Brilhante Victoria (Episódio 4)

Um conto erótico de Luke_7
Categoria: Heterossexual
Contém 4464 palavras
Data: 28/09/2025 19:34:21
Assuntos: fanfic, Heterossexual

✧ A Canção da Semana do Níver ✧

A contagem regressiva havia começado, zumbindo no fundo da mente de Tori Vega como uma bomba-relógio. Não era uma contagem para o fim do mundo, mas para algo que, em sua casa, possuía uma gravidade semelhante: a "Semana de Aniversário" de Trina. Sua irmã mais velha não se contentava com um mero dia de celebração; Trina acreditava que seu nascimento era um evento tão monumental que exigia sete dias de festividades, presentes e, acima de tudo, atenção ininterrupta. E o tique-taque no cérebro de Tori era o som de seu próprio pânico crescente. Faltavam apenas alguns dias, e ela ainda não tinha a menor ideia do que comprar.

O problema não era falta de esforço. Tori passara a última semana em um estado de perpétua prospecção de presentes, uma caça frenética por algo que pudesse satisfazer o insaciável apetite de Trina por bugigangas caras e gestos grandiosos. Seus amigos, como de costume, eram um poço de inutilidade bem-intencionada.

"Que tal um queijo gigante?", André sugeriu, com a seriedade de um filósofo, enquanto dedilhava uma melodia suave em seu teclado na sala de música da Hollywood Arts. "Tipo, do tamanho de um pneu de carro. Ninguém espera ganhar um queijo gigante."

Tori apenas o encarou, a expressão vazia.

"André, da última vez que a Trina comeu laticínios depois das seis da tarde, ela culpou o inchaço por arruinar a 'silhueta de suas pernas' por uma semana. Próximo."

Cat, sentada no chão e colando glitter em um par de tesouras, ofereceu sua própria pérola de sabedoria.

"Meu irmão uma vez ficou preso num cano e os bombeiros tiveram que usar manteiga pra tirar ele. Que tal manteiga?"

"Estou tentando dar um presente, não resolver um enigma bizarro de encanamento", Tori suspirou, esfregando as têmporas. A dor de cabeça era sua companheira constante.

Até mesmo Jade, que geralmente se deleitava com o sofrimento alheio, decidiu contribuir, seu tom pingando sarcasmo.

“Dê a ela uma caixa vazia. Diga que é um 'presente conceitual' sobre o vazio da existência materialista. Ela vai adorar a profundidade."

A frustração de Tori atingiu o ápice quando ela se lembrou de um par de sapatos de grife que Trina vinha cobiçando há meses. Eram absurdamente caros, com saltos que desafiavam a gravidade e um design que gritava "sou mais importante que você". Eram perfeitos. Com o coração na mão e a carteira tremendo, Tori foi até a loja, apenas para encontrar o último par... nos pés de Trina, que exibia sua nova aquisição com um sorriso triunfante.

"Não são incríveis, Tori?", ela disse, admirando o reflexo na vitrine. "E o melhor de tudo, estavam com cinquenta por cento de desconto! Foi o universo me dando um pré-presente de aniversário."

Tori sentiu o chão sumir sob seus pés. Derrotada, ela voltou para a escola, o desespero estampado em seu rosto. Foi André quem a encontrou, cabisbaixa, perto dos armários. Ele observou seu desalento por um momento antes de se sentar ao lado dela.

"Ainda na caça ao presente?", ele perguntou, gentilmente.

"Caça? André, isso é uma guerra de atrito e eu estou perdendo", ela lamentou. "Trina já comprou os sapatos. Os sapatos que eram a minha última esperança. Agora tudo que me resta é a ideia do queijo gigante."

André riu, um som caloroso que cortou um pouco a névoa de pânico de Tori.

"Esqueça os sapatos. Esqueça o queijo. Por que você não dá a ela algo que ninguém pode comprar?"

Tori ergueu uma sobrancelha.

"Um rim?"

"Uma música", ele corrigiu, um brilho surgindo em seus olhos. "Você tem uma voz incrível, Tori. E você sabe tocar corações. Escreva uma música para ela. Cante na festa da semana de aniversário. Algo que venha de você, algo pessoal."

