A Porta em Frente: Vinícius

Um conto erótico de Fabio N.M
Categoria: Heterossexual
Contém 5940 palavras
Data: 29/09/2025 04:05:32

Esse conto foi escrito do ponto de vista de Vinícius. Se quiserem ver o ponto de vista de Letícia, entre no meu perfil. É o conto imediatamente anterior a esse.

Parte 1 — Vinícius

Meu nome é Vinícius Azevedo, tenho vinte e sete anos, cabo das Forças Armadas. Aprendi cedo que a vida não dá espaço para moleza: ou você mantém disciplina, ou o mundo te engole. Essa lição ficou ainda mais clara quando meus pais se separaram. Eu tinha quatorze anos, meu irmão mais novo, Victor, mal tinha seis. Nossa mãe se mudou para outro estado, nosso pai nunca soube o que era presença. Então fui eu quem segurou o peso. Eu cresci rápido, porque não tive alternativa; Victor, por outro lado, teve a liberdade de ser o que eu nunca pude — distraído, leve, sempre com a cabeça em outro lugar.

Agora ele tem dezenove anos, e eu vinte e sete. A diferença entre nós é mais que idade. Eu acordo cedo, treino, trabalho, sigo regras. Ele acorda tarde, vive com o fone no ouvido, jogando no videogame ou mergulhado em vídeos curtos que eu não consigo entender a graça. Eu sei que ele me admira, mas também sei que muitas vezes me acha duro demais. Talvez eu seja. Só que essa dureza é o que manteve a gente de pé até aqui.

A mudança para o novo apartamento foi ideia minha. O aluguel estava melhor, o bairro era mais seguro, e eu queria que Victor tivesse um lugar decente para estudar e, quem sabe, criar algum rumo para a própria vida. Ele reclama das caixas, do calor, da escada. Eu carrego os móveis no ombro como se fosse mais um exercício físico. A cada passo sinto o peso real da vida, mas também a estranha satisfação de estar construindo algo concreto para nós dois.

— Mano, essa cama não vai passar pela porta — Victor resmunga, encostado na parede, celular em mãos, como se o simples ato de segurar a moldura fosse contribuição suficiente.

— Vai passar. Só precisa de ângulo — respondo, ajustando o colchão até fazê-lo deslizar pelo batente. Eu suo em bicas, mas o ritmo é automático. O corpo acostumado ao esforço sabe o que fazer.

Victor suspira alto, coloca o celular no bolso por trinta segundos para fingir que ajuda, depois volta a se distrair. Eu rio por dentro, embora externamente mantenha a expressão séria. Ele ainda tem a chance de viver essa leveza. Eu não tive.

O prédio é simples, mas limpo. Corredores estreitos, portas iguais, paredes brancas demais para o meu gosto. O porteiro é sisudo, mal-humorado, desses que parecem carregar o mundo nas costas. Sinto familiaridade nele. O cheiro da padaria da esquina invade o hall, lembrando que a vida continua mesmo quando estamos soterrados por caixas e obrigações.

Subimos e descemos algumas vezes. Carregadores passam, Victor reclama, eu mando ele calar a boca e continuar. Entre uma viagem e outra, noto a porta em frente ao nosso apartamento entreaberta por alguns segundos. Uma fresta, apenas. Um olhar rápido. Ela.

Uma jovem, cabelo castanho-claro com reflexos dourados, pele clara, olhos atentos demais para serem apenas curiosidade. Não chega a me encarar diretamente — parece disfarçar, como se estivesse verificando o corredor. Mas eu percebo. Eu sempre percebo. O treinamento me ensinou a captar detalhes que os outros deixam escapar.

Mas não penso muito nisso. Não é a primeira vez que sinto olhos sobre mim. Mulher nova, bonita, vizinha talvez. Mas naquele dia eu só queria terminar a mudança, tomar banho gelado e apagar na cama. Não havia espaço em mim para fantasia.

Victor, por outro lado, provavelmente teria notado. Ou melhor, teria fantasiado, se não estivesse enterrado no celular. Eu carrego o peso real, ele carrega a leveza de ser garoto.

Quando a porta dela se fechou, eu já tinha esquecido. Ou achei que tinha.

À noite, quando tudo finalmente se acalmou, sentei no chão da sala, entre caixas abertas. O silêncio do prédio era diferente do silêncio do quartel. Ali não havia vozes em ordem unida, não havia apito, não havia correria cronometrada. Só o som distante da rua, o eco dos canos, e o respirar constante do meu irmão no quarto ao lado.

Pensei em como minha vida tinha virado rotina. Acordar às cinco, treino, farda, marchar, obedecer, obedecer, obedecer. Disciplina era minha religião. Mas havia momentos em que eu me perguntava se não estava virando máquina demais. Se não havia espaço para algo que não coubesse em escala ou planilha.

