Sem motivo. Certo.
E, no entanto, a mesa estava impecavelmente posta. O vinho, escolhido com perfeição. As velas tremulavam como se pertencessem a um refúgio romântico. E ele tinha o prato favorito dela, do seu restaurante favorito, preparado com uma apresentação impecável. Sem motivo. Mas ela deixou passar.
Ela o deixou servir-lhe outra taça de vinho no meio da refeição, apesar dos seus protestos, e permitiu que ele a puxasse para uma conversa descontraída. Ele perguntou sobre o seu dia. Ele ouviu. Sorriu para ela. Chegou a rir algumas vezes — um som caloroso e genuíno que ela não ouvia há mais tempo do que gostaria de admitir.
Foi quase o suficiente para fazê-la esquecer. Quase o suficiente para fazê-la ignorar a tensão sutil no maxilar dele quando ele pensava que ela não estava olhando. A tensão nos ombros dele quando ela mencionou a academia. Porque, claro, ele sabia.
Jonathan Hart era muitas coisas, mas não era bobo. Sabia que David Williams estava rondando. Podia sentir, podia ver na maneira como Claire se portava agora, no rubor repentino em suas bochechas sempre que chegava em casa depois dos treinos, com os olhos ligeiramente desfocados, como se estivesse em outro lugar.
E Jonathan sabia exatamente onde ela estava. Ou melhor, quem ela via.
Então ele sorriu. E serviu mais vinho. E conversou. E ouviu. E fingiu ser um homem que ainda conseguia fazer a esposa se sentir desejada. E quando o jantar terminou, ele não parou por aí.
Ele se levantou lentamente da cadeira e deu a volta na mesa, oferecendo-lhe a mão como fizera tantos anos antes, quando ainda eram novos. Quando ainda acreditava que segurar a mão dela garantiria que não a perderia.
"Venha comigo", ele murmurou suavemente, seus lábios roçando a orelha dela, sua voz quente e suave por causa do vinho.
Ela se deixou levar. Subindo as escadas, ele a conduziu até o banheiro principal, onde velas já estavam acesas e um banho fumegante a aguardava, com tênues aromas de lavanda e eucalipto flutuando no ar. Seus olhos se arregalaram ligeiramente, não pelo gesto em si, mas pelo fato de Jonathan ter pensado nisso. Seus óleos de banho favoritos. Suas velas favoritas.
Jonathan se pôs atrás dela, suas mãos quentes acariciando seus braços, aliviando a tensão em seus ombros. Seus lábios roçaram a curva de seu pescoço, lenta e demoradamente.
"Deixe-me cuidar de você esta noite", ele sussurrou suavemente, seu hálito quente contra a pele dela.
E ela queria deixá-lo. Queria se deixar afundar na banheira, deixá-lo mimá-la, deixá-lo lembrá-la de quem eles um dia foram.
Mas ela não conseguia. Porque, ao fechar os olhos, não eram as mãos de Jonathan que ela imaginava em seu corpo. Não eram os lábios de Jonathan que ela sentia em seu pescoço. E quando seu pulso acelerou e sua respiração levemente descompassada...
Não era a voz do marido que ela ouvia em sua mente. Era a dele. Ela ainda sentia o calor daquela maldita sauna.
Depois do banho, Claire sentou-se na beira da cama, de roupão, ainda úmida do vapor e do calor da água. Sua pele brilhava suavemente, corada pelo calor, e ela distraidamente passou a mão pela panturrilha, enxugando as gotas remanescentes. Seu cabelo ainda estava preso frouxamente, com mechas caindo ao redor do rosto. Ela estava aquecida, relaxada e talvez mais amenizada pelo vinho do que pretendia.
Jonathan saiu do banheiro um instante depois, tendo se vestido apenas com a calça preta do pijama. Não era um homem grande, certamente não para os padrões de David, mas era magro e em forma, com uma estrutura esguia que um dia parecera suficiente. Durante anos, fora suficiente. Ela deixou os olhos vagarem por ele, estudando o formato familiar da clavícula, a curva esbelta do peito e a tênue linha de pelos que desaparecia sob o cós da calça.