A ideia pairou no ar, cintilando com uma possibilidade que Tori não havia considerado. Uma música. Era pessoal, era único, e, o mais importante, era algo que Trina não poderia comprar em promoção. Um sorriso lento se espalhou por seu rosto. Era a ideia mais aterrorizante e, ao mesmo tempo, a mais perfeita que ela já ouvira.

Os dias seguintes foram um borrão de criatividade febril. Tori e André se trancaram no estúdio da casa dele, cercados por teclados, guitarras e folhas de papel amassadas. André, com sua genialidade musical inata, criava melodias que pareciam extrair as emoções diretamente do ar, enquanto Tori lutava com as palavras, tentando destilar a complexa, exasperante e inegável ligação que tinha com sua irmã em versos e refrões.

Ela escreveu sobre as brigas, as risadas, a maneira como Trina podia ser a pessoa mais egoísta do mundo em um minuto e, no seguinte, surpreendentemente protetora. Escreveu sobre crescer à sua sombra, mas também sobre como essa mesma sombra a impulsionou a encontrar sua própria luz. A música, que eles batizaram de "You're The Reason", transformou-se em uma balada poderosa, uma confissão agridoce de amor fraternal. Era a coisa mais honesta que Tori já havia escrito.

O grande dia, o clímax da "Semana de Aniversário", finalmente chegou. A casa dos Vega estava abarrotada de gente, a maioria amigos de Trina que pareciam ter saído de um catálogo de moda. A música pulsava, as luzes de festa giravam e Trina, o centro do universo, flutuava pela sala em um vestido brilhante, aceitando adoração e presentes com a graça de uma rainha entediada.

Tori sentiu um nó no estômago. E se eles odiassem? Pior, e se Trina odiasse? André, percebendo seu nervosismo, apertou seu ombro.

"Você consegue. A música é incrível. Você é incrível."

Com um aceno de cabeça para André, que se posicionou no teclado portátil que haviam montado em um canto da sala, Tori pegou o microfone. A música ambiente diminuiu, e os olhares se voltaram para ela.

"Oi, pessoal", ela começou, a voz um pouco trêmula. "Hã... como todos sabem, é a semana de aniversário da Trina."

Um aplauso polido percorreu a sala.

"E, uh, Trina, você é... bem, você é você. E é muito difícil encontrar um presente para você. Então, eu decidi... fazer um."

André tocou os primeiros acordes, suaves e melancólicos. Tori fechou os olhos por um segundo, respirou fundo e começou a cantar. A voz dela encheu a sala, clara e potente, carregada com toda a emoção que ela havia derramado naquelas letras.

***

I don't want to make a scene

I don't want to let you down

Try to do my own thing

And I'm starting to figure it out

That it's alright

Keep it together wherever we go

And it's alright, oh well, whatever

Everybody needs to know

You might be crazy

Have I told you lately that I love you?

You're the only reason that I'm not afraid to fly

And it's crazy that someone could change me

Now no matter what it is I have to do, I'm not afraid to try

And you need to know that you're the reason why

***

Quando a última nota pairou no ar, um silêncio momentâneo tomou conta da sala, seguido por um aplauso entusiasmado. Tori abriu os olhos, o coração batendo forte, e seu olhar encontrou o de Trina. Ela procurou por um sinal de compreensão, uma faísca de emoção, qualquer coisa.

Trina sorriu, um sorriso largo e performático, e bateu palmas com mais força que ninguém. Ela caminhou até Tori e a abraçou.

"Isso foi... uau! Tori, quem sabia que você tinha isso em você? Incrível! Realmente incrível."

Ela se afastou, ainda sorrindo, e olhou ao redor.

"Ok, então... onde está o meu presente?"

O ar saiu dos pulmões de Tori como se ela tivesse levado um soco. A sala inteira pareceu congelar. O sorriso da irmã caçula vacilou e desapareceu.

"O quê?"