Victor diz que eu preciso viver mais. Eu rio, digo que ele precisa viver com mais seriedade. No fundo, sei que estamos em lados opostos da mesma corda, tentando não despencar.

Foi nessa noite que percebi: morar ali seria diferente. O prédio tinha cheiro de novas histórias, e mesmo que eu tentasse ignorar, já havia sentido o olhar da garota da porta em frente. Não significava nada. Não podia significar nada. Mas ainda assim, ficou registrado em algum canto da memória, como a marca discreta de um carimbo invisível.

Apaguei tarde, com o corpo exausto, mas a mente ainda ligada. O peso da farda, o peso do irmão, o peso do futuro. Era assim que eu vivia: carregando tudo, sem pedir ajuda. Talvez fosse esse o destino de ser o irmão mais velho.

Eu não fazia ideia de que, em breve, um simples pedaço de papel dobrado mudaria tudo.

Parte 2 — O primeiro bilhete

Eu estava voltando do quartel quando encontrei o primeiro bilhete.

O corredor do prédio estava silencioso, apenas o barulho do elevador fechando atrás de mim. O cheiro de desinfetante barato impregnava o ar, misturado ao café velho da portaria. Eu caminhava no piloto automático, a mochila pesada nas costas, o corpo dolorido do treino, a cabeça ainda martelando ordens e relatórios. E então vi: um pedaço de papel dobrado rente à minha porta.

A primeira reação foi pura desconfiança. Peguei o papel com dois dedos, olhando em volta, como se esperasse que alguém pulasse atrás da parede para rir de mim. Estava limpo, dobrado com cuidado. Não era propaganda, não era conta. Era pessoal.

Abri ali mesmo, encostado à porta. A letra era redonda, inclinada para a direita, quase apressada:

“Oi, vizinho novo. Bem-vindo ao nosso andar. Aqui o barulho das tubulações é quase um despertador, e o porteiro nunca está de bom humor. Mas tirando isso, é um bom lugar. :)”

Fiquei alguns segundos parado, encarando aquelas linhas como se fossem um enigma. Não lembrava a última vez em que alguém tinha se dirigido a mim de forma tão simples. Sem burocracia, sem farda, sem título. Apenas “vizinho novo”.

Meu primeiro impulso foi amassar o papel e jogar no lixo. Mas não consegui. Dobrava e desdobrava o bilhete, lendo de novo a frase sobre o porteiro rabugento. Eu tinha notado o mal-humor do homem logo no primeiro dia. O comentário tinha graça. Era leve.

Entrei no apartamento e deixei a mochila no chão. Victor estava na sala, deitado de qualquer jeito no sofá, o controle do videogame na mão. O barulho de tiros digitais preenchia o ambiente.

— O que é isso? — perguntou sem tirar os olhos da tela, vendo o papel na minha mão.

— Nada. — Guardei rápido no bolso.

Ele riu.

— Você tem jeito de que recebeu bilhetinho da escola.

— Cala a boca, moleque. — Passei direto para o quarto, mas o comentário dele ficou grudado na minha mente.

Sentei na cama, encostando as costas na parede. Tirei o papel do bolso e li mais uma vez. Não havia nada demais, só uma frase simpática. Mas algo naquela leveza me incomodava, como se tivesse tirado uma camada da minha armadura.

Passei a mão no rosto, tentando decidir o que fazer. Parte de mim queria ignorar. Outra parte — a que eu não queria admitir — sentia uma curiosidade estranha. Quem tinha escrito? A garota da porta em frente, a mesma que eu tinha notado por uma fresta durante a mudança? Ou seria outra pessoa?

Não importava. Mas importava.

Acabei pegando uma folha de caderno que Victor tinha largado em cima da mesa. Segurei a caneta por longos segundos antes de escrever.

“Obrigado pela recepção. Prometo não fazer muito barulho — mas não posso prometer nada sobre o encanamento. ;)”

Era simples, direto, quase seco demais. Mas tinha humor, do meu jeito. Dobre o papel, levantei e atravessei o corredor. O silêncio do prédio era profundo. Ajoelhei diante da porta da frente, senti o frio do chão contra o joelho, e empurrei o bilhete por baixo. O gesto parecia ridículo. Um homem de vinte e sete anos, fardado de responsabilidades, ajoelhado diante de uma porta como um adolescente envergonhado.

Voltei rápido, batendo a porta atrás de mim. Victor ergueu os olhos do jogo, arqueou a sobrancelha.

— O que foi?

— Nada. — Peguei uma garrafa de água e sentei na cozinha, o coração batendo mais rápido do que no treino da manhã.

Eu não sabia explicar por quê. Era só um papel. Só uma frase. Mas já havia mexido comigo.

