Minha vida, do nada, se transformou em um mar de felicidade. Mesmo com a vida boa que eu tinha, às vezes parecia que faltava algo; era como se houvesse um vazio no meu peito que precisava ser preenchido. Com a chegada de Fernanda na minha vida, esse vazio foi sendo preenchido aos poucos. Depois da nossa última noite no seu apartamento, eu me senti completa; não faltava mais nada, ela era o que eu precisava.
Nossa primeira noite como namoradas foi ótima. Eu notei que, mesmo cansada, Fernanda sempre tinha um brilho no olhar e um sorriso nos lábios. Era nítido que ela estava muito feliz ao meu lado, e isso só me dava mais certeza de que ela era a minha pessoa.
Mas nem tudo é só felicidade. Primeiro foi Hugo, que tirou minha paz, e agora minha mãe, com suas ligações. Poxa, o dia começou tão bem, com Fernanda me levando à loucura com dois orgasmos que quase me mataram de tanto prazer. A gente dormiu juntinhas, e eu planejei passar o resto do dia com ela, queria curtir minha namorada em paz. Porém, quando chegamos ao meu apartamento, eu perdi a paciência e resolvi atender minha mãe. Já era a terceira ou quarta chamada dela; eu sabia que ela não iria parar até eu atender e não me deixaria em paz, então achei melhor atender.
Assim que atendi, coloquei no viva-voz e fiz sinal de silêncio para Fernanda, que estava ao meu lado. Eu queria poupar ela daquilo, mas achei melhor deixá-la ver como era minha mãe e como as coisas funcionavam entre nós.
Sabrina— Alô, mãe. O que a senhora quer de tão urgente para ficar me ligando em um horário que a senhora sabe que estou descansando?
Mãe— Não se faça de boba, Sabrina. Você sabe muito bem por que estou te ligando. Hugo me contou tudo e já te aviso que não vou aceitar essa loucura sua. Então, faça o favor de terminar esse namoro com essa mulher. Eu não admito isso, você me entendeu?
Sabrina— Entendi direitinho, mãe. Bom, eu não vou terminar meu namoro com a Fernanda. A senhora não tem que admitir nada, nem aceitar ou deixar de aceitar. A vida é minha, eu faço minhas escolhas, e a senhora já devia saber disso. Queria muito que a senhora aceitasse para podermos viver em paz, mas se a senhora não aceita, o problema não é meu, é da senhora. Espero estar sendo bem clara sobre isso.
Mãe— Eu sou sua mãe, eu sei o que é melhor para você! Para de ser cabeça dura e me escuta, ou vou ter uma conversa com o seu pai e não vamos te ajudar mais em nada. Quero ver o que você vai fazer da sua vida.
Sabrina— Mãe, em que mundo a senhora vive? Eu não sou mais criança, não dependo do dinheiro de vocês. Eu tenho meu negócio, que, por sinal, vai muito bem e me dá lucro suficiente para viver minha vida sem depender de ninguém. Se quiser ter uma conversa com o meu pai, fique à vontade, mas vai ser perda de tempo; ele já sabe e me deu o maior apoio, como sempre.
Mãe— Seu pai aceitou essa palhaçada?
Sabrina— Não é palhaçada, mãe! Ele aceitou sim, ele respeita minhas escolhas, ele quer me ver bem e feliz. Bem ao contrário da senhora, que nunca pensa na minha felicidade. Quer que eu namore com um homem violento, machista e que não tem o mínimo de respeito pelas pessoas. O Hugo é um troglodita, mãe, eu nunca vou namorar uma pessoa como ele.
Mãe— Hugo é um bom rapaz. Você que sempre arruma uma desculpa para não dar uma oportunidade a ele só para me contrariar. Você nunca faz o que eu peço e faz de tudo para me irritar. Eu só quero o seu bem, mas você nunca me escuta.
Sabrina— Não, mãe, você não quer o meu bem; você quer o seu bem. Você quer que eu faça o que você deseja, mas nunca perguntou o que eu queria, nunca pensa na minha felicidade, no que me faz feliz. O pior é que a senhora é muito egoísta para notar isso. Mas tudo bem, continue com seu egoísmo e eu vou viver minha vida da maneira que eu escolher, com ou sem a sua aprovação.
Mãe— Pelo amor de Deus, Sabrina, me escuta. Isso é errado! Com que cara eu vou encarar minhas amigas, nossa família? Você perdeu completamente a razão.
Sabrina— Acho que a senhora não ouviu nada do que eu disse. Olha aí seu egoísmo de novo, se preocupando mais com suas amizades, com o que os outros vão pensar de você do que com a felicidade da sua filha. Sinceramente, mãe, eu desisto de tentar fazer você enxergar que eu só quero ser feliz. Bom, se era só isso, vou desligar.
Mãe— Então você vai mesmo continuar com essa loucura?
Sabrina— Não é loucura, mãe; são minhas escolhas.
