✧ Luta Encenada ✧
O som estridente e desafinado de um instrumento de sopro ecoava pelo corredor da Hollywood Arts, um lamento metálico que fazia os dentes rangerem. Tori Vega, com o rosto vermelho pelo esforço, tentava inutilmente enfiar uma trompa francesa em seu armário já abarrotado. O instrumento, grande e desajeitado, simplesmente se recusava a caber.
"Problemas com a sua... coisa?"
A voz suave e divertida de André Harris a fez pular de susto. Ele estava encostado nos armários vizinhos, um sorriso zombeteiro nos lábios, ao lado de Cat Valentine, cuja expressão de curiosidade inocente era uma constante.
Tori suspirou, derrotada, deixando a trompa pender em suas mãos.
"É uma trompa francesa", explicou ela, como se isso justificasse a cacofonia. "Eu estou numa fase francesa. Batatas fritas, rabanada, beijo francês... achei que tocar um instrumento francês seria o próximo passo lógico."
"Lógico pra quem?", André riu. "Isso soa como um ganso sendo atropelado por um cortador de grama."
"Eu sei!", lamentou Tori. "Acho que está quebrada. Não importa o que eu faça, só sai esse barulho horrível."
Ela levou o bocal aos lábios e soprou novamente, produzindo um grasnido ainda mais ofensivo que o anterior.
André estendeu a mão.
"Deixa eu ver."
Cética, Tori entregou-lhe o instrumento. Ele o posicionou com a familiaridade de um músico nato, seus dedos encontrando as válvulas com uma precisão que Tori não conseguia imitar. Ele respirou fundo e, de seus lábios, fluiu uma melodia suave e aveludada, uma peça clássica que encheu o corredor com uma beleza inesperada. A trompa não estava quebrada. Longe disso. Nas mãos dele, ela cantava.
Ele terminou a frase musical e devolveu o instrumento a uma Tori boquiaberta.
"Acho que o problema não é a trompa", disse ele com um piscar de olhos, antes de seguir com Cat pelo corredor.
Deixada para trás com seu orgulho ferido e a prova irrefutável de sua própria inaptidão musical, Tori finalmente conseguiu entalar a trompa em seu armário e bateu a porta, o som metálico finalizando sua humilhação matinal.
Sua próxima aula era de ensaio teatral, um de seus refúgios. No entanto, ao entrar na sala de palco, uma cena alarmante capturou sua atenção. Beck Oliver, geralmente o retrato da calma e do controle, estava sendo pressionado contra uma parede por um brutamontes de aparência intimidadora. O homem, corpulento e com o rosto fechado, gritava com Beck, sacudindo-o com uma força que parecia genuinamente perigosa.
O instinto protetor de Tori falou mais alto.
"Ei! Larga ele!", gritou ela, jogando a mochila no chão e correndo na direção deles.
Sem pensar duas vezes, ela se jogou nas costas do agressor, tentando afastá-lo de Beck.
"Deixa o meu amigo em paz, seu troglodita!"
O homem parou, surpreso, e virou a cabeça, uma sobrancelha arqueada. Beck, por sua vez, tentava reprimir uma risada.
"Tori, calma! O que você tá fazendo?"
"Salvando você!", ofegou ela, ainda pendurada nas costas do homem.
O professor da classe, um homem enérgico chamado Sr. Sikowitz, que estava observando tudo de sua cadeira com uma xícara de leite de coco na mão, bateu palmas.
"Excelente instinto, Tori! Faltou técnica, mas a paixão estava lá. Nota sete."
Confusa, Tori escorregou das costas do homem, que agora a olhava com uma mistura de irritação e divertimento.
"O quê? Do que vocês estão falando?"
"Tori, esse é o Russ", explicou Beck, ajeitando a jaqueta. "Ele é um dublê profissional. Ele é o assistente do Sikowitz na aula de combate cênico."
A palavra "combate cênico" pairou no ar. Tori olhou ao redor e percebeu pela primeira vez que outros alunos praticavam movimentos de luta coreografados, socos que paravam a centímetros dos rostos e quedas que eram dramaticamente amortecidas por colchões. Ela tinha entrado no meio de uma demonstração. O rosto de Tori queimou com o mesmo tom de vermelho da trompa francesa.
"Ah", foi tudo o que ela conseguiu dizer. "Então... vocês não estavam brigando de verdade?"
Russ cruzou os braços musculosos sobre o peito.
"Não. E você quase deslocou meu ombro, garota."
"Bem-vinda à luta teatral, Tori", disse Sikowitz, dando um gole em seu leite de coco. "Tente não machucar os profissionais. Eles são caros."