"Meu presente", Trina repetiu, com uma paciência forçada. "A música foi uma ótima abertura, sério, uma performance fantástica. Mas a semana de aniversário ainda não acabou. Cadê?"

A fúria que subiu pela garganta de Tori foi tão quente e súbita que a deixou tonta. Era uma raiva nascida da vulnerabilidade esmagada, da sinceridade jogada fora como um guardanapo usado. Seus olhos se estreitaram e sua voz saiu baixa e perigosamente calma.

"A música", ela sibilou. "A música era o presente, Trina."

A confusão no rosto de Trina se transformou em desdém.

"Uma música? Você me deu... ar cantado? Tori, é a minha semana de aniversário!"

Foi a gota d'água.

"Fora", disse Tori, a voz subindo de volume.

Os convidados próximos se encolheram.

"Todo mundo, fora! Agora!"

Ninguém se moveu, chocados com a explosão.

"Eu não estou brincando!", ela gritou, o som ecoando pela sala. "A festa acabou! Vão embora!"

As pessoas começaram a se mover, pegando bolsas e casacos, lançando olhares confusos e assustados. Em poucos minutos, a sala estava quase vazia, exceto por André, que pairava hesitantemente perto do teclado. Do lado de fora, como se o universo quisesse fornecer um cenário dramático, uma chuva torrencial começou a desabar, o som de um trovão distante pontuando a tensão.

"Você também, André. Desculpe", a garota disse, sem olhar para ele. Ele assentiu, compreensivo, e saiu silenciosamente, fechando a porta atrás de si.

Agora eram apenas as duas, cercadas pelos restos da festa e pelo som da chuva batendo nas janelas.

"Você tem ideia de quão humilhante isso foi?", Trina chiou, as mãos nos quadris. "Você expulsou todos os meus amigos!"

"Você tem ideia de quão humilhante você foi?", Tori retrucou, avançando um passo. "Eu passei dias derramando meu coração naquela música! Eu te dei a coisa mais real e honesta que eu já criei, e você me pergunta onde está o seu 'presente de verdade'?"

"Ah, por favor! Você só não conseguiu pensar em um presente decente e inventou essa coisa de música como uma desculpa barata!"

A acusação atingiu a irmã caçula com a força de um tapa. A raiva dentro dela se solidificou em algo frio e duro. Sem dizer uma palavra, ela foi até a mochila, tirou um pequeno pendrive prateado e o atirou no peito de Trina.

"Aqui", disse ela, a voz desprovida de qualquer emoção. "Feliz semana de aniversário. Agora você pode ter o 'ar cantado' para sempre."

Trina olhou para o pendrive em sua mão e depois para Tori, um sorriso de escárnio se formando em seus lábios. Tori não esperou para ver mais. Ela se virou e subiu as escadas para seu quarto, fechando a porta com uma batida final que fez a casa inteira tremer.

Enquanto o drama dos Vega se desenrolava, a alguns quilômetros de distância, Robbie Shapiro estava preso em seu próprio inferno pessoal, um purgatório digital povoado por um único demônio tecnológico: sua avó. Ensiná-la a usar a internet era como tentar ensinar um peixe a andar de bicicleta; uma tarefa fútil, frustrante e que inevitavelmente terminaria com alguém se afogando em desespero.

"Robert, o que é um 'clique'?", a voz dela gritou pelo telefone, pela quarta vez naquela tarde.

"É quando você aperta o botão do mouse, Vovó", ele respondeu, massageando a ponte do nariz, onde uma enxaqueca começava a florescer.

Rex, seu fiel fantoche, estava empoleirado em seu joelho, o rosto de madeira fixo em um julgamento silencioso.

"Mas qual botão? O da direita ou o da esquerda? E se eu segurar? Isso é um clique longo? O computador sabe a diferença?"

Robbie respirou fundo, contando até dez. Ele amava sua avó, mas sua total inaptidão com qualquer coisa mais complexa que um garfo estava testando os limites de seu afeto.

