Depois de muito tempo resolvi continuar a história que vivi naquele feriado prolongado de Corpus Christi.
No terceiro dia da minha estadia, minha avó resolveu me levar a um chá da tarde na casa de uma de suas amigas. O ambiente era descontraído, cheio de risadas e lembranças de tempos passados. Entre todas, uma se destacava: Dona Helena, uma mulher de cabelos grisalhos muito bem cuidados, olhos verdes marcantes e um jeito de falar que prendia a atenção.
Durante a conversa, percebi que ela me olhava de maneira diferente — não era apenas curiosidade de uma senhora em relação ao neto da amiga. Havia algo mais. Um brilho, um convite silencioso.
No final do encontro, quando todos já estavam se despedindo, minha avó foi até a cozinha ajudar a guardar algumas coisas, e eu fiquei sozinho na sala. Foi então que Helena se aproximou.
— Você não parece muito à vontade com essas reuniões de senhoras, não é? — disse ela, sorrindo com malícia.
— Para ser sincero, me divirti mais do que imaginava — respondi, tentando disfarçar o nervosismo.
— Imagino… — Ela passou a mão suavemente pelo meu braço. — Sua avó comentou que você está hospedado com ela por alguns dias. Se sentir vontade de uma companhia mais… diferente, pode me procurar.
O tom de voz dela me arrepiou. Antes que eu pudesse responder, ela se inclinou e me deu um beijo rápido, quase imperceptível, mas cheio de intenção.
Quando saímos, meu coração ainda batia acelerado. E à noite, enquanto minha avó dormia, o celular vibrou com uma mensagem inesperada:
"Está acordado? Passe aqui amanhã à tarde. Quero mostrar uma coisa que vai te interessar."
A mensagem dela não me saía da cabeça: “Passe aqui amanhã à tarde. Quero mostrar uma coisa que vai te interessar.”
Passei o dia inteiro ansioso, inventando desculpas para minha avó. Quando finalmente o relógio marcou a hora combinada, saí de casa tentando disfarçar a pressa.
A rua de paralelepípedos levava até a casa de Helena, uma construção antiga, mas bem cuidada, com trepadeiras floridas enfeitando a varanda. Ela já me esperava, recostada no batente da porta, com um vestido de tecido leve que balançava suavemente com o vento. O decote discreto deixava à mostra parte do colo farto, e por um instante senti a garganta secar.
— Pensei que fosse me deixar esperando… — disse ela, com um sorriso de canto, daqueles que já carregam segredos.
— Eu jamais faria isso — respondi, tentando soar confiante, mas sentindo o coração acelerar.
Ela não me convidou a entrar. Apenas me pegou pelo braço, de forma natural, quase íntima, e disse:
— Vamos até a praça. Preciso te mostrar um lugar especial.
O caminho era curto, mas cada passo ao lado dela parecia carregado de tensão. O perfume suave de flores misturado ao cheiro de pele aquecida pelo sol me deixava tonto. Às vezes ela falava de histórias antigas da cidade, mas sempre havia uma pausa calculada, um olhar mais demorado, uma risada insinuante que me fazia imaginar intenções escondidas.
Chegamos ao coreto, vazio naquela tarde quente. Helena subiu os degraus primeiro, e eu não pude evitar reparar no balançar dos quadris, firme e provocador. Lá dentro, a sombra nos envolvia, criando um contraste entre a claridade da praça e aquele refúgio quase secreto.
Ela encostou-se a uma das colunas de madeira, cruzou os braços abaixo do busto e me fitou com um olhar que parecia despir.
— Sabe, esse lugar já guardou muitos encontros proibidos… — murmurou. — Mocinhas e rapazes vinham aqui quando queriam se esconder dos olhares da cidade.
Deu um passo à frente, aproximando-se tanto que pude sentir a respiração quente em meu rosto. Sua mão deslizou até a minha, guiando-a lentamente até sua cintura. O contato da pele sob o tecido leve me fez estremecer.
— Talvez esteja na hora de criar os nossos segredos também — disse ela, em voz baixa, quase um sussurro.
O beijo aconteceu como se já estivesse escrito. Primeiro suave, um roçar de lábios tímido, depois mais intenso, cheio de vontade contida. O gosto doce do batom misturado ao calor da boca dela me fez esquecer onde estávamos. Suas mãos subiram pela minha nuca, puxando-me para mais perto, enquanto o corpo dela se encaixava ao meu num gesto lento, provocante.
Quando finalmente nos afastamos, ela mordeu levemente o lábio inferior e sorriu.
— Isso é só o começo. Ainda quero te mostrar muito mais desta cidade…
Naquele instante, eu soube que o interior guardava aventuras que eu jamais imaginaria.