Enquanto Tori tentava se enterrar no chão de vergonha, em outra parte da escola, um drama de natureza diferente se desenrolava. Trina Vega e Robbie Shapiro estavam em uma sala de ensaio, passando o texto para uma peça ambientada na Segunda Guerra Mundial. Robbie, com seu inseparável boneco Rex sentado em uma cadeira ao lado, estava totalmente imerso em seu personagem, um soldado prestes a partir para a guerra. Trina, como a enfermeira que o amava, estava... sendo Trina.
"Oh, Robert, você não pode ir!", declamou ela com um floreio dramático, as mãos no peito. "E se você não voltar? Quem vai engraxar minhas botas?"
"O roteiro não diz isso", sussurrou Robbie, nervoso.
"É a minha interpretação. Continua."
Robbie engoliu em seco, seus olhos fixos nos de Trina.
"Eu voltarei, meu amor. Eu prometo. E quando eu voltar..."
Ele se inclinou, como indicava o roteiro, e pressionou seus lábios contra os dela. Foi um beijo de palco, técnico e breve. Mas para Robbie, foi uma explosão de fogos de artifício. Quando se afastaram, Trina já estava olhando para o espelho, ajustando o cabelo, mas Robbie continuava ali, paralisado, o coração batendo descontroladamente. Ele estava convencido de que aquele beijo não fora atuação. Tinha que ser real.
De volta à aula de combate cênico, o Sr. Sikowitz estava no centro do palco, exultante.
"Muito bem, guerreiros do teatro! Para o projeto final desta semana, vocês trabalharão em duplas para criar e executar uma cena de luta de um minuto. A segurança é fundamental, a coreografia é a chave e o drama... ah, o drama é o prêmio!"
Ele puxou Cat para o palco.
"Vejam só. Um soco de palco não é sobre contato. É sobre ilusão."
Sikowitz demonstrou um soco lento, sua mão passando longe do rosto de Cat.
"O ator que leva o soco reage", disse ele, e Cat jogou a cabeça para trás com um gritinho.
"E o som", ele estalou os dedos da outra mão perto do ponto de impacto imaginário, criando um 'smack' convincente, "é o que vende o golpe. Entenderam?"
A turma murmurou em concordância. Sikowitz pegou uma prancheta.
"Agora, as duplas. Beck e Russ. André e Cat. E..."
Seus olhos percorreram a lista, um sorriso malicioso se formando em seu rosto.
"Para um desafio interessante de dinâmica interpessoal... Tori e Jade."
O nome pairou no ar como uma sentença. Tori sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Jade West, com seu olhar gélido e sua aura de perpétua hostilidade, virou a cabeça lentamente na direção de Tori. Um sorriso fino e predatório curvou seus lábios. Para Jade, aquilo não era um projeto de classe. Era uma oportunidade.
Tori engoliu em seco.
"Sikowitz, tem certeza? Eu e a Jade... a gente não se..."
"Exatamente!", interrompeu o professor, radiante. "A tensão! A animosidade! Usem isso! Transformem sua aversão mútua em arte! Agora, juntem-se e comecem a criar!"
Tori caminhou relutantemente até Jade, que a examinava como um inseto sob um microscópio.
"Então", começou Tori, tentando soar casual. "Acho que somos parceiras."
Jade se inclinou para perto, sua voz um sussurro ameaçador.
"Ah, isso vai ser divertido. Muito divertido. Pra mim."
Os dias que se seguiram foram um exercício de pura ansiedade para Tori. Cada sessão de ensaio era um campo minado psicológico. Elas decidiram por uma cena simples: Jade interpretaria uma "assaltante brutal" e Tori, uma "idosa indefesa" voltando para casa de um jogo de bingo. A arma da idosa? Uma bengala maciça de cerejeira. Uma bengala de prop, claro, feita de espuma e borracha, mas nas mãos de Jade, parecia tão ameaçadora quanto uma barra de ferro.
"O timing está errado, Vega!", latiu Jade durante um ensaio. "Você tem que reagir ao meu movimento, não antecipá-lo! Parece que estamos dançando uma valsa!"
"É que eu tenho medo que você realmente me acerte!", retrucou Tori, recuando.
"Essa é a ideia da atuação, sua amadora. Fazer parecer real", disse Jade, girando a bengala de mentira com uma destreza alarmante. "Agora, de novo. Do começo."
Tori se preocupava constantemente. E se Jade, no calor do momento, "errasse" o golpe de propósito? Um olho roxo "acidental" parecia exatamente o tipo de coisa que Jade faria por puro prazer sádico. Ela tentava se concentrar na coreografia, mas o olhar intenso de Jade a desestabilizava, fazendo-a errar os passos e os tempos.