Naquela noite, deitado na cama, não consegui dormir. O corpo estava cansado, mas a mente girava em torno daquela letra redonda. Pensei na garota que vi na fresta da porta. O cabelo dourado nas pontas, os olhos que pareciam curiosos demais. Tinha sido ela? Eu não tinha como ter certeza. Mas algo dentro de mim queria acreditar que sim.

No quartel, no dia seguinte, mal consegui focar. Entre ordens, marchas e relatórios, a lembrança do bilhete voltava como um sussurro. Eu, que sempre vivi de disciplina, estava ansioso para voltar para casa por causa de um pedaço de papel.

E quando cheguei, lá estava: outro dobrado, rente à minha porta.

Segurei o papel como se fosse frágil, e naquele instante percebi — eu tinha entrado em um jogo. Não sabia as regras, não sabia onde ia dar. Mas sabia que já estava dentro.

Parte 3 — O vício da troca

Eu não percebi o momento exato em que o hábito virou vício. Talvez tenha sido no segundo bilhete, talvez no terceiro. Só sei que, depois de um tempo, eu já chegava em casa com os olhos colados ao chão, ansioso para ver se havia um papel dobrado rente à porta. Aquele gesto, tão pequeno, começou a ditar meu humor. Se havia bilhete, a noite parecia ganhar cor. Se não havia, o silêncio do apartamento pesava mais do que o barulho de qualquer quartel.

As respostas dela eram leves e engraçadas no início. Coisas banais sobre pizza ruim, porteiro mal-humorado, o clima indeciso da cidade. Eu lia e sentia uma calma estranha. Era como se alguém me puxasse para fora do meu mundo cinza e cheio de regras.

Mas não demorou para que as mensagens começassem a ganhar profundidade. Ela falava de medos, inseguranças, até de sonhos bizarros. O papel, para ela, parecia um confessionário. E eu… eu respondia. Sempre respondia.

E não respondia como Victor teria respondido, com piadinhas ou emojis de celular. Eu respondia como eu sou: direto, intenso, sem floreio. Muitas vezes escrevia frases curtas, mas carregadas de peso. E ela parecia beber cada palavra como se fosse vinho.

Um dos bilhetes dela dizia:

“Às vezes me sinto invisível, como se eu fosse só mais uma cara na multidão. Acho que ninguém repararia se eu sumisse.”

E eu respondi:

“Você não é invisível. Só precisa que alguém te enxergue sem pressa.”

Quando dobrei o papel e empurrei sob a porta dela, percebi que a mão tremia. Eu nunca tinha escrito algo assim para ninguém. Nunca. Nem quando era adolescente. E a sensação de vulnerabilidade quase me irritava. Mas havia também um alívio. Como se, pela primeira vez em muito tempo, eu estivesse falando de verdade.

No quartel, eu era máquina. Ordens curtas, respostas objetivas. Sim, senhor. Não, senhor. Movimento cronometrado. A vida era ritmo, e eu sabia a coreografia de cor. Mas em casa, à noite, diante da mesa iluminada apenas pela luz amarela fraca do teto, eu me permitia escrever. O papel virava trincheira e refúgio ao mesmo tempo.

Victor notava que algo estava diferente.

— Você anda estranho, mano — disse uma noite, largando o controle de videogame por tempo suficiente para me observar. — Sai do quartel cansado, mas em vez de desabar, fica aí, escrevendo.

— E daí? — respondi, tentando soar indiferente.

Ele riu.

— Sei não, mas tem mulher no meio.

Eu ignorei. Mas a verdade é que ele tinha razão. Havia mulher, havia desejo, havia confissão. Só que não do jeito que ele imaginava. Não eram mensagens no celular, não eram encontros marcados. Eram bilhetes, dobrados e deslizados no chão frio do corredor.

E a cada dia eu me envolvia mais. Lia e relia as cartas dela, decorava suas frases. Eu sabia que ela chorava com finais felizes, que tinha medo de não ser amada, que escrevia diários e desistia na metade. Eu sabia que ela escondia ansiedade atrás de risos e que às vezes se sentia atrasada para algo que nem sabia o que era.

E, sem perceber, comecei a esperar por essas confissões. Como se fossem munição para minha própria solidão.

O mais estranho é que eu também comecei a abrir minhas próprias brechas. Eu não contava detalhes da vida militar, mas deixava escapar pedaços. Frases que denunciavam a rigidez, a dureza, o peso de carregar mais do que devia. Eu não sabia se ela entendia, mas ela respondia como se sim.

Um dia, ela escreveu sobre doramas, sobre acreditar em finais felizes. Eu, sem pensar, devolvi:

“Você fala de finais felizes, mas já parou para pensar se está pronta para o caminho que leva até eles? Felicidade nunca vem sem dor no meio do caminho.”