E ainda assim, sua mente a traiu. Porque ela tinha acabado de ver mais. Muito mais.
Jonathan atravessou o quarto, os olhos suaves, com uma ternura persistente, embora ela visse neles um leve lampejo de vulnerabilidade — a incerteza de um homem que de repente percebeu que não era mais seu centro de gravidade. Mas ele estava tentando. Ela viu o esforço na maneira como ele se sentou ao lado dela, as mãos deliberadas enquanto alisavam seu joelho nu e traçavam lentamente a parte interna de sua coxa, abrindo a bainha de seu robe levemente. Ela deveria ter sentido algo. Ela queria sentir algo.
E então, ela se inclinou para ele, permitindo-se ser atraída para o seu abraço. Deixou-o beijá-la suavemente — seus lábios gentis contra os dela. Paciente. Deixou-se absorver pela familiaridade daquilo, pelo ritmo seguro e experiente de um homem que passara anos conhecendo seu corpo. Mas esse era o problema. Era monótono. Não havia fogo.
E enquanto ele a beijava, ela sentiu seu corpo responder, mas não a ele. Era David que ela sentia. As mãos de David. A boca de David. O calor em sua barriga se agitou com a lembrança da sauna — a maneira como os olhos dele a devoraram, deixando-a nua sem nunca ter tocado nela. Ela se lembrou do roçar quase imperceptível da toalha contra suas coxas quando ele se mexeu. Ela viu a linha escura de pelos se arrastando sob o linho, viu a confiança descarada em seus olhos que a desafiavam a olhar.
E ela fez isso.
Os lábios de Claire se abriram suavemente sob os do marido, mas seus olhos se fecharam com mais força, tentando bloquear as imagens intrusivas. Ela se permitiu sentir as mãos de Jonathan enquanto elas deslizavam lentamente o robe por seus ombros, a boca dele pressionando suavemente sua clavícula. Seu toque era reverente, cuidadoso.
Mas sua mente continuava voltando para a sauna. Para a energia crua e masculina que irradiava de David em ondas palpáveis. Para o peso absoluto dele — a maneira como ele preenchia cada centímetro do espaço sem nem mesmo tentar.
E quando Jonathan a deitou delicadamente contra os travesseiros e se moveu sobre ela, ela mordeu o lábio e fechou os olhos com ainda mais força, desejando permanecer naquele momento, com aquele homem. O homem a quem ela havia prometido a si mesma. Mas ela não conseguia.
Porque, enquanto as mãos de Jonathan deslizavam por seu corpo, ela já imaginava as mãos de David ali. Mais fortes. Mais ásperas. Mais famintas.
Sua respiração ficou presa quando a boca de Jonathan pressionou suavemente sua pele, mas o prazer que sentia foi roubado — da lembrança de outro homem. Ela se arqueou sob o toque do marido, mas estava se arqueando por David.
Suas unhas pressionaram levemente as costas de Jonathan, mas, em sua mente, ela estava agarrada aos ombros de David. E quando Jonathan gemeu baixinho em seu pescoço, ela ouviu a voz de David — a voz baixa e rouca que vibrara pela sauna, pingando promessas não ditas.
Ela se deixou sentir o calor crescer em sua barriga — a tensão, o pulsar do desejo —, mas não era pelo marido. Ela estava perseguindo uma fantasia. Ela sabia disso. E a vergonha disso deveria tê-la imobilizado, deveria tê-la feito afastar Jonathan. Mas ela não o fez.
Porque ela precisava disso. Precisava de algo para acalmar o desejo infernal que havia despertado dentro dela.
Enquanto Jonathan bombeava para dentro e para fora da esposa, sua própria mente também não estava presente. Ele pensou em Emily, no boquete que recebera minutos antes do acidente. Em todas as vezes em que haviam escapado juntos para um encontro. Mas então, seu cérebro traiçoeiro lhe trouxe uma imagem tão vívida e excitante quanto angustiante.