Enquanto isso, a fantasia romântica de Robbie estava saindo do controle. Ele começou a seguir Trina pelos corredores, oferecendo-se para carregar seus livros e declarando a quem quisesse ouvir que eles eram o mais novo casal da Hollywood Arts.
"Nós temos uma química inegável", ele disse a André no almoço, enquanto observava Trina do outro lado do refeitório. "Aquele beijo... foi elétrico."
"Cara, foi um beijo de palco", disse André, cansado. "Não significa nada."
"Significa tudo!", insistiu Robbie. "Você não entende a conexão que nós compartilhamos."
Sua convicção era tão forte que ele decidiu que era hora de uma demonstração pública de afeto. Ele marchou até a mesa de Trina, que estava no meio de uma história sobre como ela quase conseguiu um papel em um comercial de iogurte. Sem uma palavra, Robbie se inclinou e a beijou na boca.
A reação de Trina foi instantânea e violenta. Chocada, ela cuspiu um jato de leite desnatado diretamente no rosto de Robbie. A sala inteira parou para observar a cena.
"O que diabos foi isso, seu esquisito?!", gritou Trina, limpando a boca com nojo.
Robbie, pingando leite, parecia genuinamente confuso.
"Eu... eu achei que era isso que a gente fazia agora. Nós estamos namorando."
Ele piscou, o leite escorrendo por seus cílios.
"E eu esperava que fosse leite de soja."
Finalmente, chegou o dia da apresentação. Nos bastidores, Tori tremia enquanto vestia seu figurino de idosa: um vestido floral, um xale de lã e uma peruca grisalha bem penteada. Ela segurava a bengala de cerejeira com as mãos suadas. Jade, vestida toda de preto, com maquiagem escura e uma expressão cruel, parecia ter nascido para o papel da assaltante.
"Pronta pra apanhar, vovó?", zombou Jade, estalando os nós dos dedos.
"É tudo de mentira, Jade. Lembre-se disso", disse Tori, com a voz um pouco mais aguda do que o normal.
"Claro", disse Jade, seu sorriso se alargando. "De mentira."
Elas subiram ao palco. As luzes se acenderam. A cena começou. Tori mancou pelo palco, imitando perfeitamente a fragilidade de uma senhora. Jade surgiu das sombras, ágil e ameaçadora.
"Passe o relógio, velhota!", rosnou Jade, agarrando o braço de Tori.
"Socorro! Ladrão!", gritou Tori, sua voz trêmula e convincente.
A coreografia que elas ensaiaram tantas vezes começou. Esquiva, bloqueio, um empurrão. Tudo estava indo conforme o planejado. O público estava vidrado. Chegou o momento culminante: Tori, em um ato de desespero, deveria balançar a bengala, passando a centímetros da cabeça de Jade, que se abaixaria no último segundo.
Tori ergueu a bengala, o coração na boca. Ela mirou no ar, exatamente como ensaiado. Mas no momento em que a bengala cortou o ar, um som oco e nauseante ecoou pelo teatro. Um CRACK que não era um efeito sonoro.
Jade desabou no chão, soltando um grito agudo e real de dor. Ela rolou de lado, as mãos cobrindo o olho esquerdo.
"Aaaah! Meu olho! Ela me acertou! Ela me acertou de propósito!"
O teatro ficou em silêncio absoluto. Sikowitz, a equipe de dublês e os alunos olhavam, chocados. Tori ficou paralisada, a bengala ainda em suas mãos.
"Não! Eu não acertei! Eu juro! Eu errei por muito!"
Russ e Sikowitz correram para o palco. Jade estava chorando, balançando-se para frente e para trás. Havia um vergão vermelho e feio começando a se formar ao redor de seu olho. Parecia horrível.
"Tori, o que você fez?", perguntou Sikowitz, o tom divertido desaparecido de sua voz.
"Eu não fiz nada! Foi um acidente! Eu nem cheguei perto dela!", Tori repetia, o pânico tomando conta dela.
Ela largou a bengala e correu para ajudar.
"Jade, você está bem? Deixa eu pegar uma cadeira pra você."
Ela agarrou a cadeira mais próxima — uma cadeira de prop, projetada para se quebrar facilmente — e a colocou atrás de Jade. Quando Jade se sentou, a cadeira se desintegrou sob seu peso, enviando-a de volta ao chão com um baque surdo. A cena era um desastre cômico e trágico. Ninguém estava rindo. A culpa de Tori parecia selada.