Quando empurrei o bilhete para a porta dela, senti como se tivesse colocado meu coração ali, nu, sem proteção. Eu não sabia por que fazia isso. Não era meu estilo. Eu não era de me abrir. Eu não era de confiar. Mas com ela era diferente.

Ainda assim, algo me incomodava. A forma como ela escrevia, às vezes, parecia que me via como alguém mais leve, mais jovem. Como se imaginasse outra pessoa. Isso ficou claro quando mencionou que tinha me visto distraído, com fones, no dia da mudança. Não era eu. Era Victor.

Naquele instante, desconfiei que havia um mal-entendido. Mas não corrigi. Não expliquei. Parte de mim queria ver até onde aquilo iria. Parte de mim temia que, se ela soubesse que o homem dos bilhetes era o cabo de vinte e sete anos, o “soldado durão”, o encanto se quebrasse.

Então fiquei em silêncio. Continuei escrevendo. Continuei alimentando o jogo.

As noites passaram a ser um campo de batalha interno. Eu, que sempre soube quem eu era e onde devia estar, agora me pegava pensando nela. Na curva da letra, no jeito de dobrar o papel. Na possibilidade de abrir a porta e vê-la de perto.

Eu sabia que estava me arriscando. Mas não consegui parar.

E quando me dei conta, não eram apenas bilhetes. Era a primeira coisa que eu pensava ao acordar e a última antes de dormir.

Eu não tinha mais escolha. Já estava viciado.

Cheguei em casa tarde naquela noite. O corpo moído pelo dia inteiro de treino e instrução, o uniforme impregnado de suor seco, o peso da mochila puxando meus ombros como se fosse mais uma carga que a vida jogava em cima de mim. Tudo o que eu queria era banho frio e cama.

A porta do apartamento rangeu ao abrir. Victor estava estirado no sofá, o quarto mergulhado apenas na luz azul da televisão. O barulho do videogame preenchia a sala — tiros digitais, explosões, gritos de personagens em inglês.

Ele não tirou os olhos da tela quando falou:

— Mano… eu vi a vizinha hoje.

Larguei a mochila no canto, passei a mão na nuca dolorida.

— Que vizinha?

— A da frente. — Ele sorriu de canto, ainda jogando. — A bonitinha do cabelo claro.

Meu coração deu um pulo discreto. Continuei tirando as botas como se nada tivesse acontecido.

— E daí?

Victor riu.

— Sei não, mas acho que ela tá caidinha em mim.

Levantei os olhos devagar. Ele largou o controle por alguns segundos e se recostou, como quem se divertia com a própria descoberta.

— Eu entrando no elevador, ela tava descendo as escadas correndo. Me encarou daquele jeito, sabe? Meio surpresa, meio nervosa. Até corou. — Ele fez um gesto com a mão, zombeteiro. — Aposto que vai inventar desculpa qualquer pra bater aqui um dia desses.

Fiquei em silêncio.

O detalhe finalizou a suspeita que eu já carregava desde os bilhetes. Era ele. Sempre tinha sido ele. O rosto que ela imaginava era o de Victor. O olhar nervoso, a respiração acelerada que ele descrevia agora, tudo batia com a forma como ela escrevia sobre mim.

Mas não era ele quem lia suas confissões. Não era ele quem respondia com frases que a faziam perder o fôlego. Era eu.

Victor riu de novo, balançando a cabeça. — Você devia ter visto. Se não fosse eu, eu diria que foi cena de dorama.

— Engraçado — murmurei, indo direto para a cozinha.

Abri a geladeira, peguei uma garrafa d’água e bebi no gargalo. O líquido gelado desceu queimando a garganta, mas não aliviou nada.

Ele insistiu, agora me olhando por cima do encosto do sofá.

— Vai dizer que você não notou? Sempre que passa no corredor, a porta dela demora a abrir, parece que quer falar. Aposto que um dia desses vai escrever até bilhetinho.

Meu corpo inteiro ficou rígido.

Não respondi. Não podia.

Em vez disso, virei de costas, fui direto para o quarto e fechei a porta. Encostei nela, respirei fundo, tentando acalmar a fúria e o desejo que borbulhavam juntos dentro de mim.

Ele não fazia ideia.

Não sabia que, enquanto acreditava ser alvo do interesse da vizinha, ela estava, na verdade, se abrindo para mim. Escrevendo segredos, desejos, medos. Não sabia que era o meu nome que ela sussurrava no papel.

Mas o pior não era o engano dela. O pior era o meu silêncio.

Eu podia ter corrigido tudo. Podia ter dito a Victor: não é você, ela escreve pra mim. Podia ter explicado a Letícia: o homem dos bilhetes não é o garoto distraído que você viu. Mas não fiz.

E cada vez mais tinha certeza de que não faria.

Porque o que importava não era o rosto que ela imaginava. O que importava era o que ela sentia. E isso, cada palavra dela deixava claro, vinha de mim. Das minhas frases. Do peso que eu colocava no papel.

