Elijah acabou levantando, enrolado no lençol, com os cabelos bagunçados e um sorriso tímido, quase envergonhado. Caminhou devagar até a cozinha, onde encontrou Edgar de costas, já mexendo na cafeteira.
Por alguns segundos, Elijah ficou parado na porta, observando-o em silêncio, o coração batendo acelerado. Aquela cena simples — Edgar de pé, forte e sereno, iluminado pela claridade da manhã — fazia seu peito arder de um jeito estranho, bom, mas difícil de explicar.
— Que foi? — Edgar perguntou sem se virar, percebendo o olhar dele. — Vai ficar aí me olhando até quando?
Elijah corou imediatamente e baixou os olhos, balbuciando quase num sussurro: — N-não tava olhando… só… — esfregou a ponta do pé no chão, nervoso. — Talvez um pouquinho.
Edgar se virou devagar, aproximando-se com passos firmes. Elijah instintivamente recuou até encostar na parede, o lençol ainda enrolado no corpo, e ergueu os olhos azuis para ele com hesitação.
— Então admite… — Edgar murmurou, prendendo-o ali, o rosto tão próximo que Elijah mal conseguia respirar. — Você gosta de me olhar.
O loiro mordeu o lábio, tentando esconder o rubor, e respondeu num fio de voz: — G-gosto…
Edgar sorriu satisfeito e inclinou-se para depositar um beijo demorado em sua testa. — Então vem me ajudar, ou não vai ter café.
— T-tá bom… — Elijah murmurou, quase tropeçando quando foi até a mesa.
A cozinha logo ficou cheia de vida: o cheiro do café fresco, o pão quentinho na torradeira. Elijah tentava ajudar, mas se atrapalhava com a manteiga e espalhava mais do que passava no pão. Edgar parava às vezes só para observá-lo, admirando o jeito inocente como ele mordia o lábio quando errava ou corava ao ser corrigido.
— Você sabe que a gente podia ter comprado pão pronto, né? — disse Elijah, baixando os olhos, sem coragem de encarar Edgar.
— E perder a chance de ver essa cena? Nunca. — Edgar respondeu, com um sorriso.
Elijah corou ainda mais, tentando esconder o rosto com a mão. Mas antes que percebesse, um pouco de geleia ficou em seus dedos. Ele olhou para Edgar, hesitou, e recuou rapidamente a mão.
— Nem vou tentar… você ia brigar comigo… — disse tímido, mas seu sorriso doce denunciava que pensara em provocar.
Edgar segurou o pulso dele de leve, sem força, e aproximou-se. Elijah ficou rígido, o coração disparado. Sem desgrudar os olhos do loiro, Edgar levou a ponta do dedo sujo de geleia até os lábios e lambeu devagar.
— Delicioso… — murmurou, a voz rouca.
Elijah ficou sem reação, paralisado, os olhos arregalados e o rosto em chamas. Soltou apenas um riso baixo, nervoso, escondendo-se atrás do braço.
Edgar sorriu, satisfeito por ver aquele rubor. O riso suave de Elijah se misturou ao som do mar e ao cheiro do café fresco, trazendo para Edgar a certeza de que nada naquele mundo era mais precioso que aquela inocência que só Elijah tinha.
Depois do café, Elijah foi quem sugeriu:
— A gente podia… ir até a praia? — perguntou baixinho, sem coragem de encarar Edgar diretamente.
Edgar ergueu a sobrancelha, cruzando os braços. — E você tem coragem de encarar o mar? Ontem mesmo disse que tinha medo das ondas.
Elijah apertou os lábios, emburrado de leve, e respondeu: — Eu… eu não disse medo. Só… respeito. — Mas o rubor em suas bochechas entregava.
Edgar riu baixo, passando a mão pelos cabelos bagunçados do garoto. — Respeito, é? Pois vamos ver. Vai colocar essa coragem à prova agora.
Elijah o acompanhou até a areia, ainda de bermuda e camiseta, andando devagar. O vento bagunçava seus fios loiros e seus olhos azuis brilhavam com a claridade intensa. Por um momento, parou, apertando os dedos nervosamente.
— Edgar… e se a onda me levar? — perguntou sério, mas com um ar infantil que fez Edgar segurar a risada.
— Eu te trago de volta — respondeu sem pensar, em tom firme, mas com uma ternura escondida. — Sempre vou trazer.
Elijah engoliu em seco e baixou os olhos, o coração acelerando.