No dia seguinte, Tori estava sentada no escritório de Lane Alexander, o orientador educacional. Lane, um homem com uma paciência visivelmente desgastada, examinava o relatório do incidente com uma expressão cansada.
"Então, Tori", começou Lane, massageando as têmporas. "Agressão com uma bengala de cerejeira, seguida por uma cadeira quebrada. Não é exatamente o que esperamos de nossos alunos da Hollywood Arts."
"Mas eu não a acertei! E a cadeira era de mentira! Foi um acidente terrível!", protestou Tori.
"Jade tem um atestado médico e um olho que parece ter perdido uma briga com uma beterraba. O conselho escolar leva isso muito a sério."
Ele suspirou.
"Considerando seu histórico, que até ontem era impecável, vamos evitar a suspensão. Mas você terá duas semanas de detenção. E terá que limpar o Teatro Blackbox depois da guerra de comida da peça da próxima sexta-feira."
Tori murchou na cadeira.
"Guerra de comida?"
"Uma reencenação artística da Batalha de Hastings com tortas de creme e espaguete. Vai ser uma bagunça", disse Lane, com um estremecimento.
Ele apertou um botão em seu intercomunicador.
"Derek, pode entrar."
A porta se abriu e um segurança entrou. Ele era alto, de pele escura, com um físico impressionante que seu uniforme mal conseguia conter. Seus olhos eram sérios e ele observou Tori com uma intensidade que a deixou desconfortável.
"Este é Derek", disse Lane. "Ele vai ficar de olho em você durante nossa conversa, caso você tenha outro... ataque de violência."
Tori olhou de Lane para o imponente Derek e de volta.
"Você está brincando, certo?"
A expressão de Lane era de pedra. Tori percebeu que sua situação era ainda pior do que ela imaginava.
Mais tarde, no refeitório, Jade estava sentada com Beck, desfrutando da simpatia e da atenção que sua lesão lhe rendia. Ela recontava a história do "ataque" com detalhes dramáticos, fazendo-se de vítima indefesa. No meio de sua performance, uma garota passou correndo pela mesa delas, rindo. Atrás dela, um garoto jogou um cubo de gelo, tentando acertá-la. O gelo errou o alvo e caiu no decote da blusa da garota, que gritou de surpresa e, no processo, derrubou sua garrafa de água. Um jato de água gelada atingiu o rosto de Jade em cheio.
"Ah, meu Deus! Me desculpe!", disse a garota, pegando guardanapos. "Deixa eu te ajudar a secar."
"Não me toque!", sibilou Jade, levantando-se abruptamente.
Ela cobriu o rosto e fugiu do refeitório, ignorando os chamados de Beck.
No corredor, ela quase trombou com André.
"Ei, Jade, tudo bem? Ouvi dizer que..."
Ele parou no meio da frase. A água havia escorrido pelo rosto de Jade, e com ela, a cor do seu "hematoma". Uma linha de maquiagem roxa e azul escorria por sua bochecha. O vergão não era real. Era tinta.
André olhou para o olho dela, depois para a mancha de maquiagem escorrendo, e as peças se encaixaram.
"Espera aí... isso é maquiagem?"
Jade congelou, os olhos arregalados de pânico. Ela rapidamente limpou a maquiagem com a manga.
"Você não viu nada."
"Eu vi, sim!", disse André, um sorriso lento se espalhando por seu rosto. "Você armou tudo! Tori não te bateu! Você fingiu!"
"Cala a boca, Harris!", ameaçou Jade, agarrando a frente da camisa dele. "Você não vai contar a ninguém. Especialmente para a Tori. Prometa."
André levantou as mãos em sinal de rendição.
"Ok, ok, eu prometo. Minha boca é um túmulo."
Ele fez uma pausa dramática.
"Eu não vou contar pra ninguém que você..."
"Que eu o quê?", pressionou Jade.
André respirou fundo, olhou por cima do ombro dela, viu Tori no final do corredor e gritou a plenos pulmões: "TORI! A JADE FINGIU TUDO!"
A expressão no rosto de Jade passou de pânico para fúria pura em uma fração de segundo.
"EU VOU TE MATAR, HARRIS!", ela berrou, e saiu em disparada atrás dele, que já corria pela vida, ziguezagueando entre os alunos.
Enquanto isso, a saga romântica de Robbie havia chegado a um impasse. Cat, cansada de vê-lo suspirando por Trina, decidiu intervir. Ela o encurralou perto dos armários.
"Robbie, você precisa esquecer a Trina", disse ela, com sua voz doce e aérea. "Aquele beijo na peça não foi de verdade."
"Mas pareceu tão real", ele murmurou, desolado.