A imagem de sua esposa, sua esposa alta, loira e magra de olhos azuis, sendo fodida por outro homem. Não qualquer homem, mas David Williams. Ele conseguia imaginar seu corpo enorme investindo contra ela em um ritmo que Jonathan jamais conseguiria igualar, arrancando gemidos que raramente ouvia, penetrando fundo em sua boceta aparada com um pau poderoso, seu corpo duro ondulando de músculos contra a tez cor de pêssego e creme de seu corpo feminino e irresistível... e as comportas se abriram.
Que droga! Ele queria que a noite durasse para sempre, e lá estava ele. Terminado em menos de 3 minutos. Soltou um grito choroso quando aquela imagem traidora abalou sua concentração já precária, e a imagem de sua esposa com outro homem desferiu o golpe mortal em sua confiança.
"Ai, porra, Claire", ele gemeu. Sua voz falhou ao sentir suas bolas se descarregarem dentro dela, o mais fundo que conseguia. Ele gozou. Estava saciado, mas Claire não.
Jonathan a beijou, suave e reverentemente, sussurrando seu nome como um homem ainda apaixonado.
Claire permaneceu imóvel sob ele, o peito subindo e descendo em respirações lentas e superficiais. O peso de Jonathan a pressionou levemente enquanto ele se acalmava, demorando-se por um instante antes de rolar para longe com um suspiro saciado. A mão dele escorregou frouxamente do quadril dela, descendo pela coxa enquanto ele exalava com a satisfação de um homem que havia conseguido exatamente o que queria.
Mas os olhos de Claire estavam arregalados, fixos no teto, seu corpo ainda vibrando com a tensão reprimida. Suas mãos agarravam os lençóis em silenciosa frustração, suas unhas cravando-se no tecido enquanto ela olhava fixamente para cima, sentindo o calor em seu interior lentamente esfriar e se transformar em algo completamente diferente.
Raiva. Porque mais uma vez ela ficou vazia.
Mais uma vez, ela ficou insatisfeita, dolorida e dolorosamente consciente do vazio que a corroía em seu peito — um vazio que Jonathan nunca parecia notar.
Sua respiração era superficial, seus lábios entreabertos, mas não de prazer. Por contenção. Pelo esforço inútil de impedir que as palavras presas em sua garganta escapassem.
Mas então Jonathan se moveu ao lado dela, um braço preguiçosamente pendurado sobre sua barriga, e ela sentiu. A umidade. A umidade dele, escapando de seu corpo — um resquício patético de mais uma troca unilateral. E algo dentro dela se rompeu.
Com uma inspiração profunda, ela empurrou o braço dele e sentou-se, puxando os lençóis em volta de si e se virando. Seu corpo inteiro estava rígido de irritação, o maxilar cerrado enquanto ela encarava a parede.
Jonathan piscou, assustado com o movimento repentino, e se apoiou em um cotovelo. Suas sobrancelhas se franziram em confusão.
"Claire?", ele perguntou suavemente, a voz ainda carregada pela satisfação preguiçosa do alívio. "Ei... você está bem?"
Ela não respondeu. Suas costas estavam rígidas, os músculos dos ombros tensos. Ela jogou as pernas para fora da cama e agarrou o lençol contra o peito, lutando contra a vontade de gritar.
"Claire", ele repetiu, com a voz carregada de preocupação, mas ela ainda não olhou para ele.
Em vez disso, levantou-se abruptamente, pegando o robe do encosto da cadeira e se enfiando nele com movimentos rápidos e agitados. Apertou a faixa na cintura com mais força do que o necessário, os dedos tremendo levemente enquanto a prendia. "Sério, o que houve?", Jonathan insistiu, sentando-se, a confusão em sua voz começando a se transformar em defensiva. Os ombros dela se enrijeceram ao som da voz dele, e a ternura em seu tom de repente a irritou.