Quando a espuma da primeira onda molhou seus pés, Elijah soltou um gritinho contido, agarrando o braço de Edgar com força.
— Tá gelada! — disse, quase pulando para cima dele.
Edgar segurou firme, rindo. — Inacreditável… você parece uma criança.
— E-eu só não tava esperando! — Elijah respondeu, tentando se justificar, mas se escondendo atrás do próprio braço.
Edgar o puxou pela cintura e o ergueu de repente, como se fosse nada, colocando-o nos ombros. Elijah arregalou os olhos, batendo levemente no ombro dele.
— Me põe no chão! — disse, rindo nervoso, olhando a imensidão do mar dali de cima.
— Agora já era. — Edgar respondeu, firme, caminhando mais para dentro d’água. — Você pediu praia, vai ter praia.
Quando Edgar finalmente o colocou de volta na areia, Elijah ainda estava vermelho, mordendo o lábio de nervoso.
— Eu não vou esquecer disso nunca… — disse baixinho, desviando os olhos.
— Nem eu. — Edgar respondeu, sério agora, observando cada detalhe do garoto, como se quisesse guardar aquela cena para sempre.
Como Elijah não sabia nadar direito e ainda tinha certo receio do mar, preferiu se sentar na areia, observando Edgar se afastar em direção às ondas. O sol refletia na pele molhada dele, cada movimento firme e preciso no mergulho parecia um espetáculo só para os olhos azuis de Elijah.
Ele abraçou os joelhos, deixando o vento bater em seu rosto e, perdido na contemplação, mal percebeu a aproximação de um rapaz que vinha caminhando pela praia. Devia ter mais ou menos a mesma idade de Elijah, cabelos castanhos claros e um sorriso aberto.
— E aí, tudo bem? — disse o desconhecido, parando diante dele.
Elijah piscou, surpreso, olhando para cima. — Ah… oi. Sim, tudo bem.
O rapaz riu leve e apontou para o mar. — Você não entrou? Tá esperando alguém?
Elijah coçou a nuca, meio sem graça, mas respondeu de maneira direta e inocente: — É… meu… amigo. Ele tá ali. — Seus olhos buscaram automaticamente a figura de Edgar entre as ondas.
Do mar, Edgar emergiu em silêncio, passando a mão pelos cabelos molhados. Seus olhos logo captaram a cena: Elijah, sentado na areia, corando timidamente enquanto conversava com outro rapaz. O estômago de Edgar revirou de forma inesperada. Não gostou.
Havia algo queimando em seu peito, uma sensação estranha e intensa, algo que ele não estava acostumado a sentir: ciúmes.
Edgar caminhou de volta para a areia, cada passo firme, os músculos contraídos, sem tirar os olhos daquela cena. O rapaz ainda falava com Elijah, que sorria sem malícia, mas aquilo bastava para deixar Edgar com os dentes cerrados.
— Elijah. — chamou com a voz grave e firme, assim que se aproximou.
Elijah levantou a cabeça na mesma hora, os olhos brilhando. — Edgar! — exclamou, como se tudo no mundo girasse de volta para ele.
O desconhecido lançou um olhar rápido para Edgar, meio desconcertado pela presença imponente dele.
— A gente tava só conversando — tentou explicar, sorrindo de leve.
Mas Edgar não respondeu. Colocou-se ao lado de Elijah, erguendo-o pela mão com um gesto firme e possessivo.
— Vamos. — disse apenas, a voz baixa e seca, encarando o rapaz por um segundo. Não havia ameaça explícita, mas o olhar de Edgar era o suficiente para afastar qualquer um.
Elijah piscou confuso, andando ao lado dele, ainda sem entender. — Você parece… bravo. Eu fiz alguma coisa errada?
Edgar respirou fundo, tentando conter o aperto no peito. O cabelo molhado ainda escorria gotas pela pele quente do sol, e o olhar dele permanecia fixo adiante, evitando encarar Elijah.
— Não. — respondeu curto, mas a voz rouca entregava a tensão.
Elijah, tímido, apertou a mão que segurava a sua, como se buscasse segurança. — Edgar… eu só tava esperando você.
Mas mesmo depois de dizer isso, Edgar não soltou a mão de Elijah. Caminhou em silêncio, sentindo o peito arder, sem saber como lidar com aquele sentimento novo e desconfortável. Ciúmes. Um inimigo invisível que ele não podia controlar.
E pela primeira vez em muito tempo, Edgar se sentiu vulnerável — e não fazia ideia do que fazer com isso.