"É porque é atuação!", explicou Cat, com a paciência de quem explica cores a um cego. "Você pode fingir paixão. É uma habilidade. Olha."
Antes que Robbie pudesse processar, Cat se inclinou e o beijou. Não foi um beijo técnico como o de Trina. Foi um beijo gentil, doce e surpreendentemente longo. Quando ela se afastou, Robbie a encarava com olhos arregalados e uma nova expressão de adoração. O beijo de Trina foi esquecido instantaneamente.
"Uau...", sussurrou Robbie.
Cat sorriu, satisfeita.
"Viu? É só fingi..."
"Eu acho que estou apaixonado por você", interrompeu Robbie, com total sinceridade. "Você quer conhecer meus pais no jantar de sábado?"
O sorriso de Cat desapareceu. Ela soltou um gritinho de pânico e fugiu, deixando Robbie sozinho e duplamente confuso.
Na noite de sexta-feira, o Teatro Blackbox parecia uma zona de guerra culinária. O chão estava coberto de uma camada nojenta de torta de creme, molho de espaguete, almôndegas e o que parecia ser algum tipo de caçarola de atum. O cheiro era insuportável. Tori, armada com um esfregão e um balde, encarava a tarefa monumental com desespero. Era sua primeira noite de detenção.
Enquanto ela raspava um pedaço de torta de merengue do palco, a porta dos fundos se abriu e Jade entrou. Ela ficou parada, observando a cena.
"Que bagunça", comentou ela, com um tom neutro.
Tori nem se virou.
"É. E a culpa é sua."
Houve um momento de silêncio.
"O André te contou, né?", disse Jade.
"É, ele contou", respondeu Tori, esfregando o chão com mais força.
Jade parecia... desconfortável. Ela deu alguns passos para dentro da sala.
"Então, por que você não foi contar para o Lane? Por que está aqui limpando essa nojeira?"
Tori finalmente parou e se virou para encará-la.
"E dizer o quê, Jade? Que você mentiu e me incriminou? Isso só ia começar outra briga, e depois você ia tentar se vingar de mim por alguma outra coisa, e depois eu teria que me vingar de você... eu cansei. Estou cansada de brigar com você."
Jade ficou visivelmente surpresa. Ela esperava uma confrontação, gritos, talvez até uma guerra de comida parte dois. Aquela aceitação calma a desarmou.
"Então você vai simplesmente aceitar a punição? Mesmo sendo inocente?", perguntou Jade, confusa. "Isso não está certo."
"Não, não está", concordou Tori. "Mas talvez, se eu parar de revidar, você eventualmente pare de atacar."
Ela deu de ombros, um cansaço genuíno em sua voz.
"Você acha que não posso ser legal com você depois do que você fez", Tori acrescentou . "Mas e se eu tentar ser legal com você mesmo assim? Talvez isso mude as coisas."
Jade a observou por um longo tempo, processando. A lógica distorcida de Tori fazia um sentido estranho. Sem dizer uma palavra, Jade foi até o armário de limpeza, pegou outro esfregão e um balde e começou a trabalhar no outro lado do palco.
Tori a observou, chocada. Elas trabalharam em silêncio por vários minutos. Então, Jade foi até o sistema de som do teatro, conectou seu celular e colocou uma música animada para tocar. Ela largou o esfregão e começou a dançar no meio da bagunça, seus movimentos fluidos e cheios de uma energia contida.
Tori riu, incrédula. Depois de um momento, ela largou seu próprio esfregão e se juntou a ela. A tensão entre elas se dissipou, substituída por um momento de trégua bizarra e divertida. Elas dançavam e riam, escorregando na comida, transformando a punição em uma festa particular.
A porta se abriu novamente. Era Derek, o segurança, com os braços cruzados e uma expressão severa.
"O que está acontecendo aqui? Vocês deveriam estar limpando."
A música ainda pulsava. Tori e Jade pararam, esperando a bronca. Mas então, algo inesperado aconteceu. O pé de Derek começou a bater no ritmo da música. Um sorriso relutante apareceu em seu rosto. Ele entrou no teatro, tirou o paletó e, para o espanto completo das duas garotas, começou a dançar com elas, seus movimentos surpreendentemente bons.
Ele se empolgou tanto, girando e deslizando pelo chão imundo, que não percebeu quando Tori e Jade trocaram um olhar cúmplice. Em um movimento rápido e silencioso, elas correram para a porta dos fundos e escaparam para os corredores, deixando o segurança dançando sozinho no meio do espaguete.
Demorou alguns minutos para Derek perceber que a música havia se tornado a trilha sonora de sua solidão. Ele parou, ofegante, e olhou ao redor. O teatro estava vazio, exceto por ele e pela bagunça.