Victor podia ter a cara que chamava a atenção. Mas era a minha voz que fazia o coração dela tremer.

Sentei na cama, tirei a camiseta suada e a joguei no canto. O apartamento estava silencioso, só o eco distante dos tiros digitais no quarto ao lado. A luz da rua entrava pela janela, riscando a parede com tons alaranjados.

Peguei a pequena pilha de bilhetes que guardava dobrados na gaveta. Abri um, depois outro, relendo. O calor no peito aumentava a cada linha.

Ela já tinha escolhido. Mesmo sem saber, já era eu quem ela esperava.

E talvez, no fundo, era isso que me assustava mais do que qualquer mal-entendido.

Parte 4 — O convite

Cheguei em casa depois de um dia que parecia não ter fim. O corpo ainda carregava o peso do quartel: horas de treino, ordens secas, suor escorrendo até empapar a farda. Quando atravessei a porta do apartamento, encontrei Victor no sofá, como sempre. Mas havia algo diferente no jeito dele.

Não era só o controle do videogame em mãos, não era só a postura relaxada. Era o sorriso. Aquele meio sorriso dele que sempre significava uma coisa: ele sabia mais do que estava mostrando.

— E aí, mano. — Ele pausou o jogo, ajeitou-se no sofá e tirou algo do bolso. — Acho que alguém aí tá me querendo.

O mundo parou por um instante. Nas mãos dele, dobrado com cuidado, estava um bilhete.

Meu coração disparou. Reconheci de imediato a dobra, a letra visível na primeira linha. O papel queimarava na minha memória antes mesmo de eu tocá-lo.

Victor balançou o bilhete no ar, provocador.

— Encontrei isso mais cedo, quando cheguei. Bem na nossa porta. Acho que a vizinha da frente tá caidinha por mim. Olha só… — Fingiu que ia abrir.

Em dois passos, tomei o bilhete da mão dele. A raiva me fez falar antes de pensar:

— Não é pra você.

O sorriso dele se alargou, cheio de surpresa e divertimento.

— Ah, é? Então é pra quem, gênio?

Segurei o papel com força, o calor subindo pelo rosto. Havia semanas que eu guardava aquele segredo, semanas em que cada bilhete era meu combustível silencioso. Agora não fazia sentido esconder mais.

— É pra mim. — Minha voz saiu firme, grave, cortando o ar entre nós. — Desde que a gente se mudou, ela tem me escrito.

Victor piscou, incrédulo.

— Quê?

— Bilhetes. — Respirei fundo. — Confissões, piadas, segredos. Eu tenho respondido todos.

Ele soltou uma gargalhada curta, quase sem acreditar.

— Caralho, Vinícius. Você? O certinho do quartel, trocando cartinha com a vizinha?

— Não são “cartinhas”. — A raiva latejava, mas havia também um orgulho que eu não podia esconder. — É diferente.

Victor me observou em silêncio por alguns segundos, os olhos claros brilhando de diversão. Depois riu de novo, balançando a cabeça.

— Então é você? Eu tinha certeza que era comigo.

— Não é com você. — Minha resposta saiu seca.

Ele ergueu as mãos, rendido, ainda sorrindo.

— Beleza, beleza. Mas agora fiquei curioso… o que ela escreveu?

Não respondi. Em vez disso, sentei na beira do sofá e abri o bilhete com cuidado, como se fosse uma arma pronta para disparar.

As palavras saltaram da página:

“Chega de papéis. Quero ver seu rosto enquanto leio as suas palavras. Hoje à noite, no meu apartamento. 20h.”

O ar me faltou.

Era o que eu temia e o que eu desejava ao mesmo tempo. O fim do jogo. Ou o começo de outro muito mais perigoso.

Victor tentou espiar por cima do meu ombro, mas dobrei o papel rápido e guardei no bolso.

— E aí? — ele provocou. — O que a princesinha disse?

Levantei os olhos para ele. Minha expressão deve ter sido suficiente, porque o sorriso se apagou aos poucos.

— É sério? — perguntou, a voz mais baixa.

Assenti.

— É sério.

O silêncio caiu entre nós. O barulho da televisão continuava ao fundo, mas parecia distante, irrelevante. Victor me olhava como se visse um lado meu que nunca tinha conhecido. Talvez fosse isso mesmo.

Levantei, caminhei até meu quarto e fechei a porta. O bilhete queimava no bolso. Olhei o relógio. Faltavam menos de duas horas.

Respirei fundo, encarei meu reflexo no espelho. Não havia mais volta.

Às 20h, eu estaria diante da porta dela.

E nada seria igual depois.