Exausto pelos repetidos telefonemas, ele teve uma ideia que pareceu brilhante no momento: pedir reforços. Ele convidou Cat para ir com ele até a casa da avó naquela noite. Ela era paciente, doce e talvez sua aura de simplicidade excêntrica pudesse, de alguma forma, neutralizar a confusão tecnológica de sua avó.

Acontece que a Vovó Shapiro não gostava abertamente de Cat. Desde o momento em que a viu, seus olhos se estreitaram para a cascata de cabelo vermelho-vibrante da amiga de seu neto.

"Uma garota não pinta o cabelo dessa cor a menos que tenha problemas psicológicos", a mulher idosa declarou, sem rodeios, enquanto servia um chá que tinha a cor e a consistência de água de pântano.

Cat piscou, seu sorriso ingênuo vacilando.

"O que a senhora quer dizer com isso?"

Vovó a ignorou, voltando-se para Robbie.

"Então, esta é sua namorada? Pensei que você tivesse melhor gosto, Robert."

"Ela não é minha namorada, Vovó! Ela é minha amiga. E ela veio ajudar."

A ajuda de Cat consistiu principalmente em apertar botões aleatórios e perguntar se o computador gostava de cupcakes. A noite foi um desastre.

No dia seguinte, na escola, a humilhação continuou. Robbie estava no meio de uma apresentação entusiasmada sobre Vaudeville para a aula da Sra. Yonders. Ele havia preparado slides, clipes de áudio, tudo. Assim que conectou seu laptop ao projetor, uma janela de chamada de vídeo apareceu, preenchendo a tela com o rosto ampliado de sua avó.

"Robert? Robert, você está aí? Como eu acesso a internet?", ela perguntou, a voz ressoando pelos alto-falantes da sala de aula.

A turma inteira explodiu em risadas.

O garoto sentiu seu rosto queimar.

"Vovó, você já está na internet! Você está me ligando por vídeo!"

"Não seja insolente! Ah, você levou aquele seu fantoche para a escola?", ela disse, notando Rex na mesa do neto. "Eu disse para você deixar esse brinquedo em casa. Você já é um homem."

A palavra "fantoche" foi como um punhal no coração de Robbie. A apresentação foi arruinada. Seu dia foi arruinado. Sua dignidade estava em farrapos.

Determinado a resolver o problema de uma vez por todas, ele convenceu Cat a acompanhá-lo novamente à casa da avó na noite seguinte. Ele pensou que, talvez com mais tempo, eles pudessem fazer algum progresso. Foi um erro de cálculo monumental.

Assim que chegaram, Vovó Shapiro os recebeu com um sorriso tenso e apresentou uma jovem quieta chamada Brenda, que estava sentada rigidamente no sofá.

"Robert, esta é Brenda. A neta da minha amiga do bingo. Ela é uma boa menina. Quieta. Cabelo de cor normal. Mais o seu 'estilo'."

A noite se transformou em uma batalha de vontades. Cat, tentando ser amigável, não parava de fazer perguntas aleatórias sobre o cabelo da avó do amigo, enquanto a mulher idosa criticava abertamente tudo sobre a garota, desde sua risada até seus sapatos.

"Você sabe, na minha época, as moças não se vestiam como doces coloridos", disse a avó, lançando um olhar de desaprovação para o vestido rosa de Cat.

"E na sua época, os dinossauros usavam chapéus?", Cat retrucou, seu tom doce tornando a ofensa ainda mais confusa.

A discussão escalou, com Brenda observando em silêncio aterrorizado. A cabeça de Robbie latejava. A frustração, a humilhação e a raiva que ele vinha reprimindo por dias finalmente transbordaram. Ele se levantou, foi até a mesa do computador, agarrou o fio de força com as duas mãos e o arrancou da parede. O som do plástico se partindo ecoou pelo apartamento silencioso.

"Pronto", o garoto anunciou, a voz tensa e estranhamente alta. "Acabou. A empresa de informática ligou. Eles... eles cancelaram a internet. Para sempre. Em todo o bairro. Não há mais nada a fazer."

Sua avó e Cat o encararam, boquiabertas. Robbie não lhes deu tempo para processar. Ele agarrou a mão da amiga ruiva, puxando-a em direção à porta.