"Ah, droga", murmurou ele.
Ele sabia que estava em apuros.
Ele saiu correndo do teatro, o rádio em sua mão.
"Segurança para a base. As detentas Vega e West escaparam do Blackbox. Estou em perseguição."
Ele as encontrou rapidamente. O som de risadas abafadas o levou até o banheiro feminino no final do corredor. Ele empurrou a porta com força.
"Paradas!"
Tori e Jade estavam encolhidas perto das pias, a diversão desaparecendo de seus rostos ao vê-lo.
Jade, sempre a mais rápida, pensou em um plano. "Olha, um esquilo de três cabeças!", gritou ela, apontando para a janela atrás de Derek.
Instintivamente, ele se virou.
"Onde?"
Naquele segundo de distração, Jade passou por ele como um raio e desapareceu pelo corredor. Derek se virou a tempo de ver Tori tentando segui-la. Ele foi mais rápido, bloqueando a porta.
"Você não vai a lugar nenhum", disse ele, a voz baixa e irritada. "Você já estava em uma enrascada. Agora, é uma enrascada bem maior."
Tori estava encurralada. O pânico começou a borbulhar, mas foi rapidamente substituído por outra coisa. Uma ideia ousada e perigosa. Ela olhou para Derek, não como um guarda, mas como um homem. Um homem muito atraente, que ela tinha visto dançar.
Ela mudou sua postura, deixando o medo para trás e adotando um ar de confiança sedutora.
"Uma grande enrascada, é?", disse ela, sua voz baixando para um tom rouco. "Sabe... talvez a gente possa entrar em um acordo."
Derek ergueu uma sobrancelha, intrigado, mas cético.
"Não há acordo. Você vai voltar para aquele teatro e..."
Tori deu um passo à frente, fechando o espaço entre eles. Ela estendeu a mão, não para empurrá-lo, mas para tocar suavemente o volume em sua virilha, por cima do tecido da calça. A surpresa em seus olhos foi imediata.
"Tenho certeza de que podemos resolver isso", sussurrou ela.
Antes que ele pudesse formular uma resposta, ela se inclinou e o beijou. Foi um beijo audacioso, cheio de uma urgência calculada. Por um instante, ele permaneceu rígido, mas então, para surpresa de Tori, ele relaxou e respondeu ao beijo, sua mão subindo para segurar a nuca dela.
Quando se separaram, ele estava ofegante.
"Isso... isso é errado", disse ele, mas sua voz carecia de convicção.
"Então por que parece tão certo?", respondeu Tori.
Seus dedos foram para os botões da camisa dele, abrindo-os um por um. Ela ofegou ao ver o que havia por baixo. Seu peito era largo, musculoso e perfeitamente depilado, uma paisagem de pele lisa e poder contido. Sem hesitar, ela pressionou os lábios contra o peito dele, beijando e lambendo a pele, descendo lentamente em direção ao cós de sua calça. A respiração dele ficou presa na garganta.
Com mãos trêmulas, mas determinadas, Tori abriu o cinto e o zíper da calça dele. O pau de Derek, enorme e grosso, saltou para fora, livre e pulsante. Era mais do que ela esperava, uma visão intimidadora e excitante. Sem hesitar, ela tomou a glande em sua boca, chupando suavemente enquanto suas mãos envolviam a base do membro e massageavam seus testículos pesados.
Um gemido baixo e gutural escapou dos lábios de Derek. Ele entrelaçou os dedos no cabelo dela, não para afastá-la, mas para guiar seus movimentos. Encorajada, Tori tentou engolir mais, sentindo o volume impressionante preencher sua boca. Ela não conseguia engoli-lo todo, era simplesmente grande demais, mas foi o mais fundo que se sentiu confortável.
Sentindo sua tentativa, Derek segurou sua cabeça com mais firmeza e começou a foder sua boca, em um ritmo lento e deliberado que a fez engasgar e babar. O pau dele estava coberto por sua saliva, brilhando sob a luz fluorescente do banheiro.
Depois de um momento que pareceu uma eternidade, ele a puxou para cima, colocando-a de pé. Seus olhos estavam escuros de desejo. Ele arrancou a blusa dela, expondo seus seios. Ele se curvou e abocanhou um de seus mamilos, sugando com força, fazendo-a gemer sem parar. Ele alternou entre os seios, mordiscando e lambendo, enquanto uma de suas mãos desceu, encontrando o caminho para dentro da calça dela. Seus dedos encontraram sua calcinha encharcada e a afastaram, mergulhando em sua umidade. Tori arqueou as costas, gemendo alto enquanto ele a masturbava com uma habilidade experiente.