Parte 5 — A revelação

O relógio marcava 19h59 quando bati à porta dela. Dois toques firmes, secos, como se eu estivesse prestes a entrar numa inspeção, e não num convite íntimo que podia mudar tudo. Meu coração, no entanto, não seguia a disciplina. Batia rápido demais, pesado demais, como se tentasse arrombar meu próprio peito.

A maçaneta girou devagar, e a porta se abriu.

Letícia apareceu na moldura. O vestido leve, os ombros expostos, o cabelo solto refletindo a luz quente da sala. Mas não foi nada disso que me atingiu. Foi o olhar. Ele vacilou, como se esperasse outra coisa. Outra pessoa.

Eu a encarei de frente, sem me mover, sem abaixar a intensidade da minha presença. Deixei a voz grave romper o silêncio:

— Então você é a Letícia dos bilhetes.

Vi o rosto dela corar. O rubor subiu até as maçãs do rosto, queimando de vergonha e surpresa.

— E você é… Vinícius.

Assenti devagar, arqueando uma sobrancelha. Ela dizia meu nome como se ainda testasse, como se não coubesse em mim. E então falei, sentindo a hesitação dela como uma lâmina no ar:

— Sim. Mas… você está com uma cara de quem esperava outra pessoa.

A garganta dela secou visivelmente. Os lábios tremeram antes que a voz saísse, trêmula:

— Eu… pensei que fosse você… o rapaz que vi no dia da mudança. Loiro, com fones…

O nome de Victor latejou na minha mente antes que ela sequer terminasse. Cruzei os braços, soltei o ar pesado.

— Esse é o meu irmão mais novo. Victor.

A reação dela foi imediata: a mão cobrindo a boca, os olhos arregalados. O choque estampado sem defesa.

— Então… era você. Desde o início.

Assenti, firme, sem dar espaço para dúvidas.

— Sempre fui eu. Eu pensei que você soubesse.

O silêncio entre nós ficou denso, vivo, quase um corpo ocupando a sala junto conosco. Vi o caos tomar conta dela, os pensamentos atropelando uns aos outros. Ela respirou fundo, tentando organizar a própria voz.

— Eu… não sei o que dizer.

Dei um passo mais perto, diminuindo a distância de propósito. A voz saiu baixa, mas firme:

— Então não diga nada.

O coração dela disparou. Eu conseguia ouvir o ritmo irregular da respiração, conseguia ver as mãos tremerem. A vela sobre a mesa tremulava, projetando nossas sombras nas paredes como se fossem mais dois corpos na sala.

Ela me olhou, ainda lutando contra a confusão que a dominava. E murmurou, quase sem acreditar no que dizia:

— Então… foi você o tempo todo.

Sustentei o olhar dela sem vacilar.

— Foi. — Minha voz saiu grave, certeira. — Desde o primeiro bilhete.

Vi as mãos dela tremerem mais, e então veio a confissão que eu já esperava:

— Eu… achei que fosse o seu irmão. O rapaz da mudança.

Arqueei uma sobrancelha, deixando escapar a verdade com franqueza.

— Victor. Eu percebi que você me descrevia como alguém mais jovem, mas pensei que fosse só fantasia sua. Nunca imaginei que você confundisse de verdade.

Ela baixou os olhos, envergonhada, a voz saindo quase como um lamento:

— Então eu estava me correspondendo com você, mas pensando em outro rosto.

Outro passo, diminuindo a distância até que pudesse sentir o calor do corpo dela irradiando.

— Você estava se correspondendo comigo. — Falei com firmeza, cada palavra carregada de certeza. — Tudo o que você sentiu, cada arrepio, cada desejo… fui eu quem provoquei. Não o Victor.

Ela levantou os olhos devagar, e eu vi o peso das minhas palavras se cravar fundo. Ainda havia dúvida latejando ali, mas não mais sobre quem eu era. Era sobre o que ela faria com a verdade.

— E como eu posso ter certeza? Como sei que é você quem me fez me sentir assim?

Foi a deixa. Inclinei o rosto, prendi os olhos dela nos meus e deixei a verdade cair como granada:

— Porque só eu sei que você tem medo de não ser protagonista da própria vida. Só eu sei que você chora em finais felizes porque acha que talvez nunca tenha o seu. Só eu sei que sua ansiedade não é atraso, mas desejo querendo transbordar.

A cada frase, vi a barreira dela se despedaçar. Os olhos marejaram, os lábios entreabriram, e o corpo inteiro tremeu.

— É você… — murmurou, sem ar. — Sempre foi você.

E naquele instante eu soube: não havia mais papel entre nós, não havia mais disfarce. Só a verdade nua.

Ergui a mão, toquei o queixo dela, forçando-a a me encarar de novo. O calor da pele dela queimava sob meus dedos. Inclinei-me mais, e a voz saiu como provocação e promessa ao mesmo tempo:

— Agora me diz, Letícia… ainda quer ver meu rosto de perto?