E então ela se virou lentamente, com os olhos frios e inexpressivos ao encontrar o olhar dele. "O que houve?", repetiu ela suavemente, com a voz mortalmente calma. Deixou escapar uma risada aguda e sem humor e balançou a cabeça. "Você precisa mesmo perguntar isso?"
Jonathan franziu a testa, seus olhos brilhando de incerteza. "Claire, eu--"
"Não", ela o interrompeu bruscamente, com os olhos brilhando de raiva. "Simplesmente não."
Ela cruzou os braços com força sobre o peito, os dedos agarrando o robe como se estivesse se segurando. Ela o encarou por um instante, os lábios se abrindo ligeiramente como se estivesse prestes a falar — mas então se conteve, estreitando os olhos.
Jonathan expirou bruscamente pelo nariz e passou a mão pelos cabelos, já irritado. "Meu Deus, Claire. Que diabos é isso? Nós estávamos apenas--"
"Apenas o quê?", ela retrucou, elevando a voz. "Só fazendo amor? Era isso que você ia dizer?" Ela soltou uma risada amarga, o som transbordando veneno. "Aquilo não foi fazer amor, Jonathan. Foi você conseguindo o que queria e se virando, enquanto eu ficava ali deitada, sem sentir absolutamente nada."
Jonathan cerrou os maxilares e jogou as pernas para o lado da cama, agarrando-se à beira do colchão. Os nós dos dedos ficaram ligeiramente brancos com a tensão nas mãos. "Isso não é justo."
"Justo?", sibilou ela, aproximando-se, o calor subindo pelo peito. "Quer falar sobre justo? Deixa eu te dizer o que não é justo." Ela apontou o dedo para a cama. "Isso... isso... acontece toda vez. Você mal me toca antes de gozar, e eu fico ali deitada, fingindo estar satisfeita para que você se sinta um homem."
Os olhos dele se estreitaram, suas costas se enrijeceram com a dor das palavras dela. "Isso não é verdade", ele retrucou, com a voz baixa e defensiva. "Você está exagerando."
Os olhos de Claire se arregalaram, seus lábios se abriram levemente em descrença. Ela soltou uma risada curta e amarga, daquelas sem graça. "Exagerando?", repetiu ela baixinho, balançando a cabeça. Deu um passo à frente, com as mãos tremendo levemente ao lado do corpo. "Jonathan... quando foi a última vez que eu realmente gozei com você?"
Ele estremeceu ligeiramente com as palavras dela, mas se recuperou rapidamente, com o maxilar tenso. "Isso não é justo", murmurou novamente, com a voz mais dura agora.
"Não, você tem razão", ela disparou. "Não é justo. Não é justo que eu tenha que fechar os olhos e fingir que é outra pessoa só para sentir alguma coisa. Não é justo que eu saia da nossa cama me sentindo mais frustrada do que quando entrei." Sua voz falhou um pouco na última palavra, mas ela não parou. Estava com muita raiva agora.
"Meu Deus, Claire", Jonathan disparou, de pé, com as mãos fechadas em punhos ao lado do corpo. "De onde diabos você tirou isso?"
Ela o encarou por um instante, com os olhos arregalados e furiosos, o peito arfando levemente com a força das palavras. E então balançou a cabeça lentamente, os lábios comprimidos em uma linha fina e trêmula. "De onde vem isso?", sussurrou, a voz subitamente baixa e fria. Deu um passo para trás, apertando os braços ao redor do corpo. "Vem de anos fingindo. De mentir para mim mesma. Vem disso...", apontou bruscamente para a cama, "é suficiente para você, mas nunca para mim."
O rosto de Jonathan corou de raiva, mas havia algo mais por trás de seus olhos — algo ferido. E ela não se importava. Porque seu corpo ainda tremia com a lembrança dos olhos de David sobre ela na sauna, do breve vislumbre de seu pau longo, grosso e lindo. Da maneira como seu olhar a desnudava com nada mais do que um olhar. Do poder que ele exercia sem nunca tocá-la. E Jonathan, parado diante dela, de repente parecia tão... pequeno.