Mãe— Escolhas erradas como sempre!
Sabrina— Se escolher ser feliz ao lado de quem eu amo é errado, vou continuar errando sempre, mãe.
Mãe— Vamos ver até quando isso vai durar.
Ela falou aquilo e desligou. Sinceramente, dei graças a Deus; achei que iria ser pior, mas até que foi tranquilo, considerando as várias discussões que tivemos. Guardei o celular e, quando olhei para Fernanda, ela estava com os olhos marejados. Acho que foi um erro ter colocado no viva-voz. Fui até ela e lhe abracei, me desculpando com ela.
Sabrina— Me desculpe, eu não devia ter colocado no viva-voz. Só fiz porque queria que você soubesse como minha mãe é e queria que você tivesse certeza de que a opinião dela não me importa.
Fernanda— Não precisa se desculpar. Eu não estou chateada pelo que ela disse, de verdade. Está tudo bem.
Sabrina— Então por que estava quase chorando quando desliguei?
Fernanda— Por nada. Acho que só fiquei feliz por você ser tão firme em relação à nossa relação. Foi isso.
Sabrina— Não vou deixar ninguém se meter entre a gente, amor.
Fernanda— Você quer mesmo me ver chorar de felicidade, não é?
Sabrina— Por quê? Eu já tinha te falado isso antes, se não me engano.
Fernanda— Você é tão espontânea, mas ao mesmo tempo tão desligada. 🤭
Sabrina— Desculpe, amor, acho que não entendi. Desligada com o quê?
Fernanda— Você praticamente admitiu que me ama quando estava falando com sua mãe. Acabou de me chamar de amor pela primeira vez e fez isso de forma tão natural que acho que nem percebeu.
Eu realmente não tinha me tocado, nem percebi que a chamei de amor. Muito menos que tinha admitido que a amava, mas, relembrando uma frase que falei para minha mãe, isso era bem evidente.
Sabrina— Eu realmente não percebi, mas é verdade. Você é meu amor; eu falei naturalmente, não pensei, só saiu. Quanto a admitir que te amo, eu nunca parei para pensar nisso, mas acho que não preciso. Se isso que sinto por você não for amor, eu realmente não sei o que é. Eu penso em você o tempo todo; desde que te vi pela primeira vez, não tiro você da minha cabeça. Quando estamos longe uma da outra, eu sinto muito sua falta, fico contando os minutos para poder ter você ao meu lado de novo. Quando estou com você, tudo se torna perfeito; é como se você fosse meu vício, eu sinto que preciso de você para viver. Nunca fui tão feliz na minha vida, Fernanda, e só de pensar em perder você, meu peito dói. Nunca amei ninguém, não tenho parâmetro, mas para mim, isso é amor e, se realmente for, eu amo muito você !
Eu falei aquilo de coração aberto; era o que eu sentia e não tinha motivos para mentir para ela. Ela tinha razão, eu nem notei, mas não menti quando disse para minha mãe que escolhi estar ao lado de alguém que eu amava, e aquilo não era um erro. Se fosse, eu iria continuar errando porque escolheria sempre estar do lado dela.
Ali, com aqueles pensamentos passando pela minha mente, eu senti ela segurar meu rosto com as duas mãos, com muito carinho, e me olhar com seus olhos ainda marejados.
Fernanda— Foi a coisa mais linda que alguém já disse para mim, meu amor! Eu tenho esses mesmos sentimentos e tenho certeza de que te amo, amo muito! Você é a melhor coisa que aconteceu na minha vida e nem pense em me perder, porque isso não vai acontecer a não ser que você queira. Eu te prometo isso.
Ela me beijou e eu senti que talvez essa conversa, que nasceu em um momento complicado, tenha selado de vez o nosso relacionamento. Tenho certeza de que, naquela conversa, todos os medos, inseguranças e barreiras que existiam entre nós acabaram, e estávamos totalmente entregues uma à outra.
Depois daquela conversa, a gente foi para meu quarto e nos deitamos juntinhas. Ficamos trocando carinho e beijos carinhosos; não houve sexo, era só duas mulheres que se amavam curtindo o amor que uma sentia pela outra.
Nosso namoro, dali para frente, só se tornou melhor; a cada dia nos tornavamos mais um casal de verdade. Começamos a compartilhar mais nossas coisas e nosso dia a dia. Fernanda passava o final de semana todo comigo; ela ia na sexta à noite para a boate e só voltava para seu apartamento no domingo à noite. Eu passava a maioria das noites do meio da semana no seu apartamento; ela já tinha até me dado uma chave, pois saía cedo para trabalhar e eu ficava lá até mais tarde.
Com um mês de namoro, a gente já tinha roupas no apartamento uma da outra, e ela tinha deixado algumas no escritório da boate. O sexo era cada dia melhor; conforme a gente ia conhecendo o corpo e as preferências uma da outra, as coisas só iam evoluindo. Mas o que eu mais amava eram os momentos de troca de carinho mútuo que a gente tinha. Era nesses momentos que eu me sentia a mulher mais amada do mundo.