Eles se beijaram novamente, um beijo selvagem e desesperado. Com dois dedos, ele a fodeu, preparando-a. Tori, mal conseguindo se manter em pé, tirou a própria calça e a calcinha, chutando-as para o lado. Derek a ergueu, segurando-a pelas coxas, e a posicionou contra a parede fria de azulejos.
Lentamente, dolorosamente, ele a penetrou, centímetro por centímetro, até que estivesse enterrado até o talo dentro dela.
Tori tapou a própria boca com a mão para abafar um grito. A sensação era avassaladora, uma mistura de dor e prazer intenso. Ela podia sentir o pau dele pulsando dentro de sua boceta apertada. Ele começou a se mover, um ritmo lento e profundo que gradualmente aumentou de velocidade. Ele se esticou e enfiou um dedo em seu cu, o choque da nova sensação a enviando para o limite. Ela não aguentou e gozou, seu corpo convulsionando ao redor dele.
Eles mudaram de posição. Derek deitou-se de costas no chão frio do banheiro, e Tori o cavalgou, apoiando as mãos em seu peitoral firme. Ela estava no controle agora, ditando o ritmo, subindo e descendo em seu pau, seus músculos internos apertando-o a cada movimento. Ele apertava os seios dela, gemendo sob seu domínio.
"De quatro", ele ofegou, a voz rouca. "Fica de quatro no chão. Com a bunda empinada. Eu quero gozar no seu cuzinho."
Tori obedeceu sem questionar, a adrenalina e o desejo tomando conta de qualquer pensamento racional. Ela se posicionou, oferecendo-se a ele. Ele se ajoelhou atrás dela, mas não a penetrou. Em vez disso, começou a bater punheta freneticamente, o som úmido ecoando no silêncio do banheiro. Tori observou por cima do ombro, o coração martelando, uma espectadora de seu próprio ato de submissão.
Com um grunhido profundo, Derek gozou, jorrando seu sêmen quente e espesso por toda a parte inferior das costas e nádegas de Tori. Ele ofegou, roçando a cabeça macia de seu pau no cu dela, espalhando a sujeira pegajosa.
Por um momento, o único som foi o de duas respirações pesadas. O fervor da paixão se dissipou tão rapidamente quanto surgiu, substituído pela realidade fria e crua do chão de azulejos e pela luz fluorescente zumbindo acima. O cheiro de sexo e desinfetante barato pairava pesado no ar.
Derek desabou, apoiando a testa no ombro de Tori, o peso do que acabara de fazer caindo sobre ele como uma tonelada.
"Meu Deus...", ele sussurrou. "O que... o que a gente fez?"
O pânico começou a se infiltrar em sua voz. Ele era um segurança. Ela era uma estudante. Ele a deixara escapar da detenção e depois transara com ela no banheiro da escola. Sua carreira, sua vida, evaporaram naquele momento de fraqueza.
Tori, por outro lado, permaneceu imóvel por um instante, sentindo o calor do sêmen dele em sua pele. Ela não sentiu pânico. Nem remorso. Sentiu uma estranha e fria sensação de poder. Lentamente, ela se levantou, sem se importar com a bagunça em suas costas. Ela se virou para encará-lo, seus olhos claros e firmes. Derek ainda estava de joelhos, olhando para ela com uma expressão de terror absoluto, o pau ainda semi-ereto e pingando.
"A gente fez um acordo", disse Tori, a voz calma e controlada.
Ela foi até o dispensador de papel toalha e puxou
uns bons punhados. Com uma eficiência desapaixonada, ela começou a se limpar, o gesto tão casual quanto limpar um copo d'água derramado. Não havia vergonha em seu rosto, nem um pingo de constrangimento. Apenas uma determinação fria.
Derek a observava, ainda de joelhos, a realidade de sua situação o atingindo em ondas de náusea.
"Um acordo?", ele gaguejou, a voz trêmula. "Tori, isso não foi um acordo! Isso foi... eu posso ser preso! Eu vou perder meu emprego!"
Tori parou de se limpar e olhou para ele por cima do ombro. O olhar dela era desprovido de qualquer calor ou simpatia que ele já pudesse ter visto ali antes.
"Você vai perder seu emprego", disse ela, a voz baixa e uniforme. "E você vai ser preso. Se alguém descobrir."
Ela se virou completamente para encará-lo, deixando cair o papel sujo no chão.
"E a única maneira de alguém descobrir é se eu disser alguma coisa. Ou", ela fez uma pausa, deixando a ameaça pairar no ar, "se você me der um motivo para dizer alguma coisa."