"Não precisamos mais vir aqui, Cat. O problema está resolvido."

Ele a arrastou para fora do apartamento e desceu as escadas, o coração martelando contra as costelas. A adrenalina da explosão o deixou trêmulo e com uma energia nervosa que ele não sabia como canalizar.

No dia seguinte, na Hollywood Arts, Tori se sentia como um zumbi. Ela mal dormira, repassando a briga com Trina em sua mente. O corredor da escola parecia barulhento e hostil. Para piorar as coisas, Jade se aproximou com um copo de café gelado e um sorriso malicioso.

"Parece que você teve uma noite difícil, Vega. Tome, por minha conta."

Tori, desesperada por cafeína, aceitou o copo sem pensar e tomou um gole grande. O gosto era horrível, uma mistura de borra de café, algo azedo e papel molhado. Ela engasgou, cuspindo o líquido no chão.

"O que é isso?", ela ofegou.

Jade riu, uma gargalhada genuína e cruel.

"É o café que o zelador jogou fora. Peguei do lixo do lado de fora. Aproveite."

Antes que a garota pudesse retaliar, sua irmã mais velha apareceu, radiante e usando um chapéu de feltro caro e ridículo. Ela parecia completamente alheia à tempestade emocional da noite anterior.

"Tori! Aí está você!", ela disse, animada. "Você não vai acreditar no que aconteceu!"

Tori apenas a encarou, o gosto de lixo ainda em sua boca.

"O que, Trina?"

"Então, eu mostrei a música para a amiga da minha amiga, cujo tio é um grande produtor musical, dono da gravadora 'Rhythm Records'!", ela anunciou. "E ele adorou! Ele comprou a música de mim!"

O cérebro da irmã caçula demorou um segundo para processar a informação.

"Ele... o quê?"

"Ele me deu um adiantamento enorme! Eu usei uma parte para comprar este chapéu incrível", ela disse, ajeitando-o na cabeça. "Então, tecnicamente, este é o seu presente de aniversário para mim! Viu? No final, tudo deu certo."

Tori sentiu o sangue gelar em suas veias.

"Você... você vendeu a minha música?"

"E tem mais!", Trina continuou, ignorando a fúria crescente no rosto da irmã. "Ele me deu um contrato! Eu vou gravar a música profissionalmente hoje à tarde! Não é a melhor notícia de todas?"

A raiva, a traição, a humilhação do café de lixo — tudo coalesceu em um único ponto de fúria cega. Tori olhou para o copo em sua mão, depois para o chapéu novo e o sorriso presunçoso de Trina. Com um grito gutural, ela jogou o resto do café de lixo no rosto da irmã.

O líquido marrom escorreu pelo chapéu de feltro, pelo cabelo e pelo rosto chocado da garota mais velha, pedaços de filtro de papel grudando em sua bochecha. O corredor ficou em silêncio. Ela ficou paralisada por um momento, antes de soltar um grito agudo que provavelmente quebrou vidros em outro estado.

Horas depois, no elegante e moderno estúdio da Rhythm Records, a realidade da situação se impôs. Trina, depois de uma longa e dramática sessão de limpeza, estava na cabine de gravação, fones de ouvido na cabeça, pronta para se tornar uma estrela. O problema era um só: ela não sabia cantar.

Sua voz era estridente e desafinada, uma agressão aos microfones de última geração. Os dois produtores, homens de meia-idade vestidos com roupas da moda que pareciam muito jovens para eles, trocaram olhares de crescente horror.

"Hã, Trina, querida", um deles disse pelo intercomunicador. "Vamos tentar de novo. Tente... uh... acertar mais as notas."

"Eu estou acertando as notas!", ela respondeu, indignada.

Após vinte minutos de tortura auditiva, eles pararam a sessão. O produtor principal, um homem chamado Mark, coçou a barba.

"Escuta, a música é um sucesso. O compositor é genial. Mas a voz... não é a mesma da demo que você nos deu."

A jovem, percebendo que seu sonho estava prestes a evaporar, entrou em pânico. Ela fez a única coisa que podia fazer: engoliu o orgulho e resolveu o problema do seu jeito.

Vinte minutos depois, Tori e André entraram no estúdio, convocados por uma série de mensagens de texto frenéticas de Trina. Tori ainda estava furiosa, mas a curiosidade e a insistência de André a levaram até lá.

"Tori! André! Que bom que vocês vieram!", Trina disse, com uma doçura forçada. "Então, um pequeno probleminha. Acontece que a acústica aqui é... diferente. E minha voz não está soando bem. Minha querida irmã, você poderia, por favor, entrar na cabine e cantar a música só uma vez, para eles verem como deve ser?"

Tori olhou para a irmã, depois para os produtores desesperados. A ironia da situação era tão espessa que podia ser cortada com uma faca. Ela deveria ir embora. Ela deveria deixar Trina queimar em seu próprio incêndio de incompetência. Mas então ela olhou para a cabine de vidro, para o microfone profissional, para a mesa de som de milhões de dólares. Este era o sonho dela, não o de Trina. E Trina o havia roubado. Talvez... talvez ela pudesse roubá-lo de volta.

Com um suspiro de resignação, ela entrou na cabine.

"Só uma vez, Trina."

Ela colocou os fones de ouvido. A faixa de apoio começou a tocar, rica e completa. Tori fechou os olhos e cantou. Sem a pressão da festa, sem a ansiedade, a música fluiu dela sem esforço, cheia de paixão e dor. Sua voz ecoou pelo estúdio, perfeita.

Os produtores ficaram de queixo caído. Mark se inclinou para o microfone.

"Continue. Cante a música inteira."

A garota cantou. Enquanto ela alcançava a ponte da música, o clímax emocional, o celular de Mark tocou. Ele atendeu, parecendo irritado.

"Agora não, David... O quê? Sério?"

Sua expressão mudou de irritação para choque, e depois para pura incredulidade. Ele gesticulou freneticamente para seu parceiro, apontando para o telefone. Tori terminou a música, a última nota ressoando no silêncio.

Mark desligou o telefone, os olhos arregalados. Ele olhou para Tori como se ela fosse um anjo que acabara de descer do céu.

"Isso foi com David Pierce, meu amigo que é produtor da Beyoncé", ele disse, a voz cheia de admiração. "Eu mandei a demo para ele mais cedo, só para me gabar. Ele acabou de tocar a música para ela."

Um silêncio tenso encheu a sala de controle.

"E...?", Trina perguntou, impaciente.

"E Beyoncé surtou", Mark disse, quase sem fôlego. "Ela pirou com a música. Ela disse que é a coisa mais bonita que ela ouviu em anos. Ela quer gravá-la. Profissionalmente. Tipo, amanhã."

Ele e seu parceiro se entreolharam, a mesma realização estampada em seus rostos. Eles tinham ouro nas mãos, e não era Trina Vega.

"Temos que ir. Temos que ligar para os advogados dela, preparar os contratos", Mark disse, já pegando sua pasta. "Isso é gigante."

Eles saíram correndo do estúdio, a conversa animada sobre pontos percentuais e direitos autorais ecoando pelo corredor. Eles não olharam para trás. Não se despediram. Em seu rastro, deixaram Tori, André e Trina parados no meio do estúdio de gravação.

Um momento depois, com um clique alto, as luzes principais do estúdio se apagaram, mergulhando-os na penumbra, iluminados apenas pelo brilho fraco dos equipamentos eletrônicos. O sonho, que por um breve momento pareceu tão perto, havia acabado de sair pela porta.

Longe do brilho e da traição dos estúdios de gravação, a noite de Robbie e Cat estava prestes a tomar um rumo muito mais sombrio. Depois de fugir do apartamento de sua avó, a energia nervosa do rapaz ainda crepitava. Ele havia arrastado a amiga para um pequeno parque deserto nas proximidades, o ar da noite frio em sua pele. A mentira que ele contou, o fio que ele cortou — tudo parecia um peso em seu peito, misturado com uma estranha e amarga sensação de liberdade.

A garota ruiva, como sempre, estava em seu próprio mundo, aparentemente alheia à tempestade interna de Robbie.

"Sua avó é engraçada", ela disse, balançando os pés. "Ela me lembra um gato que não gosta de ser abraçado."

Mas Robbie não estava ouvindo. A frustração com sua avó, a humilhação na escola, o constrangimento de ter Brenda empurrada para cima dele, e a irritante e inocente presença de Cat — tudo girava em sua cabeça. Ele se sentia impotente, ridicularizado. E ele queria, desesperadamente, sentir algum tipo de controle.

Uma ideia doentia e distorcida, nascida daquele turbilhão de emoções negativas, começou a se formar em sua mente. Ele olhou para a amiga, para sua confiança ingênua, sua total falta de malícia. Ela confiava nele. E ele podia usar isso.

Ele soltou um grito repentino e agudo, agarrando a virilha.

"Ai! Ai, ai, ai!"

Cat pulou, assustada.

"Robbie! O que foi? O que aconteceu?"

"Uma cobra!", ele ofegou, dobrando-se em uma performance convincente de agonia. "Acho que uma cobra me picou!"

Os olhos de Cat se arregalaram de pavor.

"Onde? Onde ela te picou?"

O rapaz apontou hesitantemente para a frente de suas calças.

"Lá... bem no meu... no meu pau."

A ingenuidade da garota era uma tela em branco na qual Robbie podia pintar qualquer cenário, não importava o quão absurdo. O pânico tomou conta dela.

"Oh, meu Deus! O que a gente faz? A gente tem que ligar para uma ambulância!"

"Não! Não dá tempo!", ele disse, a voz cheia de uma urgência fabricada. "O veneno... está se espalhando! Você tem que chupar pra fora, Cat! É o único jeito! Eu vi num filme!"

Ela o encarou, a confusão e o medo lutando em seu rosto.

"Chupar? Eu... eu não sei como..."

"É fácil! Você só... você sabe... suga o veneno antes que chegue no meu coração!", ele implorou, a manipulação escorrendo de cada palavra.

Totalmente convencida do perigo iminente, a amiga assentiu, o rosto pálido e sério. Hesitante, ela se ajoelhou na frente dele. Robbie, com as mãos trêmulas, abriu o zíper e se expôs. A visão de seu pênis ereto não registrou nada em Cat além do local da suposta "picada de cobra".

Com uma determinação nascida da ignorância, ela se inclinou para frente e, de forma desajeitada e lenta, começou a chupar a ponta. A sensação enviou uma onda de poder e culpa através do rapaz. A frustração que ele sentia se transformou em uma excitação sombria e predatória. Isso era controle.

Segurando a cabeça dela com as duas mãos, ele começou a foder a boca dela, seus movimentos rápidos e desesperados. Cat engasgou, seus olhos se enchendo de lágrimas, mas ela não parou, acreditando que a vida de Robbie dependia disso.

"Você está quase conseguindo!", ele ofegou, sua voz tensa. "O veneno está quase saindo!"

Ele a sentiu se engasgar e a puxou com mais força.

"Tenta ordenhar, Cat", o rapaz disse, a voz rouca. "Ordenha com a mão enquanto chupa, pra tirar o veneno mais rápido."

Completamente perdida e seguindo as instruções que acreditava serem para salvar uma vida, a garota ruiva obedeceu. O estímulo duplo foi demais para Robbie. Com um gemido baixo e sufocado, ele gozou, esvaziando-se em seu rosto e cabelo.

Cat recuou, ofegante e confusa, o gosto estranho e salgado em sua boca, o líquido quente em sua bochecha. Ela olhou para o amigo, esperando ver alívio, gratidão.

"Consegui?", ela perguntou, a voz pequena e rouca. "Eu tirei o veneno?"

Robbie a encarou, o rescaldo de seu ato caindo sobre ele como um véu frio. Ele não disse nada. Ele apenas se recompôs, o silêncio no parque agora pesado e acusador. A ingenuidade de Cat havia sido quebrada, mesmo que ela ainda não soubesse disso.

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