Ela fechou os olhos por um segundo, respirou fundo, e quando os abriu, não havia mais espaço para dúvida.

— Quero.

E antes que a mente dela pudesse recuar, puxei-a para mim. O beijo explodiu, pesado, urgente, como pólvora queimando todo o papel que nos separava.

O gosto dela me atingiu como ferro em brasa. Doce, úmido, quente — mas havia mais: a entrega trêmula, o susto misturado com desejo, como se ela tivesse esperado por aquilo sem saber que esperava.

Eu a puxei contra mim e senti o corpo leve se encaixar no meu, cada curva colando na rigidez do meu peito e dos meus braços. A tensão de semanas, de cada bilhete escrito e guardado, explodiu ali, no choque dos lábios, no gemido abafado que escapou da garganta dela.

Beijar Letícia não foi como conquistar. Foi como atravessar uma porta que já estava aberta, mas que eu hesitava em empurrar. Agora, dentro do calor da boca dela, percebia que não havia volta.

Minhas mãos a seguravam como se fosse ao mesmo tempo vidro e fogo. Delicada demais para esmagar, incandescente demais para soltar. Senti as unhas dela se prenderem ao tecido da minha camisa, os dedos buscando apoio como se o mundo estivesse girando rápido demais.

O ar rareou entre nós. Quando me afastei por um instante, vi os olhos dela semicerrados, os lábios vermelhos e úmidos, a respiração curta. Vi a dúvida ainda ali — mas também vi a chama.

Eu, que tantas vezes lidei com armas, ordens, estratégias, percebi que nada tinha me preparado para isso: para o poder bruto de um beijo roubado no corredor entre a fantasia e a verdade.

E naquele instante, soube que o que viria depois não seria só desejo. Seria rendição.

Parte 6 — A entrega

O sorriso dela foi mínimo, quase tímido, mas carregado de tensão. Eu não precisava de mais nada para entender: ela estava rendida.

Puxei-a devagar, firme, sem espaço para recuo. O primeiro choque dos lábios me atravessou como um disparo — contido por um segundo, depois urgência. O beijo era quente, faminto. A força dela surpreendeu: dedos cravados nos meus ombros, puxando como se quisesse arrancar de mim algo que eu guardava há semanas.

Apertei mais, esmagando o corpo dela contra o meu. Não havia espaço entre nós. O calor subiu rápido, sufocante. Encostei-a na parede, sentindo a frieza bater nas costas dela enquanto o suor escorria pela minha pele.

Ela tremia, mas não era medo. Era entrega. Até que a voz dela saiu em sussurro:

— É a minha primeira vez.

Congelei. Um segundo que pareceu um século. Os olhos dela presos nos meus, o peito arfando. A mão dela não me afastava, me puxava.

Acariciei o rosto dela com a mão grande, passando o polegar nos lábios entreabertos.

— Então vai ser a única vez que você nunca vai esquecer. — A promessa saiu grave, firme, e naquele momento eu decidi que faria valer.

Ela assentiu. Era tudo o que eu precisava.

Peguei-a pela cintura, leve demais nos meus braços, e a levei até o sofá. Não joguei, não empurrei: deitei-a com cuidado, como se fosse um objeto precioso. Meu corpo cobriu o dela, mas com controle. Beijei-a de novo, agora lento, explorando. Ela não quis calma. Agarrou meu cabelo, puxou-me com força. Senti o riso abafado dela entre nossos lábios.

Quando a penetrei, o som que escapou dela me fez parar. Um gemido alto, surpresa misturada a dor.

Fitei os olhos dela, atento.

— Está doendo?

Ela mordeu o lábio, arqueou as costas.

— Não… continua.

Obedeci. Devagar, compassado, no ritmo que permitisse ao corpo dela se acostumar. Senti a tensão ceder, o calor aumentar. Os gemidos tímidos viraram pedidos, a voz dela mais alta, mais urgente. O sofá rangia sob nós, o som de pele contra pele preenchendo o ambiente.

— Vinícius… — gemeu, a voz falhando.

Mordi o pescoço dela, a respiração quente contra a pele:

— Mais alto. Quero ouvir.

E ela obedeceu. Gritou meu nome, e o som percorreu minhas veias como descarga.

Levantei-a sem esforço, as pernas dela se enroscando na minha cintura. Encostei-a na parede, mergulhando fundo. O choque arrancou dela um gemido profundo, quase um choro. O corpo dela tremia inteiro.

O ritmo explodiu. Bruto, animalesco, mas ainda sob controle. Uma mão firme sustentava suas costas, meus olhos presos aos dela, lembrando-a de que estava segura.

— Você é minha agora. — Saiu rouco, quase um grunhido.

O corpo dela estremeceu, e a resposta veio carregada de rendição:

— Sou sua…

Levei-a de volta ao sofá, virei-a de bruços. Puxei sua cintura para mim e entrei de novo. O novo ângulo arrancou dela gritos que ecoaram pela sala. O som cru, indecente, fazia meu corpo arder ainda mais. Cada investida a empurrava para frente, as mãos dela agarradas nas almofadas, as unhas rasgando o tecido.

— Isso… — a voz dela quase chorava. — Não para.

O suor escorria de mim, pingando no corpo dela, o calor sufocante. O cheiro era denso: pele, desejo, vela queimando.

Virei-a de frente, descendo beijos pelo corpo. Suguei os seios, lambi o suor da barriga, ouvindo cada gemido dela se perder no ar.

Quando voltei a penetrá-la, já não havia hesitação. Ela me recebia inteira, aberta, faminta. Suas mãos me puxavam, suas pernas me prendiam, o corpo dela gritava por mais.

Encostei a boca na dela, olhos febris, e murmurei:

— Goza pra mim.

Foi o gatilho. O corpo dela arqueou, os gritos romperam o silêncio. Senti cada tremor sacudir sua pele contra a minha, cada onda de prazer atravessar seu corpo pequeno.

Eu não aguentei. Enterrei o rosto no pescoço dela, gemendo grave, animal, enquanto meu corpo explodia dentro do dela. O calor me consumiu, me drenou, até não restar nada além da respiração ofegante.

Caímos juntos, colados, suados, exaustos. Segurei sua cintura firme, ainda dentro dela, sentindo o corpo dela tremer sob o meu.

Levantei o rosto, a voz rouca, mas com ternura que não consegui disfarçar:

— Foi especial?

Ela passou os dedos pelo meu rosto, sorrindo entre lágrimas.

— Mais do que eu imaginei.

Beijei sua testa devagar. Não era só sexo. Era algo que me atravessava de dentro para fora.

A chama da vela oscilava, prestes a se apagar. E, de algum modo, parecia a tradução perfeita do que ardia entre nós.

O corpo dela ainda pulsava contra o meu, quente, trêmulo. A respiração curta batia no meu peito como um tambor, me lembrando de que eu tinha atravessado uma linha que não existia retorno.

O cheiro do sexo impregnava o ar. Pele, suor, vela quase apagada. O sofá rangia sob nós, a estrutura barata reclamando de cada investida que tinha suportado. Eu ainda sentia meus músculos tensos, o coração disparado, a pele grudada à dela.

Minha mão estava firme em sua cintura, o polegar fazendo movimentos lentos, quase automáticos. Não era carinho planejado, era reflexo. Eu não queria soltar.

Ela levantou o rosto para mim, os olhos marejados, as mãos trêmulas. Quando os dedos dela passaram pela minha barba, pela minha pele ainda suada, eu quase fechei os olhos. Não era ternura que eu estava acostumado a receber. Era rendição, e isso era mais perigoso que qualquer combate.

— Você está bem? — perguntei, a voz rouca, quebrada pelo cansaço e pela intensidade.

Ela mordeu o lábio.

— Melhor do que bem.

A resposta me acertou fundo. Melhor do que bem. Eu devia sentir culpa. Devia pensar no que viria depois, no risco. Mas no lugar disso, senti orgulho. Senti posse.

O silêncio voltou, pesado, mas não desconfortável. Era silêncio de corpos que se reconhecem depois da guerra. A vela vacilava, prestes a se apagar, como se a sala também respirasse o mesmo cansaço que nós.

Ela murmurou, a voz baixa, carregada de peso:

— Isso muda tudo.

Apertei mais a cintura dela, puxando-a contra mim. — Talvez mude. Talvez seja só o começo.

E era isso que eu temia e queria ao mesmo tempo. O começo de quê? Eu não sabia. Só sabia que não existia volta.

Ela se aninhou no meu peito, ouvindo meu coração ainda descompassado. Aos poucos, o corpo dela cedeu, os olhos se fecharam, a respiração caiu no ritmo lento do sono.

Eu fiquei acordado mais tempo, encarando o teto, sentindo o calor dela grudado ao meu corpo. Cada músculo pesado, cada pensamento confuso, cada certeza queimando em silêncio.

Eu a tinha marcado. Ela tinha se entregado.

E quando finalmente fechei os olhos, soube que nada seria igual.

FIM

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Foto de perfil de Fabio N.MFabio N.MContos: 146Seguidores: 164Seguindo: 52Mensagem Segredos para uma boa história: 1) Personagens bem construídos com papéis e personalidades bem definidas qualidades e defeitos (ninguém gosta de Mary Sue ou Gary Stu); 2) Conflitos: "A quer B, mas C o impede" sendo aplicado a conflitos internos e externos; 3) Ambientação sensorial, descrevendo onde estão seus personagens, o que estão vendo ou sentindo.

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