O ar saiu dos pulmões de Derek. Ele estava preso. Completamente e irrevogavelmente à mercê de uma garota de dezesseis anos. O poder em seus olhos era absoluto.
"Agora", continuou ela, o tom de comando natural, como se ela estivesse no comando o tempo todo. "Levante-se. Vista-se. E me escute com atenção."
Como um autômato, Derek se levantou, seus membros rígidos e desajeitados. Ele pegou suas roupas, o tecido parecendo estranho e desconhecido em suas mãos. Enquanto se vestia, Tori delineou o plano, sua mente trabalhando com uma clareza assustadora.
"Você vai voltar para o Teatro Blackbox", ela instruiu. "E você vai terminar de limpar tudo. Sozinho."
"Mas... e vocês duas?", ele perguntou, a voz fraca.
"Nós nos sentimos mal. A fumaça do palco, a poeira, sei lá. Você, sendo o segurança compreensivo e gentil que é, nos deixou ir para casa mais cedo."
Ela deu um pequeno sorriso sem humor.
"Quando Lane perguntar amanhã por que o teatro está impecável, você dirá que se sentiu mal por nós e decidiu terminar o serviço. Um ato de pura bondade. Eles podem até te dar um elogio."
A manipulação era genial. Dava a ele uma desculpa perfeita, pintava-o como um herói e o forçava a fazer o trabalho sujo dela. Ele não tinha escolha a não ser concordar.
"Entendeu?", perguntou Tori, já vestida e ajeitando o cabelo no espelho como se nada tivesse acontecido.
Derek apenas assentiu, mudo. Ele se sentia como um homem se afogando, e ela era a única pessoa com um salva-vidas, mas estava exigindo sua alma em troca.
"Ótimo."
Ela caminhou até a porta, parando com a mão na maçaneta. Ela se virou para ele uma última vez.
"E, Derek? A partir de agora, eu não tenho mais detenção. Se Lane perguntar, você dirá que eu cumpri minhas duas semanas. Com um comportamento exemplar."
Ela não esperou por uma resposta. Abriu a porta, espiou o corredor vazio e saiu, desaparecendo tão silenciosamente quanto entrara.
Derek ficou sozinho no banheiro, o cheiro de sexo e de sua própria ruína envolvendo-o. Ele olhou para seu reflexo no espelho. O homem que o encarava de volta era um estranho, um tolo cujo futuro agora pertencia a uma adolescente. Com um suspiro trêmulo, ele pegou um esfregão que estava encostado no canto e começou a limpar o chão, o primeiro ato de sua nova servidão.
No dia seguinte, Tori entrou na Hollywood Arts com uma nova aura. Era sutil, mas estava lá. Uma confiança de aço sob sua aparência borbulhante. Ela viu Jade perto dos armários, que a observava com olhos estreitos e desconfiados.
"Você não estava na detenção ontem à noite", disse Jade, sem rodeios. "Eu voltei mais tarde para pegar meu casaco e o teatro estava vazio. E limpo."
"O Derek foi muito legal", respondeu Tori, com um sorriso inocente. "Ele me deixou ir embora e terminou tudo."
Jade não comprou a história. Nem por um segundo. Ela conhecia a natureza humana, especialmente a natureza de homens em posições de poder insignificante. Um segurança não faria o trabalho sujo de uma aluna por bondade. Havia mais naquela história. Algo que Tori não estava contando.
"Sério?", disse Jade, cética. "O segurança grandão simplesmente limpou vômito de torta por pena?"
"Ele é um cara legal", insistiu Tori, fechando seu armário. "A propósito, parece que minha detenção acabou. Lane disse que eu mostrei remorso suficiente."
Ela deu de ombros e começou a se afastar.
"Te vejo na aula."
Jade a observou ir, uma nova e intrigante peça adicionada ao quebra-cabeça que era Tori Vega. A briga delas parecia ter terminado, mas algo novo e muito mais complexo havia começado. Pela primeira vez, Jade não via Tori como uma rival irritante, mas como alguém com uma profundidade oculta. Uma profundidade que, por algum motivo, a intrigava.
A dinâmica de poder na Hollywood Arts havia mudado de forma silenciosa e irrevogável. Tori tinha um segredo, uma arma que lhe dava uma vantagem que ninguém mais entendia. E enquanto caminhava pelo corredor, sentindo os olhares curiosos de seus colegas, ela sabia que a garota que tentava inutilmente enfiar uma trompa francesa em seu armário havia desaparecido para sempre, substituída por alguém muito mais capaz de navegar pelas correntes traiçoeiras daquele mundo. Alguém que não tinha mais medo de lutar sujo.