Eu passei a ir mais à empresa do meu pai; geralmente, uma ou duas vezes por semana eu aparecia lá na hora do almoço, aproveitava para ver meu pai e almoçar com meu amor e suas amigas, que agora eram minhas também. Adorei a Talita, mas eu tinha mais assuntos em comum com a Camila, talvez por causa da idade e do jeito mais doidinho dela. Minhas visitas à empresa também foram boas para acabar com o comentário que o dono estava dando em cima de uma das funcionárias. Toda vez que eu chegava perto de Fernanda na empresa, eu dava um selinho rápido nela e fazia o mesmo quando saía para ir embora. A fofoca sobre meu pai acabou; agora a fofoca era outra, sobre a funcionária e a filha do dono da empresa. Mas esse não era um problema para mim e nem para Fernanda, já que era verdade.
Minha mãe não tentou falar comigo de novo, mas meu pai me disse que tiveram uma briga feia por causa disso, mas falou que não era para eu me preocupar com isso, que já tinham se acertado e tudo estava bem entre eles. Eu, mesmo assim, acabei me preocupando; não queria trazer problemas para meu pai, mas infelizmente algumas coisas não dá para impedir. Fernanda e meu pai se davam muito bem; já tínhamos nos encontrado algumas vezes em almoços só nós três. No primeiro, Fernanda parecia estar bem tensa no início, mas meu pai brincou com ela e a deixou bem à vontade. No fim, já conversavam e riam juntos das histórias vergonhosas que meu pai contou sobre minha infância.
Eu também conheci os pais da Fernanda; eram dois amores de pessoas, me trataram muito bem quando a gente visitou a casa deles. Também conheci a filial da empresa onde os meus sogros trabalham e onde Fernanda trabalhou. Conheci seus antigos amigos de trabalho e o bairro onde seus pais moravam. Era um lugar bem simples, bem diferente do bairro onde eu nasci e cresci.
Fernanda também já conhecia meu irmão, cunhada e meus dois sobrinhos. Fernanda se deu muito bem com todos, e minha cunhada gostou muito dela. Meu irmão era do tipo que não elogiava muito e nem falava mal de alguém se não gostasse. Ele sempre foi muito na dele, mas só dele nos receber em sua casa e tratar a gente super bem, já estava ótimo. Mas eu sabia que ele tinha gostado da Fernanda, já que ele conversou bastante com ela, os dois tinham algo em comum, já que meu irmão era muito interessado em negócios e tecnologia.
Hugo tentou falar comigo de novo na boate; foi em um domingo, depois que Fernanda já tinha ido para casa, mas não dei nem ideia. Só disse que não tinha nada para falar com ele, depois virei as costas e saí. Depois disso, ele não tentou falar comigo de novo; porém eu sempre via ele na boate e percebia seus olhares para o meu lado, mas eu só ignorava. Algumas coisas é melhor ignorar e se afastar; é melhor para nossa saúde mental.
Já tinham se passado quatro meses que eu e Fernanda começamos nosso namoro. Ver a gente juntas já não era uma surpresa para ninguém, primeiro porque estávamos sempre juntas a todo momento que podíamos. Quando dava, a gente ia ao shopping, fazíamos compras juntas e almoçavamos em restaurantes conhecidos na cidade. Algumas fotos desses momentos foram parar em revistas de fofocas da cidade, então nosso namoro já era conhecido; na verdade, já era notícia velha.
Tudo estava indo perfeitamente bem, até minha cunhada me convidar para o aniversário do meu sobrinho mais velho. Ele iria completar dez anos e iriam dar uma festa na casa do meu irmão. Eu, no fundo, não queria ir para não encontrar minha mãe estando com a Fernanda ao lado. Não que eu quisesse escondê-la da minha mãe, mas eu queria evitar uma discussão. Porém, não tinha como evitar isso; eu amava muito meu sobrinho e, se eu não fosse, ele com certeza ficaria triste comigo. Minha cunhada praticamente exigiu que eu levasse Fernanda, e com certeza minha mãe iria à festa do neto. Então, o jeito era eu ir com Fernanda e fazer o possível para evitar minha mãe.
Fernanda, de início, não queria ir, mas quando eu disse que minha cunhada queria muito que ela fosse, ela acabou concordando. A festa era em um sábado, logo após o horário de almoço. Era um horário que dava para eu e Fernanda ir sem problemas, e a gente foi, mas, por algum motivo eu sentia que a gente não devia ter ido. Não sei explicar, mas algo me dizia que alguma coisa muito ruim iria acontecer, eu só não fazia ideia o que poderia ser. Mas ao entrar e ver minha mãe logo de cara conversando com a mãe do Hugo e olhando na minha direção, eu já imaginei o que seria.
Continua...
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper